Exposição Êxodo 20:8-11 (O quarto mandamento, um mandamento esquecido)

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Texto Base

Êxodo 20.8–11 ARA
8 Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. 9 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. 10 Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; 11 porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.

Introdução

Vimos nas exposições anteriores que os Dez Mandamentos foram dados à nação de Israel dentro de um contexto de aliança. O Senhor havia formado essa nação em um passado distante, feito promessas a ela e a havia amado com paciência. Depois de libertá-la do Egito, Deus lhe fez uma proposta: que se tornasse sua propriedade peculiar entre todos os povos (Êx 19.5).
Essa proposta se apresentou na forma de um contrato de aliança, no qual Israel teria seus deveres como povo separado, e Deus, por sua vez, assumiria o compromisso de abençoá-los e fazê-los um povo distinto e próspero.
Para que Israel se tornasse, de fato, essa nação peculiar, Deus lhes deu mandamentos claros — princípios que regeriam a relação entre Ele e o povo, e também entre o povo e o próximo. Essas palavras foram faladas audivelmente e gravadas em tábuas de pedra no monte Sinai: os Dez Mandamentos.
Como todos sabemos, esses mandamentos se dividem em dois grandes blocos:
Os quatro primeiros regulam a relação de Israel com o próprio Deus;
Os seis últimos, os relacionamentos interpessoais.
Dentro do primeiro bloco, já vimos que:
O primeiro mandamento regula o objeto da adoração — “Não terás outros deuses diante de mim.”
O segundo mandamento regula o modo da adoração — “Não farás para ti imagem de escultura… não as adorarás.”
O terceiro mandamento regula a linguagem da adoração — “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.”
Agora chegamos ao quarto mandamento, que regula o tempo da adoração.
É como se Deus dissesse àquele povo que estava entrando em aliança com Ele:
“Teremos muitos afazeres nesta jornada — vocês trabalharão, construirão, plantarão, viverão —, mas haverá um dia reservado apenas para nós. Um dia para desfrutarem da minha companhia, do meu descanso e da minha presença.”

Explicação

1 - Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. (V8)

Esse mandamento, diferentemente dos anteriores, não começa com um preceito negativo — uma proibição —, mas com um preceito positivo, uma ordem para que algo seja feito.
E o que deveria ser feito?

a) Israel deveria lembrar-se do dia de sábado.

A palavra “sábado” vem do hebraico “shabbath”, que significa literalmente “descanso”. Uma tradução direta poderia ser:
“Lembra-te do dia de descanso, para o santificar.”
Deus ordena que o povo se lembre desse dia porque não era algo novo. O sábado já havia sido estabelecido por Deus na criação e experimentado por Israel no deserto, quando o Senhor providenciava o maná e ordenava que no sexto dia colhessem porção dobrada (Êx 16).
Portanto, o sábado não nasce no Sinai — ele é confirmado ali. É uma reafirmação da ordem da criação e do modo como Deus governa o tempo.
Mas é importante entender que “lembrar” aqui não significa apenas trazer à memória, como quem se recorda de uma data. Significa ter algo em mente que te conduz à ação.
Por exemplo:
Quando você se lembra do aniversário de alguém, não é apenas uma lembrança — essa lembrança te move a agir, a enviar uma mensagem, a demonstrar afeto.
E qual a ação que eles deveriam tomar ao lembra-se do dia?

b) Para o santificar.

O que Israel deveria fazer ao lembrar-se do dia de descanso era santificá-lo, isto é, separá-lo para Deus.
É isso que “santificar” significa na Escritura: separar para um uso sagrado.
Quando olhamos, por exemplo, para o sacerdote que trazia em suas vestes a inscrição “SANTIDADE AO SENHOR”, vemos que sua santidade não era uma virtude abstrata, mas o fato de ele estar separado para o serviço de Deus.
O mesmo acontecia com a tribo de Levi e com os utensílios do templo: todos eram consagrados, ou seja, retirados do uso comum e dedicados ao Senhor.
Assim também o sábado: um dia separado do uso comum, reservado para a adoração, o descanso e o deleite em Deus.
Santificar o sábado é, portanto, reconhecer a soberania de Deus sobre o tempo — é confessar, com a prática semanal, que não somos escravos do trabalho, do comércio ou do ritmo do mundo, mas servos do Senhor do tempo.

