Palavra que não volta vazia

Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Objetivo Geral: Aprofundar o conhecimento acerca do ensino de Jesus e corrigir compreensões errôneas das parábolas de Jesus. Objetivo específico: Apontar a reação de cada público à pregação do evangelho, diferenciando os ímpios dos eleitos. Proposição: Nossas reações ao Evangelho indicam o quão profundo ele chegou em nós.

Notes
Transcript
Lucas 8.4-15 4E, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola: 5Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; 6E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; 7E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; 8E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 9E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta? 10E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam. 11Esta é, pois, a parábola: A semente é a palavra de Deus; 12E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que não se salvem, crendo; 13E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam; 14E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição; 15E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.

Introdução

Continuamos com a série de pregações Parábolas de Jesus. Esta série busca aprofundar nosso conhecimento acerca do ensino de Cristo, bem como corrigir algumas compreensões equivocadas das parábolas dele.
A parábola que analisamos hoje possui explicação dada pelo próprio Jesus, o que poderia significar que não há nenhuma confusão quanto ao seu significado. Mas não é o que ocorre, pois nós temos a incrível habilidade de criar confusão nas palavras de Jesus, mesmo quando o Mestre dos mestres nos explica.
A confusão aqui não está no significado dos elementos da parábola, mas em qual é a situação de cada uma das pessoas representadas pelos quatro solos: caminho, pedregoso, espinhal, bom. Em algum momento da história, alguém se perguntou: qual dessas pessoas foi salva no final?
Duas interpretações se tornaram mais comuns. A primeira, talvez a mais popular, diz que apenas a semente lançada pelo caminho representa pessoas perdidas. As demais seriam pessoas salvas. A segunda, que é a que eu creio ser a verdade, diz que apenas a semente lançada em solo bom aponta a salvação. As demais pessoas seriam perdidas.
E porque essa discussão é importante? A) É importante porque a parábola fala das reações daqueles que rejeitam ou aceitam Evangelho. B) Nos dá um bom termômetro para saber se uma pessoa deve ser “edificada” ou “evangelizada”. C) Também nos ajuda a medir nossa própria fé, para que não nos enganemos com religião aparente. Além disso, D) nos ajuda a medir nossos esforços evangelísticos de maneira adequada, compreendendo o poder do evangelho e a limitação do que nós podemos fazer.
Lerei a parábola por inteiro, mas me deterei apenas na exposição da explicação da parábola, com algumas pequenas exceções.
Enfim, ao final desta pregação, perceberemos que nossas reações ao Evangelho indicam o quão profundo ele chegou em nós.
Vamos novamente ao texto.
4E, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola: 5Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; 6E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; 7E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; 8E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Essa parábola também é contada nos evangelhos de Mateus 13.1-9 e Marcos 4.1-9 e, por estar no meio de outras parábolas naqueles evangelhos, fica um pouco mais fácil discernir o que Jesus quis dizer lá que no evangelho de Lucas.
É interessante notar que nessa parábola Jesus não apontou uma símile para o povo entender a comparação. Ele apenas conta a história de maneira seca, deixando mais enigmática a história.
Outras parábolas ele começa ou termina apontando algo para comparar. Por exemplo, a parábola do joio (Mt 13.24)ele começa dizendo “O reino de Deus é semelhante a um homem que...”, ou seja, a comparação daquela história é com o Reino de Deus.
Jesus começa e termina sem fazer a ponte necessária para a compreensão. Ao final ele ainda diz “quem tem ouvidos para ouvir ouça”, que é a expressão usada por Jesus para chamar a atenção daqueles que são capazes espiritualmente de entender.
9E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta? 10E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.
A parábola era realmente mais difícil de entender. Só para quem tinha “ouvidos para ouvir”. Os discípulos, mesmo acompanhando Jesus de perto, precisaram de socorro para entender o que havia sido dito.
Mas a compreensão dos mistérios de Deus não é algo natural ao ser humano caído. Jesus diz que a eles “é dado a conhecer os mistérios do reino”. É necessário que o próprio Jesus queira revelar.
Ainda que o cristianismo seja logicamente bem estruturado, ao ponto de ser racionalmente compreensível por qualquer um, há um entendimento dele que só é possível àqueles a quem Jesus quer.
Como está escrito em Mateus 11.27:
Mt 11.27 27Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
De maneira similar, Paulo explica que a pecaminosidade humana e o diabo tornam o evangelho encoberto para os reprovados:
2Co 4.3-4 3Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.
Então, se você conhece a Deus e entende os mistérios do reino de Deus, não se vanglorie disso. Jesus é quem concedeu que você entendesse essas coisas. Isso é graça, misericórdia, não mérito seu ou capacidade pessoal.
11Esta é, pois, a parábola: A semente é a palavra de Deus; 12E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que não se salvem, crendo;
Começa a explicação dada pelo próprio autor da parábola. Aliás, vale a pena lembrar que, assim como nessa parábola, a interpretação correta de todo e qualquer texto é sempre aquela que respeita a intenção do autor. Qualquer significado dado para o texto que não seja a intenção original do autor, será uma distorção.
Jesus começa dizendo que a semente é a Palavra de Deus, referindo-se às boas-novas do evangelho, numa linguagem próxima daquela que encontramos em Is 55.10-11.
