O Rei ensina por parábolas: a Parábola da Candeia (Mc 4.21-25)

O Rei que se tornou servo: sermões no Evangelho de Marcos  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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O Rei ensina por parábolas: a parábola da Candeia (Mc 4.21-25)

Introdução

Muitos seguidores de Jesus tinham dificuldade de enxergar o Reino de Deus. Durante Seu ministério terreno, ele ainda não parecia concreto. Viam o poder se revelando, mas não entendiam a natureza nem o propósito do Reino. Também não captavam seu papel como discípulos – talvez se vissem só como beneficiários, já que muitos O seguiam apenas pelo que recebiam. É provável que achassem irrelevante o trabalho da semeadura, afinal, a Parábola do Semeador (Mc 4.1-20), que acabaram de ouvir, mostrou que muitos solos não recebem bem a Palavra. Vimos na Parábola do Semeador, que Jesus trata como uma espécie de padrão, que aos discípulos foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus (Mc 4.11). O tema ali já era o Reino – e aqui, na Candeia, ele segue sendo o foco. Marcos escreve isso pros seus leitores, que talvez se perguntassem: “Por que nem todos viram o Reino chegar?” Ele mostra que o Reino de Deus (Mc 1.15) e a Lâmpada do mundo (Jo 8.12) chegaram, mas de um jeito inesperado – em Jesus, que nem todos reconheceram.
Para clarear isso, Jesus conta uma parábola simples, fácil de fixar na memória. As parábolas eram assim: histórias do cotidiano com lições profundas, escondidas para os desinteressados (Mc 4.11-12), mas reveladas aos que buscavam entender. A Parábola da Candeia (Mc 4.21-25) vem logo após a do Semeador – o texto diz “também lhes disse” (v. 21) – e aparece junto com as da semente (Mc 4.26-29) e do grão de mostarda (Mc 4.30-32), todas no mesmo dia. A conexão é clara: se o Semeador fala de onde a Palavra cai, a Candeia mostra o que fazer com ela depois. Na Parábola do Semeador, a ênfase não é que o Reino será rejeitado – sim, terá rejeição –, mas que ele vai crescer. Crescerá como semente. Jesus queria mostrar, sobretudo àqueles discípulos no início, que o Reino avança apesar de tudo. Ele enfatiza a frutificação – a Palavra é lançada, encontra abrigo, cria raízes, cresce e dá fruto no tempo certo. Esse é o propósito dela. Os discípulos, então, precisam entender que suas vidas devem frutificar para os outros e para a glória de Deus. Em resumo: quem é do Reino testemunha, colocando a luz no lugar certo para alumiar.

Exposição

A Parábola da Candeia: a luz que não se esconde

1. A obviedade do ministério cristão (Mc 4.21)

O texto começa com “também lhes disse”, ligando-se ao que Jesus já falava. Ele não descreve uma situação, mas faz perguntas retóricas com respostas óbvias – “não” e “sim” – que, mesmo simples, precisavam de explicação aos discípulos.
A candeia era uma lamparina de barro, com pavio e óleo (Werner Kaschel e Rudi Zimmer, Dicionário da Bíblia de Almeida, 2ª ed., SBB, 1999). Não a veja com olhos modernos, como algo ultrapassado. Para eles, era a lâmpada de LED da época! E ninguém compra uma boa luz pra jogar em qualquer canto.
Não acho que a candeia seja exclusivamente Cristo aqui. Alguns ligam isso ao Messias ou profetas (ex.: Jo 5.35, sobre João Batista) por causa do “vir”. Mas concordo com a NAA: “Será que alguém traz uma lamparina?” O “vir” é ser trazida, não vir sozinha. Pela sequência com o Semeador, a candeia é a Palavra de Deus (Mc 4.14), “lâmpada para os meus pés” (Sl 119.105), o Evangelho do Reino de Deus em Cristo Jesus. Ela é semeada, revelando Deus, Seu caráter, Sua obra e Seu Reino pelo Filho. É plantada para germinar, crescer e frutificar. Mas essa Palavra aponta pra Jesus – Ele é a Lâmpada que ela anuncia, o Filho que a cumpre (Jo 8.12). Não é que a candeia seja só Ele; é que ela brilha por causa Dele.
No ministério de Jesus, essa missão estava parcialmente velada – a candeia não estava ainda no velador, o lugar mais alto. Naquela fase da história e da vida dos discípulos, a palavra estava sendo lançada e plantada. Ficava “oculta”, “escondida”. E aqui há um mistério: a própria Lâmpada, Jesus, esteve oculta por um tempo. Ele é a luz do mundo (Jo 8.12), mas Sua identidade nem sempre foi clara – às vezes, até mandava ficar quieto (Mc 1.45; 3.11-12). Mas nem homens nem demônios seguravam a verdade: o Filho de Deus veio! Vez após vez, ela rompia o silêncio. E esse é o ponto: o mistério do Reino não ficaria em segredo (Mc 4.11); seria proclamado (Mt 10.27). Esse é um elemento misterioso no Reino: ele se cumpre sem estar consumado. Pessoas o rejeitam, como os fariseus, mas ele cresce mesmo assim – não porque todos aceitam, mas porque a Palavra tem poder. Depois, não mais em parábolas, mas claro e livre – não é o que os pastores fazem todo domingo? A obra do Calvário ilumina o mundo caído (Mt 28.18-20). A Lâmpada, escondida pra cumprir o plano divino, brilhou mais forte na cruz e na ressurreição, e a Igreja primitiva a levantou ainda mais. No Pentecostes, a Igreja nasce como testemunha viva da Palavra. Os discípulos devem colocar essa luz no alto. Para o Reino crescer, a Palavra precisa estar no lugar correto – não escondida, mas em destaque, como luz no velador.

