VERDADE E AUTORIDADE

Evangelho de Lucas  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Lucas 20.1-18
Vivemos uma época marcada por aquilo que muitos chamam de “crise da verdade”. O filósofo pós-moderno Jean-François Lyotard descreveu nossa era como “a incredulidade em relação às metanarrativas”, isto é, uma suspeita generalizada de que exista uma verdade absoluta e universal. Em vez disso, cada grupo — ou mesmo cada indivíduo — se sente autorizado a construir sua própria versão de verdade. Nesse contexto, o que dá validade a uma ideia, muitas vezes, não é a sua conformidade com a realidade, mas sim a voz de quem a enuncia. É a autoridade, o poder ou a posição social que parecem determinar se algo será aceito como verdadeiro.
A verdade é tão obscura nestes tempos, e a falsidade tão estabelecida, que a menos que amemos a verdade, não podemos conhecê-la.
Blaise Pascal (Cientista Francês, Polemista e Apologista Cristão)
Mas o texto que lemos em Lucas 20.1–18 confronta radicalmente essa inversão. Ali, os líderes religiosos desafiam a autoridade de Jesus: “Com que autoridade fazes estas coisas?” (v. 2). A pergunta deles parte da suposição de que a autoridade é algo concedido por instituições humanas, por posições hierárquicas ou por tradições estabelecidas. Mas Cristo mostra que a verdadeira autoridade nasce da própria Verdade de Deus. Ele não é reconhecido porque ocupa um cargo no Sinédrio, mas porque é o Filho — herdeiro legítimo da vinha do Pai.
Agostinho já dizia que “a verdade é como um leão; não precisa ser defendida, apenas liberta-se e ela se defenderá por si mesma”. E, de fato, no ministério de Cristo vemos essa realidade: Sua autoridade não é derivada da aprovação humana, mas do fato de que Ele é a Verdade encarnada (Jo 14.6). João Calvino reforça isso em sua Institutas, ao explicar que toda autoridade legítima é ministerial, nunca autônoma: ela serve à verdade de Deus, não se impõe contra ela.
No entanto, nossa cultura repete a lógica dos religiosos do tempo de Jesus: queremos inverter a ordem, atribuindo “verdade” ao que uma suposta autoridade afirma, mesmo quando contradiz a realidade ou a revelação de Deus. Richard Baxter, puritano, advertiu que “a verdade de Deus não se curva aos homens, mas os homens é que devem se curvar a ela”.
Eis o ponto: em um mundo de juízos perfeitos, a autoridade não cria a verdade; é a verdade que confere autoridade. Da verdade brotam justiça, equidade e beleza. Quando uma pessoa se torna portadora da verdade, recebe autoridade que deve ser exercida para o bem, para a proclamação do evangelho e para a glória de Deus.
Assim, o confronto de Jesus com os líderes judeus em Lucas 20 nos coloca diante dessa questão central: de onde vem a autoridade de Cristo? E, por consequência, de onde vem a nossa? A resposta é clara: vem da verdade de Deus, revelada e encarnada em Seu Filho, o qual é a pedra rejeitada pelos construtores, mas que se tornou a pedra angular (v. 17).
Continuação e Transição
Olavo de Carvalho, em sua crítica à mentalidade moderna, lembrava que “a verdade é a adequação da mente à realidade” (adæquatio rei et intellectus, retomando a definição clássica de Tomás de Aquino). Não é a nossa vontade, nem o consenso, nem a chancela de uma instituição que cria a verdade. Antes, a verdade se manifesta na realidade objetiva e, sobretudo, no Deus vivo que sustenta todas as coisas. É nesse sentido que Olavo dizia: “a realidade é a prova da verdade”. Assim, não somos nós que damos validade àquilo que é verdadeiro; é o real, sustentado por Deus, que confere autoridade ao que corresponde a ele.
Isso explica por que os líderes religiosos não aceitaram Jesus, mesmo diante de sinais incontestáveis. A verdade encarnada estava diante deles, mas aceitá-la significaria expor seus pecados e desmascarar suas corrupções. Poucos versículos antes (Lc 19.45–46), Cristo havia expulsado os cambistas do templo, rompendo um sistema de exploração religiosa que transformava a casa de oração em mercado. Aquela ação profética foi um golpe direto na estrutura de poder, revelando como a religião havia sido instrumentalizada para lucro e opressão.
