O Evangelho para o Pagão - Série Atos 2

Ewerton Luis
Atos parte dois  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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ABERTURA

A série de Atos está de volta! Incentivo à leitura compartilhada.
Vamos observar uma das histórias da Primeira Viagem Missionária de Paulo.
Ao final do capítulo 13, Barnabé e Paulo estão em Antioquia da Psídia, e a inveja dos judeus ao verem multidões gentias se aproximarem deles para ouvir o Evangelho causa perseguição, ameaças… os empurra para outras cidades da região da Galácia.
No início do ministério de Paulo ele meio que segue uma lógica de evangelização: a cada cidade que ele vai, primeiro se dirige à sinagoga e apresenta-se como judeu, explicando o agir de Jesus. Em seguida (por intenção ou pressão) ele se dirige aos gentios daquelas cidades.
No início do capítulo 14 Barnabé e Paulo estão em Icônio, e um movimento semelhante ocorre. Eles partem para outra cidade, Listra, mas dessa vez não há sinagoga judaica para “iniciar os trabalhos”.
TEXTO BÍBLICO Atos 14:8-13 NVT
8 Enquanto estavam em Listra, Paulo e Barnabé encontraram um homem com os pés aleijados. Sofria desse problema desde o nascimento e, portanto, nunca tinha andado. Estava sentado 9 e ouvia Paulo pregar. Paulo olhou diretamente para ele e, vendo que ele tinha fé para ser curado, 10 disse em alta voz: “Levante-se!”. O homem se levantou de um salto e começou a andar.
11 A multidão, vendo o que Paulo havia feito, gritou no dialeto local: “Os deuses vieram até nós em forma de homens!”. 12 Concluíram que Barnabé era o deus grego Zeus, e Paulo, o deus Hermes, pois era ele quem proclamava a mensagem. 13 O sacerdote do templo de Zeus, que ficava na entrada da cidade, trouxe touros e coroas de flores até as portas da cidade, pois ele e a multidão queriam oferecer sacrifícios aos apóstolos.

INTRODUÇÃO

Levar o Evangelho até “os confins da Terra” é a promessa dada aos discípulos logo no início do livro de Atos. Se você acompanhou a parte 1 dessa série, viu que mostramos como esses discípulos levaram o testemunho da ressurreição de Cristo para diversas pessoas. Judeus em Jerusalém, na Judeia, em Samaria… E até para não-judeus, como Cornélio. Contudo, TODOS até aquele momento já conheciam Deus e as promessas do Antigo Testamento em algum nível. Meio que Jesus era a “peça do quebra-cabeça” que faltava para todos eles.
Em Listra, o cenário muda pela primeira vez: uma região em que não há sinagogas ou judeus, portanto sem nenhum contato com Revelação Especial da Bíblia. Por esse desconhecimento são chamados de “pagãos”. Paulo e Barnabé realizam um milagre “corriqueiro” e rapidamente se surpreendem com a situação, precisando dar respostas coerentes com o Evangelho que vive dentro deles.
Vamos acompanhar nesse texto como a nossa religiosidade pode ser perversa, mas também como o Evangelho é uma luz para outros povos (e para nós).

1. RELIGIOSIDADE INTERESSEIRA

O ponto de partida para entender a oposição ao Evangelho em Atos 14 é a constatação de que a religião, seja ela judaica ou pagã, tende a defender seus próprios interesses. Em vez de se submeter à verdade de Deus, a religião busca proteger seu poder, sua popularidade e seus benefícios pessoais.
Em Listra (Atos 14:11-12), os gentios também demonstram um interesse próprio na sua religião. Depois que Paulo cura o coxo de nascença, a multidão, em vez de dar glória a Deus, tenta adorar Paulo e Barnabé. Eles os chamam de Hermes e Zeus, os deuses mensageiro e pai do panteão grego, respectivamente.
Porque essa adoração tão específica?
Estudos Bíblicos Expositivos em Atos Um Milagre Mal Interpretado

