Esperando o Salvador
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Esperando o Salvador
Esperando o Salvador
Lucas 1.46–55 “Então Maria disse: 'A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como havia prometido aos nossos pais.’”
Como é aguardar o natal para você?
Sempre gostei muito do Natal. Quando eu era criança, meus natais eram cheios de coisas boas. Mesa farta, presentes, muita decoração natalina. Minha mãe era pobre, mas trabalhava para uma família abastada e que tratava a mim e ao meu irmão mais velho como se fossemos parte da família deles. Além dessas questões materiais, essa família também tinha certa reverência religiosa, pois, como católicos, faziam questão de um momento de oração junto a uma imagem representado o menino Jesus em uma manjedoura.
Dentro da religiosidade deles, o natal tinham alguma tensão entre o consumismo típico da época e a busca por tentar manter “o verdadeiro sentido do Natal”, como se costuma dizer.
Bom, havendo a concorrência de presentes caros, comidas deliciosas e um coração infantil treinado em querer sempre mais, não preciso dizer que o que eu esperava do natal estava pouco relacionado ao nome de Cristo. Na verdade, apesar de ter um respeito religioso pela figura do Cristo (não tanto pela imagem na manjedoura), na época, eu não saberia dizer exatamente porque era importante comemorar o nascimento Jesus.
Certamente eu concordava que o “verdadeiro sentido do natal” estava vinculado a Jesus, mas não sabia o que isso quer dizer, pois o que eu esperava mesmo, era abrir os pacotes de presente.
A cada Natal nós vemos algo semelhante. Muita gente focando no consumismo. Outros se queixando de que o “verdadeiro sentido do natal” se perdeu, mas não vão além dessas queixas. E também aqueles que resolvem não ter mais qualquer enfeite ou presente nessa data.
E quanto a você, o que você espera do Natal?
Ninguém esperou o Natal mais que Maria, literalmente. É claro que na época não existia um feriado chamado “natal”, mas, como sabemos, a palavra natal se refere ao “nascimento” de uma pessoa e, neste caso, Maria estava esperando o nascimento de seu filho e Senhor, Jesus Cristo.
Ainda no início da gravidez, Maria foi visitar sua parente Isabel, que estava no sexto mês de gravidez, esperando o nascimento de João (Batista). Lá chegando, Maria saudou sua prima, mas João (Batista) “estremeceu de alegria” (Lc 1.44) na barriga da mãe. A palavra para estremeceu (ἐσκίρτησεν) é a mesma traduzida na versão grega do AT (LXX) por lutavam (Gn 25.22 - Jacó e Esaú no ventre de Rebeca) e saltaram (Sl 114.4).
Isabel, cheia do Espírito, exclamou a belíssima frase “Bendita é você entre as mulheres, e bendito o fruto do seu ventre!” (Lc 1.42), frase esta que, infelizmente, muitos passaram a usar como um tipo de adoração a Maria. Mas Isabel disse essa frase, pois sabia que as promessas de Deus seriam cumpridas através do bebê que Maria carregava na barriga. (Lc 1.45)
A resposta de Maria vem através de um cântico, e veremos a seguir que este cântico nos ensina como esperar o Natal de maneira agradável a Deus.
Lucas 1.46–50 “Então Maria disse: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem.”
O Cântico de Maria também é tradicionalmente chamado de “Magnificat”, por causa do início dele em latim (“Magnificat anima mea Dominum”, “A minha alma engrandece ao Senhor”). Ele tem muitas semelhanças com o cântico de Ana (1Sm 2.1-10) e, assim como Ana, já no início do cântico, Maria mostra que o foco do natal não seria ela. Apesar de sua prima Isabel ter dito, com justiça, que Maria era bem-aventurada, Maria não ousava roubar a glória do momento para si.
