A Trindade

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Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de sua autorrevelação. Deus, que é amor, para sempre é digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação.
No Calvário, praticamente todos rejeitaram a Jesus. Somente uns poucos reconheciam quem realmente Ele era. Dentre estes um ladrão – igualmente sendo executado – dirigiu-se a Cristo como “Senhor” (Lc 23:42, ARC); e um soldado romano reconheceu: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15:39).
Quando João, referindo-se a Jesus, escreveu: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1:11), Suas palavras tinham aplicação não apenas para a multidão ali reunida, e não somente para a nação israelita, mas efetivamente para todo o mundo, ao longo de todos os tempos. Exceto um pequeno punhado, todos fracassaram em reconhecê-Lo como Deus e Salvador. Esse fracasso, o maior e mais trágico que o homem pode experimentar, mostra que o conhecimento que a humanidade possui de Deus é radicalmente deficiente.
O conhecimento de Deus As numerosas teorias que tentam explicar Deus e os muitos argumentos que tentam provar ou negar Sua existência, constituem evidências de que a sabedoria humana é por si própria insuficiente para penetrar no terreno do divino. Depender tão somente da sabedoria humana para aprender acerca de Deus, é como utilizar uma lupa com o intuito de estudar as constelações. Portanto, para muitos, a sabedoria de Deus é uma sabedoria “em mistério” (1Co 2:7). Para estes, Deus continua sendo um mistério. A respeito dessa sabedoria humana, Paulo disse que “nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1Co 2:8). Um dos mais básicos mandamentos das Escrituras é “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22:37; cf. Dt 6:5). Não podemos amar alguém a respeito de quem nada conhecemos; por outro lado, não poderemos descobrir as coisas profundas de Deus por meio de investigação (Jó 11:7). Assim, de que modo poderemos conhecer e amar o Criador?
Deus pode ser conhecido. Conhecendo a situação humana, Deus – em Seu amor e compaixão – procurou fazer chegar à raça humana a Sua revelação especial, a Bíblia, que abre diante de nós as possibilidades para conhecê-Lo. Ela revela que “o cristianismo não constitui um registro da pesquisa do homem em busca de Deus; é o produto da revelação que Deus faz de Si mesmo e de Seus propósitos para o homem”. 1 Essa autorrevelação destina-se a cobrir o abismo cavado pelo mundo em sua rebelião contra um Deus amorável. A maior manifestação do amor de Deus veio através de Sua suprema revelação – Jesus Cristo, seu Filho. Pela vida de Jesus, podemos conhecer o Pai. Como João afirma: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em Seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5:20). E Jesus disse: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). Essas são boas-novas. Embora seja impossível conhecer completamente a Deus, a Bíblia nos apresenta um conhecimento prático dele, que nos é suficiente para entrarmos em um relacionamento salvífico com Ele.
Como obter o conhecimento de Deus. Diferente de qualquer outro, o conhecimento de Deus é mais um assunto do coração humano do que de seu cérebro. Envolve a pessoa como um todo, e não apenas o intelecto. Deve-se permitir ampla entrada ao Espírito Santo e manifestar plena disposição de aceitar a vontade de Deus (Jo 7:17; cf. Mt 11:27). Disse Jesus: “Bem- aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5:8). Descrentes não poderão, portanto, obter genuíno conhecimento de Deus.
Referindo-se à sabedoria dos incrédulos, Paulo exclamou: “Então, o que acontece com esses sábios, esses eruditos, esses brilhantes comentaristas das grandes questões mundiais? Deus fez com que todos eles parecessem ridículos, e mostrou que a sabedoria deles é uma tolice inútil. Deus, em sua sabedoria, providenciou para que o mundo nunca encontrasse a Deus por meio da inteligência humana. E então, Ele se manifestou e salvou todos quantos creram em sua mensagem – essa mesma que o mundo considera absurda e ridícula” (1Co 1:20, 21, A Bíblia Viva).
