Vida cristã e unidade
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1 Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. 2 Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. 3 Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito:
As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim.
4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. 5 Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, 6 para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus. 8 Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; 9 e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito:
Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome.
10 E também diz:
Alegrai-vos, ó gentios, com o seu povo.
11 E ainda:
Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem.
12 Também Isaías diz:
Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão.
13 E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.
Irmãos, eu tenho fraquezas e limitações. E minha esposa sabe disso como ninguém. Ela sabe bem como eu sou péssimo em encontrar coisas perdidas. Às vezes estou procurando uma chave, uma carteira, ou meu celular. Eu procuro, procuro e não encontro. E pergunto para ela: "Você viu onde está?". E ela então, com toda a paciência (às vezes não), vem e pega o que estava bem debaixo do meu nariz.
Meus irmãos, a minha esposa precisa ter muita paciência comigo, porque admito que isso se repete muitas e muitas vezes.
Relacionamentos só funcionam onde há paciência, onde as fraquezas e limitações são toleradas. E é justamente esse o maior desafio dos relacionamentos. Esse é um grande desafio nos relacionamentos da igreja. Porque temos pessoas diferentes, com fraquezas e limitações e diferentes níveis de maturidade. Como fazer para que esse relacionamento seja harmonioso?
O apóstolo Paulo, na carta a Roma, trata de questões que envolvem os relacionamentos dentro da igreja, especialmente em relação àqueles que têm diferentes convicções sobre questões não essenciais, como a dieta e a observância de certos dias. Ele exorta os cristãos, especialmente os mais experientes, a acolherem seus irmãos que ainda estã estão amadurecendo na fé. Isso, muitas vezes, significa abrir mão de certas liberdades. Os cristãos devem se esforçar, devem se sacrificar, a fim de manter a unidade.
Agora Paulo expande as suas exortações a toda a igreja, não só os fortes. O tema de hoje é "Como os cristãos devem viver entre si". O texto que estudamos nos dá duas lições principais sobre o que é viver em unidade no corpo de Cristo: suportar uns dos outros e acolher uns aos outros. Acompanhe comigo.
1. Suportar uns dos outros
1. Suportar uns dos outros
Em primeiro lugar, devemos suportar uns aos outros em nossas fraquezas (v. 1-6).
No início de Romanos 15, Paulo fala para os "fortes" suportarem as "fraquezas dos fracos" (v. 1). Isto conclui a ideia que Paulo expressou no capítulo 14. Aqui temos um resumo daquilo que nós já vimos. Paulo está dizendo que aqueles que têm mais compreensão, maior maturidade, devem ser pacientes com aqueles que ainda estão em desenvolvimento. Isto é um dever. É uma responsabilidade que vem com o conhecimento.
A palavra "suportar" implica em carregar os fardos de outros, não de maneira passiva. É carregar "com esforço". É ser um apoio, um suporte, onde seu irmão pode se apoiar, se sustentar. É como quando você vê seu colega carregando algo pesado, como um piano, e você vê que ele precisa de ajuda. Se você se propuser a ajudá-lo, você precisará fazer força. Não adianta nada ir lá ajudar e só fazer de conta. Se fizer assim, ele irá cair. Você precisa se esforçar, a fim de que ele possa ir até o final.
E o que deve ser carregado? As "debilidades". Isto é, as fraquezas, as limitações, as áreas em que eles ainda precisam crescer. Aquele que é mais amadurecido na fé não deve esperar a mesma maturidade de todo mundo. Pelo contrário: nós nos dispomos a carregar o seu fardo. Percebemos suas fraquezas e decidimos cobri-las.
Não fazemos como Cam, que ao ver a nudez de seu pai a exibiu a seus irmãos. Faremos como seus irmãos, que cobriram a nudez de seu pai. Assim nós cobrimos as falhas uns dos outros.
Pense naqueles irmãos que cometem erros repetidos. Você já teve de lidar diversas vezes com o mesmo pecado. Ou aqueles irmãos que trazem cargas emocionais pesadas. Quem são as pessoas em nossa igreja que Deus colocou ao seu lado para você o ajudar a carregar fardos? Você está disposto a fazê-lo?
Isso é o contrário de agradar a si mesmo. Pois, certamente, cobrir a fraqueza dos outros é algo que dá trabalho. É muito mais fácil cobrar.
