Vida de Oraçao - Fundamentos da fé cristã aula - 5

Sermon  •  Submitted   •  Presented
0 ratings
· 5 views
Notes
Transcript

Introdução

A oração sempre foi o pulso espiritual da fé cristã. Desde os tempos bíblicos até os grandes avivamentos da história, Deus decidiu agir através da oração do seu povo. Como afirmou o reformador Martinho Lutero, “A oração é o suor da alma”. Para John Wesley, “Deus nada faz a não ser em resposta à oração”. E C.H. Spurgeon, verdadeiro gigante da espiritualidade, considerado o “príncipe dos pregadores” disse:
“Os homens são os instrumentos de Deus para realizar sua obra, e a oração é o poder que move esses instrumentos”.
O que esses homens entenderam — e o que as Escrituras ensinam — é que a oração não é um exercício religioso mecânico, mas um meio de nos alinharmos com a vontade soberana de Deus.
Jesus nos ensinou a orar assim: “Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade...” (Mateus 6:10). Ou seja, orar é buscar o Reino, o domínio de Deus sobre a Terra e sobre nosso coração.
Diferente do que pensam alguns, a oração não muda Deus — porque “Nele não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1:17). Mas ela nos muda: molda nosso coração, nos disciplina, nos faz esperar, confiar e, acima de tudo, nos ensina a nos submeter ao senhorio de Cristo.
É por isso que o apóstolo Paulo diz:
“Não andem ansiosos... mas em tudo, pela oração e súplica com ações de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus... guardará os vossos corações” (Filipenses 4:6-7).
Não é promessa de que tudo será como queremos. Mas é certeza de que, ao orarmos, o Reino de Deus invade nossa realidade, e nossos corações passam a descansar no Rei.
Nesta aula, queremos aprender o que significa viver uma vida de oração. Não apenas orar quando necessário, mas tornar a oração o ambiente natural da nossa fé — como foi na vida de Jesus (Marcos 1:35), como foi na vida da Igreja Primitiva (Atos 2:42), e como foi na vida de tantos que impactaram o mundo através do joelho dobrado.

1. O que é oração e súplica? (com base no grego)

Oração – προσευχή (proseuchḗ)

Termo grego: προσευχή (Strong G4335)
Definição: Um termo geral para oração, denotando reverência e adoração a Deus; usada para se dirigir a Deus com petições, ações de graças ou louvor (cf. Mt 21:22; Ef 6:18).
Raiz: de "πρός" (para) + "εὔχομαι" (orar, desejar). Indica uma oração voltada deliberadamente a Deus.
Implicação teológica: Envolve não apenas petição, mas comunhão relacional com Deus, implicando confiança e dependência (cf. Lc 11:1-4).

A Diferença entre Pedir e Orar

No Novo Testamento, as palavras gregas αἰτέω (aiteō) e προσεύχομαι (proseuchomai) ilustram duas dimensões distintas — embora complementares — da experiência de oração. Enquanto aiteō refere-se ao ato de pedir algo específicoproseuchomai descreve a prática mais ampla da oração, que envolve relação, reverência e submissão diante de Deus. Em outras palavras, todo pedido pode ser uma oração, mas nem toda oração se reduz a um pedido.
Um bom exemplo dessa dinâmica aparece em Mateus 21.22, onde Jesus diz:
“E tudo o que pedirdes (αἰτήσητε) na oração (ἐν τῇ προσευχῇ), crendo, recebereis.”
Note que o pedido (aiteō) está inserido dentro da oração (proseuchē). Isso demonstra que o pedido é legítimo e faz parte da oração, mas também que a oração não se esgota no ato de pedir. O verso aponta para uma oração relacional, marcada pela fé e dependência, e não por uma exigência mecânica. Jesus não está prometendo que qualquer desejo humano será atendido automaticamente, mas sim que a oração feita em fé, no contexto da comunhão com Deus, será ouvida segundo a vontade do Pai (cf. 1Jo 5:14).
Ao longo das Escrituras, vemos que oração verdadeira é muito mais do que apresentar uma lista de necessidades. É buscar o rosto de Deus, não apenas a mão de Deus. Quando Jesus ora no Getsêmani (Lc 22:42), ele faz um pedido legítimo — que o cálice passe — mas também submete esse desejo à vontade do Pai: “não se faça a minha vontade, mas a tua.” Essa é a essência da oração madura: unir nossos desejos ao plano soberano de Deus.
Além de petição, a oração envolve adoração ("Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome" – Mt 6:9), confissão ("Pequei contra ti..." – Lc 15:18), ação de graças ("Em tudo, dai graças" – 1Ts 5:18) e intercessão ("Rogo por eles..." – Jo 17:9). Cada uma dessas dimensões revela que a oração é, acima de tudo, um relacionamento com o Deus vivo — um lugar de formação espiritual, não apenas de provisão imediata.
Tiago 4:3 nos alerta sobre a superficialidade de um coração que apenas deseja usar a oração como um meio de obter o que quer:
“Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos prazeres.”
Esse texto revela que há formas erradas de pedir, quando o foco está nos prazeres egoístas e não na glória de Deus. Pedidos feitos dessa forma podem até parecer espirituais, mas são desconectados da vontade divina. Por isso, a oração eficaz não é apenas uma petição feita com fé, mas uma expressão da nossa submissão à vontade de Deus (cf. Mt 6:10).