Ovídio escreve uma história em que ZEUS veio com seu companheiro HERMES para um determinado lugar, disfarçados de seres humanos. Eles desejavam testar a cordialidade e hospitalidade dos habitantes locais. Os habitantes locais não lhes informaram nem a hora do dia, não percebendo que estavam rejeitando o rei dos deuses e seu mensageiro. Finalmente visitaram um casal de idosos que compartilharam seus parcos suprimentos com Júpiter e Mercúrio e lhes mostraram grande bondade e hospitalidade. No dia seguinte Júpiter disse, “Subamos ao topo da montanha”, e levou consigo esse casal de idosos para o alto da montanha e produziu uma tempestade que inundou todo o vale, matando todos os que haviam sido grosseiros e inóspitos para com os deuses. Nessa altura, os deuses então tomaram o mísero casebre do casal e o transformaram numa luxuosa mansão com telhado feito de ouro maciço. Ovídio disse que isso teria ocorrido no próprio vale onde Paulo e Barnabé estavam agora pregando. Então quando Paulo faz o milagre no meio deles, perplexos disseram, “Os céus desceram até nós. Estes devem ser ZEUS e HERMES, é melhor que não os tratemos como o fizemos no passado, ou estaremos em sérios problemas.

Quando Paulo cura um homem coxo de nascença, a multidão, em vez de dar glória a Deus, começa a trazer sacrifícios para agradá-los e assim obter favores.
Podemos imaginar que essa necessidade de autossatisfação fosse exclusiva de povos distantes do Senhor, mas não é isso que encontramos na Bíblia. Em Isaías 1 , por exemplo, o profeta recebe da voz de Deus uma mensagem muito pesada: esse povo é religioso, mas não me adora.
As histórias de Atos 14 não são apenas uma lições sobre o passado, mas alertas para o nosso presente. Nós podemos facilmente nos tornar como os judeus ou os gentios, usando a religião para nossos próprios fins. Pensemos em nós mesmos. Quantas vezes a nossa fé é motivada por interesses próprios?
Buscamos ser reconhecidos e populares em nossa comunidade de fé?
Nossa motivação para orar e servir é mais sobre receber uma bênção do que glorificar a Deus?
Usamos nossa "religiosidade" para influenciar pessoas ou para nos sentirmos superiores aos outros?
Quantas vezes nós vamos à igreja com expectativas de que o louvor seja uma benção para mim, que a pregação me abençoe, que o culto seja um “espetáculo” para mim...
Pessoas quebradas querem ouvir que são importantes, boas, poderosas. As pessoas buscam igrejas para se sentirem em paz com suas emoções. Acabamos em busca de alimento constante não para a alma, mas para a autoestima.” TEOLOGIA COACHING - Yago Martins
Quando a religião se torna um meio para um fim — seja ele poder, popularidade, riqueza ou qualquer outro benefício pessoal — ela deixa de ser sobre Deus e passa a ser sobre nós. E o Evangelho é integralmente oposto a esse tipo de triunfalismo individualista.

2. O DISCURSO DO EVANGELHO

TEXTO BÍBLICO Atos 14:14-18 NVT
14 Quando Barnabé e Paulo ouviram o que estava acontecendo, rasgaram as roupas e correram para o meio do povo, gritando: 15 “Amigos, por que vocês estão fazendo isso? Somos homens como vocês! Viemos lhes anunciar as boas-novas, para que abandonem estas coisas sem valor e se voltem para o Deus vivo, que fez os céus e a terra, o mar e tudo que neles há. 16 No passado, ele permitiu que as nações seguissem seus próprios caminhos, 17 mas nunca as deixou sem evidências de sua existência e de sua bondade. Ele lhes concede chuvas e boas colheitas, e também alimento e um coração alegre”. 18 Apesar dessas palavras, Paulo e Barnabé tiveram dificuldade para impedir que o povo lhes oferecesse sacrifícios.
A questão é: como você mostra às pessoas que elas precisam de Cristo se elas sequer acreditam em um Deus de julgamento, na lei, no pecado, ou em noções de céu e inferno?
Em essência, Paulo não está dizendo a eles: "Vocês são pecadores e precisam de perdão". Ele está dizendo: "Vocês estão escravizados por ídolos e precisam de um novo mestre"
Ele chama a si mesmo de “homem” v.15: Paulo não aproveita-se do “status” dado pela multidão; de forma humilde se dirige a toda a população, afirmando que era tão humano quanto todos eles. Ele não era Hermes, o deus mensageiro, e sim um mensageiro do verdadeiro Deus;
Ele aponta para o Criador v.15: Paulo direciona o olhar do povo para o "Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há." Ele os confronta com a realidade de um Deus que não pode ser contido em um templo ou moldado por mãos humanas.
Ele encontra pontos de contato entre as espiritualidades v.17: Paulo não condena toda a cultura daquela cidade, mostra que o Criador verdadeiro já se apresentou a eles antes. Ele é quem provê chuva, boas colheitas e alimento. Ele combate a ideia de que os deuses de pedra são quem os sustenta.
Ele prega o arrependimento: O apóstolo exorta o povo a se arrepender de "coisas vãs" e a se voltar para o Deus vivo. O Evangelho exige que abandonemos nossos ídolos, por mais sutis que sejam, e nos voltemos para o único Deus que pode salvar.
Em essência, Paulo está argumentando que todos vivem para alguma coisa. Seja amor, dinheiro ou poder ou até para si mesmo, o que quer que você viva o dominará e o controlará.
O Deus verdadeiro é o único mestre que libertará você porque Ele te satisfaz e te perdoa quando você falha. Se você vive para uma carreira e não a consegue, ela te punirá e você se odiará. Mas o Deus verdadeiro se tornou um ser humano e se entregou para que pudéssemos ser perdoados.
Infelizmente, pelo versículo 18, as palavras de Paulo parecem insuficientes para conter o povo. Nem sempre o Evangelho proclamado pelas nossas bocas trará o resultado que nós esperamos.
TEXTO BÍBLICO 3: Atos 14:19-20 NVT
Então alguns judeus chegaram de Antioquia e Icônio e instigaram a multidão. Apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que ele estivesse morto. 20 No entanto, quando os discípulos o rodearam, ele se levantou e entrou novamente na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe.