É muito mais fácil reclamar, dizendo: "Ah, já falei, já tentei, já disse 1000x e tal pessoa não muda, eu é que não vou falar mais nada". Quando estamos em um relacionamento de longa data com alguém, podemos ficar frustrados por ver os mesmos erros se repetindo, ou até por notar que aquela pessoa não parece estar avançando como gostaríamos. Na igreja isso acontece muitas vezes.
Mas Paulo nos chama a agradar o próximo. A buscar o bem do próximo. É uma ordem que Paulo nos dá: não buscar primeiramente o seu próprio bem, mas o do próximo. É uma repetição da regra de ouro: amar ao próximo como a ti mesmo. O padrão da nossa cultura é o de cortar relacionamentos. O casamento tá ruim? Corta. Amizade ruim? Corta. Igreja ruim? Corta. Pense primeiro em você, primeiro em suas necessidades. Mas Paulo nos ordena que busquemos o agrado do próximo.
Com qual propósito? Paulo diz: "para edificação". Ou seja, diante de uma fraqueza ou limitação de meu irmão, devo pensar em fazer aquilo que irá efetivamente edificá-lo, ajudá-lo em seu problema. Em cada palavra que você disser, pense nisto: estou buscando o bem, o que edifica tal pessoa? Ou estou só descontando a minha frustração? Ou estou só punindo-o com o meu silêncio? Se eu resolvo corrigi-lo, estou dizendo somente aquilo que trará crescimento para essa pessoa?
E tudo isso, certamente, é muito difícil. Mas nós temos auxílio para isso. Primeiro, temos um modelo: o próprio Cristo. Veja, Jesus não agradou a si mesmo. Ele veio para o mundo não para obter benefício para si. Pelo contrário, ele veio sofrer injustamente. Embora fosse sem pecado, ele foi insultado, ultrajado. Paulo cita aqui o Salmo 69, que fala das injúrias e da ira do próprio Pai caindo sobre Messias. Ele é a única pessoa deste mundo que pode dizer a respeito do sofrimento: "eu não mereço isso". Mas ele sofreu, e o fez em nosso lugar.
Então temos um auxílio, um exemplo que nos motiva: o próprio Cristo. Talvez você pense assim: "está muito difícil suportar a fraqueza desse irmão" ou "é muito difícil lidar com os pecados do meu cônjuge". Ou você talvez até diga: "eu não mereço um relacionamento assim". Então lembre-se de Jesus e o que ele suportou. Certamente, o seu fardo a carregar não chega nem perto do dele.
Cristo suportou você. Em última instância, essas injúrias que Cristo suportou foram por sua causa. Você era o pecador imaturo. Considere o que disse certa vez um escritor medieval, chamado Tomás a Kempis:
Tente suportar pacientemente os defeitos e enfermidades dos outros, quaisquer que sejam, porque você também tem muitos defeitos que os outros devem suportar. Se você não consegue ser o que gostaria de ser, como pode dobrar os outros à sua vontade? Queremos que eles sejam perfeitos, mas não corrigimos nossas próprias falhas.
Thomas à Kempis (escritor ascético)
Isso nos lembra que muitas vezes somos rápidos em notar as limitações de outros e minimizar as nossas. Lembrar-se do sacrifício de Cristo nos ajudará a ter em mente a misericórdia que nós recebemos e a estendê-la a outros.
Mas há um outro auxílio que temos para cumprir este mandamento: a Escritura. Paulo nos diz, com respeito ao texto de Salmo 69, que tudo o que foi escrito foi para o nosso ensino. Veja, o Salmo 69 e muitos outros salmos, profecias e todo o Antigo Testamento são para o nosso proveito. Mesmo tendo sido escritos tanto tempo atrás, bem antes de Cristo, todos eles falam de Cristo e são aplicáveis a nós, igreja de Cristo. Se o Salmo 69 fala do Messias que sofreu injúrias, isso nos ajuda a conhecer mais da obra de Cristo e também é para a nossa consolação e proveito.
Pois o propósito da Escritura é, segundo Paulo, desenvolver em nós esse caráter necessário para que possamos obedecer. Deus nos deu em sua Palavra tudo o que nós precisamos para a vida piedosa. Com ela aprendemos a ser pacientes porque ela nos traz palavras confortadoras e razões para termos esperança com relação ao futuro. Quando for difícil suportar a fraqueza de um irmão, lembre-se de como as nossas fraquezas foram suportadas. Considere também que Deus promete um final glorioso para nós e a nossos irmãos. Aquele irmão que ainda precisa amadurecer e vencer pecados é uma obra inacabada. É um rascunho. Deus ainda irá fazer. E a Escritura nos dá muitas razões para cremos assim.
