O Rei glorioso veio nos visitar (Marcos 1.1-8)
O Rei que se tornou servo: sermões no Evangelho de Marcos • Sermon • Submitted • Presented
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Título: O Rei glorioso veio nos visitar (Marcos 1.1-8)
Introdução a série
Introdução a série
“O Rei que se tornou servo”. Talvez um título como esse para uma série no Evangelho de Marcos soe familiar ou até um pouco óbvio. No entanto, às vezes, é essencial lembrar as mesmas verdades, especialmente quando falamos do Evangelho. Repetir e recorrer ao "óbvio" nos ajuda a ser fiéis à mensagem do Rei, mantendo o foco em Cristo e no que Ele fez por nós.
Fica claro nas Escrituras que até mesmo os apóstolos e autores bíblicos repetiam ensinamentos importantes para que essas verdades fossem bem compreendidas e guardadas. Não seríamos, portanto, os primeiros a fazer isso:
Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus,
Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas.
Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados. Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo.
Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez por todas, que o Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não creram;
Assim, permitam-nos ser repetitivos – e que, ao revisitarmos essas verdades, sejamos novamente impactados pelo Evangelho de nosso Senhor Jesus. Que esta série de sermões revele, através do relato de Marcos, como Deus apresenta Jesus e Sua obra redentora, para que adoremos com gratidão o nosso magnífico e único Rei.
Hoje, daremos início com o sermão baseado em Marcos 1.1-8, intitulado: "O Rei Glorioso Veio Nos Visitar".
Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho; voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas; apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados. Saíam a ter com ele toda a província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. As vestes de João eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre. E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias. Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
Introdução ao Evangelho de Marcos
Introdução ao Evangelho de Marcos
O evangelho de Marcos foi escrito por João Marcos, provavelmente tendo o apoio de Pedro para fonte de seu registro. Papias, um bispo do século II da cidade de Hierápolis, escreveu sobre essa tradição em seu livro Exposição dos Oráculos do Senhor (agora perdido, mas parcialmente preservado em escritos de Eusébio de Cesareia).
Segundo Eusébio, Papias afirmou o seguinte sobre Marcos:
"E o presbítero costumava dizer: ‘Marcos, tendo se tornado o intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, mas não em ordem, tudo o que ele recordava do que o Senhor disse ou fez.” (História Eclesiástica 3.39.15).
João Marcos era filho de Maria, uma mulher que apoiava o ministério de Jesus e possuía uma casa em Jerusalém. Essa casa, provavelmente usada como o local do cenáculo onde Jesus celebrou a última Páscoa com seus discípulos (Mc 14.12–26), tornou-se também um importante ponto de encontro da igreja primitiva. Ali, os primeiros cristãos esperaram a promessa da vinda do Espírito Santo (At 1.12–14), e mais tarde, o apóstolo Pedro compartilhou seu testemunho de libertação milagrosa (At 12.12–17). Essa proximidade com os discípulos possibilitou a Marcos ouvir relatos diretos sobre Jesus, fornecendo uma base sólida para seu Evangelho.
Provavelmente, João Marcos foi o jovem que fugiu sem roupas do jardim do Getsêmani durante a prisão de Jesus (Mc 14.51–52). Ele era primo de Barnabé (Cl 4.10) e acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária, mas desistiu durante a jornada (At 13.5–13). Isso levou à separação entre Paulo e Barnabé antes da segunda viagem missionária (At 15.36–41). Marcos, então, seguiu com Barnabé, amadurecendo em seu ministério e tornando-se um colaborador valioso. Ele esteve com Pedro em Roma (1Pe 5.13) e, mais tarde, apoiou Paulo durante sua prisão domiciliar (Cl 4.10; Fm 24) e também no cárcere final em Roma, quando Paulo o considerou útil para o ministério (2Tm 4.11).
A tradição diz que Marcos foi um fiel pregador do evangelho, fundou uma igreja em Alexandria e tornou-se bispo no Egito, onde foi martirizado (Neves, 2012). Segundo Eusébio de Cesareia, ele foi enforcado no ano 70 d.C. por pagãos e, em seguida, arrastado pelas ruas da cidade de cavalo, pois muitos alexandrinos estavam se convertendo dos ídolos.
O Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito. Em parte, essa prova se dá pelo fato de que todos os seus versículos, com exceção de pouquíssimos, foram incluídos em Mateus e Lucas, demonstrando que foram escritos depois de Marcos e que seus autores usaram esse evangelho na composição das suas obras. Diversos estudiosos têm afirmado que o Evangelho de Marcos foi escrito, previamente (talvez num rascunho), entre 55–60 d.C., e a sua redação final foi feita por volta de 65 a 68 d.C. (Neves, 2012)
Um dos propósitos de Marcos ao escrever seu evangelho é apresentar Jesus como o Messias e Filho de Deus, mas de uma maneira que enfatiza sua humanidade, sofrimento e serviço. Marcos destaca a ação de Jesus, focando em suas obras poderosas e milagrosas, e como Ele se dedica a ensinar e curar os necessitados. Em um contexto de perseguição e sofrimento, como no caso da igreja primitiva, especialmente no ambiente romano, Marcos busca encorajar seus leitores a reconhecerem em Jesus não apenas o Rei glorioso, mas também o Servo sofredor que se entregou por nós.