Ao contrário, desde o início de sua música, Maria começa trazendo o foco para Deus. É o Senhor que deve ser engrandecido e Ele que é o motivo de alegria (v.46) . Ele é o seu Senhor e seu Salvador. Maria se via como uma pessoa necessitada de um Salvador (v.47). Ela sabe que precisa de Sua misericórdia, mas que esta misericórdia está reservada para aqueles que O temem (v.50, cf. Sl 33.18; 103.11,17; 118.4; 147.11). Assim como todos nós, ela nasceu na mesma condição de pecadora, precisando da graça de Deus sobre a vida dela, mas sabe que foi alcançada por essa graça e o bebê que ela trará ao mundo é a prova definitiva disso.
Maria se via como “bem-aventurada”, pelo fato de ser alvo da bondade e misericórdia de Deus (v.49,50), mesmo sendo uma pessoa “humilde”, no sentido de ter pouco a oferecer, e apenas uma “serva”, ou seja, alguém que está ali apenas para servir, não sendo o centro das atenções (v.48).
Imagine uma talentosa violinista em uma grande orquestra. Ela tem a oportunidade de executar um solo breve durante a apresentação, um momento de destaque em meio à sinfonia grandiosa. Seu solo é belo e cativante, mas ela sabe que sua performance é apenas uma parte do espetáculo completo. Embora receba aplausos pelo seu talento, ela direciona todo o reconhecimento ao compositor da música e ao maestro que orquestrou a apresentação.
Da mesma forma, Maria, ao receber a bênção de carregar o Salvador, teve seu "momento de solo" na grande sinfonia da redenção divina. Embora tenha sido agraciada e reconhecida, ela sabia que era apenas uma serva humilde, parte de um plano maior. Ela direcionou toda a glória ao Senhor, reconhecendo que Deus era o verdadeiro autor das grandes coisas que estavam acontecendo. Assim como a violinista, Maria não buscou a atenção para si, mas exaltou o nome de Deus por Sua misericórdia e poder.
Para Maria, naquela gravidez, quem estava fazendo algo grande era Deus e o nome que deveria ser exaltado como “Santo” era o nome de Deus (v.49). E esta santidade de Deus o fazia cumprir na vida dela a misericórdia prometida aos seus antepassados (v.50).
Essa disposição de louvar a Deus em todas as situações, de render glórias a Ele, expressa bem o que Paulo diz em:
Romanos 11.36 “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre. Amém!”
De fato, quando reconhecemos a grandeza, a santidade, a bondade e misericórdia de Deus, pouco nos resta a não ser, como John Wesley, dizer:
“Não desejes viver, mas louvar o seu nome: que todos os teus pensamentos, palavras e obras tendam para a glória dele. Ponha seu coração firme nele, e nas outras coisas apenas como elas são nele e dele. Deixe sua alma ser preenchida com um amor tão completo por ele, que você não ame nada senão por sua causa.”[1]
Lucas 1.51–53 “Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.”
Esse trecho é bastante semelhante ao cântico de Ana (1Sm 2.3-5). A força das palavras de Maria podem sugerir que sua família não era somente pobre, mas desprezada, como Ana, mãe de Samuel. Mas, ao contrário do cântico de Ana, que certamente tinha a adversária Penina em mente, o cântico de Maria parece ser dirigido a um cumprimento mais geral e, quem sabe, mais escatológico das promessas de Deus, como se o Natal, o nascimento do menino Jesus, desse a garantia de que a justiça finalmente seria feita na terra. Ao mesmo tempo, ela fala das ações de Deus sempre no passado (agiu, dispersou, derrubou, encheu, despediu)
Maria canta os feitos do Senhor. Mas aqui são obras de Deus no passado, quando, por exemplo, livrou o povo de Israel do poder de Faraó? Ou são obras do futuro, que foram prometidas por Deus, mas como Ele nunca deixa de cumprir uma promessa, Maria dá como certo que as promessas serão cumpridas pelo Messias que ela está gestando?