Considere as histórias do Antigo Testamento. Considere como Deus conduziu um mentiroso e covarde como Abraão a ser o pai da fé. Ou fez um enganador e corrupto como Jacó uma nação.
Pense em como Gideão era medroso e hesitante, e Deus o usou. Pense em como Davi foi uma decepção quando pecou com Bate-Seba, mas Deus o restaurou.
Ou pense em como houve momentos na história do povo de Deus em que a idolatria e o pecado predominavam e tudo parecia perdido. E em como Deus fez renascer das cinzas aquele povo, tendo o feito passar pelo fogo da disciplina.
Ler as Escrituras deve encher-nos de esperança e consolo, além de termos nela sabedoria sobre como proceder em cada ocasião.
Irmãos, como igreja, devemos suportar uns aos outros. Igreja não é como numa empresa, onde os funcionários menos eficientes são demitidos. Não é como numa competição, onde deixamos os rivais para trás.
É como num batalhão do exército. A fraqueza de um é a fraqueza de todos. Por isso, cobrimos os pontos cegos de nossos irmãos. E cuidamos para que não sejam feridos. E se forem feridos, cuidaremos para que recebam o devido tratamento. Temos apoiar uns aos outros, porque precisamos uns dos outros.
Irmãos, isso é especialmente necessário justamente porque a igreja não é formada de pessoas perfeitas. Pelo contrário, todos estão caminhando para o mesmo alvo. E, por vezes, lidaremos com falhas nos relacionamentos da igreja. Alguns agirão de modo imaturo para conosco. Talvez alguém fale com você de um jeito que você não gosta. Ou te machucará de alguma maneira. Isso eventualmente irá acontecer. Porque a igreja não é formada por pessoas perfeitas. A igreja é formada por pessoas que admitem que são pecadoras e precisam desesperadamente de Jesus. E sabe o que acontece quando você lida com pessoas pecadoras? Cedo ou tarde elas pecarão contra você.
Em algum momento você será frustrado pela atitude de um irmão. Às vezes, você estará certo e ele errado. Às vezes, você será o maduro e ele o imaturo. Ainda assim, o que você deve fazer? Cortar relacionamento? Trocar de igreja? Reclamar para outras pessoas? Ofender o irmão? Prejudicar a sua reputação falando mal dele a outros? Não, você é chamado a ser paciente, a ajudá-lo a crescer em vez de afastá-lo ou difamá-lo. Se você quer ser maduro na fé, você não pode ser crente dodói. Tem de ter a maturidade de saber é impossível tirar alguém da lama sem sair enlameado.
Já tentou trocar um pneu mantendo as mãos limpas? Eu gosto de manter as minhas mãos limpas e detesto graxa nas mãos. Mas se vou trocar um pneu, eu sei que terei de lavar as mãos depois. Faz parte. Se você vai se envolver na obra de ajudar pecadores a se santificarem, cedo ou tarde você será alvo do pecado.
Você deve ser paciente com seu irmão. Talvez você precise ensiná-lo e corrigi-lo 1000x. Com paciência. Com amor. Sem jogar na cara. Sem desistir. É claro que isso pode ser difícil.
É por isso que Paulo ora, no final dessa exortação, rogando que o Deus da paciência e consolação (aquele que é paciente conosco e que nos consola pelo evangelho) nos conceda o mesmo sentir uns para com os outros. Ele ora para que toda a igreja tenha a mesma disposição de Cristo, a que vemos em Fp 2.5, a disposição de se humilhar e morrer em favor do outro. Com a graça de Deus, é totalmente possível que vivamos em comunhão. Talvez, o primeiro passo, é você orar mais. É você rogar a Deus a sua ajuda.
Então quando for lidar com a fraqueza de seu irmão, de seu cônjuge, de seu colega, pense nisto: como farei isso de modo a buscar o seu bem? Que palavras direi que serão realmente edificadoras, construtivas e não destruidoras? Como posso refletir o caráter de Cristo e ser um instrumento de redenção na vida dessa pessoa? Leia a Escritura em busca de sabedoria. Ore em busca de auxílio. Olhe para o exemplo de Cristo. E então ajude o seu irmão.
