Como amar a igreja de Cristo?

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Romans 16 ARA
1 Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencreia, 2 para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive. 3 Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, 4 os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios; 5 saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo. 6 Saudai Maria, que muito trabalhou por vós. 7 Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em Cristo antes de mim. 8 Saudai Amplíato, meu dileto amigo no Senhor. 9 Saudai Urbano, que é nosso cooperador em Cristo, e também meu amado Estáquis. 10 Saudai Apeles, aprovado em Cristo. Saudai os da casa de Aristóbulo. 11 Saudai meu parente Herodião. Saudai os da casa de Narciso, que estão no Senhor. 12 Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalhavam no Senhor. Saudai a estimada Pérside, que também muito trabalhou no Senhor. 13 Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim. 14 Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que se reúnem com eles. 15 Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles. 16 Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam. 17 Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, 18 porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. 19 Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal. 20 E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. 21 Saúda-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes. 22 Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, vos saúdo no Senhor. 23 Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e de toda a igreja. Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade, e o irmão Quarto. 24 [A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!] 25 Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, 26 e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações, 27 ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!
Intro: Há uma série que eu estou assistindo, se chama Ted Lasso. Essa série conta a história de um técnico americano tentando levar um time de futebol inglês de segunda divisão ao sucesso. O time tem ótimos jogadores, mas eles estão indo muito mal no campeonato. O que é irônico, pois se um time tem bons jogadores, ele deveria ir bem, não é mesmo?
E esse treinador, Ted, é um cara bem fora da caixa. Ele passa pouco tempo falando de futebol, e muito tempo falando sobre união, respeito e trabalho em equipe. E, num primeiro momento, os jogadores não lhe dão muito crédito. Na verdade, eles perdem os primeiros jogos. Mas depois de algum tempo, quando os jogadores deixam de lado seus egos e começam a ajudar uns com os outros, o time começa a melhorar.
Veja, estamos falando de um time com jogadores talentosos que, na teoria, deveriam estar ganhando todos os jogos. Mas o que lhes impede a vitória é que, embora sejam um time, cada um joga por si. Ted Lasso percebe isto de forma quase ingênua: o time não vai funcionar se não agirem como um time.
Enquanto assistia, não pude deixar de pensar: será que isso não acontece também na igreja? Será que, às vezes, estamos tão focados em nossas próprias habilidades ou desejos que esquecemos o verdadeiro propósito de trabalharmos juntos? Muitas vezes estamos tão preocupados com nossos próprios interesses, com nossas próprias necessidades e com nosso próprio reconhecimento, que esquecemos o motivo pelo qual estamos no "jogo". A igreja não é sobre exibir quem é o "craque" da vez. O jogo é muito maior: é sobre glorificar a Deus, juntos, como um só corpo, com uma só missão.
Contexto: Meus irmãos, aqui chegamos à conclusão da carta aos Romanos. Paulo, em sua carta fez uma das mais profundas exposições teológicas da Escritura. Ele também mostrou as implicações do evangelho para a nossa vida. Agora, Paulo agora encerra a sua carta. Neste momento, seu tom se torna mais pessoal e pastoral. Ele não conhece a igreja em Roma pessoalmente, mas ele a valoriza profundamente. Ele traz suas últimas exortações e expressa seu amor genuíno por aqueles irmãos. Aqui, fica claro para nós que Paulo não escreve apenas para instruir, mas também para pastorear.
Aqui podemos vislumbrar um pouco do coração do ministério de Paulo. Paulo não exerce seu ministério de modo isolado ou ou autossuficiente. Apesar de ser um "craque", um apóstolo, um pregador itinerante, ele está profundamente conectado com as igrejas que ajudou a plantar. Tanto que ele envia à igreja em Roma os cumprimentos de irmãos de outros lugares. Ele não planta e abandona, mas ele permanece em contato, cuidando, amando as igrejas por onde passou. Para Paulo, a igreja não é apenas um campo de trabalho, mas o objeto do seu amor, do seu cuidado e investimento.