Reconhecer a autoridade de Jesus significaria admitir que aquela organização corrupta não tinha legitimidade. Mas, em vez de se curvarem à verdade, os líderes endureceram seus corações. Como escreveu João Crisóstomo, “não é a falta de sinais que torna o homem incrédulo, mas a resistência voluntária de sua mente contra a luz”. Eles não rejeitaram Jesus por falta de provas, mas porque a verdade confrontava diretamente sua vida.
Aqui vemos algo essencial: a verdade de Deus não pode ser aceita por aqueles que amam as trevas. Paulo declara em Romanos 1 que os homens “suprimem a verdade pela injustiça”. A autoridade de Cristo foi questionada e rejeitada não porque fosse ilegítima, mas porque os corações cegos, mortos em seus delitos e pecados, não suportam a luz que expõe suas obras. Richard Sibbes, o puritano, dizia: “O coração humano é como um vidro enfumaçado; a luz brilha, mas não penetra”.
Portanto, ao chegarmos em Lucas 20, encontramos esse choque inevitável: a Verdade encarnada, carregada de plena autoridade, confrontando homens que preferem inventar suas próprias verdades para justificar seus pecados. E é nesse campo de batalha espiritual que Jesus, a Pedra Angular, se apresenta — rejeitado pelos construtores, mas escolhido por Deus como fundamento eterno de Sua obra.
Antes de entrar no texto, deixe-me situar você no contexto dos acontecimentos, acredito que isso te fará compreender mais claramente o restante do texto.
- Estamos na semana da crucificação, a última semana da vida de Jesus, antes de ser entregue e morto na cruz. Os acontecimentos dos versículos que faremos exposição nesta noite, se situam na terça-feira, depois de Jesus expulsar os cambistas e vendedores do Templo. Portando, os acontecimento são intramuro do Templo, ou seja, dentro do templo.
- Lucas, como os outros dois evangelistas, diferente, por exemplo, de João, descreve os últimos confrontos de Jesus com seus opositores. João, não traz essas controvérsias dentro dos muros do templo. O quarto evangelho dá preferência por registrar os últimos ensinamentos, as últimas palavras aos discípulos seu convívio mais íntimo e as últimas pregações de Jesus.
- Veremos que os discursos que o atual evangelista traz em Lc 20 e 21 são todos provocados por manifestações hostis dos líderes do povo.
Há um guia seguro e infalível para a verdade e, portanto, um, e apenas um, corretivo para o erro, que é a Palavra de Deus.
George Campbell Morgan (pregador britânico)
Vamos ao texto!
1. A Autoridade Questionada (vv. 1–8)
- Aquilo que aconteceu no Templo, escancarou o nível de religiosidade praticada pelos chefes e maiorais de Israel, era impossível que Anás e Caifás não tivessem conhecimento de tudo aquilo, na verdade, eles eram os cabeças de toda organização criminosa.
- Então, como o versículo nos diz, aqueles homens se ajuntam e veem a Jesus para indaga-lo. Bem, eu diria que eles vieram emparedar Jesus, a pergunta é má intencionada, e estão prontos para denunciarem Jesus como herege, esperando que ele se declare Filho de Deus.
O texto diz: “1 Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar, sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos, 2 e o arguiram nestes termos: Dize-nos: com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem te deu esta autoridade?”[1]
- Percebe a perversidade contida nas duas perguntas? Eles estão questionando duas coisas: Em primeiro lugar, como? E em segundo lugar, quem?
- Fritz Rienecker diz que: A pergunta dos adversários contém dois aspectos. Eles indagam pela origem e pela pessoa mediadora de sua autoridade. Primeiramente visavam extrair dele uma declaração acerca de seu envio celestial, para ter motivos para acusá-lo de blasfêmia. Além disso, os inimigos desejavam saber qual enviado de Deus lhe havia dado autoridade para essa atividade[2].
- Observe, que eles não estão dispostos a reconhecer se tudo aquilo que ele falou e realizou é ou não verdade, antes disso, eles querem saber com que autoridade ele faz aquilo.
