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Aula 1 - Fundamentos do Louvor e Adoração: do AT ao NT
Aula 1 - Fundamentos do Louvor e Adoração: do AT ao NT
Equívocos comuns a respeito do Louvor e da Adoração.
Equívocos comuns a respeito do Louvor e da Adoração.
1. A equipe de louvor são os levitas.
Não são!
Levitas eram:
Levitas – descendentes da tribo de Levi, serviam no templo (Nm 3.5–10). (Única tribo sem herança na terra de Canaã. A herança dos Levitas era o próprio Senhor. (Números 18.20)
Sacerdotes – levitas da linhagem de Arão, ofereciam sacrifícios (Êx 28.1; Lv 1.5–9).
Sumo Sacerdote – descendente de Arão que entrava no Santo dos Santos no Yom Kippur (Lv 16.32–34).
Em Cristo o sacerdócio humano e portanto o serviço levítico se encerrou.
Jesus não é sacerdote levítico, mas da ordem de Melquisedeque, eterno e perfeito (Hb 7.14–17). Cristo é a nossa herança Ef 1.11, Cl1.12, 1Pe 1.4 Hb 9.15.
Seu sacrifício foi único e definitivo, anulando o sistema levítico (Hb 9.11–12; Hb 10.11–14).
Por meio dele temos acesso direto ao Santo dos Santos (Hb 10.19–22).
Então não! Músicos não são Levitas!
2. Não sou cantor…Sou adorador.
Essa é Clássica! Como professor de canto escuto isso quase todo dia.
Cantar é uma atividade. Adorar é um estilo de vida.
Uma pessoa pode se dizer adoradora e não ser. Mas porque então temos esse slogan hoje em dia?
Pelo fato da atividade musical ser uma arte, ficou associado que alguém que canta ou toca está se envolvendo com o mundanismo. Isso é tradição e liturgia, mas não é a realidade.
3. Preciso me consagrar para ministrar. Se não Deus não responderá com sua presença…
Não precisamos nos consagrar apenas para ministrar, mas para viver (Rm 12.1–2; 1Co 10.31; Cl 3.17). Não existe distinção entre vida cristã e vida secular: somos uma única pessoa vivendo diante de Deus num mundo caído. A consagração não faz Deus nos usar mais, pois é Cristo quem garante Sua presença (Jo 14.16–17; Ef 1.13–14). A Igreja de Corinto é prova disso: possuíam todos os dons espirituais (1Co 1.7), eram notáveis inclusive em profecia, mas eram carnais a ponto de Paulo sentir vergonha deles (1Co 3.1–3; 5.1; 6.5; 11.17–22). Portanto, consagração não é moeda de troca para “atrair” Deus, mas resposta de amor para viver diariamente em santidade.
A ideia de se consagrar apenas para ministrar ou tocar é de origem pagã, herdada de práticas tribais em que o homem fazia rituais para obrigar a divindade a se manifestar. No cristianismo é diferente: Cristo já abriu o acesso a Deus de uma vez por todas (Hb 10.19–22), e sua presença não depende de jejum ou preparo ritual, mas da graça. Por isso, não nos consagramos para Deus “vir”, mas porque Ele já veio em Cristo. A consagração é para viver (Rm 12.1; 1Pe 1.15–16), não apenas para subir em um púlpito.
4. O ministro é responsável por unir o noivo à noiva…
O ministro não une Cristo e a Igreja; quem realiza essa obra é o Espírito Santo. Ele é quem sela os crentes para o dia da redenção (Ef 1.13–14) e quem nos batiza em um só corpo (1Co 12.13), unindo-nos ao Noivo. O pastor ou líder é apenas servo e amigo do noivo, como declarou João Batista: “O amigo do noivo, que está presente e o ouve, muito se alegra com a voz do noivo” (Jo 3.29–30).
A união da noiva com o Noivo é obra exclusiva de Deus, não de homens. É o Espírito quem forma, santifica e prepara a noiva para o encontro final com Cristo (2Co 11.2; Ef 5.25–27). Por isso, em Apocalipse 22.17 está escrito: “O Espírito e a noiva dizem: Vem” — mostrando que o próprio Espírito clama junto com a Igreja, conduzindo-a e preparando-a para o grande dia da boda do Cordeiro (Ap 19.7).
Assim, qualquer ensino que atribua ao ministro a função de unir Cristo e a Igreja é uma heresia que rouba a glória do Espírito. O ministro é apenas cooperador (1Co 3.6–7), mas a união eterna é realizada pelo Espírito Santo, em Cristo, para a glória do Pai.
5. Vamos criar uma atmosfera de adoração…
A ideia de “criar uma atmosfera de adoração” é heresia, pois coloca no homem o poder de atrair ou manipular a presença de Deus. A Bíblia ensina o contrário: o Espírito Santo é soberano, e “o vento sopra onde quer” (Jo 3.8). Não é todo culto que terá manifestações visíveis da sua presença, mas apenas quando Ele tem propósito.
1Coríntios 12.11 – “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as como lhe apraz a cada um, individualmente.”