Ponte: E agora, olhando para nós, será que temos essa mesma postura? Será que somos tão profundamente envolvidos com a igreja de Cristo como Paulo demonstra ser? Será que amamos a igreja de forma prática e sacrificial? Ou será que nos envolvemos apenas o "suficiente", de um modo um tanto distante, esperando que a igreja sirva aos nossos interesses ou criticando o que não atende às nossas expectativas?
Diante desse texto, somos chamados a refletir sobre o nosso próprio relacionamento com a igreja. E isso nos leva à grande pergunta que nos guiará hoje: como podemos amar a igreja de Cristo?

1. Cultive relacionamentos verdadeiros (v. 1-16)

E a primeira lição é esta: ame a igreja de Cristo cultivando relacionamentos verdadeiros (v. 1-16). A igreja não é como um shopping, onde você vai, olha, comprar o que quer e vai embora. A igreja não é uma prestadora de serviços, um restaurante fast-food. A igreja é uma comunidade, é a comunhão dos santos. E onde há comunhão, há relacionamento.
Irmãos, nos versículos 1-16, vemos Paulo recomendando e saudando diversos irmãos pelo nome. Cada menção é uma demonstração de como ele reconhece e valoriza aqueles que servem no Reino de Deus. Paulo não apenas menciona essas pessoas, mas também as suas contribuições, destacando o papel que cada uma tem no corpo de Cristo.
Comecemos por Febe (v. 1-2). Ela é apresentada como uma serva da igreja em Cencreia, alguém que dedicava sua vida ao serviço. Paulo pede que os romanos a acolham "como convém aos santos", reconhecendo que ela tem sido protetora de muitos, inclusive dele. Isso demonstra como Paulo valoriza quem serve, mesmo que de maneiras práticas, como oferecer hospitalidade ou sustentar o ministério.
Em seguida, Paulo menciona Priscila e Áquila (v. 3-4), um casal que ele descreve como cooperadores em Cristo Jesus. Eles não apenas trabalharam ao lado de Paulo, mas arriscaram suas vidas por ele. Paulo também destaca que há uma igreja que se reúne na casa deles (v. 5), um testemunho de sua generosidade e disposição em servir. Mais do que isso, Paulo transmite os cumprimentos de todas as igrejas gentílicas a eles, reconhecendo sua importância no avanço do evangelho.
Paulo continua valorizando outros irmãos. Ele saúda Epêneto (v. 5), o primeiro convertido na Ásia, e Maria (v. 6), que se esforçou muito em prol dos cristãos em Roma. Quando menciona Andrônico e Junias (v. 7), Paulo os reconhece como parentes e companheiros de prisão. Ele os descreve como "notáveis entre os apóstolos" e destaca que eram cristãos antes mesmo de Paulo, mostrando respeito por aqueles que vieram antes dele. Paulo valoriza não apenas quem serve agora, mas também quem já serviu e abriu caminhos.
No versículo 10, Paulo saúda Apeles, a quem descreve como "aprovado em Cristo". Essa expressão sugere que Apeles passou por provações e foi aprovado em sua fidelidade. Paulo honra a perseverança desse irmão, mostrando que quem permanece firme em tempos difíceis é digno de reconhecimento.
Paulo também demonstra carinho e apreço pessoal. Ele chama Amplíato de "dileto amigo no Senhor" (v. 8), e Estaquis, simplesmente de "amado" (v. 9). Essas palavras calorosas mostram como Paulo expressava sua afeição com sinceridade. Ele não é frio ou distante; pelo contrário, ele comunica amor e gratidão.
Por fim, Paulo não apenas menciona indivíduos, mas também conecta as igrejas. Ele saúda igrejas domésticas, como as que se reúnem na casa de Priscila e Áquila (v. 5) e na casa de Aristóbulo (v. 10). Ele também transmite os cumprimentos de outras igrejas (v. 16), mostrando como as comunidades locais estão interligadas. Para Paulo, as igrejas não são ilhas isoladas, mas partes de um corpo maior, unidas em Cristo.