O modo como adquirimos o conhecimento de Deus a partir da Bíblia é diferente de todos os outros métodos de aquisição de conhecimento. Não podemos nos colocar acima de Deus, tratando-o como um objeto capaz de ser analisado e quantificado. Aquele que se propõe a obter conhecimento de Deus, deve se colocar sob a jurisdição de sua autorrevelação – a Bíblia. Uma vez que a Bíblia interpreta a si própria, devemos nos sujeitar aos princípios e métodos que ela provê. Sem esses parâmetros bíblicos, não podemos conhecer a Deus.
Por que tantas pessoas dos dias de Cristo fracassaram em ver a autorrevelação de Deus em Jesus? Porque elas recusaram se sujeitar à orientação do Espírito Santo por meio das Escrituras, interpretando erroneamente as mensagens de Deus e crucificando o Salvador. Seu problema não era de ordem intelectual. Foi o endurecimento de seu coração que lhes obscureceu a mente, resultando em perda eterna.
A existência de Deus Há duas principais fontes de evidência para a existência de Deus – o livro da natureza e as Escrituras.
Evidências na criação. Todos podem aprender de Deus pela observação da natureza e da experiência humana. Davi escreveu: “Os Céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos” (Sl 19:1). João indicou que a revelação de Deus, incluindo a natureza, ilumina a todos (Jo 1:9). Paulo, a seu turno, disse que “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1:20). Evidências da existência de Deus podem igualmente ser observadas no comportamento humano. Na prática religiosa dos atenienses que adoravam o
“Deus desconhecido”, Paulo percebeu evidências de crença em Deus. Ele disse: “Esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio” (At 17:23). Paulo observou também revelações de Deus na consciência de não cristãos. Sua forma de se conduzir, disse o apóstolo, revela o testemunho de sua “consciência”e mostra que o amor de Deus se acha gravado “no seu coração” (Rm 2:14, 15). A intuição de que Deus existe é encontrada mesmo entre aqueles que não têm acesso à Bíblia. Essa revelação geral de Deus fez surgir considerável número de clássicos argumentos racionais em favor da existência de Deus. 2
Evidências das Escrituras. A Bíblia não prova a existência de Deus; ela simplesmente a assume. O texto inicial das Escrituras declara: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). Aqui Deus é descrito como criador, sustentador e legislador de toda a criação. A Bíblia ainda destaca que a revelação divina, na criação, é tão vigorosa que não resta margem para a descrença ou mesmo o ateísmo. Este último resulta de uma persistente supressão da verdade divina ou da mente que se recusa a reconhecer as evidências de que Deus existe (Sl 14:1; Rm 1:18-22, 28). Há suficientes evidências da existência de Deus para convencer todo aquele que, de maneira séria, busca descobrir a verdade sobre Ele. Contudo, fé é um pré-requisito, pois “sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11:6). Entretanto, a fé em Deus não é cega. Baseia-se, antes, em suficientes evidências,que podem ser encontradas em ambas as revelações de Deus – as Escrituras e a natureza. O Deus das Escrituras A Bíblia revela as qualidades essenciais de Deus ao apresentar seus nomes, suas atividades e seus atributos.