2. Acolher uns aos outros
2. Acolher uns aos outros
Então, como vimos, devemos suportar uns aos outros em nossas fraquezas. E além disso, devemos acolher uns aos outros (v. 7-13).
No versículo 7, Paulo nos instrui a "acolher uns aos outros, assim como Cristo nos acolheu". O acolhimento aqui é mais do que simplesmente receber alguém, como quando você recebe uma visita.
Pense naquele tipo de acolhimento quando você recebe alguém em sua casa como hóspede. Você tenta antecipar as suas necessidades. Você busca servi-lo de todas as maneiras. Comida, bebida, cama, roupas, tudo o que precisa você quer oferecer, para que ele se sinta em casa. Assim deve ser a maneira como os cristãos se relacionam uns com os outros, mesmo aqueles cristãos com quem temos algumas diferenças.
Cristo nos acolheu. Ele nos acolheu com graça e misericórdia. Esse deve ser nosso modelo. E ele não fez com interesses mesquinhos, mas buscou a glória de Deus. Ele não nos aceitou porque tínhamos algo a oferecer, mas para glorificar a Deus, o Pai. Até porque não tínhamos nada a oferecer. Nenhum mérito, nada em que nos apoiar. Mas Cristo nos recebeu e supriu a nossa principal necessidade, ao derramar o seu sangue para a remissão de nossos pecados.
O nosso acolhimento deve seguir o modelo de Cristo. Devemos acolher o nosso irmão sem interesses. Como igreja, devemos criar um ambiente onde todos, independentemente de sua condição, se sintam em casa.
E isso é mais do que dizer: "visitante seja bem vindo!" na primeira vez que a pessoa vem à igreja. É claro, é importante receber visitantes. Devemos tratá-los bem. Queremos que eles se juntem a nós em adoração. Mas esse trabalho de acolhimento continua depois que a pessoa se torna membro de nossa igreja. Isso engloba, por exemplo, dar espaço para que os novos irmãos cresçam e se sintam parte da família. Para que eles sirvam, se envolvam, sem sentir que estão invadindo espaço alheio.
A gente sabe quando alguém é de casa quando a pessoa não tem medo de abrir geladeira, quando pode deitar no sofá. Na igreja, não deve demorar até que um novo membro se sinta assim.
Ele deve se sentir livre para exercer os seus dons em qualquer área, sem que alguém tenha crise de ciúmes. Ele deve se sentir parte, sem ser excluído por grupinhos ou panelinhas.
E devemos fazê-lo não porque aquela pessoa "é legal" ou porque ela tem algum talento ou algo a oferecer. Devemos acolher com graça, assim como Cristo acolheu pecadores. Devemos fazê-lo visando a glória de Deus. Pois quando a igreja é unida, não por afinidades, não por uma cultura em comum, mas pelo evangelho, Deus é glorificado.
Existem outras organizações além da igreja que promovem união. Já viu um grupo de escoteiros? Ou uma organização de ação social? São sempre muito unidos, unidos por uma causa, por uma atividade, por coisas em comum.
Na igreja, contudo, somos unidos pelo evangelho. Tem gente diferente, de toda idade, de todo tipo, de modo que você olha e pensa: "como é possível que sejam tão unidos?". E a única explicação é que Deus os uniu. E dessa maneira, toda glória será dada a Deus.
Paulo continua, agora dizendo que foi para isso que Cristo veio. Ele foi constituído ministro da circuncisão. Isto significa que ele veio dar cumprimento àquilo que a circuncisão significa, isto é, as promessas de redenção feitas a Israel. No Antigo Testamento havia muitas promessas relativas ao povo de Deus, de um templo restaurado, de um reino eternamente instituído, da presença do Senhor em meio ao seu povo. Cristo veio cumprir isto.
E mais, ele veio também para para que os gentios glorifiquem a Deus. A missão de Cristo foi tanto para os judeus quanto para os gentios. Ele cumpriu as promessas feitas a Israel, mas sua obra de salvação também se estendeu aos gentios, para que todos, sem exceção, possam glorificar a Deus pela Sua misericórdia. O plano de salvação que vemos no Antigo Testamento se revelou universal. Pessoas de todos as etnias, línguas, nações, formando um novo povo que glorifica a Deus.
Se Cristo veio com tal propósito, nós devemos nos esforçar para mantê-lo. Não podemos permitir que barreiras étnicas, culturais e sociais tragam divisão para a igreja.
