Amós - Do Altar para a Rua
Doze Profetas e um Silêncio • Sermon • Submitted • Presented • 55:15
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· 10 viewsEste sermão apresenta uma leitura teológica do profeta Amós à luz da revelação de Cristo como a justiça encarnada. A mensagem denuncia a contradição entre religiosidade formal e prática de injustiça social, evidenciando a crítica profética contra um culto vazio, dissociado da ética. A partir de Amós, somos confrontados com a exigência divina de uma fé que se manifesta em equidade, integridade e amor ao próximo.
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Estrutura do Sermão
Estrutura do Sermão
Introdução
História fictícia de um tribunal que inocenta um culpado por ser uma pessoa religiosa
Desenvolvimento (Problema - Solução - Resultado)
1) O divórcio entre o Altar e a Prática nos leva a um Religião de Fachada
2) A Adoração que Deus Exige se Manifesta na Vida Prática
3) A Cruz de Cristo nos Impulsiona a Viver um Vida Justa
Conclusão
Chamado para colocar a nossa fé em prática
INTRODUÇÃO [SLIDE 02]
INTRODUÇÃO [SLIDE 02]
Imagine-se dentro de um tribunal.
Você está no plenário, sentado em uma confortável cadeira.
O clima é tenso.
O único som que se ouve é o das teclas do escrevente digitando lentamente a ata da audiência.
À sua frente, o juiz, vestido com sua toga negra, olha fixamente para os papéis sobre a sua mesa.
De um lado, o réu — um conhecido empresário da cidade.
Do outro lado, o promotor de justiça se levanta e inicia sua acusação.
Sobre o réu recaem as acusações:
de fraudar contratos com clientes
sonegar impostos
negar direitos trabalhistas
cometer abusos morais contra funcionários
enganar seus fornecedores.
As provas físicas são contundentes.
Testemunhas confirmam cada crime.
O caso parece encerrado.
Finalmente, o juiz toma a palavra.
Ele diz, com voz firme:
— “Não tenho dúvida alguma de que o senhor é culpado por todos os crimes”
Mas antes de pronunciar a sentença, o juiz faz uma pergunta que deixa todos perplexos:
— “O senhor é um homem religioso?”
O empresário, confiante, responde:
— “Sou sim, meritíssimo. Vou à igreja todos os domingos, leio a Bíblia, dou o dízimo de tudo o que ganho. Sirvo há mais de vinte anos no ministério.”
Um murmúrio percorre todo o tribunal.
O juiz o observa por alguns segundos... e então diz calmamente:
— “Eu o condenaria por todos os crimes, mas por ser um homem tão religioso... retiro todas as acusações. O senhor está livre. Pode ir embora.”
Por um instante, ninguém acredita no que acabou de ouvir.
Os funcionários explorados, os clientes lesados, os fornecedores enganados — todos se olham, incrédulos.
Um homem culpado foi inocentado... apenas por ser “religioso”.
Então eu pergunto a vocês: esse tribunal foi justo?
Se Deus fosse o juiz desse caso, teria Ele a mesma decisão?
Será que o Senhor fecha os olhos para a hipocrisia e a corrupção revestidas de religiosidade?
Foi exatamente essa a realidade que o profeta Amós encontrou em Israel:
Um povo que cantava, ofertava e frequentava o templo, mas cujas mãos estavam sujas de injustiça.
E eu pergunto novamente: será que hoje encontramos cenários semelhantes?
TEXTO BASE
TEXTO BASE
7 Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão, 8 (aquele que fez as Plêiades e o Órion, que faz da escuridão, alvorada e do dia, noite escura, que chama as águas do mar e as espalha sobre a face da terra; Senhor é o seu nome. 9 Ele traz repentina destruição sobre a fortaleza, e a destruição vem sobre a cidade fortificada), 10 vocês odeiam aquele que defende a justiça no tribunal e detestam aquele que fala a verdade. 11 Vocês oprimem o pobre e o forçam a dar-lhes o trigo. Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra, nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do seu vinho. 12 Pois eu sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus pecados. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais. 13 Por isso o prudente se cala em tais situações, pois é tempo de desgraças. 14 Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida. Então o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará com vocês, conforme vocês afirmam. 15 Odeiem o mal, amem o bem; estabeleçam a justiça nos tribunais. Talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha misericórdia do remanescente de José.
