O Rei chama (Mc 1.16-20)

O Rei que se tornou servo: sermões no Evangelho de Marcos  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Considerações gerais sobre a passagem:

Uma das primeiras ações práticas do ministério de Jesus é a escolha daqueles que estarão com ele na pregação do evangelho de Deus. Sabemos que a primeira parte de Marcos após o prólogo apresenta respostas para “Quem é esse Jesus?” (Mc 1.14-3.6). Aqui vemos que o rei, que dera um resumo de sua mensagem, chama os primeiros trabalhadores que não serão somente servos, mas parte do fruto do seu ministério. Isso também nos chama a atenção para o alcance da obra de Cristo.
O local onde se passa o chamado dos primeiros discípulos (“junto ao mar da Galileia”). Onde um rei, que também é sacerdote e profeta vai encontrar discípulos? Vemos que é um local bastante improvável para se encontrar discípulos, se pensarmos conforme o mundo, visto que não eram pessoas do contexto real, religioso ou intelectual. Mas lembramos que se trata de um rei diferente de um reino diferente. No final das contas, não é de surpreender que um rei que se torna servo chame seus discípulos de tarefas comuns do cotidiano (1Co 1.26-27).
‌O padrão de Jesus “ver” (16 “viu”; 19 “viu”), o interesse por ambas as duplas vistas serem formadas por irmãos, e ambos serem pescadores. Jesus vê o cotidiano. Seus olhos não estão a supervisionar os palácios, mas o que ocorre ao seu redor. E ele vê com uma qualidade especial, com os olhos e com o coração. E nesse olhar ele vê pessoas a quem ele amou. Pessoas acompanhadas e ocupadas. A ocupação deveras interessante, pois é desafiador perceber como os primeiros leitores receberam o chamado de pescadores.
‌Não é bem uma escolha ou um encontro, mas um convite, um chamado (“vinde após mim”). A escolha não é evidentemente por currículo, nem por aptidão. O encontro não é se achar alguém que atenda certas expectativas. Também não é por conveniência, visto estarem acompanhados e atarefados. É um chamado que implica em ser escolhido, em atender e seguir aquele que chama e se tornar aquilo que se é chamado a ser. Um chamado que diferencia Jesus dos profetas que chamavam as pessoas para seguirem a Deus, pois as chama para o seguirem.
‌Os discípulos não são chamados a meramente fazer algo, mas participarem de algo que Jesus fará neles que os tornará também atuantes. Jesus, o pescador de homens, fará pescadores de homens. “Esse é o mais antigo título pelo qual o ofício ministerial é descrito nas páginas do Novo Testamento” (J. C. Ryle).
‌Por último, o atendimento imediato. No primeiro caso, verso 18, os irmãos abandonam a pescaria. Não era algo a se pensar. Não havia equiparação de valor entre o que se deixara para trás e o convite que se recebia. No segundo caso, deixaram tarefas pela metade e, como Marcos deixa claro, o seu próprio pai. Não era algo a se pensar. Não havia equiparação de valor entre o que se deixara para trás e o convite que se recebia.

‌Exposição

Versículo 16 e 19

Jesus vem caminhando junto ao mar da Galileia e vê os irmão Simão e André. Primeiramente, Marcos inicia um tema aqui, o do discipulado. E o tema é introduzido com a escolha por parte de Cristo. A ocasião da escolha é uma caminhada de Jesus junto ao lago de Tiberíades, ou de Genesaré. Um lago formado por águas frescas do rio Jordão e que era rico em peixes, o que permitia a vasta atividade pesqueira.
Essa atividade provavelmente abrangia vários tipos de embarcação, e pelo que texto nos indica, aqueles homens tinham uma atividade minimamente profissionalizada. Simão e André são destacados como pescadores e mais adiante, Tiago e João, junto com o seu pai Zebedeu, são apresentados como tendo uma espécie de empresa familiar (v. 20 “empregados”).‌ Pescar era algo que exigia esforço, paciência, persistência, estratégia e fé (Lc 5.5).
Portanto, a descrição dos discípulos não é de pessoas vulneráveis a apelos religiosos, ao contrário do que se poderia acusar. Eram ambos ocupados, trabalhadores, participavam a economia local e estavam intimamente vinculados às suas famílias. Vamos falar mais disso adiante.