O que podemos aprender com essa enorme lista de nomes? Ela nos mostra como Paulo enxergava os irmãos como preciosos. Ele cultivava relacionamentos verdadeiros. Ele não via pessoas apenas como peças na engrenagem, como partes de uma estrutura ou instituição, mas pessoas redimidas por Cristo, pessoas por quem ele tem um apreço pessoal. Veja, Paulo não tinha o ministério como uma mera profissão, como um trabalho a ser feito. Ele amava suas ovelhas. Sim, ele era um plantador de igrejas. Sim, ele ficava pouco tempo numa cidade e logo partia para outra. Mas ele lembrava o nome e conhecia a história das pessoas a quem ministrou.
Por que Paulo tinha tanto apreço por esses irmãos? Porque ele entendia que estava ligado a eles por um laço profundo e espiritual. Ele sabia que tanto ele quanto eles estavam em Cristo. Note como, em suas saudações, Paulo frequentemente usa expressões como “em Cristo” ou “no Senhor” (vv. 3, 7, 8, 9, 10, 12). Isso não é mero formalismo; é uma teologia robusta da comunhão. A igreja não é apenas uma reunião de pessoas que compartilham interesses comuns, mas a comunhão dos santos (At 2.42), o corpo daqueles que foram redimidos por Cristo e unidos nele.
Na igreja, estamos todos ligados porque fomos lavados pelo mesmo sangue (Ap 1.5). Em Cristo, temos um só Senhor, uma só fé e um só batismo (Ef 4.5). Essa unidade é tão profunda que transcende os laços biológicos ou culturais. Como Paulo diz em Gálatas 3.28, “não há judeu nem grego; escravo nem livre; homem nem mulher; pois todos vós sois um em Cristo Jesus.” Uma vez que passamos a fazer parte da igreja, passamos a pertencer a uma nova família, a família de Deus (Ef 2.19).
Esse laço em Cristo é mais profundo que o de sangue, porque é eterno. Enquanto nossos laços familiares nesta terra são limitados pelo tempo, os que temos em Cristo se estendem para a eternidade. Jesus expressou isso claramente quando declarou que aqueles que fazem a vontade de Deus são seus irmãos, irmãs e mãe (Mc 3.35). Paulo se importava profundamente com esses irmãos porque sabia que eles não eram apenas conhecidos ou colegas de ministério, mas membros de um mesmo corpo, unidos pelo Espírito Santo (1Co 12.13) e caminhando juntos em direção à glória eterna.
Irmãos, amamos a igreja de Cristo quando cultivamos relacionamentos verdadeiros. Quando valorizamos os irmãos de forma prática. Quando reconhecemos o seu trabalho. Quando demonstramos a nossa afeição. Quando oferecemos hospitalidade e abrigo. Quando não temos dificuldade em olhar para um irmão que serve e louvar a Deus pela vida daquele irmão, pelo trabalho que ele tem realizado. Quando temos facilidade em reconhecer como precisamos uns dos outros.
Contudo, isso é um desafio para nós. Nosso coração luta frequentemente com o orgulho. Queremos ser reconhecidos, mas não reconhecer. Queremos elogios, mas não elogiamos. Queremos compreensão, mas não compreendemos. Queremos ser acolhidos, mas dificilmente acolhemos.
Ilustração: Aqui vemos Paulo reconhecendo e valorizando aqueles que servem. Ele menciona nomes, destaca suas contribuições e demonstra um apreço genuíno por cada um. Mas, infelizmente, em muitas igrejas (certamente não na nossa!), quem se dedica ao serviço acaba se tornando alvo de críticas e murmurações. São como "vidraças", constantemente expostos a pedradas, seja pela insatisfação dos que apenas observam, seja pelo ressentimento de quem reclama que não recebeu oportunidade. Paulo, porém, faz o oposto: ele honra aqueles que vieram antes, que serviram no passado, e valoriza quem enfrentou lutas e permaneceu fiel. Ele reconhece a importância de todos, sem deixar ninguém para trás.