PRÓLOGO [SLIDE 03]
PRÓLOGO [SLIDE 03]
Amós não era profeta de profissão, nem filho de profeta.
O texto o apresenta como um “pastor de ovelhas de Tecoa”, um pequeno povoado ao sul de Belém
Muitos o imaginam como um homem simples, um camponês sem instrução.
Mas o termo hebraico usado para “pastor” sugere que ele não apenas cuidava das ovelhas
Ou seja, Amós não era um pastor comum, mas alguém de posição socioeconômica considerável, dono de rebanhos e terras em diferentes regiões de Judá.
O próprio livro afirma que ele também cultivava figueiras bravas (sicômoros) (Am 7:14), um detalhe curioso, já que esse tipo de árvore não cresce em Tecoa
Sicômoros são figos de menor qualidade e portanto mais baratos e acessíveis aos mais pobres
É a árvore que Zaqueu subiu para ver Jesus
Isso indica que Amós mantinha propriedades em outras áreas e tinha uma vida estável e produtiva — um homem de negócios e responsabilidades, respeitado em sua comunidade.
Era, portanto, um homem de classe média e com uma certa influência
O que garantia a ele acesso aos mais ricos: alvo de sua pregação
A mensagem de Amós é clara: ele denuncia o divórcio entre o altar e a rua, entre a liturgia e a prática, entre a fé e a vida.
O livro começa com oito oráculos:
6 oráculos são juízos de Deus contra nações vizinhas inimigas de Israel
2 oráculos são juízos de Deus contra Judá (Reino do Sul) e mais extenso contra Israel (Reino do Norte)
Contudo, o livro não termina com condenação, mas com uma promessa:
11 “Naquele dia levantarei a tenda caída de Davi. Consertarei o que estiver quebrado, e restaurarei as suas ruínas. Eu a reerguerei, para que seja como era no passado,
Essa é uma profecia messiânica que aponta para Cristo, o Rei justo que viria restaurar o Reino quebrado pelo pecado da injustiça
DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO
1) [SLIDE 04] O divórcio entre o Altar e a Prática nos leva a uma Religião de Fachada
1) [SLIDE 04] O divórcio entre o Altar e a Prática nos leva a uma Religião de Fachada
A história da introdução, embora fictícia, é um retrato fiel da sociedade hipócrita que Amós foi chamado a confrontar.
Era um povo que acreditava que sua religiosidade poderia inocentá-los dos seus atos de injustiça.
Mas Amós não fala apenas sobre Israel — ele fala sobre nós.
A mensagem do profeta atravessa os séculos e continua atual
Amós nos ensina que uma sociedade pode ser considerada hipócrita quando ela apresenta essas três evidências:
Primeira Evidência: quando há uma perversão da própria natureza da justiça
O versículo 7 é brutalmente poético: "Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão"
A palavra hebraica para “amargura” é laʿănāh — uma erva amarga e venenosa: o absinto
Curiosamente, o absinto além de ser extremamente amargo e tóxico, tem efeito neurológico, podendo alterar a percepção da realidade
É um simbolismo perfeito para uma sociedade embriagada por uma falsa justiça, que se acha justa mesmo estando corrompida
Esse simbolismo também aparece em Apocalipse:
10 O terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela, queimando como tocha, sobre um terço dos rios e das fontes de águas; 11 o nome da estrela é Absinto. Tornou-se amargo um terço das águas, e muitos morreram pela ação das águas que se tornaram amargas.
Essa é uma imagem simbólica profética da corrupção moral e espiritual que se achará nos últimos dias
Tanto do ponto de vista moral como da própria justiça institucional
Os tribunais, aqui simbolizados como as fontes de águas, que deveriam jorrar águas de justiça, serão contaminados com absinto
Jorraram águas amargas, e não servirão mais para fazer justiça, mas para calar quem fala a verdade.
