O poder libertador de Jesus
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Continuamos agora o sermão anterior, onde começamos a ver Marcos 5:1-20, um dos incidentes mais importantes do ministério terreno de Jesus, no qual, mais uma vez demonstrou cabalmente Sua divindade, quando muitos demônios que possuíam um homem se prostraram diante Dele, não em adoração, mas aterrorizados por saber quem Ele é.
Como sempre falamos, os Evangelhos foram escritos para demonstrar que Jesus é o Filho de Deus, o Senhor, o Messias e Salvador.
Antes de deparar com esse homem possesso, os discípulos testemunharam a autoridade de Jesus sobre o vento e a água, durante a travessia do Mar da Galileia. Marcos 4:41 diz que eles foram tomados de grande temor e exclamaram: “Quem é este homem, que até o vento e o mar lhe obedecem?”. Eles sabiam que se tratava do Filho de Deus.
O Messias, o Filho de Deus, também deveria ser capaz de subjugar os demônios e Satanás. Nesta série sobre o Evangelho de Marcos já vimos como Jesus confrontou e subjugou demônios em várias ocasiões, quando eles reconheceram que Jesus é o Filho de Deus (Marcos 1:32; 3:11). Ele também já havia demonstrado Seu poder quando Satanás O tentou no deserto. Os agentes das trevas sempre sucumbiram diante Dele.
1 João 3:8 diz: “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. Isso faz parte do propósito divino. Em Lucas 11:20, Jesus disse: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós”.
Parte do ministério terreno de Jesus foi para demonstrar o poder de Deus sobre o mundo das trevas e seu poder devastador. Embora a possessão demoníaca já existisse há muito tempo, durante a vida de nosso Senhor Jesus Cristo na Terra a possessão demoníaca tornou-se amplamente manifesta, fruto de um explosivo conflito que os demônios travaram contra Jesus e do poder que Jesus tinha sobre eles.
O poder libertador de Jesus
Mas, a partir de Marcos 5:8, temos em evidência o poder libertador da divindade. Jesus deu uma ordem: “Espírito imundo, sai desse homem!”. Essa ordem foi dirigida ao porta voz da legião que estava naquele homem. No verso 9, Jesus perguntou qual era o nome dele, um dos demônios respondeu: “Legião é o meu nome, porque somos muitos”.
Legião não é um nome, é uma designação militar. E uma legião romana tinha até seis mil soldados. Jesus exige que ele manifestasse isso para demonstrar publicamente Sua absoluta autoridade sobre os demônios. Uma coisa é expulsar um demônio de uma pessoa, outra coisa é lidar com milhares de demônios com uma simples ordem.
Eles não queriam sair daquele homem e não queriam ser enviados para o abismo. Sem alternativas, diante da autoridade de Jesus, “rogou-lhe encarecidamente que os não mandasse para fora do país” (Marcos 5:10).
Eles estavam em um território gentio cheio de várias religiões criadas por demônios e permeado de doutrinas de demônios. Eles queriam permanecer por lá e continuar a operar por ali. Eles haviam dito a Jesus que ainda não era hora de seu tormento eterno. Então, eles elaboram um plano:
Ora, pastava ali pelo monte uma grande manada de porcos. E os espíritos imundos rogaram a Jesus, dizendo: Manda-nos para os porcos, para que entremos neles. (Marcos 5:11-12)
Havia ali criação de porcos, isso nos lembra novamente que estamos em território gentio, judeus não criavam porcos. E o verso 13 diz que havia naquela manada 2.000 porcos.
Você diz: “Por que eles queriam ir para os porcos?” Não sei.
Você diz: “Os demônios imploraram por misericórdia?” Não foi apenas um simples pedido. Eles sabiam que Jesus tinha poder e autoridade para mandá-los para o abismo, caso desejasse. Eles fazem um pedido desesperado.
Lamentavelmente, há pessoas que se dizem cristãs, inclusive alguns pregadores, que pensam que Deus está em algum tipo de luta com os poderes do inferno, e que às vezes Satanás vence, às vezes Deus vence. Isso é um completo absurdo. Em qualquer momento, Deus poderia aprisionar todos os demônios em cadeias, conforme relato de apocalipse 20. O fato de Deus não fazer isso agora indica que eles servem a um propósito divino.
§ Satanás agiu contra Jó dentro dos limites permitidos por Deus. E, depois de tudo, Jó disse a Deus: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5).
§ Paulo disse que “foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim” (2 Coríntios 12:7-8). Mas Deus disse a Paulo: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12:9).
E o que isso produziu na vida de Paulo?
Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte (2 Coríntios 12:10).