Perceba que, ao contrário do que costuma ser dito, não basta que a Palavra de Deus “entre no coração” da pessoa. A Palavra de Deus é extremamente poderosa e sempre penetra no coração das pessoas.
Esta palavra é semeada em diversas pessoas, contudo, apesar de ouvir a palavra de Deus, algumas pessoas não tomam para si o que foi dito. Quer seja porque tratam o evangelho apenas como uma história entre tantas outras, não dando-lhe o devido valor, ou porque deliberadamente rejeitam o evangelho, tais pessoas de fato não creem no que foi pregado.
No caso desse tipo de pessoa descrita por Jesus, a semente não frutifica porque foi tirada do coração (v.12). É rejeição declarada contra Deus (Rm 1.18).
Há aqui tanto o mal da própria pessoa que apenas ouve sem se comprometer[1], como também a ação do diabo em diminuir os efeitos da pregação. Neste trecho não há dúvidas de que a pessoa que morrer nesta condição estará perdida para sempre.
13E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam;
Jesus diz que algumas das pessoas que ouvem o evangelho se empolgam com a novidade e, de fato, passam a seguir a Palavra de Deus com alegria.
Se você tem o hábito de pregar o evangelho certamente já deparou com pessoas que receberam muito bem a palavra da salvação e até chegaram a frequentar alguma igreja. Mas, passado um tempo, a pessoa começa a definhar na fé e acaba por abandonar a fé.
Conheci uma moça que havia “finalmente abraçado o evangelho” (filha do “pr.” Ribeiro). Estava se dedicando à vida de igreja e tudo mais. Não muito tempo depois ela abandonou a igreja e passou a frequentar um terreiro de candomblé.
Jesus explica que pessoas assim não tem raiz em si mesmas, ou seja, o evangelho é superficial para eles. Um acréscimo à vida, mas não algo que tome toda a sua mente e seu ser. É uma questão de que a própria pessoa não está disposta a deixar o evangelho atingir todas as áreas de sua vida, endurecendo seu coração em áreas que lhe convém.
O evangelho não prospera num coração cheio de dureza. Lucas cita que a semente não cresceu por falta de umidade, enquanto Marcos e Mateus se referem à pouca quantia de solo. O resultado é o mesmo: a planta secou.
Uma fé superficial também seca, por ser baseada na força da própria pessoa, não no relacionamento com Cristo. Em outras palavras, não basta ter Cristo no coração, ele tem que fazer raízes lá. Não basta se voltar a Ele, tem que se voltar a Ele de “todo o coração” (Jr 24.7).
14E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição;
O Senhor prossegue dizendo que há aqueles que, assim como os representados pelo solo rochoso, recebem a palavra de Deus, dando a impressão por um tempo de que são discípulos, mas isto é temporário.
Neste caso, essas pessoas são aquelas que muitas vezes permanecem se intitulando cristãos, mas a sua vida simplesmente não frutifica com obras esperadas de cristãos. Você percebe que elas são focadas em si mesmas, não no reino de Deus. Elas querem ser mais ricas, mais belas, mais conhecidas. Elas constantemente procuram satisfação em outras coisas, porque Cristo não as satisfaz de maneira alguma.
Ela pode repetir doutrinas bíblicas, falar como cristão e até reconhecer que Deus faz milagres e coisas do tipo. Mas Deus não está nos seus planos, pensamentos e atos. Ela afirma que Deus é como a luz do Sol, mas como uma mariposa segue a lâmpada das riquezas e dos prazeres.
O resultado? Não frutifica. o profeta Ezequiel teve que lidar com pessoas assim. Ele profetizou contra aqueles do povo de Israel que tinham um compromisso verbal com Deus.
Ezequiel 33.31 “Eles vêm até você, como o povo costuma vir, assentam-se diante de você como meu povo e ouvem as suas palavras, mas não as põem em prática. Com a boca, professam muito amor, mas o coração deles só ambiciona lucro.”
Aqui não se iluda com a expressão escolhida por Lucas. Alguém poderia dizer que se trata de um cristão com obras imperfeitas. Se você consultar Mateus e Marcos, verá que essa expressão de Lucas (frutos imperfeitos ou não maduros) é sinônimo de não frutificar (ἄκαρπος).
Interessante pensar na figura do espinhal. Existem na região da palestina áreas repletas de espinhais que tornam muito difícil passar por eles. Assim como nos espinhais, a cultura em que nascemos oferece muita pressão sobre nós de maneira que se ouvimos o evangelho, mas não ocorre uma real conversão, falamos que somos cristãos, mas permanecemos presos, sufocados pelos valores da nossa cultura.
Não quero dizer que um verdadeiro cristão rechaça totalmente seus valores culturais. O que quero dizer é que um verdadeiro cristão não é sufocado, preso, escravizado pela própria cultura.
15E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.
Finalmente, chegamos ao último solo, o solo bom. Jesus descreve essa pessoa como alguém que não somente ouve a palavra, mas a conserva, num coração honesto e bom e dão fruto com perseverança.
Cristo se refere aos salvos como pessoas que permanecem no evangelho até o fim, pois seu coração está livre daquilo que poderia impedi-lo de frutificar. Se você duvida que este é o único solo que se refere aos salvos, tente provar biblicamente que um cristão pode não conservar a fé, ou que um cristão tem um coração desonesto e mal ou que um cristão não tem vontade de dar fruto. Tarefa bastante ingrata essa.
De maneira nenhuma Cristo está dizendo que um cristão é uma pessoa perfeitamente boa e que não vacile de vez em quando na fé. Essa parábola está concentrada no assunto frutificação do evangelho e seria desonesto tentar fazer a parábola dizer algo além deste assunto.
Jesus ensina de maneira bem viva que quem de fato é transformado pelo evangelho naturalmente agirá como discípulo de Cristo, obedecendo a palavra de Deus (dar frutos).
Lucas nos dá uma versão resumida dessa frutificação, mas Mateus e Marcos nos dizem que existem graus de frutificação entre os salvos. Alguns produzem mais que outros, mas todos são tratados como solo bom.
Em resumo, o Senhor expõe as reações que cada pessoa tem ao ouvir o Evangelho, indicando o quão profundo ele chegou em nós.
Dito isto, quero deixar algumas aplicações para nós