- Veja que na primeira pergunta a forma grega no plural tauta = “essas coisas” não se refere somente ao ensino e à purificação do templo, mas a tudo o que Jesus fez e faz desde a entrada em Jerusalém. A entrada, a purificação do templo, as curas milagrosas e o ensino no templo, tudo isso revelava Jesus como o Rei messiânico. Seus inimigos eram da opinião de que todo o desdobramento de sua majestade e autoridade no templo durante os últimos dias não podia ser legitimado.
- O que aqueles homens desejam, eu repito, é tornar Jesus um malfeitor, herege, blasfemo, e colocar o povo contra ele. A reação de Jesus é genial, ele prova sua grande sabedoria como o verdadeiro intérprete da Torá. Ele claramente está no controle, e sua autoridade sobre a verdade de Deus é contrastada com as falas reinvindicações de homens que não carregam o temor de Deus. A armadilha para apanhar Jesus se voltará contra eles, demonstrando a falta de conhecimento deles sobre a Verdade.
Vamos aos versículos seguintes (v.3-8):
“3 Respondeu-lhes: Também eu vos farei uma pergunta; dizei-me: 4 o batismo de João era dos céus ou dos homens? 5 Então, eles arrazoavam entre si: Se dissermos: do céu, ele dirá: Por que não acreditastes nele? 6 Mas, se dissermos: dos homens, o povo todo nos apedrejará; porque está convicto de ser João um profeta. 7 Por fim, responderam que não sabiam. 8 Então, Jesus lhes replicou: Pois nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas”. [3]
- Volto a questão do “Como?” e “Quem?”. Os homens querem uma declaração de Jesus sobre sua autoridade, estão pedindo o crachá, o diploma dele, a prova de que algum outro “líder religioso” lhe transmitiu autoridade.
- Osborne comenta que: Para eles, Jesus é um impostor rabínico, sem treinamento oficial ou apoio. Eles querem provar ao povo que ele não tem nenhum pedigree e nenhuma autoridade por trás de suas reivindicações. Eles acreditam que o prenderam de fato. Se ele responder “autoridade humana”, ele irá contradizer suas ações e reivindicações, e se “autoridade divina” ele irá ser culpado de blasfêmias.[4]
- A segunda pergunta é semelhante, pois eles acreditam que ele não poderia ter vindo de Deus e estão desafiando-o a incriminar-se ao responder tais perguntas.
- Jesus toma a ofensiva, muda o jogo, nos versículos 3 e 4 e prende os líderes. Ele utiliza um dispositivo estilístico muito comum no diálogo rabínico.
- Jesus então utiliza a figura de João, que é completamente válida, uma vez que as reivindicações de Jesus estão diretamente ligadas às de João Batista. Lembrando que João foi questionado da mesma forma, ou seja, as mesmas perguntas muitas vezes surgiram sobre João.
- Dessa forma, Jesus vira a mesa e faz uma pergunta como a deles: “Diga-me: o batismo de João — era do céu, ou de origem humana?”. João pregava “um batismo de arrependimento pelo perdão dos pecados” (3.3), introduzindo a nova era da salvação. Assim, agora os líderes estão no local.
- A questão fica muito clara nos versículos 5–7. Se eles admitirem que é de origem celestial, sua própria rejeição de João é comprovada como sendo falsa, e eles deveriam “acreditar nele” e se arrepender. O povo também o considerava um profeta, e para aceitá-lo, mandam que aceitem Jesus também. Se disserem “de origem humana”, aqueles (“todo o povo”, enfatizando o seguimento universal que ele recebeu) que acreditam em João os apedrejarão como falsos profetas (Dt 13, 10; veja Atos 5,26; 7,58).
- Portanto, eles são pegos e se encontram em um dilema e não ousam responder de maneira nenhuma.
Portanto, eles apenas podem responder: “Não sabemos de onde era” (20.7). Eles são praticamente silenciados pela brilhante resposta de Jesus. A resposta de Jesus é perfeita: “Nem eu lhes direi com que autoridade estou fazendo estas coisas”. Jesus assume a liderança neste confronto. Ele marcará e pontuará mais quatro vezes, e eles nem sequer farão uma primeira descida. Eles se mostraram indignos das verdades do reino de Deus, por isso serão ocultados delas (veja 19.41).