Mas como isso contrasta com a realidade de muitas igrejas? Quantos irmãos idosos, que já foram colunas do trabalho do Senhor, hoje são esquecidos? Quantos que passaram por provações, ou que já não têm a mesma força de antes, são deixados de lado? Paulo não age assim. Ele valoriza até mesmo os cristãos anônimos, aqueles que se reúnem discretamente nas casas e contribuem para o Reino. Ele exalta aqueles que servem nos bastidores, desempenhando tarefas aparentemente pequenas, mas fundamentais para o bom funcionamento da igreja. Para Paulo, não há serviço insignificante, não há servo irrelevante. Todos são importantes no corpo de Cristo.
Meus irmãos, devemos nos esforçar para cultivar relacionamentos verdadeiros. Precisamos valorizar e honrar os irmãos ao nosso redor, demonstrando apreço e afeição sincera por meio de atitudes concretas. E o que deve nos motivar a isso é o evangelho. O evangelho nos lembra que Cristo nos acolheu, apesar de nossas falhas e pecados. Ele nos trouxe para sua família e nos recebeu, sendo ele o nosso irmão mais velho, dando-nos o privilégio de viver como membros do seu corpo.
Por isso, comece reconhecendo os esforços dos irmãos ao seu redor. Use palavras de encorajamento. Elogie e agradeça. Ore regularmente por eles e expresse gratidão a Deus por sua dedicação. Dê graças pelo trabalho da Paula com as crianças, pela disposição da Samantha no café e na diplomacia, pelos serviços fiéis dos diáconos e pela liderança do Conselho. Louve ao Senhor pelos esforços das sociedades internas e ore pelo pastor. Porque ao fazer isso, cumprimos o mandamento de "honrar uns aos outros" e edificamos o corpo de Cristo.
Além disso, pratique a hospitalidade e demonstre interesse genuíno pela vida dos outros. Não se contente com um "Oi, tudo bem?" superficial. Pergunte como a pessoa está realmente. Acompanhe os pedidos de oração que ela compartilhou. Pergunte como estão as situações pelas quais ela pediu ajuda. Esteja atento, mostre que você se importa. Se Paulo, mesmo distante, sem nunca ter visitado Roma, sabia tanto sobre a igreja e reconhecia os esforços de tantos irmãos, quanto mais nós, que estamos juntos no mesmo lugar, não devemos conhecer, apoiar e nos importar uns com os outros?

2. Vigiando contra as ameaças à unidade (v. 17-20)

Em segundo lugar, amamos a igreja quando vigiamos contra as ameaças à unidade (v. 17-20). Amar a unidade significa detestar aquilo que causa divisão. Se valorizamos a comunhão, rejeitamos tudo que a destrói. E a maior ameaça à unidade da igreja é a falsa doutrina.
No versículo 17, Paulo nos exorta com um chamado à vigilância. Ele diz: "Notem bem" – estejam atentos, prontos para identificar aqueles que "provocam divisões e escândalos". Essa não é a primeira vez que Paulo aborda divisões. No capítulo 14, ele falou sobre evitar rupturas por questões secundárias, como alimentos ou dias sagrados. Mas agora o problema é mais grave: trata-se de divisões que têm origem em falsos ensinos, algo que mina a verdade do evangelho.
qui, precisamos entender algo crucial. Muitos pensam que doutrina e comunhão são coisas separadas – que a comunhão é apenas “nos darmos bem” e que a doutrina é secundária. Mas isso não é verdade. A comunhão cristã é teológica. Somos unidos porque professamos a mesma fé em um mesmo Cristo (Efésios 4.4-6). Sem uma base doutrinária comum, a comunhão é superficial e frágil. Não é possível ter unidade verdadeira sem a verdade que une.