Os nomes de Deus. Os nomes desempenham importante papel nas Escrituras, o que aliás acontece ainda hoje no Oriente Médio e no Extremo Oriente. Nesses lugares, o nome revela o caráter de seu possuidor, sua verdadeira natureza e identidade. Portanto, o nome de Deus representa importante aspecto na revelação de seu caráter, natureza e qualidades, para os seres humanos. A importância do nome de Deus pode ser observada em numerosos textos. O próprio Deus declara: “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão” (Êx 20:7). Davi cantou: “Renderei graças ao SENHOR [...] e cantarei louvores ao nome do SENHORAltíssimo” (Sl 7:17). “Santo e tremendo é o seu nome” (Sl 111:9). “Louvem o nome do SENHOR, porque só o seu nome é excelso” (Sl 148:13). Os nomes hebraicos de Deus, tais como El e Elohim (“Deus”) revelam seu divino poder. Retratam a Deus como o todo-poderoso, o Deus da criação (Gn 1:1; Êx 20:2; Dn 9:4). Elyon (“Altíssimo”) e El Elyon destacam o elevado ou exaltado status divino (Gn 14:18-20; Is 14:14). Adonai (“Senhor”) retrata a Deus como o legislador poderoso (Is 6:1; Sl 35:23). Todos esses nomes enfatizam o majestoso e transcendental caráter de Deus. Outros nomes podem, às vezes, revelar a Deus como Alguém que deseja entrar em relacionamento com seu povo. Shaddai e El Shaddai identificam o Deus todo-poderoso, a fonte de toda bênção e conforto (Êx 6:3; Sl 91:1). O nome Yahweh, 3 também traduzido como Jeová ou Senhor, salienta a fidelidade e a graça de Deus na manutenção do concerto (Êx 15:2, 3; Os 12:5, 6). Em Êxodo 3:14, Yahweh descreve a si próprio como “Eu Sou o Que Sou” ou “Eu Serei Aquilo Que Serei”, indicando a inalterabilidade do relacionamento que Ele mantém com seu povo. Em certas ocasiões, Deus até mesmo se revelou de modo mais íntimo como “Pai” (Dt 32:6; Is 63:16; Jr 31:9; Ml 2:10) no momento em que identifica Israel como “meu filho, meu primogênito” (Êx 4:22; cf. Dt 32:19). Os nomes neotestamentários de Deus possuem significados equivalentes, exceto a palavra “Pai”. Jesus atribuiu a essa palavra um significado pessoal mais profundo, tendo em vista levar os indivíduos crentes a um relacionamento íntimo e pessoal com o Deus, que é seu Pai (Mt 6:9; Mc 14:36; cf. Rm 8:15; Gl 4:6).
As atividades de Deus. Os autores bíblicos se ocupam mais tempo em descrever o que Deus faz do que em dizer o que Ele é. Deus é apresentado como criador (Gn 1:1; Sl 24:1, 2) e como sustentador do mundo (Hb 1:3). Ele é também redentor e salvador (Dt 5:6; 2Co 5:19), que carrega sobre si o fardo do destino último da humanidade. Ele estabelece planos (Is 46:11), faz predições (Is 46:10), concede promessas (Dt 15:6; 2Pe 3:9) e perdoa pecados (Êx 34:7). Consequentemente, Ele é digno de adoração (Ap 14:6, 7). Finalmente, as Escrituras revelam a Deus como legislador, “Rei eterno, imortal, invisível, Deus único” (1Tm 1:17). Essas ações confirmam o conceito de que Deus é um Deus pessoal.
Os atributos de Deus. Os autores bíblicos providenciaram informações adicionais no tocante à essência de Deus por meio de seus testemunhos quanto aos atributos divinos, tanto comunicáveis quanto incomunicáveis.
Os atributos incomunicáveis incluem alguns aspectos da natureza divina de Deus, os quais não podem ser concedidos a seres criados. Deus possui “vida em si mesmo” (Jo 5:26); portanto é autoexistente. Ele possui vontade independente (Ef 1:5) e poder próprio (Sl 115:3). Ele é onisciente, pois conhece todas as coisas (Jó 37:16; Sl 139:1-18; 147:5; 1Jo 3:20); na qualidade de Alfa e Ômega (Ap 1:8), Ele conhece o fim desde o princípio (Is 46:9-11).
Deus é onipresente (Sl 139:7-12; Hb 4:13), e assim transcende todo o espaço. Logo, Ele se encontra presente de modo pleno em cada região do espaço. Ele é eterno (Sl 90:2; Ap 1:8), e assim transcende os limites do tempo, estando plenamente presente em todos os momentos do tempo.