Súplica – δέησις (déēsis)

Termo grego: δέησις (Strong G1162)
Definição: Petição urgente, clamor por ajuda, geralmente associada a necessidade intensa (cf. Fp 4:6; Hb 5:7).
Distinção de προσευχή: Enquanto "oração" pode incluir louvor e adoração, "súplica" foca no aspecto da necessidade e do apelo por intervenção divina.
Contexto: O NT frequentemente usa os dois termos juntos (como em Fp 4:6) para mostrar a totalidade da prática de oração: reverência e clamor.

2. Por que orar? (Motivação teológica e bíblica)

Mandamento e exemplo

Jesus orava regularmente (Mc 1:35; Lc 5:16) e ensinou os discípulos a orar (Lc 11:1).
Paulo ordena a oração constante: "Orai sem cessar" (1Ts 5:17) — verbo grego προσεύχεσθε (imperativo presente), sugerindo uma prática contínua.

Comunhão e transformação

Orar não é apenas pedir, mas conformar a mente à vontade de Deus (Rm 12:2). O ato da oração molda o coração do crente à semelhança de Cristo.

Acesso à presença de Deus

Em Hb 4:16, somos convidados a nos aproximar com ousadia (παρρησία, "liberdade de expressão") do trono da graça por meio de Jesus, o sumo sacerdote.

3. Como orar segundo a vontade de Deus?

1 João 5:14

"E esta é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve."
Expressão grega chave: κατὰ τὸ θέλημα αὐτοῦ – "segundo a vontade dele".
Exegese: A oração eficaz está alinhada com a vontade divina. Isso requer discernimento, que vem pela Palavra (Rm 12:2) e pelo Espírito (Rm 8:26-27).

Exemplo de Jesus

"Não se faça a minha vontade, mas a tua." (Lc 22:42)
expressa subordinação total da vontade humana à divina.
O modelo de oração de Jesus mostra humildade, rendição e confiança, mesmo em sofrimento.

4. Orar em nome de Jesus – significado.

João 14:13-14

"E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei."
Expressão grega: ἐν τῷ ὀνόματί μου – “no nome de mim” (de Jesus).
Implicação: Não se trata de uma fórmula mágica, mas de:
Representar a autoridade de Cristo (vivendo como Jesus viveu, submisso ao Pai).
Orar de acordo com o caráter e missão de Jesus (propósito do Reino).
Reconhecer nossa mediação apenas por Ele (cf. 1Tm 2:5).