Por isso, Paulo dá uma ordem clara: "Afastai-vos deles." Note como isso é enfático. A igreja deve ser acolhedora com visitantes e descrentes, mas não com aqueles que, fingindo ser irmãos, introduzem falsos ensinos. Aqui vale lembrar o que Calvino dizia: o pastor precisa ter duas vozes – uma para apascentar as ovelhas e outra para espantar os lobos. Proteger a unidade da igreja exige firmeza com os que ensinam algo contrário à Escritura.
E por que devemos nos afastar desses homens? Paulo apresenta duas razões. Primeiro, eles servem a si mesmos – ao “seu próprio ventre” (v. 18). Alguns comentaristas associam isso ao hedonismo, mas a ideia é que muitas heresias nascem do desejo humano de justificar seus próprios pecados. É o que vemos hoje em teologias inclusivas e, de certo modo, é o que sempre esteve por trás de heresias antigas. Segundo, eles são persuasivos. Com "suaves palavras" e "lisonjas", enganam os mais ingênuos. Eles falam bonito, apelam ao emocional e tornam o erro atraente.
Agora veja como Paulo equilibra sua advertência com encorajamento. Ele não diz isso porque a igreja de Roma já estivesse contaminada. Pelo contrário, ele elogia sua obediência, reconhecida em todas as igrejas, e se alegra com ela (v. 19). Mas, ao mesmo tempo, Paulo deseja que eles se mantenham vigilantes – não apenas ativos no bem, mas também inocentes no mal. Essa vigilância é essencial para proteger a unidade e a pureza da igreja.
E aqui precisamos fazer uma pausa para que você perceba isto: amar a igreja significa ser firme. Ser bom não é ser permissivo. Há momentos em que o amor pela igreja exige medidas difíceis, como a disciplina. O cristão é chamado a ser bom, mas isso não significa ser leniente com o mal. Estamos em guerra espiritual, e a paz só virá com a vitória final.
Paulo expressa essa verdade ao dizer que "o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés da igreja". Há uma ironia aqui. O Deus da paz esmagará seu inimigo. A paz só será plena quando o mal for completamente vencido. Isso nos remete a Gênesis 3.15, onde Deus promete que a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente. Essa vitória já foi conquistada na cruz, mas ainda esperamos sua plenitude. Até lá, a igreja deve lutar – e essa luta inclui proteger a unidade contra o erro.
Mas como equilibrar isso na prática? Precisamos evitar dois extremos. O primeiro é fugir do confronto, deixando o erro prosperar. O segundo é ser divisivo e crítico sem razão. Devemos lutar contra o erro com humildade e sabedoria, preservando a unidade no evangelho.
Por exemplo, quando um pregador famoso sugere "atualizar a Bíblia", precisamos nos posicionar com clareza. Não por gosto de polêmica, mas porque entendemos que a sã doutrina não causa divisão; o que divide é o rompimento com ela. O mesmo se aplica às nossa liturgia, que reflete a nossa fidelidade às Escrituras, nossa fidelidade ao Princípio Regulador, que nos ensina que devemos adorar a Deus da maneira como ele ordena. Proteger a unidade é lutar contra inovações que distorcem a sã doutrina.
E o que nos ajuda a manter esse equilíbrio? O evangelho. Ele nos lembra que combatemos o erro não por orgulho, mas para proteger a fé que nos une. Ele nos dá coragem e nos ensina a ser firmes sem sermos arrogantes. Aliás, Paulo tem tanta confiança de que apenas a graça de Deus pode nos capacitar a vencer o erro que ele termina essa seção com uma bênção (v. 20): "a graça de nosso Senhor Jesus esteja convosco". Somente pela graça podemos manter a igreja pura. Somos incapazes de fazê-lo por nossa força.