3. RELIGIOSIDADE QUE MATA

Não sei se vocês conhecem a história do Homem-Aranha, mas ele tem uma galeria de vilões de peso, e entre eles existe um grupo chamado Sexteto Sinistro. A característica mais interessante desse grupo é que os vilões que o compõem — como o Doutor Octopus, Kraven, Abutre, Homem-Areia, Mysterio, Elektro, — odeiam-se entre si. Eles têm personalidades, motivações e objetivos completamente diferentes. Mas quando o Homem-Aranha aparece, a raiva mútua dá lugar a uma aliança de ódio contra um inimigo em comum.
Essa é a exata imagem que vemos no texto de Atos 14. Judeus religiosos e pagãos, que normalmente teriam se evitado, encontram um ponto de convergência no ódio à mensagem de Paulo e Barnabé.
“De todos os homens maus, os maus e religiosos são os piores.” CS Lewis
O Evangelho é tão radical, tão fora da caixa das expectativas religiosas, que ele se torna o “inimigo” comum. É fácil não nos identificarmos com os “pagãos”, afinal já conhecemos Deus. Mas assim como os judeus desse período, podemos ter as mesmas atitudes errôneas com uma justificativa “plausível, bíblica”.
Nós, que nos consideramos os “mocinhos” dessa história por estarmos do lado de Jesus, podemos facilmente cair nas armadilhas da religião. A atitude dos perseguidores de Paulo revela um padrão perigoso que a religião, quando deturpada, tende a seguir: a intolerância leva à desumanização. O "diferente" não é visto como alguém com quem se pode dialogar, mas como uma ameaça que precisa ser eliminada.
Não há debate: Os oponentes de Paulo não tentaram refutar seus argumentos teológicos. Em vez disso, eles recorreram à violência. A religião que se torna intolerante não busca a verdade, mas o controle. Ela não se preocupa em convencer, mas em silenciar.
A desumanização do "inimigo": Ao apedrejar Paulo, eles o reduziram a um objeto. Um objeto que, por ser perigoso, não merecia viver. A desumanização é o passo final antes da violência extrema. Quando rotulamos alguém como "não digno", "não humano" ou "sem valor", abrimos a porta para qualquer tipo de violência.
Hoje, como cristãos, precisamos estar atentos para não cairmos na mesma armadilha. Em uma sociedade polarizada, onde as redes sociais se tornam palco de debates acalorados, é fácil deslizar para a intolerância e para a violência verbal.
A "descristianização" do próximo: A tentação de rotular o outro como "não crente de verdade" porque ele pensa diferente de nós é forte. Se ele não compartilha das minhas convicções políticas, das minhas interpretações bíblicas ou das minhas tradições, ele não é "um de nós". Essa mentalidade cria divisões dentro do Corpo de Cristo e enfraquece o nosso testemunho.
O radicalismo que desumaniza: É fácil desumanizar aqueles que não pensam como nós, especialmente quando eles estão "do outro lado" de alguma questão social ou política. Nós os reduzimos a rótulos pejorativos, a caricaturas, a pontos de vista que não merecem ser ouvidos. Mas o Evangelho nos chama a amar a todos, inclusive nossos inimigos. A voz que nos acusa e a mão que nos ataca pertencem a um ser humano, criado à imagem de Deus, por quem Cristo morreu.
O teólogo croata Miroslav Volf alerta em seu livro Exclusão e Abraço sobre como a religião se torna um veículo perigoso de violência e exclusão do outro.
“Em situações de conflito, a religião então se torna uma força poderosa de legitimação do uso da violência. A religião se torna uma declaração política inconfundível não apenas sobre quem eles são, mas também contra quem estamos lutando.” Miroslav Volf