João 3.8 – O Espírito não é controlado por ambiente ou por música; Ele se manifesta conforme a vontade de Deus.
Atos 13.2 – Foi o Espírito quem conduziu a igreja em Antioquia a separar Barnabé e Saulo, mostrando que Ele dirige o culto e a missão.
Romanos 8.26 – Até nossa oração depende da intercessão do Espírito; não somos nós que “chamamos Deus”, mas Ele que nos move a clamar.
Apocalipse 22.17 – “O Espírito e a noiva dizem: Vem.” É o Espírito quem primeiro conduz a noiva a se voltar ao Noivo.
Portanto, não somos nós que criamos ou atraímos a presença de Deus. É o Espírito quem conduz tudo, manifestando-se quando, como e onde Ele deseja, sempre em linha com o propósito do Pai.
Conceito de Adoração no A.T (Abraão)
Conceito de Adoração no A.T (Abraão)
Adoração é um conceito AMPLO em toda a Bíblia, sendo portanto necessário definirmos os conceitos e compreender o sentido dentro do contexto em que aparecem nos textos bíblicos.
A primeira vez que aparece a palavra adoração é na história de Abrãao e Isaque.
Ao pedir seu único filho, Deus trás uma necessidade de tomada de decisão à Abrãao (Obedecer ou não obedecer).
Gn 22.5 “Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós.”
A palavra original no texto massorético é וְנִשְׁתַּחֲוֶ֖ה - (wenish taḥă wêh) na forma Nifal, 1ª pessoa plural, imperfeito. O que isso significa?
Em Hebraico temos as formas: Qal, Nifal, Piel, Pual, Hifil, Hofal e Hitpael. Cada um deles dá uma cor semântica diferente ao mesmo radical.
Vamos nos deter em Qal e Nifal.
No texto de Gn22.5 O verbo adorar (inclinar-se) está em Nifal e não em Qal.
Qal → descreveria a ação simples, objetiva: “ele se prostrou” (um ato físico e mecânico de se abaixar).
Nifal → dá a ideia reflexiva (“nós mesmos nos prostraremos”) e, neste contexto, também coletiva (Abraão e Isaque juntos).
No Nifal, portanto, não é apenas o corpo que se inclina, mas a pessoa toda (externa e internamente) se coloca em submissão diante de Deus.
Entendemos então que neste contexto, adorar significa sujeitar-se ativamente e espontaneamente a Deus seja qual for sua exigência.
Conceito de Adoração no A.T (Povo de Israel)
Conceito de Adoração no A.T (Povo de Israel)
Outro exemplo que iremos estudar está em Ex33.10 “Todo o povo via a coluna de nuvem que se detinha à porta da tenda; todo o povo se levantava, e cada um, à porta da sua tenda, adorava ao Senhor.”
Verbo: וְהִשְׁתַּחֲוּ֖ (wehis taḥă wû) – Nifal, 3ª pessoa plural.
Aqui, o ato de adorar não está ligado a um sacrifício de obediência radical (como em Abraão), mas a um gesto comunitário de reverência diante da manifestação visível da presença de Deus.
Sentido: a adoração é resposta visível à presença de Deus — o povo se inclina em reconhecimento da sua glória.
Aqui, a ênfase é em:
Reverência às coisas santas → a nuvem era o sinal visível da presença de Deus.
Resposta comunitária (congregação) → todos, em suas casas, reconheciam a santidade daquele momento.
Adoração como reconhecimento → não é tanto obediência radical, mas respeito e temor diante do sagrado.
Conceito de Adoração no N.T.
Conceito de Adoração no N.T.
No Novo Testamento temos um mundo completamente diferente ao do A.T. O Povo Judeu havia perdido grande parte de sua identidade devido o exílio e constante dominação de povos estrangeiros (Persas, Gregos e Romanos).
No tempo de Jesus por exemplo, o idioma cotidiano era o Aramaico (herdado dos Babilonios) e não mais o Hebraico, que agora era de uso exclusivo nas solenidades e liturgias do templo.
Além do Aramaico, circulava o Grego e também o Latim (língua do Império Romano).
Com esse pano de fundo histórico entendemos que o conceito de adoração do A.T. pode ter sofrido alterações. Lembre-se que o povo judeu estava tentando reinterpretar a Torá pelo fato de ter perdido o contato com a língua hebraica e em partes sua tradição oral?
Isso é narrado nos livros de Esdras e Neemias.
Entra em cena um novo termo para “prostrar-se”, a palavra προσκυνέω (proskyneō).
Esse termo é emprestado do mundo helenístico e utilizado pelos autores do NT para identificar os momentos de adoração.
Deriva de πρός (pros) = “para, diante de” + κύων (kyneō) = “beijar” → literalmente “beijar em direção a alguém”.
Evoluiu para: prostrar-se, inclinar-se em reverência, prestar homenagem, adorar.
Usado no mundo helenista para gesto de honra ou submissão diante de reis, imperadores ou deuses.
Era comum prostrar-se diante da estátua de César ou beijar a mão de um superior.