2 - Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus (V10a)

Logo na sequência, no verso 10, para reforçar a ideia de santificar o dia, Deus declara que esse dia era o Sábado do Senhor, teu Deus.
Deus estava aqui declarando que esse dia deveria ser gasto com ele.
Uma maneira prática de entendermos isso é o fato de que, talvez, muitos de nós tenham uma noite para a esposa ou uma noite para os filhos e o que acontece é que se marcarmos algum compromisso para esse dia haverá uma reclamação daquela parte:
Filho: Pai, hoje é nosso dia. Esposa: Tu tens que desmarcar esse compromisso porque hoje é nosso dia.
E do mesmo modo, Deus estava dizendo que ele tinha um dia para ele.

3 - não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; (V10)

É só depois de deixar muito claro o propósito da santificação do dia que ele estabelece as proibições.
Esse dia, que havia sido separado para Deus deveria ser usufruído ou desfrutado por todos, de modo que ninguém em Israel deveria trabalhar afim de que todos pudessem se beneficiar da santificação daquele dia.

4 - porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou. (V11)

E por último, Deus estabelece a razão pela qual esse dia deveria ser santificado, e a razão era o fato de que o próprio Deus havia cessado suas obras para desfrutar da comunhão com o homem no sétimo dia.
No livro de Deuteronômio, quando a lei é repetida o motivo é alterado:
Deuteronômio 5.15 ARA
15 porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado.

Aplicação

Como nós podemos aplicar o quarto mandamento nos dias de hoje?
Para responder isso precisamos entender algo que é impar no quarto mandamento em relação aos outros nove.
O quarto mandamento contém em sua estrutura uma Lei moral e uma Lei positiva.
Uma lei moral é uma lei que deriva do próprio caráter de Deus, algo imutável e perdura para sempre.
Uma lei positiva é uma lei que não tem raízes na moralidade, ela é aplicada a um determinado período de tempo e pode se revogada pelo legislador.
Para exemplificar isso, podemos voltar ao jardim do éden, onde Deus deu uma ordem para que Adão não comesse da árvore que estava no meio do jardim.
Comer o fruto de uma árvore não é moralmente mal, mas por causa da ordem de Deus aquilo era proibido e consequentemente poderia ser revogado se Deus assim o quisesse.
E dentro do mandamento do sábado a ordem eterna e imutável é separar um dia entre sete para descanso em adoração e a lei positiva está conectada ao dia que pode ser revogado se o Senhor assim o quiser.
Com a vinda do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, esse dia foi mudado, porque o sétimo dia em sua essência era uma lei cerimonial que apontava para algo.
Colossenses 2.16–17 ARA
16 Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, 17 porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.

Aplicação 01

O sábado em primeiro lugar apontava para o descanso que temos em Cristo, o Senhor do Sábado.
Mateus 11.28–30 ARA
28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.

Aplicação 02

O sábado também aponta para o descanso eterno que nos está proposto e que teria sido desfrutado pelo primeiro homem caso o mesmo não pecasse.
Isso nos é exposto em Hb 4 que mostra que Canaã era um tipo do descanso eterno que teremos na plenitude do novo céu e da nova terra, quando já não haverá mais lágrimas, dor, pranto porque as primeiras coisas já passaram.