O mundo inteiro beberá uma justiça e uma espiritualidade falsa/amarga, e ainda assim se acharão justos e moralmente elevados
Juízes que se acham moralmente elevados, produzindo uma justiça amarga
Segunda Evidência: quando há uma aversão à verdade
Não era apenas que eles cometiam injustiça; eles odiavam ativamente quem defendia a justiça
O versículo 10 diz: "vocês odeiam aquele que defende a justiça no tribunal e detestam aquele que fala a verdade"
Amós denuncia um povo que não queria ser confrontado, queria ser afagado.
E essa é, talvez, uma das marcas mais visíveis da nossa geração.
Hoje, muitos não suportam ouvir a verdade — procuram apenas discursos que os confortem, não que os transformem.
Há templos cheios, mas muitas vezes cheios de gente que quer apenas ter um experiencia sensorial/emocional, e não se arrepender de verdade
As mensagens se tornaram superficiais, motivacionais, centradas no homem
Arrependimento - mudança de vida - confronto de pecado - santificação
Triunfalistas => você vai vencer - sua benção vai chegar - o ano da colheita/vitória
Enquanto igrejas que pregam a Bíblia em sua essência muitas vezes estão vazias
O povo continua igual: rejeitando os seus profetas e fazendo ídolos para si mesmos
Terceira Evidência: quando a injustiça é sistemática e tem um alvo claro: os mais vulneráveis
Os versículos 11 e 12 nos dão a lista de acusações de Deus:
"Vocês oprimem o pobre e o forçam a dar-lhes o trigo." (Exploração econômica)
"Vocês têm construído mansões de pedra, nelas não morarão" (Luxo construído sobre a miséria alheia)
"Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais." (Corrupção ativa do sistema legal)
Agora, a pergunta crucial é: Como uma sociedade pode viver com tamanha contradição?
Como é possível oprimir os vulneráveis durante a semana e levantar as mãos para adorar no final de semana?
A resposta é o cerne do problema: Uma sociedade hipócrita acredita que rituais religiosos podem apagar seus atos de injustiça.
Mas Deus deixa claro o que sente sobre esse tipo de culto:
21 “Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembléias solenes. 22 Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. 23 Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras.
Conseguem perceber o coração de Deus através da boca do profeta?
Uma fé que não molda a forma como fazemos negócios, não influencia o nosso voto, não transforma a maneira como tratamos nosso próximo
Uma fé que não se traduz em justiça não é recebida como adoração; mas como um insulto para Deus
Se Deus rejeita essa religião vazia… qual é o tipo de adoração que Deus aprova?
2) [SLIDE 05] A Adoração que Deus Recebe é completa: corpo, alma e espírito
2) [SLIDE 05] A Adoração que Deus Recebe é completa: corpo, alma e espírito
A adoração que Deus aprova não é parcial
Ela envolve todas as dimensões do nosso ser: corpo, alma e espírito
Não basta apenas envolver o corpo em rituais, nem apenas ter emoções piedosas, ou simplesmente ter boas intenções espirituais isoladas
Deus requer que nossa adoração flua de todas as dimensões do nosso ser:
Primeira Dimensão, através do nosso espírito pela nossa VONTADE: "Busquem o bem, não o mal" (v. 14)
Deus está falando diretamente com o nosso espírito, onde fica alojado a nossa vontade
É uma ordem para que nossa vontade seja direcionada para a prática da retidão
Buscar o bem não é um acidente, não é esperar que o bem aconteça
Mas que você tome decisões que evidencie o bem e rejeite o mal, por exemplo:
fazer uma escolha consciente de pagar um salário mais justo => não fique pechinchando com pessoas vulneráveis, tentando tirar proveito
de ser honesto em um contrato ===> mesmo que lhe traga prejuízo
de não explorar a necessidade de alguém ====> exemplo: comprar algo mais barato explorando a situação de aperto de uma pessoa
É a decisão diária de alinhar nossa vontade (espírito) com a vontade de Deus, em vez de seguir o caminho mais fácil da ganância e do egoísmo.