2. A luz centralizada dissipa as trevas (Mc 4.22)

A lamparina no velador ilumina mais e melhor. Revelada, ela mostra tudo ao redor. Se está no canto ou debaixo de algo, o cômodo fica oculto. Enquanto a luz está escondida, as trevas dominam; quando se revela, as trevas se dissipam.
Onde o Evangelho brilha, as boas obras reluzem, e as obras das trevas são desmascaradas. Não há harmonia entre luz e trevas (2Co 6.14). O Evangelho não apaga talentos ou dons – fabricar, cantar, dirigir, servir, ensinar, proteger, liderar, desenvolver uma capacidade esportiva, pregar –, mas os ilumina, voltando-os à glória de Deus e ao bem do próximo, não à vaidade.
E a luz não para por aí: as trevas do coração também aparecem. Marcos quer que saibamos: esse desvelamento tem um paradoxo divino. Os cegos de fora, como os líderes de Israel, rejeitaram Jesus (Mc 4.12) e o levaram à morte. Ainda que, como sabemos, na soberania de Deus, essa oposição serviu ao plano – “foi da vontade do Senhor esmagá-lo” (Is 53.10). Eles são culpados, sim, mas Deus usou até a dureza deles pra que o Filho desse a vida por muitos (Mc 10.45). O mesmo Evangelho que revela Cristo, mostra nosso pecado: motivações tortas, prioridades erradas, desejos egoístas, vaidade, idolatrias, timidez que paralisa, caráter depravado. A luz não deixa isso escondido pra sempre. Nos crentes, a revelação do Filho traz arrependimento e transformação; nos descrentes, revelação no juízo.

3. Ouvi e agi (Mc 4.23-25)

Jesus destaca a audição: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Atentai no que ouvis” (vv. 23-24). Ouvir é essencial (Rm 10.17; Ef 1.13). Liturgia e disciplina nos guiam à Palavra – sozinhas, não valem, mas como treliça, ajudam a Palavra a crescer. Não é opcional; é vital. A Candeia também nos ajuda a entender o Semeador: lá, uns receberam e perderam; outros receberam e multiplicaram. O que decide é o ‘ouvir’. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Atentai no que ouvis”. Uma das maiores obras do Espírito Santo é quando alguém escuta de verdade – é o milagre de ouvir. Diálogo começa aí - com Deus também.
Ouvir nas Escrituras vem acompanhado d e obediência. Nos versos 24-25, como na parábola dos talentos (Mt 25.14-30), Jesus diz: o que vocês fazem com o que ouvem importa. A “medida” é a Palavra – graça, misericórdia, ética do Reino. Julgamos assim, não por gostos pessoais, e assim seremos medidos, com rigor: “e ainda se vos acrescentará”. Rejeição e desobediência contrastam com fé e obediência.
Não importa quanto os discípulos receberam, mas o que fazem com isso – o entendimento do Reino. Os que colocam à serviço de Deus os seus dons terão em abundância. À luz disso, uma interpretação válida para “e ainda se vos acrescentará” é que, não os discípulos não só serão julgados com rigor, mas que se julgarem corretamente conforme a Palavra que receberam, receberão mais de Deus. Aqueles discípulos, como sabemos, não só aprenderam isso, mas vivenciariam a realidade dos mistérios do Reino – pregando, sofrendo, vendo o Evangelho frutificar. Isso responde: se muitos solos rejeitam o Evangelho, por que pregar? Porque a luz não foi feita pra ficar guardada. Não temos desculpa pra inatividade se ela habita em nós. Não é pelo retorno, mas pela glória e fidelidade a Deus.
Marcos dá essa certeza aos leitores: o Reino cresce, e vocês, que ouvem, têm mais entendimento agora. Aquela ordem – “proclamem isso ao mundo” (Mt 28.19-20) – é pra vocês também. Ouçam a advertência do Semeador (Mc 4.3,9) e da Candeia (Mc 4.23-24): sejam solo bom, deem fruto!

Aplicações

1. Cristo é a Luz do Mundo

O Evangelho não é só pra você; é pros outros. O que amamos, compartilhamos – se amo um filme, chamo alguém pra ver. O pecado nos engana, querendo a lamparina no canto - isso é falta de amor. Mas quem ama a Cristo e ao próximo a coloca no velador, semeando a Palavra em todo solo. Não é só pra pastores ou missionários – é pra todo discípulo. O crescimento do Reino não está em nossas mãos – Deus faz, como Ele planejou desde o início. Nosso papel é colocar a Palavra no seu alto e sublime lugar de primazia. Ela transforma, ela que devemos ouvir. É a candeia que não pode ser escondida.

2. Nós somos a luz do mundo

A Palavra diz que somos luz (Mt 5.14-16) – não como Cristo, que é o centro, mas como reflexo. Não somos o centro da obra de Cristo [nem o seu ponto fraco]. Quem semeia e frutifica a Palavra ilumina. Nossa vida não chama atenção pra nós, mas realça a obra de Deus, como sal realça sabor. Dissipa trevas e leva outros a glorificar a Deus (Mt 5.16). Onde um servo de Deus está, as coisas não podem ficar como antes.

3. Onde está a sua luz?

Como Jesus, pergunto: o Evangelho ilumina tudo na sua vida? Ou tá num canto, substituído por algo menor – uma lâmpada velha de cabeceira? Você gosta das sombras que a luz não alcança? O pecado é uma encruzilhada de burrice: achamos que escondemos algo, mas tudo é claro pra Deus. Um dia, a luz estará no centro, posta por Ele, como o sol no céu. Nada ficará oculto – nem sua negligência planejada.
S.D.G.
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