1ª Aplicação: Analise a si mesmo

Se você está aqui hoje, muito provavelmente você não é a pessoa representada pelo primeiro solo. Você tem demonstrado interesse pelo evangelho e provavelmente se entende como cristão. Contudo vimos que Jesus nos alertou para o fato de que podemos ser “cristãos temporários”.
Você tem certeza que se morrer hoje estará salvo? O que te faz crer que você é cristão de verdade? Vir à igreja ou ter nascido num lar evangélico não faz de você um cristão. Acreditar em Deus também não, pois até os demônios acreditam e tremem diante de Deus (Tg 2.19).
Faça uma análise sincera de sua vida e veja se você resiste às perseguições ou humilhações em nome de Jesus. Veja também se você tem deixado o evangelho de lado em nome de seu conforto ou prazer.
Você tem sido capaz de ignorar a Deus em nome de sua felicidade ou segurança? Se sim, é possível que você seja um pedregal ou espinhal.
Caso você não tenha muita segurança de que é salvo, procure um cristão mais maduro ou um dos líderes da igreja. Poderemos conversar e entender melhor o que se passa na sua vida.

2ª Aplicação: Celebre a graça de Deus

Se você se percebe como o bom solo seja muito grato a Deus. Celebre!
Nunca é demais lembrar que o mistério do Evangelho foi revelado a você por iniciativa de Cristo. Você não era melhor que os outros tipos de pessoa. Sem a iniciativa do Senhor, você seria como todos os que rejeitam o evangelho.
Em nossas orações temos muitos pedidos e agradecimentos, mas quando foi a última vez que você agradeceu pela sua salvação? Quando foi a última vez que, numa grande luta ou no meio de uma insatisfação você foi consolado com a lembrança de que Jesus te salvou?
Você está sempre esperando o melhor de Deus ou está feliz e contente porque o melhor de Deus (Cristo) já veio?
Exerça a gratidão sempre. Você já recebeu o maior presente de todos.

3ª Aplicação: Frutifique

Frutificar não é só evangelizar, como alguns pensam. Dar frutos é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. É ser obediente aos mandamentos, trazer Deus pro seu ambiente de trabalho, busca-lo em família, combater pecado com as armas de Deus.
Vimos que umas pessoas frutificam mais que outras, mas isso não deve ser motivo de vanglória, pois todos os cristãos são um bom solo.
Mais uma vez, se você acha que não tem frutificado como deveria, procure um cristão mais maduro ou um dos líderes da igreja. Além disso, tenha o hábito de ler a Bíblia sempre. O evangelho, a palavra de Deus, não volta vazia: ou produz obediência ou rejeição. Ninguém fica no meio termo.
Agarre-se ao evangelho e ele produzirá frutos de obediência em você!

Conclusão

Jesus nos ensina que só há um tipo de discípulo dele: o que frutifica.
Toda e qualquer pessoa que ouve o evangelho e o rejeita, quer verbalmente quer na prática, na verdade não é nem nunca foi um cristão verdadeiramente.
Algumas pessoas que tratamos como “desviados” na verdade deveriam ser evangelizadas, não tratadas como se fossem crentes mais fracos. Tratá-los como crentes nos impede de anunciar a situação terrível deles e de oferecer a única solução, que é se render aos pés de Jesus.
Existem crentes mais fracos e que frutificam menos. Estes sim devem ser amados como irmãos na fé e ajudados a superar suas fraquezas.
Que Deus nos dê discernimento para notar uma coisa e outra.
[1] Calvino, comentando este trecho em Mateus, lembra que a palavra pode ser acolhida com mansidão ou não no coração, cf Tg 1.21.
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