§ Em Lucas 22:33, Pedro, confiante em sias próprias forças, disse a Jesus: “Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte”. Mas Jesus havia dito: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” (Lucas 22:31). Jesus refere-se a todos. Mas, diz precisamente a Pedro: “roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lucas 22:32). Ou seja, as provações perturbadoras que viriam sobre Pedro iriam refiná-lo para propósitos divinos.
Deus tem Seus propósitos. Ele poderia interromper toda a operação satânica instantaneamente, amarrar todos eles ou jogá-los no abismo imediatamente. Mas, Ele tem Seus propósitos. Ele deixa o mal seguir seu curso completo, porque Lhe traz glória. Ele traz à tona a maravilha de Sua graça e a maravilha de Sua ira. Tudo tem o tempo perfeitamente determinado por Deus. E assim, Marcos 5:13 diz:
Jesus o permitiu. Então, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram.
A destruição foi muito rápida. Nem Mateus, nem Marcos e nem Lucas comentam sobre o motivo disso, mas podemos ver que Jesus fez uma demonstração visível de Sua capacidade de libertar uma pessoa de milhares de demônios, provou Sua autoridade e poder sobrenatural e exibiu os propósitos destrutivos dos demônios.
Podemos concluir que uma vida humana vale mais que dois mil porcos.
Marcos 5:14 diz que “Os porqueiros fugiram e o anunciaram na cidade e pelos campos”. Eles saíram pela região divulgando o que havia acontecido ali.
Marcos 5:14 diz: “Então, saiu o povo para ver o que sucedera”. Mateus 8:34 diz que “a cidade toda saiu para encontrar-se com Jesus”. Todos ficaram perplexos com a cena descrita em Marcos 5:15, que diz:
Indo ter com Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram.
O homem feroz e indomável ficou em perfeito juízo, inofensivo, vestido, em paz, sereno não mais entre os mortos, mas entre os vivos. E os porcos mergulhados no mar. Foi uma cena incompreensível para eles. Eles temeram muito.
O que assustou o povo daquela região? Eles ficaram com medo de Jesus. Eles sabiam que estavam diante de poderes espirituais e sobrenaturais maiores do que qualquer coisa que já tinham visto. É o mesmo temor que as pessoas tiveram em toda a Escritura quando diante da presença de Deus. Algo como Pedro disse: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” (Lucas 5:8). Momento antes, quando Jesus ordenou que o vento e o mar se aquietassem, os discípulos ficaram “possuídos de grande temor” (Marcos 4:41).
É aterrorizante estar na presença do poder divino. Os discípulos ficaram assustados depois que a tempestade acalmou, com medo da presença de Cristo, porque sabiam que estavam diante da santidade de Deus. E assim foi com esses pagãos gentios. Eles sabiam que estavam na presença de alguém que é sobrenatural, que é divino; e eles estavam, e com razão, assustados.
Vimos o poder destrutivo dos demônios e o poder libertador da divindade. Veremos agora o poder condenatório da depravação.
Muitos acreditam que esse tipo de milagre causaria um reavivamento. Muitos consideram que as pessoas iriam querer conhecer Jesus após testemunharem um sinal tão notório, convincente, poderoso e transformador. Porém, Marcos 5:17 diz que o povo começou a suplicar a Jesus que saísse do território deles. Em outras palavras, eles disseram: “Vá embora daqui”.
Concordo com Bob Utley que diz "Este é um dos versículos mais tristes de toda a Bíblia. Na presença do maior homem da história, esses moradores estavam mais preocupados com a morte de alguns porcos do que com a redenção e recuperação de duas pessoas demonizadas e o potencial espiritual do evangelho para sua área."
Observe que Lucas explica por que eles pediram para Jesus ir embora explicando "pois eles estavam tomados ( sunecho/sinecho ) de grande medo." ( Lucas 8:37 + ) Isso não é como o medo dos discípulos descrito em Lc 8:25 + que pelo menos até certo ponto era reverente. Esse medo (qualquer que seja a causa) explica por que eles pediram para Jesus ir embora. Eles tinham visto Deus agir e O rejeitaram, o que não é muito diferente de ouvir a Palavra de Deus e rejeitá-Lo. Eles estavam tão focados em si mesmos que não demonstraram nenhuma gratidão pelo fato de o endemoniado ter sido curado (observe também a referência à perda dos porcos em Mc 5:16 ). Eles foram incapazes de se alegrar com aqueles que se alegram ( Rm 12:15 )! Como Stein diz: "Para o crente, esse medo se transforma em um temor santo, mas para o descrente é apenas um pavor terrível do qual eles buscam se livrar. Deus pode ser rejeitado, como o povo de Gerasa de fato fez. A paz, no entanto, veio ao demoníaco.