Finalmente, irmãos, lembrem-se de que a vigilância não é só contra falsos mestres de fora. Devemos vigiar também dentro da igreja. Cuidado com atitudes que promovem divisões – intrigas, fofocas, inveja. Não seja aquele que, com palavras sutis, semeia desconfiança. Se amamos a unidade, devemos lutar contra tudo que a destrói. E ao fazê-lo, confiemos que o Deus da paz nos dará força, até o dia em que a vitória de Cristo será plena e definitiva.

3. Cooperando na missão do evangelho (v. 21-24)

Em terceiro lugar, amamos a igreja quando não trabalhamos sozinhos, mas cooperamos no evangelho (v. 21-24). Nos versículos finais, Paulo menciona alguns nomes que talvez não sejam tão familiares: Timóteo, Tércio, Lúcio, Jasom, Sosípatro, Gaio, Erasto... Mais nomes. O que eles tem em comum? São pessoas que cooperaram com Paulo, que, de uma maneira ou de outra, contribuíram em seu ministério.
Timóteo, por exemplo, não era apenas um ajudante de Paulo, mas seu discípulo e companheiro fiel. Ele esteve ao lado de Paulo em situações difíceis. No final da vida, a última carta de Paulo seria dirigida a ele. Contudo, Timóteo não era um plantador de igrejas itinerante como Paulo, mas um simples pastor que consolidava os frutos do trabalho apostólico. Seu ministério era mais discreto, muitas vezes nos bastidores, mas fundamental para a edificação da igreja.
Tércio, por sua vez, foi o amanuense desta carta. Naquela época, era comum o uso de escribas, especialmente quando o autor tinha alguma limitação. Paulo, ao que tudo indica, sofria com problemas de visão e precisava de ajuda para escrever cartas tão extensas. Aqui, Tércio não só escreveu como também aproveitou para saudar os irmãos.
Há ainda Gaio, que abriu sua casa para hospedar Paulo, e Erasto, um homem influente — provavelmente o tesoureiro da cidade de Corinto — que usava seus recursos e sua posição para apoiar a obra. O avanço da igreja depende tanto daqueles que estão na linha de frente quanto daqueles que, de forma discreta, sustentam o trabalho com seu tempo, dons e bens.
O ponto é claro: Paulo sabia que não podia fazer tudo sozinho. Ele valorizava e reconhecia o trabalho daqueles que o ajudavam, nunca assumindo uma postura de "super-herói" ministerial. Ele fez questão de dar espaço para que seus companheiros também enviassem saudações aos irmãos. Cada um contribuía com o que tinha, conforme os dons e os recursos dados por Deus.
Isso nos leva a uma reflexão séria. Hoje, há uma tentação perigosa em algumas igrejas: transformar pastores em celebridades. Líderes que são tratados como figuras intocáveis, cujos nomes estão sempre em evidência. Uma vez, ouvi a história de um pregador muito famoso que, ao ser convidado para pregar, ficava no carro até o momento exato da pregação, evitando qualquer contato com os membros da igreja. Ele entrava, pregava e saía. Multidões vinham ouvi-lo, mas ele não tinha nenhuma ligação com aquelas pessoas.
Enquanto isso, os pastores locais, muitas vezes anônimos, estão no trabalho constante de visitar os doentes, aconselhar os aflitos, pregar a Palavra e pastorear o rebanho de Cristo. São esses pastores que sustentam, no dia a dia, a vida das igrejas.
O ministério não é sobre fama ou multidões. Paulo, como apóstolo itinerante, vivia viajando, mas valorizava profundamente aqueles que permaneciam, como Timóteo, cuidando das igrejas locais. É nelas que o trabalho mais importante acontece, geralmente sem glamour.
Isso não diminui a importância dos grandes pregadores que muitos de nós admiramos. Mas é crucial lembrar que o ministério bíblico é coletivo. No Novo Testamento, vemos igrejas sendo pastoreadas por uma pluralidade de presbíteros. Esse modelo colegiado não é apenas funcional — ele é uma proteção. Na Igreja Presbiteriana, o pastoreio é compartilhado entre pastores, presbíteros e diáconos, cada um com seu papel e dom, contribuindo para o bem da igreja e protegendo-a do isolamento e da vaidade.