Deus é plenamente poderoso – onipotente – e pode realizar tudo aquilo que deseja; nada lhe é impossível (Dn 4:17, 25, 35; Mt 19:26; Ap 19:6). Ele também é imutável, uma vez que é perfeito. Ele diz: “Eu, o SENHOR, não mudo” (Ml 3:6; cf. Sl 33:11; Tg 1:17). Esses atributos não podem ser comunicados porque, em certo sentido, eles definem a Deus.
Os atributos comunicáveis de Deus resultam de seu amorável interesse pela humanidade. Ele concede amor (Rm 5:8), graça (Rm 3:24), misericórdia (Sl 145:9), longanimidade (2Pe 3:15), santidade (Sl 99:9), justiça (Ed 9:15; Jo 17:25), galardão (Ap 22:12) e verdade (1Jo 5:20). Esses dons, contudo, não podem ser recebidos sem que se receba o próprio Doador.
A soberania de Deus A soberania de Deus é claramente ensinada nas Escrituras. “Segundo a sua vontade, Ele opera [...] Não há quem lhe possa deter a mão” (Dn 4:35). “Porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4:11). “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, Ele o fez, nos céus e na terra” (Sl 135:6). Desse modo, Salomão pôde dizer: “Como ribeiros de água assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21:1). Paulo, estando cônscio da soberania de Deus, escreveu: “Se Deus quiser, voltarei para vós outros” (At 18:21; cf. Rm 15:32); ao mesmo tempo, Tiago admoesta: “Devíeis dizer: Se o Senhor quiser” (Tg 4:15).
Predestinação e liberdade humana. A Bíblia revela o pleno controle de Deus sobre o mundo. Ele “predestinou” pessoas “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:29), para serem adotadas como seus filhos e para obterem a herança (Ef 1:4, 5, 11). O que representa tal soberania para a liberdade humana? O verbo predestinar significa “determinar antecipadamente”. Alguns entendem que essas passagens ensinam que Deus elegeu arbitrariamente alguns para a salvação e outros para a perdição, sem considerar as escolhas dessas pessoas. Mas o estudo do contexto de tais passagens mostra que Paulo não está falando de um Deus que caprichosamente exclui a quem quer que seja. O impulso desses textos é inclusivo. A Bíblia declara, sem rodeios, que Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Ele não quer que qualquer pessoa “pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3:9). Não existe qualquer evidência de que Deus decretou que algumas pessoas devam se perder; semelhante decreto seria uma negação do Calvário, onde Jesus morreu em favor de todos. A expressão todo aquele no conhecido texto de João 3:16 – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” – significa que qualquer pessoa pode ser salva. “Que a livre vontade humana é o fator determinante em seu destino pessoal, torna-se evidente pelo fato de que Deus continuamente apresenta os resultados da obediência e da desobediência, e insiste em que o pecador escolha a obediência e a vida (Dt 30:19; Js 24:15; Is 1:16-20; Ap 22:17); e do fato de que é possível ao crente que uma vez foi recipiente da graça, cair dela e vir a se perder (1Co 9:27; Gl 5:4; Hb 6:4-6; 10:29). [...] “Deus pode ver antecipadamente todas as decisões individuais que serão tomadas, mas em sua presciência Ele não determina quais devem ser estas escolhas. [...] A predestinação bíblica consiste no efetivo propósito de Deus, de que todos aqueles que crerem em Cristo sejam salvos (Jo 1:12; Ef 1:4- 10).” 4 Assim, pois, o que deseja dizer a Escritura quando afirma que Deus amou Jacó e aborreceu Esaú (Rm 9:13), e que Ele endureceu o coração de Faraó (v. 17, 18; conferir os v. 15, 16, e Êx 9:16; 4:21)? O contexto dessas passagens mostra que o interesse de Paulo é pela missão, e não pela salvação. A Redenção acha-se disponível para todos, mas Deus escolheu determinadas pessoas para responsabilidades especiais. A salvação achava-se igualmente disponível para Jacó e Esaú, mas Deus escolheu Jacó – e não Esaú – para constituir a linhagem por intermédio da qual Ele haveria de enviar a mensagem de salvação ao mundo. Deus exerceu soberania em sua estratégia missionária. Quando a Escritura afirma que Deus endureceu o coração de Faraó, está atribuindo a Deus o crédito por aquilo que Ele meramente permite, e não a responsabilidade de uma ordem sua para que aquilo ocorra. A negativa de Faraó em responder aos apelos de Deus, serve, na verdade, para ilustrar o respeito de Deus pela liberdade de escolha das pessoas.