Tiramos uma lição importante aqui: As verdades de Deus exigem que o olho da fé esteja aberto para elas. Aqueles que se cegam para estas realidades do reino podem descobrir que Deus não está mais aberto para eles.[5]
A verdadeira autoridade emana da verdade, e Cristo é a verdade encarnada que viveu, morreu e ressuscitou a fim de nos salvar, de nos tirar das trevas e de uma vida mergulhada na mentira.
- Precisamos tomar cuidado, para que nosso coração não seja enredado, e sermos levados a cair nas teias da “autoridade” destituída de verdade.
- Talvez, se tivesse oportunidade, você me perguntaria, mas isso seria possível?
- Claro que sim! Poderia te apresentar inúmeros exemplos disso.
- Igreja, casamento, criação de filhos, gênero e ideologia diversas sendo disseminadas, que munidos de uma pretensa “autoridade” colocam em xeque as Verdade revelada por Deus.
- Muito facilmente estamos chamando de “Casal” a promiscuidade praticada por duas pessoas do mesmo sexo. Dizendo que os promíscuos são casados.
- Ainda muito mais fácil, você questionar aquilo que você tem nesse lugar, como ensino da Verdade, sem reservas, sem firulas ou apetrechos mergulhados em misticismo barato, colocando em xeque por falatórios vãos. Pela suposta “autoridade” baseada na afetividade, na relação que você desenvolveu ou manteve, e utiliza isso para verificação e orientação de sua vida.
A parábola a seguir, Jesus ampliará o assunto da autoridade e verdade, apresentando que os homens maus, acreditam que poderão escapar da verdade e da autoridade que virá com ela.
Lucas 20.9-18: “9 A seguir, passou Jesus a proferir ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e ausentou-se do país por prazo considerável. 10 No devido tempo, mandou um servo aos lavradores para que lhe dessem do fruto da vinha; os lavradores, porém, depois de o espancarem, o despacharam vazio. 11 Em vista disso, enviou-lhes outro servo; mas eles também a este espancaram e, depois de o ultrajarem, o despacharam vazio. 12 Mandou ainda um terceiro; também a este, depois de o ferirem, expulsaram. 13 Então, disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. 14 Vendo-o, porém, os lavradores, arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa. 15 E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o dono da vinha? 16 Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ao ouvirem isto, disseram: Tal não aconteça! 17 Mas Jesus, fitando-os, disse: Que quer dizer, pois, o que está escrito:
A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular?
18 Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”. [6]
- Irmãos, vimos como os líderes religiosos, ao serem confrontados com a verdade, preferiram declarar ignorância a se submeterem. Eles se mostraram indignos de uma resposta direta, pois seus corações não buscavam a verdade, mas uma armadilha.
- E é exatamente nesse ponto que Jesus, vendo a dureza de seus corações, muda de tática. Ele não desiste de ensinar, mas agora o faz por meio de uma parábola. Se eles não quiseram reconhecer a autoridade de Deus na pergunta sobre João Batista, Jesus agora lhes mostrará, em uma história, a história completa da rebelião de Israel contra a autoridade divina e as consequências terríveis de rejeitar o Filho.
- A parábola que se segue não é um novo assunto. É a continuação e a ampliação do tema da verdade e autoridade. Jesus vai expor a raiz do problema: a rebelião deliberada contra o Dono da vinha.
- Contexto Agrícola
Para entender essa parábola é preciso ter em mente que a parte alta do vale do Jordão, os ribeiros ocidentais e ao norte do mar da Galileia, e ainda uma porção considerável da própria Galileia, continham extensas propriedades que pertenciam a estrangeiros, homens que viviam a grande distância de suas propriedades. Eles entregavam o cuidado de suas fazendas a pessoas que viviam na região. A ausência dos locadores implicava que os que administravam as propriedades desfrutavam uma medida considerável de independência. Não obstante, isso não era uma mera bênção, sem reveses, para qualquer das duas partes. Para os vinhateiros significava que quando havia problemas – gastos inesperados, colheitas fracas, ladrões etc. – não podiam consultar o proprietário. Para o locador significava que, para obter sua porção do produto do solo, dependia não apenas das condições naturais (clima, solo), mas também da honestidade e cooperação dos meeiros ou arrendatários.