Quando o ministério se torna solitário, o pecado ganha terreno. Pastores, por mais experientes ou respeitados que sejam, continuam sendo humanos, sujeitos às tentações de orgulho, vaidade e isolamento. Um ministério colaborativo não apenas previne quedas, mas reflete o modelo bíblico de serviço.
Isso também se aplica aos demais trabalhos na igreja. Nenhum ministério é competição. Mesmo os serviços "menores", se exercidos de forma isolada ou individualista, podem abrir espaço para tentações. Mas quando trabalhamos juntos, cada contribuição, por menor que pareça, tem seu lugar no plano de Deus.
Paulo encerra com uma bênção no versículo 24: "A graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém." Essa é a verdadeira chave para tudo: a graça de Cristo é o que nos capacita, nos sustenta e nos une. Não somos nós que sustentamos a obra, mas o Senhor, que a realiza por meio de seu povo.
Que lições podemos aprender com Paulo?
Não trabalhe sozinho. Se você é líder ou está envolvido no ministério, aprenda a delegar. Ninguém foi chamado para carregar o peso do trabalho sozinho. Delegar não é sinal de incapacidade, mas de sabedoria. Veja, até Jesus, o Filho de Deus, delegou tarefas aos apóstolos, deixando-os conduzir o barco enquanto descansava. Sim, o barco quase afundou, mas no final, tudo acabou bem, porque Cristo domina as tempestades. Às vezes, não delegamos porque não confiamos que os outros farão bem o trabalho, ou porque temos medo de falhas. Mas lembre-se: Cristo confiou a nós, pecadores, a sublime tarefa de levar o evangelho ao mundo. Será que você também não pode confiar nos irmãos ao seu redor?
Compartilhe responsabilidades. Reconheça os dons e habilidades dos outros membros da igreja e os convide a trabalhar ao seu lado. Um ministério frutífero é feito de muitas mãos. Quando você divide as responsabilidades, outras pessoas também crescem espiritualmente e desenvolvem seus dons. Além disso, a igreja se torna mais forte e saudável, porque os membros entendem que fazem parte de algo maior.
Esteja disposto a prestar contas. Não permita que o ministério se torne um terreno fértil para o pecado. Líderes em posição de destaque, muitas vezes, mantêm pecados ocultos por trás de uma fachada de piedade. O pecado floresce no isolamento. Procure estar próximo de outros irmãos, compartilhe suas dificuldades e aceite conselhos. Na igreja, o Conselho e os irmãos são instrumentos de Deus para o nosso bem. Às vezes, eles apontarão falhas que você não percebe, e isso é um antídoto poderoso contra o orgulho.
Coopere no evangelho. Se você não exerce liderança, saiba que há muitas áreas na igreja onde você pode trabalhar. A minha pregação, por exemplo, não seria possível sem irmãos mexendo no som, projetando os slides, ou mesmo cuidando de detalhes como preparar o café e limpar a igreja. Você pode fazer parte desse trabalho. Mas atenção: cooperar exige compromisso. Seja uma pessoa pontual e assídua, alguém com quem podemos contar. Não fique apenas criticando quem faz — envolva-se e faça parte do que Deus está realizando na igreja!
Por fim, lembremos a base de tudo: "A graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós." É a graça de Cristo que nos capacita, une e sustenta no trabalho. Não é nossa força, habilidade ou esforço que nos faz avançar, mas a graça abundante do Salvador.

4. Visando a glória de Deus no evangelho (v. 25-27)

Por fim, ame a igreja, amando acima dela a glória de Deus (v. 25-27). Paulo encerra sua carta com uma doxologia, exaltando o Deus que é o autor e o sustentador de toda a obra da igreja. É interessante perceber que, para Paulo, algo era ainda mais importante do que a própria missão da igreja: o Deus da missão. Ele amava profundamente a igreja, mas, acima dela, amava a Cristo. Essa era a base de todo o seu ministério.