Introdução ao Sermão
Introdução ao Sermão
É importante lembrar que nosso texto de hoje faz parte de uma porção maior, abrangendo os versos 1 a 13, onde encontramos verdades enfatizadas que raramente aparecem novamente ao longo do Evangelho de Marcos. Por exemplo, vemos aqui a relação de Jesus com o Espírito Santo e a importância do deserto. Temos verdades que estabelecem o fundamento para tudo o que vem depois: Ele é o Filho de Deus, o Messias, o Rei prometido, aquele que tem o Espírito com Ele, aquele que batiza com o Espírito, aquele que o Pai aprova.
Agarrem-se a essas verdades. Esse início funciona como os dois primeiros capítulos do livro de Jó – um prólogo essencial. Ele não apenas nos prepara para entender o que vem depois, mas também nos ajuda a discernir e interpretar as provações e desafios que Jesus enfrentará em Seu ministério.
1. Explorando os começos (vs. 1)
1. Explorando os começos (vs. 1)
No primeiro versículo, Marcos expõe seus leitores a mensagem de forma simples, compacta e objetiva. Ele inicia conectando tudo o que ele vai discorrer sobre o evangelho ao ministério terreno de Jesus.
Certa vez um teólogo afirmou que na bíblia temos três começos: 1. o princípio na eternidade (Jo 1.1), 2. o princípio da criação (Gn 1.1) e 3. o princípio do ministério de Jesus (Mc 1.1) (Dr. Vernon McGee).
Registrar esse princípio é muito importante para nós, visto que Marcos tem o objetivo de apresentar não o que devemos fazer para ser salvo, mas o que Deus fez por nós através de Cristo Jesus, e qual a nossa reação diante disso.
Além disso, diferentemente de Mateus e Lucas em seus evangelhos, Marcos não apresenta nenhum detalhe da geração, do nascimento ou da genealogia de Jesus, mas conecta seu princípio ao precursor do ministério de Jesus, João Batista, aquele que veio preparar o ministério de Jesus e foi prometido desde o Antigo Testamento, conforme ele menciona Isaías no verso dois.
Marcos apresenta que sua mensagem é especialmente pertinente aos seus leitores, é o “Evangelho”, cujo a transliteração do grego tem como significado “boas novas” ou “boa história”, que temo como seu conteúdo principal a pessoa de Jesus Cristo.
Mais que isso, ele começa declarando, de forma resumida, quem é Jesus:
a) Ele é plenamente homem: Jesus, nome que vem de Josué, que significa Deus Salva.
b) Ele é o ungido de Deus: Cristo, outra transliteração do grego, que significa “ungido de Deus” e vem do hebraico “messias”. Ele é o messias profetizado no Antigo Testamento.
c) Ele é plenamente divino: Filho de Deus, ou seja, sua origem e natureza são divinas. Ele existe desde a eternidade e possui uma relação singular com Deus.
Vale citarmos aqui o proeminente teólogo Richard Baxter:
“Ele quer que vejamos Jesus trabalhando. É como se dissesse: Olhe! O que Jesus fez prova quem ele era. O que ele operou autentica o que ele ensinou. As obras poderosas confirmam as palavras surpreendentes. Observem-no trabalhando e maravilhem-se com este operador de prodígios sobrenatural. Isso irá convencê-lo”
(BAXTER, 1985)
2 O precursor do ungido de Deus (vs. 2-6)
2 O precursor do ungido de Deus (vs. 2-6)
Para localizar precisamente o início do evangelho, do ministério do rei que se torna servo, Marcos recorre ao contexto em que Deus prometera enviar o Seu Filho: que Ele seria enviado mediante um anunciador.
Para os romanos, por exemplo, destinatários iniciais do escrito de Marcos, era costume que seus oficiais fossem anunciados pelos arauto ou mensageiro. Marcos estava deixando claro que todos deviam dar atenção aquele que seria anunciado por João Batista. Marcos demonstra que o evangelho de Jesus Cristo está em consonância e fortemente embasado em fatos históricos e proféticos, sendo Jesus a confirmação da expectativa e da revelação do Antigo Testamento.
Fora esse aspecto de Marcos recorrer ao Antigo Testamento para falar a romanos, outra coisa interessante é notar que a citação do autor não é apenas de Isaías. Na verdade, ele começa citando Malaquias 3.1 e conclui citando Isaias 40.3. Será que Marcos nomeia apenas Isaías por ser um autor mais conhecido entre os leitores? Ou Marcos está nos dando a entender que Malaquias é melhor compreendido à luz de Isaías? De qualquer forma, Tanto Jesus como João Batista estão ali cumprindo profecias feitas há mais de 700 anos.