2. A Autoridade Rejeitada: A Parábola dos Lavradores Maus (vv. 9-18)
Jesus começa a contar uma história que ecoa profundamente na história de Israel.
. Para qualquer judeu, a imagem da vinha imediatamente remete a Isaías 5: . Os lavradores são os líderes religiosos, os "construtores" responsáveis por cuidar do povo de Deus. O dono da vinha é o próprio Deus, que lhes confiou essa sagrada responsabilidade.O Cenário da Aliança (v. 9):"Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e ausentou-se..."Israel é a vinha do Senhor
No tempo certo, o dono envia seus servos para receber os frutos. A resposta dos lavradores é uma escalada de violência chocante:A Paciência de Deus e a Rebelião Humana (vv. 10-12):
O primeiro servo é .espancado
O segundo é .espancado e humilhado
O terceiro é .ferido e expulso
- Esses servos são a longa linhagem de profetas que Deus enviou a Israel. Jeremias, Isaías, Zacarias... homens que falaram a verdade de Deus e, por isso, foram perseguidos, maltratados e mortos por aqueles que deveriam ser os guardiões da vinha. A parábola revela a incrível paciência de Deus e a crescente maldade dos líderes de Israel ao longo da história.
Diante de tanta rebelião, o dono toma a decisão mais profunda e custosa: (v. 13). Esta frase não expressa uma dúvida da parte de Deus, mas expõe a profundidade da maldade humana. A atitude correta e esperada seria o respeito ao filho.O Clímax da Rebelião: A Rejeição do Filho (vv. 13-15):"Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem."
Contudo, a chegada do filho, o herdeiro, não gera reverência, mas sim ganância assassina. Eles dizem: "Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa." (v. 14). Aqui, Jesus desmascara a motivação mais sombria dos líderes religiosos. Eles não queriam apenas silenciar a verdade; eles queriam usurpar a autoridade, tomar o lugar de Deus e controlar a "herança" para si mesmos.
Eles o lançam fora da vinha e o matam. Lucas, profeticamente, aponta para a morte de Jesus fora dos muros de Jerusalém (Hb 13:12), rejeitado por aqueles a quem veio salvar.
- Aqui temos um desfecho com “requinte de crueldade”. R.C Ryle, diante dessa parábola, ele diz que ela está posta que tomemos consciência da maldade contida no coração humano. Os homens não apenas rejeitam a verdade, conforme Romanos 1, mas se apegam deliberadamente injustiça.
- A narrativa conclui o destino do filho com seu assassinato. Chama atenção que em Marcos o filho é morto dentro da vinha e que depois o corpo é lançado para fora sobre o muro da vinha. Esse aspecto descreve a perversidade dos vinhateiros. O cadáver é violado, ao assassinado é negado o sepultamento. Em Mateus e Lucas, porém, o filho é primeiramente expulso da vinha e depois assassinado fora dela. Nisso reside uma alusão à morte de Jesus fora da cidade (cf. Mt 27:33; Jo 19:17s; Hb 13:12s).
Jesus, então, transforma a parábola em um tribunal e pergunta: Ele mesmo dá o veredito: O Veredito Inevitável (vv. 15b-16):"Que lhes fará, pois, o dono da vinha?". "Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros."
O juízo é claro: a autoridade que foi abusada será removida, e a responsabilidade será entregue a "outros" — um novo povo de Deus, a Igreja, formada por judeus e gentios que se submetem à autoridade do Filho.A reação do povo é de pavor: "Tal não aconteça!". Eles entenderam a seriedade do juízo.
Jesus, então, fixa o olhar neles e conecta tudo ao Salmo 118, uma profecia messiânica:A Pedra Angular: A Verdade Final (vv. 17-18):
"A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular." (v. 17).
Ele está dizendo: "Essa história que contei, essa rejeição, já estava prevista nas Escrituras!".
são os líderes, os lavradores da parábola.Os construtores
é Ele mesmo, Jesus, o Filho cuja autoridade eles questionaram.A pedra rejeitada
Ele, a Verdadeencarnada, rejeitado por falsas autoridades humanas, se tornaria, pela soberania de Deus, a Pedra Angular — o fundamento do novo templo de Deus, a Igreja (Ef 2:20).