Nos versículos finais, Paulo volta sua atenção para Deus, exaltando-o como o único capaz de firmar os crentes. Ele inicia o versículo 25 com o termo "àquele", direcionando seu louvor a Deus e reconhecendo que apenas Ele tem o poder de "confirmar", isto é, de sustentar e fortalecer a fé da igreja.
Essa firmeza, contudo, não ocorre de forma abstrata ou automática; ela acontece por meio do evangelho e da pregação de Jesus Cristo. É através da proclamação fiel do evangelho que Deus age, fortalecendo espiritualmente o coração dos crentes. Não são as nossas programações, estratégias ou esforços humanos que têm o poder de firmar a igreja. O evangelho é o verdadeiro alicerce que sustenta a comunidade dos santos.
Paulo também menciona o "mistério" que Deus revelou. Esse mistério não é algo obscuro ou esotérico, mas o plano redentor de Deus, que esteve oculto por muito tempo e foi plenamente revelado em Cristo. Deus, em sua sabedoria, guardou esse plano até o momento certo, quando então o revelou de forma completa e gloriosa. Essa revelação, porém, não foi um evento casual. Ela aconteceu por um comando eterno de Deus, evidenciando que Ele é soberano sobre a história e sobre a salvação.
O propósito dessa revelação é claro: levar todas as nações à obediência da fé. O evangelho não é algo limitado a um grupo específico ou a uma cultura; ele é uma mensagem universal, destinada a alcançar todos os povos e conduzi-los à submissão ao Senhorio de Cristo. Essa missão é a tarefa da igreja, que proclama a verdade do evangelho com esse objetivo em mente.
Paulo encerra exaltando a Deus, declarando: “Ao único Deus sábio seja dada glória para sempre, por meio de Jesus Cristo.” Essa doxologia ressalta que toda a obra de salvação e o fortalecimento dos crentes têm como propósito final a glorificação de Deus. Tudo o que a igreja faz – seu trabalho, sua missão, suas lutas e conquistas – só encontra sentido quando está alinhado ao objetivo de glorificar a Deus.
Aqui está um ponto crucial para refletirmos: o que sustenta nosso amor pela igreja, especialmente em tempos difíceis? A igreja, por ser formada por pecadores, nem sempre é fácil de amar. Ela tem falhas, problemas e muitas vezes nos frustra. Mas quando nosso amor pela igreja está enraizado no amor a Cristo e no desejo de glorificar a Deus, encontramos forças para perseverar. Não amamos a igreja porque ela é perfeita, mas porque ela pertence a Cristo, e amá-la é uma expressão do nosso amor por Ele.
Além disso, precisamos lembrar constantemente que não somos nós que sustentamos a igreja. Não é a força de nossas programações, estratégias ou talentos que mantém a igreja firme. O que sustenta a igreja é o evangelho – a boa nova de Cristo que transforma vidas, renova corações e glorifica a Deus. Quando colocamos nossa confiança em métodos humanos, facilmente nos frustramos. Mas quando confiamos no evangelho, permanecemos firmes, pois ele é o poder de Deus para a salvação e o fortalecimento da igreja.
Paulo aponta para essa verdade ao encerrar sua carta com louvor a Deus. Ele sabia que a igreja de Roma não dependeria de sua própria força para permanecer fiel, mas sim da graça de Deus revelada em Cristo. Da mesma forma, nosso amor pela igreja será sustentado enquanto estiver ancorado no amor a Cristo e na glória de Deus.
Que nossa oração seja como a de Paulo: "Ao único Deus sábio seja dada glória para sempre, por meio de Jesus Cristo." Pois no final, o que nos motiva, fortalece e sustenta é o evangelho, e o alvo supremo é a glória de Deus.
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