Vale dizer que a porção que Marcos utiliza de Isaías está num grande contexto do livro, que vai do capítulo 40 ao 66, e que falam do plano eterno de Deus de redenção. Há uma abundância de conteúdo profético que aborda desde a volta do povo do cativeiro babilônico como o novo céu e a nova terra. Deus visitaria seu povo como rei, como servo, como guerreiro, como ungido, e derramaria seu Espírito, transformando seu povo, inaugurando uma nova era. O servo viria fazer o que o povo não poderia fazer por si mesmo. Um novo êxodo, umas nova libertação. A teologia do Antigo Testamento está resumida nessa porção de Isaías.
Em especial no capítulo 40, para onde Marcos nos leva, todas as coisas irão convergir para que venha o Messias, Em outras palavras, trazer esse texto e dizer que ali inicia o evangelho de Jesus, é afirmar que nada impedirá os planos de Deus (Is 40). De fato, como afirma Paulo em Gálatas 4.4 “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei (…)”.
E “apareceu João”. E que figura interessante é João Batista. Alguém totalmente descolado, incomum. Ele poderia ter exercido o sacerdócio no templo, em Jerusalém, por ser filho do sacerdote Zacarias, mas ele apareceu no deserto. E que ótimo lugar para começar qualquer coisa (o deserto é o melhor lugar para começar algo novo). Os ruídos do mundo se calam. A voz de Deus se sobressai. No deserto, batizando no Jordão (lugar por onde o povo teve que passar para entrar na terra prometida). Suas vestes eram estranhas, estilo Elias (2Rs 1.8), e que tinha uma dieta também estranha. Ele era visivelmente um homem do deserto. O total oposto do estilo de vida dos líderes do judaísmo à época. Não são tendências de moda ou referências gastronômicas. Há um quadro teológico claro. Esse reino é bem diferente e esse rei é bem diferente.
João Batista é o instrumento usado pelo Pai e pelo Espírito para preparar o caminho para o Filho. Para começar algo novo. Antes de um rei ou uma grande autoridade visitar uma cidade, equipes de engenheiros e trabalhadores aplainavam as estradas e caminhos. Assim, por João Batista o caminho era preparado. Porém, não com as pompas e glórias mundanas, mas no anuncio do batismo [pregando batismo] de arrependimento - é momento de ver seus próprios pecados e se arrepender - depois é momento de ver o Cristo e perceber “eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
3. O ungido de Deus
3. O ungido de Deus
A pregação de João batista, portanto, não parava no arrependimento e confissão de pecados, mas na exaltação da pessoa e obra do Messias. Quem é este messias, o Cristo?
a) Alguém que vem depois de João Batista, não é ele mesmo. Por mais “profeta” que fosse João, não era ele “o” profeta.
2) Alguém mais poderoso que ele. Por mais que arrebanhasse multidões da Judeia e de Jerusalém, aquele que viria seria acompanhado por feitos extraordinários. Seria alvo de contradições não somente para os judeus, mas para os gentios e o mundo inteiro. Por meio dele foram feitos o mundo e tudo o quanto nele há.
3) Ele é elevadamente digno. Pensem na expectativa que os seguidores tinham a respeito de João e ele se apresenta como algum que não é digno, nem mesmo expressando toda sua indignidade (escravos gentílicos), de desatar as sandálias do Rei. O ato mais humilhante é ainda alto para a majestade daquele que vem.
4) Ele batiza com o Espírito Santo. Os ouvintes imediatos não tem a expressão “batismo com o Espírito Santo” como um termo técnico, mas como uma expectativa profética: quando o Senhor viesse ele viria derramar o seu Espírito. No profetas, passando por Isaías, Ezequiel e Joel, a prerrogativa de derramar o Espírito sobre o seu povo é de Deus. João anuncia o arrependimento pelo batismo com água, Jesus capacita o povo a obedecer pelo batismo com o Espírito. Ele é o rei transforma vidas pelo Espírito.
É ou não é um reino diferente e um rei muito diferente? E Ele veio nos visitar e começar algo novo.
Aplicações:
Aplicações:
1. Louvamos a Deus pois a salvação foi planejada desde a eternidade. Nada pode frustrar os planos de Deus.
2. Louvamos a Deus pois o evangelho sempre nos lembra que se trata do que Cristo fez em prol de pecadores.
3. Como receber o rei? Ressaltando seus grandes feitos? Não. Reconhecendo suas próprias falhas. Um dos grandes presentes do nosso rei é o perdão dos pecados àqueles que se arrependem.
4. Louvamos a Deus pelo Rei que se tornou servo. Aquele que veio, mesmo anunciado, foi em muitos momento o profeta silencioso, pedindo que muitos que Ele alcançou ficassem em silêncio. Aquele que é poderoso, divinamente poderoso, se vestiu de humanidade e de fraqueza. Aquele que é incomparavelmente digno, veio servir, lavar os pés de seus irmãos, e dar-se aos seus irmãos. Aquele que batiza com o Espírito Santo, entregou seu espírito na cruz, para que recebêssemos vida.
5. Louvamos a Deus pelo Rei que iniciou algo novo. João e Jesus começam no deserto. Seu caminho possui arrependimento, perdão de pecados, e uma vida nova no Espírito. Onde está o seu deserto? Onde está sua sujeição ao Espírito? Deus tirou você das águas e onde você agora anda? Viva o reino e siga o Rei.
SDG