Santidade - Culto da Estação
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Texto bíblico:
Texto bíblico:
Hebreus 12.14 “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor.”
INTRODUÇÃO - O QUE É SANTIDADE?
INTRODUÇÃO - O QUE É SANTIDADE?
O texto de Hebreus 12:14 é conhecido no meio cristão. Além do pedido de esforço na comunhão entre as pessoas, uma condição: sem santidade ninguém verá o Senhor. Um alerta poderoso, que gera desde zelo e busca pela santificação como indagações sobre seu significado. Afinal, o que é santidade? Como ser santo?
PERGUNTAS PARA A PLATEIA
Possíveis respostas:
1 - estado de pureza associada à perfeição moral. Para a grande maioria das pessoas, ser santo ou santa é ser sem pecado. A santidade seria um estado de perfectibilidade moral, ou seja, santo, disseram, é aquele que não possui pecado, o que equivale a ser moralmente perfeito.
2 - A santidade também é percebida como um processo rumo à perfeição. A santificação seria, portanto, o caminho, a progressão para uma vida sem pecado e de completa submissão à vontade moral de Deus, que resultaria em um comportamento sem falhas morais.
3 - santidade se trata de algo inatingível, um estado inalcançável. Sabemos que ninguém é sem pecado e que não existem pessoas perfeitas. A ideia de santidade remete a uma possibilidade muito remota ou praticamente impossível de ser vivenciada por pessoas comuns.
4 - santidade como uma condição de excepcionalidade, isto é, santas são aquelas pessoas extraordinárias e por isso mesmo muito raras. Inclusive nossas referências de santidade, nesse sentido, são sempre muito distantes (santa mesmo só minha avó, ou santos católicos que viveram há centenas de anos atrás).
Todas essas expressões são válidas, mas de forma isolada podem gerar problemas em nosso relacionamento com o Senhor. Se a santidade é algo puro, imaculado e distante, quem pode ser santo? Ninguém verá a Deus, então? O que posso FAZER para ver ao Senhor?
SANTIDADE NA BÍBLIA
SANTIDADE NA BÍBLIA
No Antigo Testamento, a palavra santo vem do hebraico קָדוֹשׁ (qadosh) e suas variações, que significam “separado, consagrado”. Essa separação era para a realização de uma obra ou de uma missão específica relacionada a Deus.
Êxodo 19.5–6 “5 Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações. Embora toda a terra seja minha, 6 vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Essas são as palavras que você dirá aos israelitas”.”
Ser santo não significava ser perfeito, mas sim ser SEPARADO para uma função específica, de referência. Ninguém fazia algo para se tornar santo, e sim era escolhido para ser santo.
Um profeta, um sacerdote, um levita, um nazireu como Sansão, ou mesmo uma nação inteira. É importante vermos que mesmo no Antigo Testamento, ser santo é uma forma de “referência” para outros. Essa conotação continua em diversos textos do Novo Testamento, onde termo grego ἅγιος (hagios) tem a mesma intenção seja com profetas (Lucas 1:70) ou até mesmo anjos (Marcos 8:38). Aliás, essa idealização da referência é o mote para a veneração (dulia) de santos nas Igrejas Católica e Ortodoxa, por exemplo.
Qual o problema dessa única forma de ver a santidade?
Qual o problema dessa única forma de ver a santidade?
1 - Se a referência faz um determinado tipo de regras, eu preciso fazê-las de maneira igual para ser santo (legalismo)
1 - Se a referência faz um determinado tipo de regras, eu preciso fazê-las de maneira igual para ser santo (legalismo)
Quando a santidade é definida por um conjunto rígido de regras e comportamentos externos, caímos na armadilha do legalismo. A lógica é perigosa: "Se a referência de santidade segue um determinado tipo de regras, eu preciso fazer as mesmas coisas para ser santo." Isso transforma a vida cristã em uma lista de "fazer" e "não fazer". Parece que tudo é pecado, tudo é errado...
Quando erramos, o pecado nos enche de culpa; quando acertamos, o orgulho nos enche também. Quando vemos alguém errando, logo o acusamos...
HENRI NOUWEN
Eu sei, na minha própria vida, com que esforço tenho tentado ser bom, aceitável, agradável e exemplo digno para os outros. Mas com tudo isso havia uma seriedade, uma intensidade moralista que tornava cada vez mais difícil sentir-me à vontade na casa de meu Pai. Tornei-me menos livre, menos espontâneo, menos brincalhão… Cada vez mais servo, e menos filho...
O legalismo foca na aparência e não na relação. Ele cria uma corrida para cumprir preceitos, muitas vezes adicionados por homens, em vez de buscar um coração que reflita o caráter de Deus. Pessoas legalistas podem se vangloriar de sua "obediência", mas sem um verdadeiro amor a Deus e ao próximo, seus atos se tornam vazios. A santidade, para o legalista, é uma conquista pessoal, um troféu que se exibe, e não uma resposta de amor à graça divina. Por isso que vai se criando mais e mais regras, ainda que pequenas.
Já percebeu como é fácil lermos ou assistirmos conteúdo nos mostrando “o jeito certo de ser um ____ cristão”?
Masculinidade bíblica: homem de verdade faz isso, isso e isso (redpill e afins)
Feminilidade bíblica: mulher de verdade faz isso, isso e isso (tradwife e afins)
Ou você é cristão ou é evolucionista: os dois não dá
Ou você é cristão ou vota em fulano: os dois não dá
A gente vai acompanhando esses perfis, vai ouvindo outros… E pouco a pouco começa a adicionar uma dezena de coisas ao nosso modo de viver para “sermos santos” ou, em outras palavras, para termos uma “cosmovisão cristã”, no singular. Só há um jeito certo de ser cristão, e esse jeito é o meu.
