SUA IRA É REALMENTE JUSTA? – Parte IV – Pág. 46 – 52
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David Powlison:
Mentira 1: A ira é uma coisa que está dentro de mim.
Ela é um ato moral da pessoa como um todo, não é uma "substância" ou "alguma coisa" dentro de você ou de mim. O que estou dizendo pode parecer óbvio, mas o entendimento mais popular da ira não é esse. Para alguns, a ira é um fluido quente e emocional que causa pressão interior. Para outros, um demônio que habita a pessoa. Essas ideias comuns- embora opostas uma à outra!- concordam em dizer que a ira é alguma "coisa".
Visto que a ira é algo que as pessoas praticam como agentes morais, não é preciso que ela seja ventilada ou exorcizada para ser verdadeiramente resolvida. A teoria hidráulica ou a do demônio da ira parecem ideias plausíveis porque se valem de uma metáfora expressiva ou do acusador astuto que anda à espreita ao nosso redor. Mas elas interpretam erradamente o que vêem e são enganosas.
Mentira 2: Não é errado ficar irado com Deus.
No deserto, a murmuração dos israelitas expressou ira e descontentamento com Deus. Em Provérbios 19.3 o tolo se ira contra o Senhor. Apocalipse 16 diz três vezes que os homens blasfemaram contra Deus em lugar de se arrependerem.
A pessoa que é honesta a respeito de sua ira com Deus- e chega à verdade sobre ela- percorre uma estrada bem diferente da prescrita pela fórmula popular. O coração arrependido e cheio de fé não se firma em uma trégua incômoda entre meus sofrimentos passados e minha disposição atual para tolerar algum tipo de relacionamento com um Deus que me deixa na desgraça. O coração que crê encontrará a verdade, a alegria, a esperança e o amor indizíveis. O coração que crê encontrará Deus.
Mentira 3: Meu maior problema é a ira comigo mesmo.
Provavelmente, seria mais correto afirmar que o alvo terapêutico é, na verdade, "aceitar a mim mesmo como basicamente OK, com pequenas falhas compreensíveis para qualquer pessoa", e não "perdoar a mim mesmo". Perdoar implica que alguma coisa está tão errada que "sem derramamento de sangue não há perdão" (Hb 9.22, NVI). O ensino sobre perdoar a si mesmo está presente no mundo da auto-aceitação humanista, não no perdão do cristianismo. O mundo do perdão concedido a si mesmo é o mundo cujo deus faz o papel de um avô tolerante e sábio. O Deus verdadeiro é o Pai de amor com coisas melhores em mente para Seus filhos!
Tanto a ira consigo mesmo quanto a ira para com Deus chegam a uma resolução excelente e satisfatória quando compreendidas corretamente e quando o evangelho é aplicado. As falsificações que nos são oferecidas frequentemente são suficientes para fazer os cristãos chorarem de tristeza e raiva.
Com base em nosso estudo de Jesus e dos personagens bíblicos acima, concluindo que três critérios caracterizam a ira justa:
1. Ela reage contra pecados reais (conforme biblicamente definidos).
2. Ela focaliza em Deus e nos Seus interesses (não em mim e nos meus interesses).
3. Ela coexiste com outras qualidades piedosas e se expressa de maneiras piedosas.
2.5.1. Primeiro, devemos desmascarar nossa falsa ira justa. Isso exige arrependimento não apenas da ira em si, que agora descobrimos ser uma ira pecaminosa, mas também de nossa auto enganosa justificativa sob o falso título de ira “justa”.
A fachada cai por terra quando colocamos cuidadosamente nossa ira diante do espelho de nossos três critérios bíblicos citados acima.
A Bíblia expõe nossa ira como pecaminosa. Isso provoca novas oportunidades de nos arrependermos e crermos, de nos aproximarmos de Deus, e de conhecermos a Cristo e a nós mesmos de modo mais exato.
1. Considere as ocasiões em que seu cônjuge ofende você.
Em nome de uma “ira justa” você o(a) ataca?
Você se consome na espiral da autocomiseração?
As ofensas dele ou dela consomem a sua mente?
Você suspende os planos para a noite ou cancela seus compromissos com o serviço para Cristo no fim de semana?
Ou simplesmente chuta o cachorro, ou a porta?
Em qualquer desses casos, sua ira é semelhante à de Cristo.
2. Vamos supor que seu filho se rebele. Talvez ele desafie os seus limites de horário, ou fale desrespeitosamente a você.
Você explode de raiva ou retalia com palavras impensadas?
Desiste de seu filho ou começa a evitá-lo?
Fica repensando a cena diariamente em sua mente?
Perde o controle ou fica obcecado com a situação?
Se isso acontece, sua ira não é justa.