Aplicação 03

Como vimos anteriormente o mandamento do sábado tem um aspectos de continuidade e descontinuidade. Vimos que a lei positiva foi alterada, porém temos um princípio eterno que permanece:
Separar um dia entre sete para descanso em adoração.
E como nós aplicamos esse princípio hoje? Resposta: No domingo.
Quando vamos para o Novo Testamento, percebemos que o domingo começa a receber uma ênfase muito grande.
Primeiramente, nós temos a ressurreição de Jesus no domingo (Mt 28.1; Mc 16.2,9; Lc 24.1; Jo 20.1).
Depois, temos suas aparições aos discípulos também no domingo (Jo 20.19, 26).
Depois, temos o dia de Pentecostes ocorrendo no domingo, pois ele acontecia cinquenta dias após o sábado pascal, portanto no primeiro dia da semana (Lv 23.15–16; At 2.1).
Temos ainda o domingo sendo separado como o dia de culto e ceia (At 20.7 — “no primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão…”).
E o domingo sendo também o dia de recolhimento de ofertas (1Co 16.1–2).
Por fim, temos o domingo sendo chamado pelo apóstolo João de “Dia do Senhor” (Ap 1.10).
Enquanto no Antigo Testamento o sábado é chamado de “sábado do Senhor” (Êx 20.10a) e de “dia do Senhor” (Is 58.13), nós temos no Novo Testamento essa mesma ênfase sendo transferida e cumprida no domingo, o primeiro dia da semana — o dia da nova criação, da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.
Historicamente falando, temos a igreja guardando os princípios do sábado, de separar um dia entre sete, no domingo.
Já no primeiro século, o documento cristão chamado Didachê (c. 90 d.C.) registra:
“Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e dar graças, depois de haver confessado os seus pecados.” (Didachê 14.1)
O bispo Inácio de Antioquia (c. 110 d.C.) escreveu:
“Aqueles que viviam segundo a antiga ordem de coisas vieram a uma nova esperança, não mais guardando o sábado, mas vivendo segundo o Dia do Senhor, no qual também nossa vida surgiu por meio Dele.” (Inácio, Epístola aos Magnésios 9.1–2)
O apologista Justino Mártir (c. 150 d.C.) explica em sua Primeira Apologia:
“No chamado Dia do Sol, todos nós nos reunimos... porque foi o primeiro dia em que Deus fez o mundo e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos.” (Justino Mártir, Primeira Apologia, cap. 67)
Também há registros de mártires interrogados sobre a observância desse dia. Os Mártires de Cartago (séc. IV) responderam ao procônsul romano:
“Somos cristãos e não podemos deixar de celebrar o Dia do Senhor.” (Atos dos Mártires de Cartago, c. 304 d.C.)
Todas as confissões reformadas posteriores à Reforma mantiveram esse entendimento, afirmando que o domingo é o “Sábado Cristão” e o “Dia do Senhor”. Exemplos:
Confissão de Fé de Westminster (1646), cap. XXI, §7–8.
Confissão Batista de 1689, cap. XXII, §7–8.
Catecismo Maior de Westminster, perguntas 115–121.
Spurgeon, o príncipe dos pregadores, contou o seguinte episódio:
"Em certa ocasião, enquanto pregava no salão, apontei deliberadamente para um homem no meio da multidão e disse: "Há um homem sentado ali que é um sapateiro. Ele mantém sua loja aberta aos domingos, ela estava aberta na manhã do último domingo, ele recebeu nove pence obteve um lucro de quatro pence. Sua alma está vendida a Satanás por quatro pence!" Ao fazer suas visitas, um missionário da cidade encontrou esse homem e, vendo que ele estava lendo um dos meus sermões, perguntou: "Voce conhece o senhor Spurgeon?" "Sim", respondeu o homem, conheço-o muito bem, fui ouvi-lo e, por sua pregação, pela graça de Deus tornei-me uma nova criatura em Cristo Jesus. Devo dizer-lhe como isso aconteceu? Fui ao Music Hall e me sentei no meio da plateia. O senhor Spurgcon olhou para mim como se me conhecesse e, em seu sermão, apontou para mim e disse à congregação que eu era sapateiro e que mantinha minha loja aberta aos domingos. Isso era mesmo verdade, senhor. Eu não deveria ter me importado com aquilo, mas ele também disse que eu recebera nove pence no domingo anterior e lucrara quatro pence, Eu realmente recebi nove pence naquele dia, sendo quatro pence de lucro, mas como ele poderia saber disso eu não sei dizer. Então, ocorreu-me que Deus falara à minha alma por meio dele, por isso fechei minha loja no domingo seguinte. De inicio, tive medo de ir novamente ouvi-lo, tive medo que ele pudesse dizer ao povo mais coisas a meu respeito, mas ainda assim fui. O Senhor se encontrou comigo e salvou a minha alma"
(Citado em: C.H. Spurgeon, Autobiography, Vol. 2, p. 64–65).
Os Puritanos do século XVII chamavam esse dia de Dia da feira da alma.
Ainda temos resquícios desse respeito ao domingo em nossa sociedade: comércios fechados, leis trabalhistas que reconhecem o descanso dominical (como o pagamento de 100% de hora extra), e tradições locais, como em Timbó, onde até pouco tempo os mercados não abriam aos domingos.
A própria palavra “domingo” vem do latim dies Dominica, literalmente “Dia do Senhor”.
Que possamos retornar a temer ao Senhor, dando a Ele um dia entre sete de nossas vidas para descanso santo n’Ele, em adoração ao Seu nome — praticando as obras de misericórdia, participando do culto público, e cessando com nossas próprias obras e interesses, para que todo o nosso ser encontre descanso no Senhor do tempo.

Conclusão:

Gostaria de concluir essa pregação com uma das mais belas promessas para aqueles que respeitam o dia do Senhor.
Isaías 58.13–14 ARA
13 Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, 14 então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.
E gostaria também de te chamar a descansar sua alma em Cristo e a esperançar na vida eterna.
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