Versículo 17 e 20a

Como fica claro no verso 17, acerca de Jesus precisamos entender que, embora possa parecer algo fortuito ou ocasional, a sua atitude foi intencional e planejada. Ele possui planos para aqueles a quem chama. Aquele que é apresentado como o Senhor (v. 3), o Messias (v. 7-8), o Filho de Deus aprovado (v. 11; 12-13), que inaugura os tempos da chegada do Reino de Deus (14-15), chama soberanamente seus seguidores (17 e 20a).
Os discípulos não possuem nada que os fazem chegar ao Salvador. É o Salvador que chega até eles e os chama. Para os leitores da época isso deve ter gerado estranheza. Na tradição religiosa judaica eram os discípulos que escolhiam os mestres. Ademais, no mundo antigo os filhos seguiam a profissão dos pais. Porém, Jesus rompe radicalmente essas duas realidades: Deus tem a iniciativa de se relacionar conosco e ele nos dá uma nova direção de vida que inclui prioridade sobre todas as coisas.
Seu chamado é uma ordem e envolve relacionamento. Nesse relacionamento Cristo os fará parecido com ele. Obviamente, Jesus é o primeiro pescador de homens. Portanto, seus discípulos também o seriam. Mas o que isso inicialmente significava? Para nós, o título já está muito vinculado ao discipulado e a atividade de pastores e missionários. Mas como judeus e pessoas daquela cultura escutaram ou levam essa expressão?
No Antigo Testamento, essa figura é bastante escassa, mas há textos interessantes que nos levam a compreender a expressão (Ez 47.9-10; Is 19.8-10; Hc 1.14-15; Am 4.2). Mas uma chama a atenção: a pescaria como resgate de Israel ao mesmo tempo que julgamento para os incrédulos:
Jeremias 16.16 “Eis que mandarei muitos pescadores, diz o Senhor, os quais os pescarão; depois, enviarei muitos caçadores, os quais os caçarão de sobre todos os montes, de sobre todos os outeiros e até nas fendas das rochas.”
Jesus cumpre neles o seu ministério de resgatar homens e mulheres do cativeiro espiritual ao tempo que através deles cumprirá o seu ministério em outros. Inicia-se algo neles que é o fato de não só observarem Jesus, mas seguí-lo. Tornarem-se discípulos. Esse processo será lento e doloroso. Muitas vezes, cheio de fracassos (difícil de entender 8.14-21; de observar 14.37; de seguir 14.50; de suportar 13.13). Mas Jesus os fará pescadores de homens, tal ele.

Versículo 18 e 20bc

O destaque de Marcos aqui é para a resposta dos discípulos diante da ordem de chamado de Jesus, o Messias. É importante mencionar que essa compreensão os impulsiona a responder imediatamente a Jesus.
Esse não era o primeiro contato desses homens com Jesus, pelo menos em um ano. André e um outro moço, provavelmente João, foram chamados para para “virem e verem” (João 1.35-41). André levou seu irmão Simão e possivelmente João levou seu irmão Tiago. E logo ambos os irmão viram que Jesus era o Messias.
Agora os Messias os chama e a resposta positiva deles é imediata e eles o seguiram (também no final do verso 20). Não importa se deixam a pesca, o barco, a profissão, a empresa, a família. Há uma dimensão de urgência e grandeza diante deles que é incomparável.

Aplicações

‌O chamado de Cristo é para um relacionamento pessoal com ele. Jesus não chamou aqueles homens para meditarem sobre ele, nem para seguirem um rol de instruções e mandamentos. Jesus os chama soberanamente para “virem após mim”. É um “segue-me” (Mc 2.14; 8.34; 10.21, 28, 29). Ou seja, a natureza do discipulado tem mais a ver com seguirmos uma pessoa do que seguirmos uma ideia, com aquilo que somos do que aquilo que fazemos. Relacionamento antes do desempenho (HDL). Vida com Cristo antes de vida para Cristo. Não é estranho que os primeiros seguidores de jesus foram chamados de “cristãos” (At 11.26).
O que os discípulos serão está no encargo da obra de Cristo. Cristo os fará pescadores de homens. E isso é o poder dessa expressão. Não há esperança mais reconfortante para os discípulos que atendem ao chamado de Jesus que confiar nessas palavras: “eu vos farei” (Lc 5.10). Essa é uma promessa para aqueles que o seguem. Portanto, não se detenham no que são nem nos seus fracassos, mas naquilo que Cristo fará através de vocês. Aqueles discípulos eram simples pescadores e também fracassaram em muitos aspectos no evangelho de Marcos. Mas a estes mesmos Cristo promete: farão obras maiores que eu. O determinante na vida dos discípulos é a história que Deus tem feito através deles. Portanto, dependentes e buscando o Espírito Santo, vivamos a obra que Cristo realiza através de sua igreja. De pescadores Cristo faz fundamento (Ap 21.14).
Discípulos são invariavelmente pescadores de homens. O pastor Jonas Madureira, ao falar sobre o que é ser um discípulo, descreve: aquele que segue Jesus e que ensina outras pessoas a seguirem Jesus. Obviamente, há um caráter apostólico para esses discípulos. Serão desbravadores no chamado de pessoas ao evangelho. No entanto, há algo que se aplica a todos nós: Jesus nos faz pescadores de homens (Pv 11.30; Dn 12.3; Mt 28.18-20; Rm 10.14; 1Co 9.22). Graças a Deus alguém, diante do chamado do evangelho, se viu como pescador e o evangelho foi alcançando pessoas até chegar aqui em Ubajara.
Os primeiros discípulos serviram aos destinatários do evangelho, discípulos futuros, de modelo de resposta ao Evangelho. Quando viram que Jesus era o Messias e, diante dessa realidade, não há tarefa, não há necessidade, não há urgência, não há alguém que se comparar a Jesus. Não há tempo melhor para seguir a Jesus do que o agora. Não há demanda anterior que nos atraia do olhar. O Reino de Deus chegou. Quem tem posto a mão no arado não pode mais olhar para trás. A resposta dos discípulos diante do chamado de Jesus é uma das afirmações cristológicas mais enfáticas que eles podem dar (Mc 10.28,29). Ele é o Cristo, o Filho de Deus. Aquele que se deu em resgate por muitos (Mc 10.45) e que nos trouxe a redenção por sua morte sacrificial (Mc 14.22-25) nos chamou, por isso vamos alegres e gratos.
‌SDG
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