Parece-me justo supor ambas as coisas. Esta era a forma do povo judeu lidar com Deus. Eles cantavam e relembravam os diversos atos de salvação de Deus ao longo de sua história e, lembrando das salvações e promessas do passado que eles confiavam que o Senhor os salvaria no futuro. Maria, como uma judia fiel, tinha o mesmo pensamento.
Mas quais são as obras de Deus mencionadas no cântico? Diz que o Senhor usou da sua força (braço) contra os soberbos. A soberba é um tema de constante rejeição de Deus (Sl 138.6; Pv 3.34; 29.23; Dn 4.37; Mt 23.12; Tg 4.6; 1Pe 5.5) e está associada tanto a atos de rebeldia contra ele, como também de autossuficiência e de menosprezo ao povo de Deus. Maria está aqui comemorando o cuidado de Deus, sempre atento ao mal que se faz no mundo, mas que, através de seu Filho, será de uma vez por todas derrotado.
Este Filho esperado por Maria é a esperança contra:
aqueles que planejam o mal contra os outros;
aqueles que usam do poder deste mundo (dinheiro, fama, posição) de maneira egoísta, esquecendo-se dos mais fracos;
aqueles que, sendo fartos de bens, não compartilham das bençãos que tem com os mais necessitados.
Os malignos, os egoístas e os avarentos já estão sentenciados. Os oprimidos, os rejeitados e os pobres foram socorridos. Tudo isso é inevitável, e a criança que irá nascer de Maria é a prova final disso.
O nascimento desta criança é o que os teólogos chamam hoje de “escatologia inaugurada”, também conhecida pela expressão “já e ainda não”. O Reino de Deus será inaugurado com a encarnação do Filho, seu ministério, morte e ressurreição.
Os sinais desse Reino serão cada vez mais visíveis a partir do nascimento deste menino, mas somente serão vistos em sua plenitude no último dia. Até lá, Maria já pode comemorar a derrota dos poderes das trevas.
Lucas 1.54–55 “Amparou Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como havia prometido aos nossos pais.”
O cântico termina com a razão para toda essa certeza: Deus fez promessas no passado a Abraão, Isaque e Jacó, os “pais” citados por Maria. Deus havia dito que todas as famílias da terra seriam abençoadas em Abraão. Isso significa que, quando Deus cumprisse sua promessa, “bem-aventurado” não seria um título exclusivo de Abraão, nem de Maria, nem dos judeus, mas de todos aqueles que estivessem ligados a essa promessa.
Essa é a mais importante das promessas, prometida desde a Queda de Adão e Eva e relembrada a Abraão, Moisés, Davi e os profetas, que é a vinda do Profeta, do Rei e do grande Sumo Sacerdote, o Messias, agora está se cumprido através da adolescente Maria.
Maria era jovem, muito jovem, mas não jovem demais para saber das promessas de Deus. Maria filha de uma família judia piedosa, cresceu ouvindo sobre aquilo que Deus prometeu e cumpriu ao longo da história de Israel. Sabendo que Deus cumprira suas promessas do passado, Maria não tinha dúvidas de que as promessas para o futuro seriam cumpridas também.
Deus sempre cumpre o que promete e podemos não somente comemorar e cantar sobre o que Ele fez no passado, mas também o que Ele fará no futuro.
Maneiras de esperar o Natal agradando a Deus.
Maneiras de esperar o Natal agradando a Deus.
Então, podemos ver nessa canção de Maria como deve estar nosso coração enquanto aguardamos o Natal e não só o Natal, mas também a 2º vinda de Cristo.
1º Centralize Deus e Sua obra
1º Centralize Deus e Sua obra
A Bíblia está repleta de referências à centralidade de Deus. Em momento algum, a história d redenção é centralizada em nós e em nossas necessidades, mas em Deus, Sua justiça e Sua graça. Desta forma, nossa espera pelo natal deve nos fazer querer pensar em Deus e no que Ele fez por seu povo. Ele é o propósito do Natal. Desejar a companhia do próprio ser de Deus nesta festa deveria ser nosso objetivo. Celebrar a obra desse Deus, ou seja, de como o Pai enviou seu Filho para nos salvar, como o Filho viveu, morreu e ressuscitou por pecadores como nós, como o Espírito Santo nos convenceu do nosso pecados e nos fez querer a Cristo, isto deve ocupar nossos pensamentos com mais frequência.
