Mas o Senhor… Estudo 3
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Mas o Senhor…
Jonas 1.3–4
Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor. Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar (Jn 1.3–4).
A tolice de Jonas
Nos estudos passados refletimos sobre as razões que Jonas pode ter tido para fugir de Deus, a principal delas sendo sua indisposição de pregar a graça de Deus à odiada população de Nínive. Mas deveríamos refletir também sobre a fuga em si, sobre a qual temos muitos detalhes.
A primeira coisa que observamos é como pareceu fácil o caminho do pecado, pelo menos inicialmente. Deus chamou Jonas para que ele fosse para o norte, para Nínive, mas, em vez disso, o profeta correu para o sul, para Jope. Em vez de subir e servir ao Senhor, ele desceu para servir à sua própria rebelião. E, quando chegou a Jope, encontrou “… um navio que ia para Társis” (Jn 1.3). Podemos apenas imaginar como isso deve ter encorajado Jonas em seu trajeto rebelde. Ele deve ter remoído suas razões amarguradas para fugir de Deus, e sua consciência deve ter relutado com sua decisão. Pode até ter pensado que, se sua decisão estivesse errada, então Deus colocaria obstáculos em seu caminho. Mas o que aconteceu em Jope foi justamente o contrário. Lá, aguardando Jonas em sua fuga para o oeste, havia um navio a caminho de um porto tão longe de Nínive quanto Jonas podia ter desejado. Como vimos, não conhecemos a localização exata de Társis, mas os estudiosos concordam que ficava na costa oeste da atual Espanha. “Ah”, Jonas deve ter pensado, “a providência colocou o barco certo no momento exato em que cheguei”.
O pecado, muitas vezes, funciona dessa forma, mesmo que Jonas não o tenha percebido em seu estado iludido.
A narrativa de Jonas mostra como os nossos passos rebeldes nos afastam rapidamente da vontade de Deus. O versículo 3 é conciso em sua progressão de verbos, onde um leva ao outro, sem espaço para reflexão: Jonas se dispôs (para fugir), achou (um navio), pagou (a passagem) e embarcou (no navio). Muitas vezes, é assim que o pecado funciona: Uma vez que nos permitimos desobedecer a Deus, o mundo pecaminoso prepara tudo para uma progressão rápida. Jonas pode ter justificado sua desobediência alegando que Deus havia “aberto uma porta” para sua fuga a Társis. Sua tolice nos lembra de que as circunstâncias em si não provam a bênção de Deus: a confirmação de que sempre necessitamos é a Palavra de Deus.
A situação de Jonas me lembra da queda livre de Davi para o seu maior pecado, a sedução de Bate-Seba. Capítulo após capítulo, a Bíblia nos relata o longo progresso de Davi na fé, mas bastam três versículos surpreendentemente curtos para sua queda. Segundo Samuel 11.2–4 nos conta que Davi viu uma mulher linda, que ele enviou um mensageiro, que ela veio e que ele se deitou com ela. Davi estava negligenciando seu dever, permanecendo em Jerusalém enquanto seu exército partia para a guerra. Assim que ele desviou seu olhar de seu dever, ele recaiu sobre a bela mulher tomando banho. Antes de ter tempo para reconsiderar, ele já havia se entregado a um pecado que, em certos aspectos, ele jamais superaria.
A fuga de Jonas é semelhante. Tudo é ação, sem reflexão ou oração. Como Davi se encontrava nas garras de seu desejo, Jonas estava preso em seu ressentimento. Estando seu coração rendido, suas pernas foram tão rápidas quanto as mãos para cometer o pecado. Mais rápido do que se pode imaginar, Jonas já se encontrava no navio que o levaria para o fim do mundo, esperando aumentar assim a distância entre Deus e ele. Uma vez a bordo, mesmo que Jonas tivesse começado a pensar sobre o que estava fazendo, já era tarde demais: o navio havia zarpado. O pecado sempre nos leva mais longe do que imaginamos e mais rápido do que pretendíamos.
Há uma lição importante nisso para nós. Se estivermos brincando com um pecado e uma oportunidade se apresentar, não devemos reconhecer nisso a mão da boa sorte, mas a de Satanás. Afinal de contas, para o diabo não é difícil criar oportunidades para o pecado. Talvez você tenha se permitido entreter pensamentos sobre um caso sexual; então, você não deveria se surpreender se aparecer uma oportunidade para o adultério. Isso deveria despertar sua suspeita e levá-lo ao arrependimento.
Jonas nos mostra também que, uma vez que decidimos pecar contra Deus, qualquer um de nós pode agir de forma surpreendente. A tola rebelião de Jonas contra o Senhor o envolveu em condutas absolutamente irracionais. Por causa de seu ódio contra os gentios, ele tentou escapar da presença de Deus e até da presença do povo de Deus, para que não fosse obrigado a profetizar em Nínive. Mas veja a companhia que ele acaba procurando: a companhia de marinheiros pagãos e gentios, cujas vidas certamente se opunham ao Senhor e ao seu povo. Além disso, ele paga sua passagem, entregando o que certamente foi uma quantia considerável de dinheiro, e se dispõe a gastar muito tempo, visto que a viagem podia levar muito tempo. Além do mais, ele assume os grandes perigos que uma viagem marítima apresentava na época. Leslie Allen nos lembra de que os hebreus não eram um povo marítimo. Ele escreve: “O fato de que Jonas estava disposto a confiar a sua vida a um navio em vez de encarar o chamado de Deus deve ter convencido seus ouvintes como prova de sua louca determinação”.
