Jó 20 e 21: duas visões sobre o destino dos peversos

Capítulo 20: Zofar acusa Jó de cobiça e ganância.

1. Por que Zofar se sentiu obrigado a responder Jó

Zofar se sentiu insultado pelas palavras de Jó. Mas por quê?

Uma possibilidade:

Jó 19.29 “temei, pois, a espada, porque tais acusações merecem o seu furor, para saberdes que há um juízo.”

2. A alegria momentânea dos peversos

O centro da argumentação de Zofar depende da premissa do v. 5: a alegria dos peversos é momentânea.

Para construir este argumento, Zofar responde a três situações que poderiam servir de ameaça à sua tese de que a alegria dos peversos é passageira. Todas elas são acompanhadas da expressão “ainda que”:

Jó 20.6 “Ainda que a sua presunção remonte aos céus, e a sua cabeça atinja as nuvens,”

Jó 20.11 “Ainda que os seus ossos estejam cheios do vigor da sua juventude, esse vigor se deitará com ele no pó.”

Jó 20.12 “Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua,”

Mas não é sempre que o peverso sofre da maneira descrita.

Sendo assim, qual a força do argumento de Zofar?

3. A acusação indireta de cobiça e ganância (20. 15-29)

A única maneira do discurso de Zofar ter força é se ele provar que Jó é um exemplo de pessoa peverso.

O cenário descrito nesta seção coloca uma forte ênfase no modo como o peverso adquire seus bens; ele oprime e desampara os pobres, ele rouba casas que não edificou, ele não tem limites em sua cobiça.

Jó 20.22–23 “Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele. Para encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele o furor da sua ira, que, por alimento, mandará chover sobre ele.”

Veja que as expressões são referências aos acontecimentos na vida de Jó no início do livro.

Zofar vai além e afirma que o sopro de Deus destruirá os tesouros do perverso:

Jó 20.26–28 “Todas as calamidades serão reservadas contra os seus tesouros; fogo não assoprado o consumirá, fogo que se apascentará do que ficar na sua tenda. Os céus lhe manifestarão a sua iniqüidade; e a terra se levantará contra ele. As riquezas de sua casa serão transportadas; como água serão derramadas no dia da ira de Deus.”

Portanto, para Zofar, Jó é culpado por oprimir e desamparar os pobres devido à sua ganância, o que traz sobre ele a ira de Deus.

Capítulo 21: Os ímpios na visão de Jó

1. O pedido inicial de Jó (21.1-3)

Jó fala sobre o modo como os seus amigos o ouviam.

Parece que eles não tinham muito interesse.

Jó 21.2 “Ouvi atentamente as minhas razões, e já isso me será a vossa consolação.”

Jó implora por tolerância:

Jó 21.3 “Tolerai-me, e eu falarei; e, havendo eu falado, podereis zombar.”

Zombar enquanto ouve é uma clara demonstração de que aqueles amigos não estavam interessados em ouvir o que Jó tinha para falar; eles estavam ali apenas como representantes de uma tradição já estabelecida que não quer mais dialogar com o problema.

2. Como realmente vivem os perversos (21. 4-16)

Antes de falar isso, Jó deixa bem claro que sua queixa tem a ver com a sua própria vida e o modo como Deus tem lhe tratado.

Jó 21.5–6 “Olhai para mim e pasmai; e ponde a mão sobre a boca; porque só de pensar nisso me perturbo, e um calafrio se apodera de toda a minha carne.”

Entretanto, o que mais aborrece Jó é ver que a definição que seus amigos tem da vida do perverso não é correta.

Jó 21.8–13 “Seus filhos se estabelecem na sua presença; e os seus descendentes, ante seus olhos. As suas casas têm paz, sem temor, e a vara de Deus não os fustiga. O seu touro gera e não falha, suas novilhas têm a cria e não abortam. Deixam correr suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos saltam de alegria; cantam com tamboril e harpa e alegram-se ao som da flauta. Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura.”

Ou seja: Por que rotular as pessoas abençoadas de peversos? Somente porque suas casas têm paz, seu touro gera e não falha, seus filhos saltam de alegria e cantam ao som do tamboril?

A resposta a essa pergunta está no modo como os peversos falam de Deus e da piedade.

Jó 21.14–15 “E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos. Que é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações?”

4 pontos bem definidos:

Eles não querem proximidade de Deus e de nada que seja associado com ele;

Eles não querem conhecer os caminhos do Senhor, a sua palavra e nem a sua vontade para a vida deles;

Eles não acham que Deus seja digno de adoração e;

Eles não veem qualquer proveito em fazer orações a Deus.

3. Como são os perversos castigados

a) Raramente

Jó 21.17–18 “Quantas vezes sucede que se apaga a lâmpada dos perversos? Quantas vezes lhes sobrevém a destruição? Quantas vezes Deus na sua ira lhes reparte dores? Quantas vezes são como a palha diante do vento e como a pragana arrebatada pelo remoinho?”

b) Indiretamente

Jó 21.19–21 “Deus, dizeis vós, guarda a iniqüidade do perverso para seus filhos. Mas é a ele que deveria Deus dar o pago, para que o sinta. Seus próprios olhos devem ver a sua ruína, e ele, beber do furor do Todo-Poderoso. Porque depois de morto, cortado já o número dos seus meses, que interessa a ele a sua casa?”

c) Indistitamente

Jó 21.22–26 “Acaso, alguém ensinará ciência a Deus, a ele que julga os que estão nos céus? Um morre em pleno vigor, despreocupado e tranqüilo, com seus baldes cheios de leite e fresca a medula dos seus ossos. Outro, ao contrário, morre na amargura do seu coração, não havendo provado do bem. Juntamente jazem no pó, onde os vermes os cobrem.”

d) Privilegiadamente

Jó 21.29–31 “Porventura, não tendes interrogado os que viajam? E não considerastes as suas declarações, que o mau é poupado no dia da calamidade, é socorrido no dia do furor? Quem lhe lançará em rosto o seu proceder? Quem lhe dará o pago do que faz?”

e) Honradamente

Jó 21.32–34 “Finalmente, é levado à sepultura, e sobre o seu túmulo se faz vigilância. Os torrões do vale lhe são leves, todos os homens o seguem, assim como não têm número os que foram adiante dele. Como, pois, me consolais em vão? Das vossas respostas só resta falsidade.”

Se Jó estivesse sendo castigado por Deus como um perverso, segundo o que geralmente acontece ao redor do mundo, a sua situação seria muito bem melhor que a atual. Quem dera Jó fosse tratado como um pereverso!Todavia , ele sabe que o consolo de seus amigos é vão e suas respostas são falsas.

Para Refletir:

Você já vítima de zombaria enquanto estava tentando falar como se sentia?

Após ter lido as duas versões sobre o destino dos perversos, qual deles parece refletir a realidade no contexto onde você vive?