Exemplo: em fontes clássicas (Heródoto, Xenofonte, Plutarco e outros), proskyneō podia indicar obediência política ou veneração cultual.
Nesse sentido, é um gesto social e religioso, típico de impérios orientais e assimilado por Roma.
O NT usa proskyneō 60x, e em várias delas o gesto é direcionado a Jesus:
Magos — Mt 2.2, 11: “viemos para adorá-lo… prostrando-se, o adoraram.”
Leproso — Mt 8.2: “um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o.”
Jairo — Mt 9.18: “aproximou-se um dos chefes, e adorava-o.”
Discípulos no barco — Mt 14.33: “e os que estavam no barco o adoraram.”
Ciro-fenícia — Mt 15.25: “ela veio e o adorava, dizendo: Senhor, socorre-me.”
Após ressurreição — Mt 28.9, 17: “abraçaram-lhe os pés e o adoraram.”
Cego curado — Jo 9.38: “E ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.”
No Novo Testamento o sentido se expande, unindo tanto a submissão radical a Cristo quanto ao Reconhecimento de que se está diante de Deus. Uni-se os dois sentidos vistos antes em Abraão e na congregação do Povo de Deus.
A Revelação Cristológica da Adoração
A Revelação Cristológica da Adoração
Como vimos, a adoração assume agora um novo papel, obediência e temor diante da Revelação de Deus em Cristo.
Mas ainda não está totalmente completa!
A revelação na escritura é sempre progressiva, conforme a história vai sendo contada.
Vamos analisar agora um diálogo entre Jesus e a Mulher samaritana Jo4.23-24 “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” .
Esse é mais um daqueles textos complexos que são SEMPRE mal interpretados.
Vamos resumir a história:
- Samaritanos “adoravam” (prestavam culto) a Deus no monte Gerizim (monte da Benção).
- Judeus adoravam em Jerusalém (lugar onde tradicionalmente se acredita que Abraão adorou, monte Moriá, onde ficava o templo).
Jesus trás a revelação central e final sobre adoração. Os VERDADEIROS (se há verdadeiros, há falsos) adorarão em espírito e em verdade.
Em espírito (ἐν πνεύματι) trata-se do espírito humano, o homem interior conforme a visão de Paulo.
Essa adoração em espírito é a submissão ao Reino invisivel de Deus que já está estabelecido e que um dia será visível e Eterno. É andar conforme a ética do Reino apresentada em Mateus 5-7.
João usa o termo Verdade (ἀληθείᾳ) muitas vezes para se referir a Jesus. A verdade é a revelação de Deus em Cristo, ou seja, a pessoa de Cristo.
Adorar em espírito e em verdade é viver uma vida inteira submetida ao Reino de Deus (não confundir com a obra - igreja) em nosso homem interior, guiados pelo Espírito, e ao mesmo tempo centrada em Cristo, a Verdade revelada. É a união entre ética do Reino e Cristo como centro da adoração
Louvor e Adoração como disciplinas espirituais (vida devocional)
Louvor e Adoração como disciplinas espirituais (vida devocional)
O apóstolo Paulo nos mostra, em Romanos 12.1–2, que a adoração cristã não se limita ao templo ou ao momento do culto público. Ela envolve a entrega integral do corpo e da mente a Deus, diariamente. Esse é o chamado “culto racional”: uma vida oferecida como sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor. Assim, a prática devocional – feita em oração, leitura da Palavra e consagração pessoal – torna-se o espaço concreto onde reafirmamos essa entrega. Cada momento de devoção é, portanto, um “altar” erguido no coração, onde oferecemos novamente nossa vida a Cristo.
Para Paulo, viver “em Cristo” é assumir a nova identidade que recebemos pela fé (2Co 5.17; Ef 1.3). Nesse sentido, a vida devocional é o meio pelo qual cultivamos essa consciência. Não oramos ou lemos a Bíblia para cumprir um ritual ou “ganhar pontos espirituais”, mas para permanecer unidos a Cristo (Jo 15.4–5), nutrindo a mente e o coração com a sua verdade. A devoção diária nos lembra constantemente quem somos e a quem pertencemos.
Além disso, o tempo secreto com Deus molda nosso caráter para a vida pública. A adoração “em espírito e em verdade” de João 4 encontra eco no “culto racional” de Paulo quando a devoção pessoal se torna estilo de vida, transbordando em ética do Reino (Mt 5–7). Na vida devocional nos submetemos ao Reino invisível que já está presente, e nos preparamos para manifestar esse Reino no mundo visível por meio de atitudes justas, santas e cheias de amor.
Em conclusão, podemos afirmar que a adoração cristológica em Paulo se concretiza na vida devocional. Cada oração sincera, cada leitura da Palavra e cada ato de consagração são expressões desse culto racional. Viver em Cristo é viver em constante entrega, deixando que cada aspecto do cotidiano revele o governo de Deus em nós. Assim, a vida devocional deixa de ser apenas disciplina pessoal e se torna o caminho pelo qual manifestamos o Reino de Deus no dia a dia.