Conhecimento antecipado e liberdade humana. Alguns creem que Deus se relaciona com as pessoas sem efetivamente conhecer as suas decisões até que elas tenham sido tomadas; que Deus conhece certos eventos futuros, tais como o segundo advento, o milênio e a restauração da Terra, mas não tem ideia de quais serão as pessoas salvas. Essas pessoas sentem que as dinâmicas relações de Deus com a raça humana estariam em perigo se Ele conhecesse tudo aquilo que transpira de eternidade a eternidade. Alguns sugerem que Ele se sentiria entediado se conhecesse o fim desde o princípio. Assim como o conhecimento que um historiador tem daquilo que as pessoas fizeram no passado não interefere na ação delas, o conhecimento divino a respeito daquilo que os homens irão fazer não interfere em suas decisões efetivas. Da mesma forma como uma câmera registra as cenas mas não interfere nelas, o conhecimento antecipado de Deus penetra o futuro sem alterá-lo. A presciência de Deus jamais viola a liberdade humana.
Dinamismo interno da Divindade Porventura existe apenas um Deus? O que dizer de Cristo e do Espírito Santo?
A singularidade de Deus. Em contraste com o paganismo das nações circunvizinhas, Israel cria na existência de um Deus único (Dt 4:35; 6:4; Is 45:5; Zc 14:9). O Novo Testamento estabelece a mesma ênfase quanto à unidade de Deus (Mc 12:29-32; Jo 17:3; 1Co 8:4-6;Ef 4:4-6; 1Tm 2:5). Essa ênfase monoteísta não contradiz o conceito cristão de um Deus triúno ou Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo. Em vez disso, enfatiza que não existe um panteão com várias deidades.
A pluralidade interna da Divindade. Embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente que Deus é triúno, ele alude à pluralidade interna da Divindade. Por vezes, Deus utiliza pronomes e verbos no plural, como : “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:26); “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22); “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gn 11:7). Por vezes, o Anjo do Senhor é identificado com Deus. Tendo aparecido a Moisés, o Anjo do Senhor disse: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de lsaque e o Deus de Jacó” (Êx 3:6). Várias referências distinguem o Espírito de Deus do próprio Deus. Na história da criação, lemos que “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1:2). Alguns textos não apenas fazem referência ao Espírito, como também incluem uma terceira pessoa na obra redentora de Deus: “Agora, o SENHOR Deus [Deus Pai] me enviou a mim [o Filho de Deus] e o seu Espírito [o Espírito Santo]” (Is 48:16); “Pus [Deus Pai] sobre Ele [o Messias] o meu Espírito [Espírito Santo], e Ele promulgará o direito para os gentios” (Is 42:1).
O relacionamento interno da Divindade. O primeiro advento de Cristo nos provê alguns lampejos mais claros a respeito do Deus triúno. O evangelho de João revela que a Divindade consiste em Deus Pai (ver capítulo 3 deste livro), Deus Filho (capítulo 4) e Deus Espírito Santo (capítulo 5), uma unidade de três pessoas coeternas que se inter-relacionam de forma única e misteriosa.