5. Como Jesus nos ensinou?

1. “Pai nosso, que estás nos céus” — RELAÇÃO e IDENTIDADE

Explicação: Jesus começa com relacionamento. Ele não diz “Juiz” ou “Criador” (embora Deus seja), mas Pai — e não apenas "meu", mas "nosso", mostrando que a oração é pessoal, mas também comunitária. Isso demonstra intimidade, identidade, filiação e acesso.
Aplicação: Comece sua oração lembrando quem Deus é para você: não um estranho, mas seu Pai, que está acima de tudo, mas perto em amor.
Exemplo: “Pai amado, me aproximo de Ti com confiança e reverência, porque sei que sou teu filho por causa de Jesus. Tu estás nos céus, exaltado, mas também estás perto.”

2. “Santificado seja o teu nome” — ADORAÇÃO

Explicação: Antes de pedir qualquer coisa, Jesus nos ensina a adorar. “Santificado” aqui é o reconhecimento de que Deus é santo, distinto, glorioso — e digno de ser exaltado acima de tudo.
Aplicação: Glorifique o nome de Deus — seu caráter, seus atributos, sua bondade.
Exemplo: “Tu és santo, Senhor! Justo, misericordioso, fiel em todas as tuas promessas. Eu te adoro por quem Tu és, e desejo que a minha vida reflita a tua santidade.”

3. “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” — SUBMISSÃO E INTERCESSÃO

Explicação: Aqui aprendemos que orar não é apenas apresentar pedidos, mas alinhar nossos desejos com o Reino de Deus. A oração é antes de tudo rendição à vontade do Pai. Esse pedido é missional e escatológico: queremos ver Deus reinando aqui como já reina nos céus.
Aplicação: Ore por transformação em sua vida, na igreja e no mundo — sempre com o coração submisso ao querer de Deus.
Exemplo: “Senhor, que teu Reino venha em mim, em minha casa, em minha cidade. Que a tua vontade, e não a minha, seja feita. Muda o que for preciso para que tua glória se manifeste em mim e ao meu redor.”

4. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” — PETIÇÃO FÍSICA E DEPENDÊNCIA

Explicação: Aqui Jesus nos ensina que podemos sim apresentar nossas necessidades diárias a Deus. Não pedimos por luxo, mas pelo essencial — reconhecendo que tudo o que temos vem dEle.
Aplicação: Ore por provisão, saúde, sustento, trabalho — com confiança e humildade.
Exemplo: “Senhor, sustenta minha casa. Dá-me sabedoria para o trabalho, abre portas, supre o que falta. Eu confio que tu és o meu provedor.”

5. “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” — CONFISSÃO e RELACIONAMENTO

Explicação: Jesus nos ensina a viver uma vida de arrependimento contínuo. Ao mesmo tempo, Ele conecta o perdão que recebemos ao perdão que oferecemos — mostrando que o evangelho transforma também os nossos relacionamentos.
Aplicação: Confesse seus pecados. Peça graça para perdoar quem te feriu. Viva em reconciliação.
Exemplo: “Senhor, perdoa meu orgulho, minha falta de amor, meus pensamentos impuros. E me dá um coração limpo para perdoar quem me ofendeu, como Tu me perdoaste em Cristo.”

6. “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” — INTERCESSÃO ESPIRITUAL e VIGILÂNCIA

Explicação: A oração é também um ato de guerra espiritual. Reconhecemos nossa fraqueza e a realidade do mal, pedindo que Deus nos proteja, nos fortaleça e nos livre do poder do maligno.
Aplicação: Ore por proteção espiritual, discernimento, vigilância e vitória sobre o pecado.
Exemplo: “Guarda meu coração, Pai. Não me deixes cair nas ciladas do inimigo. Livra-me das tentações do mundo e do engano do meu próprio coração. Tu és meu refúgio.”

7. “Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.” — LOUVOR FINAL E ENTREGA

 Explicação: Essa doxologia (que aparece em alguns manuscritos e na tradição litúrgica cristã) reafirma que tudo vem de Deus e para Ele é a glória. Terminamos a oração como começamos: com adoração, confiança e rendição.
Aplicação: Encerre a oração reafirmando sua fé no domínio e na fidelidade de Deus.
Exemplo: “Tudo é teu, Senhor: o Reino, o poder, a glória. A ti seja a honra. Em ti eu descanso. Amém!”
Related Media
See more
Related Sermons
See more
Earn an accredited degree from Redemption Seminary with Logos.