A mesma coisa acontece com cristãos quando seguem o caminho do pecado. O pecado é caro e nos envolve com companhias pouco saudáveis. Ele envolve riscos e perigos aos quais um cristão não deveria se expor.
Misericórdia severa
O relato da fuga de Jonas apresenta dois “mas” que estruturam o relato. O primeiro é “mas Jonas”, que fala da falta de disposição da parte de Jonas para obedecer ao chamado soberano de Deus. Deus enviou Jonas a Nínive, “… Jonas se dispôs, mas para fugir” (Jn 1.3). No entanto, o homem rebelde jamais tem a última palavra; assim, o versículo 4 nos fornece outro “mas”: “Mas o Senhor”. Jonas se demitiu de seu cargo como profeta, mas o Senhor não aceitou sua demissão. Jonas fugiu da presença de Deus num navio para a distante cidade de Társis, mas o Senhor não o deixou ir. Jonas desceu para o porão do navio para dormir (Jn 1.5), “Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar” (Jn 1.4).
Podemos imaginá-lo no barco após sair do porto. Ele conseguira! Agora, não precisaria mais pregar aos odiados cidadãos de Nínive. Mas Deus tinha outros planos, ele não pretendia deixar Jonas escapar com tanta facilidade. Surgiu uma tempestade no mar, como explica João Calvino: “Não por acaso, mas pelo propósito certo de Deus, para que, ao ser dominado no mar, [Jonas] reconhecesse que ele havia se enganado ao acreditar que poderia fugir da presença de Deus pelo mar”. É o Senhor, escreve Jeremias, “… que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas” (Jr 31.35).
A tempestade vivenciada por Jonas é um exemplo clássico de reprimenda divina. A Bíblia afirma explicitamente que os filhos de Deus que se desviam experimentarão a repreensão do Pai. Hebreus 12.6 diz: “… o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”. Essa razão já bastaria para Jonas não esperar que conseguisse fugir de Deus, assim como nenhum filho de Deus pode esperar prosperar no pecado. “Jonas achava que podia simplesmente virar as costas ao chamado divino. Mas o Senhor estava prestes a transformar a viagem de Jonas em um ‘momento de lição’.”
Jonas 1.4 deixa claro que a tempestade era um ato de reprimenda divina: “… o Senhor lançou sobre o mar um forte vento”. Em outras palavras, Deus mirou o navio de Jonas com precisão. Falamos hoje de “bombas inteligentes” e de mísseis guiados, mas eles nada são comparados ao castigo de Deus. Em outro lugar, a palavra “lançou” é usada em combinação com uma lança. O. Palmer Robertson explica: “Ele mira cuidadosamente o alvo escolhido e com toda a sua força ele ‘lança’ sua arma escolhida”.
Deus tem uma arma específica para cada cristão rebelde. Como ele demonstrou no caso de Jonas, ele tem um meio para obstruir nosso caminho pecaminoso. Pode ser uma reviravolta avassaladora no emprego. Pode ser uma doença fatal. É comum, por exemplo, que um cristão sinta um peso na consciência quando tenta racionalizar algum plano para não ter que cumprir a vontade de Deus. Um cristão verdadeiro jamais conseguirá escapar de Deus; em determinado momento, Deus entra em cena e, quando ele o fizer, será com precisão. No caso de Jonas, Deus enviou uma tempestade tão forte que até mesmo os marinheiros experientes ficaram desesperados. O propósito evidente de Deus com essa tempestade era parar a viagem de Jonas para o oeste. A tempestade era tão forte que “… o navio estava a ponto de se despedaçar” (Jn 1.4).
A motivação de Deus não era ira, mas misericórdia. Salvá-lo de sua própria tolice pecaminosa era uma demonstração da severa misericórdia de Deus. Esse castigo manifesta inevitavelmente o poder temeroso de Deus, mas também a graça dele ao impedir uma rebelião.
Deus estava enviando uma mensagem clara a Jonas. A mensagem era que suas ordens não podem ser levianamente rejeitadas ou desobedecidas. Essa é uma mensagem que todos nós devíamos ouvir e entender, para que não nos recusemos a responder ao chamado de Deus de servir.
Deus queria que essa tempestade servisse de lição a Jonas. Peter Williams resume: “Ele nos persegue porque nos ama e deseja nos levar de volta para si mesmo”. Cada filho de Deus encontra segurança verdadeira na graça que o busca. “Às vezes, Deus nos permite acreditar que podemos nos esconder dele e fugir das suas ordens a fim de ensinar-nos o quanto precisamos dele e o quanto ele nos ama.