1. Relacionamento amorável. No momento em que Jesus exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34), sofria Ele o afastamento de seu Pai, que o pecado causara. O pecado rompeu o relacionamento original da humanidade com Deus (Gn 3:6-10;Is 59:2). Em suas últimas horas antes da cruz, o Salvador, que por si mesmo não conhecia o pecado, tornou-se pecado por nós. Ao assumir nosso pecado e nosso lugar, experimentou Ele a separação do Pai que representava a nossa sorte, e, consequentemente, pereceu. Os pecadores jamais compreenderão o que a morte de Jesus representou para a Divindade. Desde a eternidade fora Ele um com o Pai e o Santo Espírito. Eles haviam existido como coeternos, em uma coexistência em que se ofereciam a si próprios mutuamente em amor. Tendo estado juntos durante tanto tempo, compreende-se o perfeito e absoluto amor que existia entre a Divindade. “Deus é amor” (1Jo 4:8); isso significa que cada uma das pessoas vivia de modo tão completo para as demais, que Eles experimentavam completa realização e felicidade.
O amor é definido em 1 Coríntios 13. Alguns poderão interrogar-se por que razão as qualidades da longanimidade e da paciência seriam necessárias no relacionamento interno da Divindade, uma vez que ali existe o mais perfeito amor. A paciência se tornou necessária pela primeira vez no tratamento com os anjos rebeldes, e, mais tarde, no relacionamento com o indócil ser humano.
Não existe distância entre as Pessoas da Divindade triúna. Todas elas são divinas, e assim compartilham seus poderes e qualidades divinos. Nas organizações humanas, a autoridade final repousa sobre uma pessoa – um presidente, rei ou primeiro-ministro. Na economia da Divindade, a autoridade final reside sobre todos os três membros.
Embora a Divindade não seja apenas uma Pessoa, Deus é um em propósito, mente e caráter. Essa unicidade não oblitera as personalidades distintas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tampouco a existência dessas personalidades separadas destrói o conceito monoteísta das Escrituras, de que Pai, Filho e Espírito Santo são um único Deus.
1. Relacionamento funcional. Dentro da Divindade existe uma distribuição de funções. Deus não duplica desnecessariamente o serviço. Ordem é a primeira lei do Céu, e Deus opera de maneira ordenada. Essa organização parte da unidade interna da Divindade. O Pai parece atuar como fonte, o Filho como mediador e o Espírito Santo como atualizador ou aplicador. A encarnação ilustra de forma bonita o relacionamento funcional entre as três Pessoas da Divindade. O Pai entregou seu Filho, Cristo deu-se a si próprio e o Espírito Santo operou a concepção de Jesus (Jo 3:16; Mt 1:18, 20). O testemunho do anjo a Maria indicou as atividades dos três no processo misterioso em que Deus Se fez homem. “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). Todos os membros da Divindade se achavam presentes no batismo de Cristo: o Pai lhe concedeu estímulo (Mt 3:17), Cristo apresentou-se a si próprio para ser batizado e servir-nos de exemplo (Mt 3:13-15) e o Espírito Santo deu-se a si mesmo para encher Jesus de poder (Lc 3:21, 22). Aproximando-se do fim de seu ministério terrestre, Jesus prometeu enviar o Espírito Santo como conselheiro ou ajudador (Jo 14:16). Horas mais tarde, pendente da cruz, Jesus clamou a seu Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46). Naqueles momentos extremos e cruciais para a história da salvação, Pai, Filho e Espírito Santo compuseram conjuntamente o quadro dramático. Nos dias atuais, Pai e Filho chegam até nós por intermédio do Espírito Santo. Jesus disse: “Quando, porém, vier o Consolador, que Eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, Esse dará testemunho de mim” (Jo 15:26). O Pai e o Filho enviaram o Espírito para que Ele revelasse o Filho a cada pessoa. O grande fardo que repousa sobre a Divindade é trazer a cada pessoa o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo (Jo 17:3) e tornar Jesus presente e real (Mt 28:20; cf. Hb 13:5). Os crentes são eleitos para a salvação, diz Pedro, “segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1Pe 1:2). A bênção apostólica inclui as três Pessoas da Divindade. “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13:13). Cristo aparece no início da lista. O ponto de contato de Deus com a humanidade se realizava, e ocorre ainda hoje, por intermédio de Jesus Cristo – o Deus que se tornou homem. Embora todos os três membros da Divindade trabalhem em conjunto para a nossa salvação, somente Jesus viveu como homem, e se tornou o nosso salvador (Jo 6:47; Mt 1:21; At 4:12). Uma vez, porém, que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5:19), Deus também poderia ser designado como nosso Salvador (cf. Tt 3:4), pois Ele nos salvou por meio de Cristo, o salvador (Ef 5:23; Fp 3:20; cf. Tt 3:6). Em sua distribuição interna de funções, diferentes membros da Divindade executam tarefas distintas para a salvação do homem. O trabalho do Espírito Santo não acrescenta coisa alguma à perfeição e eficácia do sacrifício empreendido por Cristo na cruz. Por intermédio do Espírito Santo, a propiciação objetiva efetuada no Calvário é aplicada subjetivamente à medida que o Cristo da propiciação é levado para o íntimo do crente. É por essa razão que Paulo fala de “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27). Foco na salvação A igreja apostólica batizava as pessoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19). Uma vez, porém, que foi pela vida de Jesus que ocorreu a revelação do amor e do propósito de Deus, é nele que a Bíblia se centraliza. Ele é a esperança antecipada pelos sacrifícios e festivais do Antigo Testamento. É Ele quem ocupa a posição central nos evangelhos. Ele representa as boas-novas proclamadas pelos discípulos em seus sermões e escritos – a Bendita Esperança. O Antigo Testamento dirige seu olhar para o futuro, esperando-o; o Novo Testamento relata seu primeiro advento e prossegue olhando para o futuro, em direção a sua segunda vinda.
Cristo, o Mediador entre Deus e o homem, estabelece nosso vínculo de união com a Divindade. Jesus é “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6). As boas-novas acham-se centralizadas em uma Pessoa, e não apenas emuma prática. Têm a ver com um relacionamento, não apenas com regras – pois o cristianismo é Cristo. Nele encontramos o cerne, o conteúdo e o contexto de todas as verdades e da vida.
Contemplando a cruz, conseguimos olhar o interior do coração de Deus.
Naquele instrumento de tortura, Ele derramou seu amor por nós. Por meio de Cristo, o amor da Divindade ocupa por completo nossos corações doridos e vazios. Jesus permaneceu ali pendurado como o dom de Deus e nosso substituto. Na cruz do Calvário, Deus desceu à Terra, ao ponto mais baixo imaginável, a fim de nos encontrar; mas esse mesmo lugar representa o ponto mais alto que nós podemos atingir. Quando nos aproximamos do Calvário, subimos ao lugar mais alto possível em direção a Deus.
Na cruz, a Trindade demonstrou a maior revelação de altruísmo. Foi aquela a nossa mais elevada revelação de Deus. Cristo se tornou humano a fim de morrer pela raça humana. Ele valorizou a autonegação como sendo mais valiosa que a autoexistência. Ali Cristo se tornou nossa “justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1:30). Qualquer que seja o valor que tenhamos ou venhamos a ter, este provém do sacrifício que Ele efetuou na cruz.
O único Deus verdadeiro é o Deus da cruz. Cristo desvendou ao universo o infinito amor e poder salvador de Deus; Ele revelou um Deus triúno que se dispôs a suportar a agonia da separação em virtude de seu amor incondicional por um planeta rebelde. Da cruz, Deus proclamou o amorável convite que nos dirige: devemos nos reconciliar, “e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4:7).
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