CONCUSÃO: O EVANGELHO QUE MORRE
Diante de um povo que pensa somente em seus próprios interesses a tal ponto que podem nos excluir, qual a respostas do Evangelho?
SLIDE MAPA DA VIAGEM MISSIONÁRIA
21 Depois de terem anunciado as boas-novas em Derbe e feito muitos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, 22 onde fortaleceram os discípulos. Eles os encorajaram a permanecer na fé, lembrando-os de que é necessário passar por muitos sofrimentos até entrar no reino de Deus.
religião, como vimos, se manifesta em formas que buscam a exclusão e, em seu extremo, a morte do "outro". A mentalidade religiosa dos judeus e gentios em Atos 14 os levou a perseguir, expulsar e até mesmo tentar matar Paulo. Eles viram nele uma ameaça aos seus interesses e, por isso, a única solução era eliminá-lo.
O Evangelho, no entanto, opera em uma lógica totalmente oposta. Ele não exclui, mas abraça. Ele não mata, mas dá a vida. A atitude de Paulo e Barnabé ao retornar a Derbe, Listra e Icônio é a prova viva disso.
HOMEM ARANHA
"A Última Caçada de Kraven", é uma sequência épica em que o Homem-Aranha escapa depois de ser enterrado vivo por seu antigo inimigo, Kraven, o Caçador. Uma vez que ele estava livre, o Homem-Aranha mal teve tempo de mudar de roupa e voltar para confrontar Kraven, que tinha um “capanga” atuando no subsolo de Nova York. O Miranha teria que voltar para um local fechado, escuro e claustrofóbico. O Homem-Aranha tinha acabado de ser enterrado vivo logo antes disso, e precisou voltar para cumprir seu chamado, sua missão. Não pela glória, mas pelo altruísmo.
Estou com tanto medo! Mas não posso deixar meu medo me parar. Deus, por favor, não deixe que o medo me impeça!
O Encorajamento na Tribulação (v. 21-22): A atitude de Paulo e Barnabé ao retornar às cidades onde foram perseguidos é o ápice do contraste. Eles poderiam ter encerrado ali a viagem missionária, mas escolheram voltar a Derbe, Listra e Icônio para fortalecer os discípulos. Eles não queriam aplausos ou sucesso, mas ver a fé dos irmãos solidificada. Eles exortam os novos convertidos, dizendo que "é necessário que, através de muitas tribulações, entremos no Reino de Deus." O Evangelho não vende uma falsa paz, mas prepara o crente para as lutas, fortalecendo sua fé e sua esperança no Senhor.
A história de Atos 14 não é apenas uma lição sobre a história da igreja primitiva. É um chamado para examinarmos a nossa própria fé.
O mesmo Viroslaf Volf, em seu livro, nos dá uma solução para a exclusão: o abraço na cruz!
“A vontade de abraçar o inimigo na cruz é sem dúvida um escândalo num mundo inundado pela hostilidade. Instintivamente, procuramos um escudo e uma espada, mas a cruz nos oferece braços estendidos e um corpo nu com um lado perfurado”” Miroslav Volf
Você tem vivido uma religião que exclui? Que vê o mundo em preto e branco, que só aceita aqueles que pensam e agem como você, e que trata os que são diferentes como inimigos? Essa mentalidade não vem de Cristo, mas da religião humana.
Você tem vivido o Evangelho que abraça? Aquele que se arrisca por amor ao próximo, que não foge das dificuldades, mas que encoraja aqueles que estão em seu círculo, mesmo que a vida com Cristo seja desafiadora? O Evangelho nos chama a ser como Paulo: dispostos a sofrer para que outros possam ser fortalecidos em sua fé.
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