2 - Se ninguém souber o que estou fazendo de errado, também serei uma referência (hipocrisia)
2 - Se ninguém souber o que estou fazendo de errado, também serei uma referência (hipocrisia)
Se a santidade é vista como um status, e não como uma busca genuína, a tentação de parecer santo sem de fato sê-lo se torna irresistível. A problemática aqui é clara: "Se ninguém souber o que estou fazendo de errado, também serei uma referência."
A hipocrisia é a arte de mascarar falhas e projetar uma imagem de retidão que não condiz com a realidade interior. É a santidade de fachada, onde a preocupação maior é a opinião alheia, e não a aprovação de Deus. Esse comportamento gera uma vida de constante tensão e falsidade, onde o indivíduo vive com medo de ser desmascarado.
Jesus condenava constantemente o grupo religioso mais próximo dele, os fariseus, por pautarem a santidade deles em legalismos e hipocrisias.
PHILLIP YANCEY: “A crítica de Jesus centraliza-se nas consequências do legalismo aos fariseus: despertar sentimentos de orgulho e competição, inclusive entre si próprios. Em vez de avançar na tarefa de criar uma sociedade justa que brilharia como uma luz aos gentios, os fariseus estreitavam sua visão e começavam a competir uns com os outros.”
A santidade não deveria anular a Graça. Não são meus méritos que me aproximam de Deus, nem meus méritos que me fazem continuar perto do Senhor. É tudo Graça.
O QUE REALMENTE É SANTIDADE
O QUE REALMENTE É SANTIDADE
Contudo, quero que nos aprofundemos nessa palavra e seu uso na Bíblia, em especial pelo apóstolo Paulo. Observe os seguintes textos:
Saúdem Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, e também Olimpas e todos os santos que estão com eles. (Romanos 16:15 — NVI)
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: (Efésios 1:1 — NVI)
Aqui vemos outro uso para a palavra santo. Paulo utiliza o termo ao se referir aos diversos membros das igrejas da época. Podemos até substituir “santos” por “salvos” nos dois trechos. Ora, se a santidade é um sinal de referência, por que os santos de ambas congregações não são citados pelo nome, para que sejam venerados? Qual o motivo da generalização? Pela escrita, supõe-se que Paulo acreditava que todos os cristãos eram santos.
É muito interessante notar que nem sempre a Bíblia se refere a um Santo como alguém que tem uma índole incorruptível, alguém perfeito, sem pecado, mas sim como alguém que simplesmente pertence ou é separado por Deus. Somente Deus é essencialmente Santo. Nós, como discípulos somos levados a olhar para o nosso Mestre e tentar seguir os Seus passos. Deus, por meio do Sangue de Jesus, já nos considera como Seus santos. Santidade tem menos a ver com o que você faz, e mais com o que você é.
Mas… Sem santidade ninguém verá o Senhor!
Além do mais, observe os textos a seguir:
João 14.6–9 “6 Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. 7 Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto”. 8 Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. 9 Jesus respondeu: “Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?”
Percebe que não sou eu quem vejo a Deus, nem crio ferramentas e degraus e etapas para enxergá-lo, mas Ele quem se revela a mim? Que quanto mais conheço a Jesus, mais eu conheço a Deus?
O que é mais importante para a santidade? Uma relação vertical (Eu - Deus) ou uma relação vertical (eu - outro)?
Mateus 5.23–24 “23 “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, 24 deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.”
Jesus adverte que a religiosidade dá importância ao ritualismo, enquanto a santidade Deus prioriza os relacionamentos pessoais. Deus está ocupado com relacionamentos. Por trás das palavras de Jesus está a revelação de que a única maneira de servir a Deus é servir pessoas. Não é possível separar a relação com Deus da relação com as pessoas. A Santidade bíblica não diz respeito à minha relação individual com Deus, uma listinha do que fazer e do que não fazer. A santidade diz respeito à minha relação comunitária com os outros. Sem santidade, meu testemunho é infrutífero. O legalismo é individualista; a Graça é comunitária.
E aí voltamos para o texto de Hebreus:
E aí voltamos para o texto de Hebreus:
Por fim, voltamos ao versículo do começo: “Esforcem‐se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14 — NVI). Vamos ler o contexto maior:
Hebreus 12.12–15 “12 Portanto, fortaleçam as mãos enfraquecidas e os joelhos vacilantes. 13 “Façam caminhos retos para os seus pés”, para que o manco não se desvie, antes, seja curado. 14 Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. 15 Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus; que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos;”
A verdadeira questão não é se você precisa ser santo para ver a Deus, mas se as outras pessoas precisam ver você para ver a Deus. Aqui está o ponto crucial: sem a sua santidade, as pessoas não verão a Deus. Sem o seu testemunho, sem a coerência entre o que você crê e como você vive, as pessoas não verão sentido em entregar seu coração a Jesus!
De cem homens, um lerá a Bíblia; 99 lerão o cristão
D L Moody
Sua santidade, portanto, não é um requisito para sua salvação – essa é a obra de Cristo. Sua santidade é a manifestação viva da obra de Cristo em você, tornando-se um espelho pelo qual o mundo pode enxergar a glória e o amor de Deus.
Sem a sua santidade, as pessoas não verão a Deus. Sem o seu testemunho, as pessoas não verão sentido em entregar seu coração a Jesus!