Em vez de querer ouvir mais, suas almas depravadas e endurecidas pelo pecado viram Jesus como alguém muito mais perigoso para eles do que este lunático feroz, pervertido e todos os demônios que estavam nele. Eles tinham mais medo da presença de Deus do que da presença de Satanás. Eles se sentiam confortáveis, até certo ponto, com Satanás.
Não há uma só palavra de agradecimento pela libertação do terror deste homem violento. Não há uma expressão de alegria. Eles preferiam ser aterrorizados por Satanás do que temerem a Deus, porque Satanás não interfere em seu comportamento pecaminoso. Essa é a natureza da depravação; é assim que todos os pecadores são. É mais confortável estar na presença do mal do que estar na presença da justiça.
Essa é uma das razões pelas quais o mundo odeia os cristãos. As enormes forças do mal são mais bem-vindas do que o grande poder de Deus. Um filho de Satanás é muito mais bem-vindo do que um Filho de Deus. Esse é o poder mortal da depravação para condenar o pecador.
Veja a resposta não apenas desses gentios, mas a resposta de toda a nação de Israel. O que eles disseram? “Fora! Fora! Crucifica-o… Não temos rei, senão César!” (João 19:15). Ou as chocantes palavras: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mateus 27:25). Por isso Jesus disse:
O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. (João 3:19)
Romanos 3:10-12 diz:
Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
A pregação da cruz para eles é tolice. “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (I Cor. 2:14). O mundo jaz sob o poder do príncipe do ar, movido pela concupiscência da carne, dos olhos e soberba da vida (I João 2:15-17).
Por mais poderoso que seja um milagre, o poder da depravação é mais forte. O milagre não quebrantará o coração duro, como ficou evidente em todo o ministério terreno de Jesus. Tem que haver outro milagre operado, e esse é o poder regenerador de Deus sobre seus escolhidos: “Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne” (Ezequiel 36:26).
Eles não queriam Jesus por perto. Eles não queriam Sua presença santa. Marcos 5:18 diz que em sequência Jesus retornou ao barco. Que cena triste. O Senhor voltou ao barco para ir embora. Que oportunidade, que demonstração da miséria, da cegueira e da morte do coração humano. Lucas 8:37 sintetiza essa triste cena:
Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou.
Os frutos de alguém liberto pelo poder de Deus
Por outro lado, o mesmo versículo diz: “O homem que estivera endemoninhado suplicava-lhe que o deixasse ir com ele”. Este homem não queria viver mais um dia sem Jesus. Provavelmente, houve mais conversa entre eles. Agora, ele se tornou um discípulo de Jesus Cristo. Aquela alma atormentada nasceu de novo e desejava estar com alguém que é santo. Ele queria estar entre os vivos e não mais entre os mortos. Isso é um discípulo.
E Jesus não permitiu, e respondeu-lhe: “Vá para casa, para a sua família e anuncie-lhes quanto o Senhor fez por você e como teve misericórdia de você” (Marcos 5:19). Esse foi o primeiro pregador que Jesus enviou em Seu ministério terreno. Aquele homem se tornou o primeiro missionário do evangelho. E ele recebeu a incumbência de anunciar as obras de Deus no meio de seu próprio povo.
Isso é tão maravilhoso! O que é necessário para testemunhar do poder de Cristo? O fato de que Ele trabalhou na sua vida. Desde o momento da sua conversão e transformação, você herdou imediatamente a responsabilidade de proclamar o nome de Cristo.
A prova da verdadeira fé é a obediência. Em João 14:21, Jesus disse: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. E como um verdadeiro discípulo, qual foi a reação daquele homem ao receber a ordem de Jesus?
Então, aquele homem se foi e começou a anunciar em Decápolis quanto Jesus tinha feito por ele. Todos ficavam admirados (Marcos 5:20)
Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito (Lucas 8:39).
Decápolis era uma região de dez cidades na fronteira oriental do Império Romano na Judeia e Síria. Cada uma delas possuía a própria administração, eram independentes e autônomas, e eram ligadas entre si por uma aliança. E aquele homem passou a proclamar a glória de Deus nessas dez cidades. Esse foi o resultado do poder libertador de Cristo em um homem feroz, violento, depravado e letal.
Seu ministério teve algum efeito? Mais tarde, Marcos 7:31 diz que Jesus “saiu dos arredores de Tiro e atravessou Sidom, até o mar da Galileia e a região de Decápolis” e ali havia uma multidão a espera dele (Marcos 7:33 e 8:1). Ou seja, consequência do que está relatado em Marcos 5:20, que diz: “aquele homem se foi e começou a anunciar em Decápolis quanto Jesus tinha feito por ele. Todos ficavam admirados”.
Aquele homem teria todos os motivos humanos para não obedecer a ordem de Jesus, pois sua reputação era terrível. Isso é graça sobre graça. O novo nascimento operado pelo poder de Deus muda tudo. E ele foi obediente.