3. Ou o que acontece no seu íntimo quando seu chefe (uma autoridade) o deixa de lado na hora da promoção, depois de você ter se esforçando para lidar com os pontos fracos observados em sua última avaliação.
O seu desapontamento se transforma em ira, e você justifica essa ira com um sarcasmo crescente em sua voz?
Você caminha pela vereda do martírio, presumindo que sua indignação é justa, ou seja, uma resposta piedosa à “perseguição”?
4. Ainda que um cônjuge ofensor, um filho rebelde, ou um chefe injusto possam nos tentar a (mas não causar) uma resposta irada, precisamos fazer algumas perguntas fundamentais:
Você está irado por causa do que a pessoa fez contra você, ou por causa do que ela fez contra o seu Salvador?
Quem você considera a pessoa mais ofendida – você ou Jesus?
Em meio à sua emoção acalorada, você está se consumindo por si mesmo ou pelo seu Deus?
A sua indignação aumenta porque o nome de Deus é desonrado ou porque o seu orgulho foi ferido?
A ira justa surge porque o pecado de outra pessoa ofende a Deus, não porque você foi pessoalmente magoado ou tem desejos de vingança.
5. Vamos voltar a Cláudio, o pai que defendeu sua suposta ira justa. “É claro que fiquei irado”, declarou Cláudio, “mas eu tinha direito de ficar irado.”
O Senhor usou nossos três critérios para convencer Claúdio que sua ira era falsamente justa. Suas alegações de “ira justa” simplesmente disfarçava sua ira desgovernada.
De que modo? Ele via sua filha como alguém que existia para fazer o mundo dele conveniente e ordenado. Quando ela deixou de viver pelo script de seu pai, ele ficou irado.
O fato de que ela também não estava vivendo pela Palavra de Deus foi, na ocasião, apenas um problema sem importância para Claúdio.
6. Claúdio confessou sua ira e sua pretensa “justiça”.
Satisfazendo o critério 1 – Ainda que a desobediência e a confrontação de sua filha fossem pecaminosas, esse fato apenas o ajudou a racionalizar sua reação errada. (A ira justa reage contra o pecado real).
Não satisfazendo o critério 2 – Pensamentos sobre a honra ferida de Deus – com base em sua própria admissão posterior – eram a última coisa em sua mente quando ele explodiu. ( A ira justa tem seu foco em Deus e seu reino ).
Violando o critério 3 – Além do mais, sua reação à sua filha foi totalmente distinta da reação que Cristo teria. O bem estar de sua filha nem passou por sua mente. (A ira justa é acompanhada por outras qualidades piedosas e se expressa de maneiras piedosas).
7. Uma vez arrependido de sua ira pecaminosa e autoengano, Cláudio pode ministrar mais efetivamente à sua filha. Sua esposa passou a apoiá-lo mais.
8. Na verdade, esse ministério começou no dia em que humildemente ele pediu a ambas que o perdoassem, não apenas por suas explosões, mas também por tê-las racionalizado.
2.5.2. Uma segunda agenda piedosa e preocupação ministerial derivam de nosso estudo:
Não apenas devemos desmascarar nossa ira pseudojusta, como também devemos cultivar a ira justa. Se Deus se ira contra o pecado, então o crescimento na piedade envolve um crescimento correspondente na ira justa. Como então cultivar uma ira justa?
1. Como você pode cultivar a ira piedosa?
Volte e considere os muitos textos citados neste capítulo e peça que Deus, pelo Seu Espírito, reproduza essa característica piedosa em você.
2. O que está envolvido no cultivo dessa ira piedosa?
Reorientar seu coração na direção de Deus e Seu reino, Seus direitos e Suas preocupações.
Arrepender-se de seus desejos egocêntricos.
Meditar nas ações e nos atributos de Deus. A paixão por Deus é o solo que germina a ira justa. Somente ela produz ira contra o pecado.
Um amor profundo por Deus, Sua Palavra e caminhos cria um desprezo correspondente para com aqueles que endurecem seus corações contra Ele.
Deleitar-se na verdade é desdenhar o mal.
Regozijo na justiça torna repulsiva a impiedade.
CONCLUSÃO:
Cláudio começou a dar passos nesse processo:
1. Ele pediu a Deus par enchê-lo de um santo ódio contra sua própria ira,
2. Ajuda-lo a perceber quão rapidamente ele subia ao trono e brincava de Deus sempre que sua filha ou sua esposa o desapontavam.
3. Ele também vem pedindo a Deus que o ajude a odiar não a sua filha, mas o pecado persistente dela, que a engana e busca escraviza-la.
Embora nenhum texto específico ordene a ira justa, Hebreus 1:9 citando com percepção messiânica o Salmo 45:7 com respeito a nosso Senhor Jesus, apresenta-nos Seu perfeito exemplo.