Por fim, Jesus conclui com uma advertência final sobre o destino de quem O rejeita: "Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó." (v. 18). A rejeição da autoridade de Cristo não é uma opção neutra; ela leva à destruição. Ou você se firma Nele, ou é esmagado por Ele.
Tenho duas aplicações para fazer sobre o texto
Aplicação 1:
Deixe-me destacar algo que é profundamente marcante no texto, que é A Beleza da Rejeição que se Torna Exaltação.
- Pense na imagem: os construtores, os peritos, os líderes religiosos, olham para a pedra mais importante e a descartam. Eles a consideram inadequada, um obstáculo. Isso nos mostra a inversão de valores do pecado. O que é mais precioso para Deus — Seu Filho amado — é desprezível para o mundo rebelde.
- A beleza aqui está no paradoxo divino: Deus pega o ato máximo de rejeição humana — a cruz — e o transforma no ato máximo de salvação e exaltação. A pedra que foi jogada fora, manchada de sangue e poeira, é a mesma pedra que Deus levanta, limpa e coloca no lugar de honra. A beleza de Cristo como Pedra Angular é a beleza da ressurreição, da vitória sobre o desprezo e a morte.
2. A Beleza da Função Tripla da Pedra Angular: No mundo antigo, a pedra angular tinha três funções essenciais, e Cristo cumpre todas elas de modo perfeito:
Era a primeira pedra a ser assentada, e sobre ela todo o resto do edifício era construído. Jesus é o fundamento da Igreja (1 Coríntios 3:11). Não há outro nome, outra doutrina, outra filosofia sobre a qual a casa de Deus possa ser firmada. Sua vida, morte e ressurreição são a base de tudo o que cremos.Ela era a Fundação:
A pedra angular era colocada na esquina para unir duas paredes, transformando-as em uma estrutura coesa. Cristo é quem une judeus e gentios, ricos e pobres, homens e mulheres, em um só corpo (Efésios 2:14-16). Ele derruba os muros de hostilidade e nos conecta uns aos outros Nele. A beleza da Igreja não está em nossa uniformidade, mas em nossa unidade Nele, a Pedra que nos liga.Ela Unia as Paredes:
Todas as outras pedras eram alinhadas a partir da pedra angular. Ela era o padrão, a referência para toda a construção. Jesus é o nosso padrão de santidade, verdade e amor. Nós, como "pedras vivas" (1 Pedro 2:5), somos edificados e alinhados por Ele. Olhamos para Ele para saber como viver, como perdoar, como adorar. Ele é a referência que impede que a Igreja se torne uma estrutura torta e disforme.Ela Alinhava toda a Estrutura:
Contemplar a beleza de Cristo como a Pedra Angular é entender que Ele não é apenas uma parte da nossa fé; Ele é o começo, o elo e o padrão de tudo. Ele é o fundamento sólido em um mundo de areia movediça, Aquele que nos une em um mundo dividido e o padrão perfeito em um mundo de valores distorcidos.
Aplicação 2:
A Submissão Inegociável à Verdade e Sua Autoridade
Se Cristo é a Pedra Angular, a Verdade encarnada, isso exige de nós uma resposta. E essa resposta não é negociação, debate ou aceitação parcial. É submissão.
1. A Verdade não Pede Opinião, Exige Rendição: Vivemos em uma cultura que trata a verdade como um cardápio, onde escolhemos o que nos agrada e descartamos o que nos ofende. Os líderes religiosos em Lucas 20 fizeram exatamente isso. Eles não perguntaram "O que é a verdade?", mas "Quem te deu autoridade?". Eles queriam auditar a Deus. Mas a Verdade Divina não se submete ao nosso tribunal. Como Richard Baxter disse, "a verdade de Deus não se curva aos homens, mas os homens é que devem se curvar a ela".
Submeter-se à Verdade significa que a Palavra de Deus tem a palavra final sobre nossa vida, não nossos sentimentos, nossa cultura ou nossas conveniências. Significa que, quando a Bíblia confronta nosso pecado, nosso orgulho ou nossas ideias, nós não tentamos "reinterpretar" a Bíblia; nós nos arrependemos e pedimos que a Bíblia nos reinterprete, nos molde segundo a imagem de Cristo.