Nos Estados Unidos, onde a realidade do racismo é mais segregacionista, por muito tempo existiram igrejas de brancos e igrejas de negros. Até hoje, são poucas as igrejas que se mostram multirraciais, isto é, para brancos e negros. Isso é lamentável, é uma mancha no testemunho da igreja, que essas pessoas não consigam comungar juntas. Aqui no Brasil temos igrejas mais divididas por extratos sociais. Igreja de rico, igrejas de classe média, igreja de jovem surfista, igreja de roqueiro, igreja de comunidade. É lamentável isto também. Devemos nos esforçar para exibir uma unidade que não se baseia em elementos culturais, mas tão somente na obra de Cristo.
Então Paulo cita diversas passagens da Escritura. Ele compara a obra de Cristo com aquilo que nos é trazido no Antigo Testamento. Ele diz: "como está escrito". Essa comparação nos mostra claramente que a redenção consumada por Cristo cumpre o Antigo Testamento. As Escrituras deixam claro que os gentios são incluídos no plano de salvação, e que isso produz adoração a Deus. Paulo cita 2Sm 22:50; Sl 18:49; Dt 32:43; Sl 117:1 e Is 11:10.
Nas primeiras passagens, fica claro que a inclusão dos gentios está planejada desde os tempos antigos e que eles são inseridos nessa tarefa de adorar a Deus. Israel foi separado por Deus como um povo adorador, e agora os gentios passam a integrar esse povo que adora. E a última citação, no versículo 12, de Isaías 11.10, fala do Messias como aquele que governa também gentios em seu reino. Gentios entrarão no Reino de Deus e confiarão em Jesus.
Isto tem ricas implicações para o avanço missionário. Por que queremos que todas as nações ouçam o evangelho? Para que mais pessoas adorem a Deus. Adorar a Deus é a razão para a qual fomos feitos. E queremos que ele seja mais adorado, por mais gente, e por isso buscamos pregamos.
O mesmo vale para o acolhimento. Por que devemos acolher o nosso irmão? Por que devemos antecipar as suas necessidades e permitir que ele sirva? Por que devemos exibir essa unidade, mesmo em meio a diversidade de culturas e etnias? Para que Deus seja adorado. Para que mais gente se junte a nós em adoração. Para que, com mais dons sendo exercidos, com mais obras sendo realizadas, Deus seja honrado. Porque este é o fim último da igreja. Devemos lembrar disso para não pensarmos que a igreja é nosso mundinho, nosso espaço, para ser tudo do nosso jeito. Ela é o povo separado por Deus para servi-lo. Ela pertence a Deus.
Meus irmãos, isso pode ser difícil. Vivemos em uma sociedade cada vez mais polarizada. Pessoas e grupos se separam com base em opiniões e afinidades. As pessoas não se escutam mais, mas querem fazer com que as suas posições sejam aceitas na base do grito. O que somos chamados a viver é realmente contracultural. De modo que será desafiador, e por vezes pensaremos: como tal tipo de harmonia pode ser possível?
E a resposta é que só é possível pelo poder do Espírito Santo. E é por isso que Paulo ora para que a igreja seja cheia de alegria, paz e esperança, pelo poder do Espírito Santo. Quando Paulo começa a sua oração dizendo: "E o Deus da esperança", aqui fica claro que a fonte da esperança é o próprio Deus. Então ele expressa um desejo. Paulo deseja que os cristãos experimentem a alegria e a paz que vêm de Deus, com base na esperança que Ele oferece. E o Espírito Santo é o agente que nos dá essa esperança. Ele é a pessoa de Deus que habita em nós para nos dirigir, aplicar ao nosso coração as promessas de Deus e nos ajudar a viver pela fé.
Meus irmãos, Paulo sabe que nada do que ele ordenou aqui é fácil. Por vezes será difícil lidar com a imaturidade de um irmão. Por vezes o nosso coração terá dificuldade de aceitar aquele que é diferente. Contudo, temos esperança. Deus que nos assegura, em suas promessas, o resultado que ele planejou. Ele fará com que a sua igreja seja pura e gloriosa, como prometeu. O nosso irmão imaturo, ele vai amadurecer. O nosso coração duro, ele pode amolecer. É o Espírito Santo que aplica ao nosso coração essas promessas e nos dá uma paz que não depende das circunstâncias. Que essa paz encha os nossos corações. Que Deus nos abençoe.