Segunda Dimensão, através da nossa alma pelas nossas EMOÇÕES:
"Odeiem o mal, amem o bem" (v. 15)
Aqui, Deus vai mais fundo, Ele não quer apenas obediência por obrigação; Ele quer transformar nossos afetos/emoções
Ele nos chama a ter repulsa, nojo, ódio daquilo que Ele odeia: a exploração, a mentira, a opressão
E, ao mesmo tempo, a desenvolver um amor profundo, uma paixão por aquilo que Ele ama: a equidade, a compaixão, a verdade
A verdadeira adoração começa aqui: quando nosso coração começa a bater no mesmo ritmo do coração de Deus
se alegrando com a justiça
se entristecendo com a iniquidade.
Terceira Dimensão, através do nosso corpo pelas nossas ATITUDES:
"Estabeleçam a justiça nos tribunais" (v. 15)
O amor pela justiça que está no coração deve se materializar em ações concretas
"Estabelecer a justiça" significa agir para consertar os sistemas quebrados
É criar um ambiente de trabalho justo, é se posicionar contra a corrupção na sua comunidade
É usar sua influência para defender quem não tem voz
É a fé saindo das quatro paredes do templo e transformar a realidade lá fora, da rua.
Mas uma transformação tão profunda parece impossível para nós
E é aqui que a mensagem de Amós abre uma porta inesperada para a graça
Quem é a personificação perfeita dessa justiça exigida por Deus?
3) [SLIDE 06] A Cruz de Cristo nos Impulsiona a Viver uma Vida Justa
3) [SLIDE 06] A Cruz de Cristo nos Impulsiona a Viver uma Vida Justa
Ao olharmos para o padrão perfeito de Deus apresentado por Amós – buscar o bem, amar o bem, estabelecer a justiça – e olharmos para o nosso próprio coração, a conclusão é inevitável: nós falhamos
Somos incapazes de cumprir essa lei perfeitamente.
E é exatamente aqui que a voz do profeta nos empurra para os braços do Salvador
O chamado de Amós é, em última análise, um retrato de Jesus Cristo:
Jesus foi o único que buscou o bem perfeitamente
Jesus foi o único que amou o bem e odiou o mal com perfeição
Jesus foi o único que estabeleceu a justiça de forma definitiva
Ele não fez isso em um tribunal humano, mas na cruz do Calvário
Mas aqui precisamos ter muito cuidado
Alguém poderia pensar: "Ótimo! Se Jesus já cumpriu toda a justiça por mim, então eu posso relaxar. Estou perdoado e a minha vida prática não importa tanto."
Será que a cruz nos dá um passe livre para a indiferença?
A resposta é um retumbante "Não!"
O perdão que recebemos em Cristo não é um sofá para nos acomodar, mas um combustível que nos impulsiona para a ação
A graça de Deus não nos isenta de praticar a justiça; ao contrário, ela nos liberta para praticarmos a justiça pelos motivos corretos
O apóstolo Tiago é claríssimo sobre isso
15 Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia 16 e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? 17 Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta.
Para Tiago, assim como para Amós, uma fé que não se importa com o faminto, com o necessitado e com o oprimido não é uma fé viva; é uma fé morta.
Quando entendemos o preço que foi pago para perdoar o nosso egoísmo e a nossa corrupção, como podemos continuar a praticá-los ou a tolerá-los no mundo?
De que maneira você tem construído sua vida cristã?
Replicando rituais religiosos? Colocando usos e costumes acima da Palavra?
Ou vivendo uma vida piedosa? Refletindo a justiça do Reino na sua vida cotidiana?
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
Percebemos que Deus é o mesmo, tanto no Antigo ou no Novo testamento
Ele não está buscando bons “cumpridores" de rituais religiosos
Deus não está interessado em um cristianismo de domingo
Ele não se impressiona com nossas canções, com a nossa estrutura física e muito menos com nossa arrecadação
Ele se quer saber:
Como você trata seus funcionários, seus clientes, seus fornecedores e seus colegas de trabalho
Como você reage à necessidade que vê na sua rua, no seu bairro, na sua cidade
Como você usa sua voz e os recursos que Ele deu pra você
Que a voz profética de Amós ainda fale nos dias de hoje, ainda fale com você!
Que retire você do sofá da comodidade religiosa
E produza uma fé ativa, viva, que se importe com a dor do outro!
Vídeo Completo no Youtube: https://youtu.be/bKUc4OkoPQc