2. A Autoridade da Verdade é para nossa Proteção, não nossa Prisão: Muitos veem a submissão à autoridade de Deus como uma perda de liberdade. Mas a imagem da Pedra Angular nos mostra o contrário. Uma construção sem uma pedra angular para alinhá-la está fadada ao colapso. As paredes se inclinam, a estrutura racha e, sob pressão, tudo desmorona.
A autoridade da Verdade de Cristo não é uma prisão; é a nossa estrutura de segurança. É o que nos impede de desmoronar sob o peso do pecado, da ansiedade e das mentiras do mundo. Submeter-se à Sua autoridade é encontrar a verdadeira liberdade — a liberdade de ser aquilo para o qual fomos criados: uma casa espiritual, firmada na Rocha, para a glória de Deus. Rejeitar essa autoridade, em nome de uma falsa liberdade, é escolher a instabilidade e, por fim, a ruína.
3. A Dupla Consequência da Submissão ou Rejeição: Jesus termina com uma imagem assustadora e sóbria: a pedra que salva é também a pedra que julga.
Esta é a imagem do tropeço. É a pessoa que, em vida, se ofende com Cristo, que O rejeita. O resultado é uma vida espiritualmente fragmentada, quebrada."Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços..."
Esta é a imagem do juízo final. É a Pedra Angular, o Rei exaltado, vindo em poder para julgar. Para aqueles que persistiram na rebelião, não haverá mais chance. A rejeição da autoridade de Cristo leva à aniquilação."...e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó."
Portanto, a escolha diante de nós é clara e urgente. Não há terreno neutro. Ou nos submetemos a Cristo, a Pedra Angular, construindo nossa vida sobre Ele para nossa salvação e segurança, ou O rejeitamos para nossa própria destruição.
Que a beleza de Cristo nos atraia e que o peso de Sua autoridade nos leve à rendição completa, hoje e para sempre. Amém.
Conclusão
- O confronto em Lucas 20, do primeiro ao último versículo, gira em torno desta verdade fundamental: a verdadeira autoridade emana da verdade, e Jesus Cristo é a Verdade encarnada.
Os líderes religiosos tentaram inverter essa ordem. Eles queriam que a autoridade deles definisse a verdade. Mas, como vimos, a verdade é um leão. Jesus não precisou de credenciais humanas, pois Sua própria presença, Suas palavras e Suas obras eram a manifestação da autoridade de Deus.
Hoje, o mundo continua a nos pressionar com a mesma pergunta: "Com que autoridade vocês vivem? Quem lhes deu essa verdade?". E, como os líderes no templo, muitos tentam construir suas próprias verdades, baseadas em sentimentos, ideologias ou poder.
A mensagem de Lucas 20 para nós é um chamado à submissão. É um chamado para pararmos de questionar a autoridade de Cristo e começarmos a nos curvar à Verdade que Ele é. Ele é a Pedra Angular. Qualquer outra base é areia movediça. Qualquer outra autoridade é ilegítima.
Que não sejamos como os lavradores maus, que rejeitaram o Filho para manter o controle. Mas que, com humildade, entreguemos a Ele os frutos de nossas vidas, reconhecendo-O como nosso Senhor, nossa Verdade e nossa única e soberana Autoridade.
A verdade divina é imortal e, embora possa se permitir ser tomada e açoitada, coroada, crucificada e enterrada, ela ressuscitará no terceiro dia e reinará e triunfará na eternidade.
Balthasar Hubmaier (anabatista alemão)
Um homem com a verdade ao seu lado é mais forte do que a maioria no erro, e vencerá no final.
Philip Schaff
SDG.
[1] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Lc 20.1–2.
[2] Fritz Rienecker, Comentário Esperança, Evangelho de Lucas (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2005), 398.
[3] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Lc 20.3–8.
[4] Grant R. Osborne, Evangelho de Lucas, trad. Renato Cunha, Comentário Expositivo do Novo Testamento (Bellingham, WA; São Paulo: Lexham Press; Editora Carisma, 2023), 477.
[5] Grant R. Osborne, Evangelho de Lucas, trad. Renato Cunha, Comentário Expositivo do Novo Testamento (Bellingham, WA; São Paulo: Lexham Press; Editora Carisma, 2023), 477–478.
[6] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Lc 20.9–18.
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