Veja, não sou contra as tradições natalinas, pois presentes, comidas, decorações e viagens não são coisas necessariamente ruins. Inclusive, a tradição de trocar presentes no natal existe como uma forma de relembrar que Jesus recebeu presentes dos magos do oriente (Mt 2.11) e, caso você queira, não há pecado em seguir esta tradição. Mas não pense que não há perigos.
Esperar o Natal pensando naquilo que vai ganhar ou comprar, o que vai comer, para onde viajar e outras maneiras de se autogratificar é tirar o foco de Deus e se por no centro da festa. E, acreditem, tanto crianças como adultos tendem a querer ser o centro das coisas. Pior, a maneira como certas tradições ocupam o Natal, tendem a roubar toda a atenção de Cristo.
Por exemplo, a figura do “Papai Noel” não é má em si mesma. Ela vem de uma história real muito bonita, por sinal. Mas é comum que, em uma festa de Natal, a aparição do Papai Noel se torne o ponto alto, o momento mais aguardado, de maneira que, como reparou certo influencer, no Natal, o que é legal mesmo é o Papai Noel, sendo a parte de orar e falar de Jesus, aquele momento chato que precisamos fazer enquanto aguardamos o que realmente interessa.
Por isso, dou algumas recomendações:
Separe um tempo de oração: Antes, durante e depois da festa do natal sempre teremos motivos para agradecer pela misericórdia de Deus, mas durante a festa, podemos fazer isto com diversas pessoas, inclusive algumas com as quais não estamos habituados a orar. Que grande oportunidade de, juntos, lembrarmos em oração de “todos os benefícios que ele tem feito a nós.” (Sl 103.2; 116.12)
Evangelize: Também é nesta festa que nossos parentes e amigos que ainda não se entregaram a Jesus estão mais abertos a ouvir algo do Evangelho. Aproveite a oportunidade de explicar, brevemente, o por quê de o Filho haver encarnado.
Decoração: busque decorar a casa com aquilo que te faz lembrar de Jesus. Se você tem filhos em casa, explique como essa decoração aponta para Cristo (Exemplo: estrela na ponteira da árvore). Agora, se você, por qualquer razão não quer ou não pode decorar sua casa, não se esqueça que o nascimento de Cristo é motivo de muita alegria, mesmo que algumas pessoas decorem suas casas e comércios com motivos errados.
Ceia: Lembre-se que parte da promessa da vinda do Messias era porque ele tornou os “famintos, fartos” (Lc 1.53). Procure repartir alimento com algum necessitado como sinal do Reino.
Presentes: Eu prefiro não associar a festa de Natal com presentes, então dou presentes para as minhas crianças nas proximidades da festa, mas não no dia. Caso você prefira presentear na festa, relembre a razão pela qual nós trocamos presentes e que Jesus é o maior presente que já recebemos!
2º Agradeça a Deus por Sua obra
2º Agradeça a Deus por Sua obra
Nem sempre
Pois assim como a gratidão é um reconhecimento expresso da bondade de Deus para com você, então as queixas e reclamações são como acusações claras da falta de bondade de Deus para com você. (William Law) [2]
3º Creia em Deus e em Sua obra
3º Creia em Deus e em Sua obra
[1] John Wesley in RITZEMA, E. ; VINCE, E. (orgs.): 300 Citações da Igreja Moderna para Pregadores, Série Pastorum. Bellingham, WA : Lexham Press, 2021.
[2] Willian Law in RITZEMA, E. ; VINCE, E. (orgs.): 300 Citações da Igreja Moderna para Pregadores, Série Pastorum. Bellingham, WA : Lexham Press, 2021.