Católicos e Protestantes: nossas diferenças
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Texto base:
Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”.
Por que reformar?
Por que reformar?
Quando falamos sobre as diferenças entre católicos e protestantes — ou, como somos popularmente conhecidos, evangélicos —, diferente do que algumas pessoas pensam e do que outras querem acreditar, é possível listar muitas delas.
No entanto, como estamos próximos ao Dia da Reforma Protestante — um movimento que mudou o cenário cristão — talvez seja mais proveitoso olharmos para aquilo que, de certa forma, provocou essa mudança.
Olharmos para aquilo que, de certa forma, denunciou os erros da Igreja Católica da época e que, ainda hoje, continua sendo uma das grandes diferenças entre nós.
Embora muitos pensem apenas em Martinho Lutero como o grande responsável pela Reforma Protestante, outros reformadores também surgiram em diferentes partes da Europa — como, por exemplo, Ulrico Zuínglio, na Suíça, e João Calvino, em Genebra.
O resultado de seus apontamentos, divergências e questionamentos foi, posteriormente, sintetizado em cinco afirmações que ficaram conhecidas como os cinco Solas — que, em português, significam os cinco “Somentes”.
1. SOLA SCRIPTURA — Somente as Escrituras
1. SOLA SCRIPTURA — Somente as Escrituras
O que a Igreja Católica ensinava:
A autoridade da Igreja vinha de três fontes:
As Escrituras,
A Tradição,
O Magistério (Papa e bispos).
O Magistério tinha a função de interpretar autenticamente as Escrituras.
Na prática, a Bíblia não possuía autoridade independente — precisava ser confirmada pela Igreja.
“A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação.
Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a transmissão e interpretação da Revelação, não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.”
Catecismo, §81-82
“O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.”
Catecismo, §85
O que os reformadores combatiam:
A ideia de que a Palavra de Deus dependia de uma instituição humana para ser válida ou compreendida.
O abuso de autoridade e práticas sem base bíblica (indulgências, culto aos santos, etc.).
Exemplo prático:
Catolicismo: um católico busca o que a Igreja ensina oficialmente (Papa, Concílios, Catecismo).
Protestantismo: um cristão busca primeiro o que a Bíblia diz diretamente sobre o tema.
O que afirmamos:
Somente as Escrituras são a regra final de fé e prática.
A tradição e o ensino da Igreja têm valor apenas quando se submetem à Bíblia.
Deus já falou de maneira suficiente, clara e autoritativa.
“A Bíblia não precisa ser confirmada pela Igreja — é a Igreja que precisa ser moldada pela Bíblia.”
2. SOLA GRATIA — Somente a Graça
2. SOLA GRATIA — Somente a Graça
O que a Igreja Católica ensinava:
A graça é necessária, mas o homem precisa cooperar com ela para ser salvo.
As obras ajudam a “preservar” a graça recebida.
A graça é administrada pela Igreja por meio dos sete sacramentos:
Batismo
Crisma (Confirmação)
Eucaristia
Penitência (Confissão)
Unção dos enfermos
Ordem
Matrimônio
A Igreja afirma que, para os crentes, os sacramentos da Nova Aliança são necessários para a salvação.
Catecismo, §85
O que os reformadores combatiam:
A noção de que a salvação depende, em parte, do esforço humano.
O sistema sacramental que fazia da graça algo controlado pela Igreja.
Exemplo prático:
Catolicismo: a graça é recebida e mantida pelos sacramentos.
Protestantismo: a graça é recebida pela fé, e o Espírito Santo é quem sustenta o salvo.
O que afirmamos:
· A salvação é totalmente pela graça, desde o início até o fim.
· Nada no homem o torna digno — é favor imerecido.
· A graça não é uma força, mas uma pessoa agindo em nós: Cristo.
· (Somente a graça fala sobre a origem da Salvação).
“A graça não é um prêmio para os bons, é um presente para os perdidos.”
3. SOLA FIDE — Somente a Fé
3. SOLA FIDE — Somente a Fé
O que a Igreja Católica ensinava:
A justificação é um processo que envolve fé, obras e sacramentos.
O homem coopera com a graça de Deus para ser justificado.
As obras têm papel essencial na manutenção da justiça diante de Deus.
O que os reformadores combatiam:
A ideia de que a justificação fosse um processo interno de transformação, e não um ato declarativo de Deus.
O ensino de que o homem pudesse adicionar algo à obra de Cristo.
A noção de que o perdão dependia de penitências, indulgências ou méritos humanos.
Exemplo prático:
Catolicismo: o perdão dos pecados é mantido através da confissão, penitência e obras de caridade.
Protestantismo: o crente é declarado justo de uma vez por todas pela fé em Cristo — e as boas obras são evidência dessa fé viva.
O que afirmamos:
A justificação é um ato único e completo, pelo qual Deus declara justo o pecador, com base na fé em Cristo.
A fé é o instrumento, não a causa da justificação.
As obras são fruto da fé verdadeira, nunca o fundamento da salvação.
(Somente a Fé fala sobre o meio pelo qual somos declarados justos diante de Deus.)
“A justificação não é Deus tornar o justo aceitável — é Deus aceitar o injusto por causa de Cristo.”
4. SOLUS CHRISTUS — Somente Cristo
4. SOLUS CHRISTUS — Somente Cristo
O que a Igreja Católica ensinava:
Cristo é o mediador, mas a Igreja também exerce papel de mediação (sacramentos, santos, Maria, sacerdotes).
A salvação é administrada “por meio da Igreja”.
O que os reformadores combatiam:
Qualquer intermediação humana entre Deus e o homem.
O culto a Maria e aos santos, e a dependência do sacerdócio para o perdão.
Exemplo prático:
Catolicismo: confissão a um sacerdote, intercessão dos santos, devoção a Maria.
Protestantismo: confissão direta a Deus, oração em nome de Jesus, confiança plena em Cristo.
O que afirmamos:
Cristo é o único mediador entre Deus e os homens
Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus,
Nenhum homem, instituição ou rito pode acrescentar algo à obra de Cristo.
A cruz foi suficiente — o “Está consumado” é completo.
“Entre Deus e o homem há apenas um mediador — e Ele já abriu o caminho com o próprio sangue.”
5. SOLI DEO GLORIA — Glória Somente a Deus
5. SOLI DEO GLORIA — Glória Somente a Deus
O que a Igreja Católica ensinava:
A glória era, em parte, dividida com a Igreja, os santos e Maria.
Boas obras, relíquias e méritos eram exaltados.
O que os reformadores combatiam:
A glória humana sendo colocada no lugar da glória de Deus.
O orgulho religioso e a exaltação de líderes e instituições.
Exemplo prático:
Catolicismo: veneração de santos e méritos pessoais.
Protestantismo: louvor e serviço como resposta à graça — tudo para a glória de Deus.
O que afirmamos:
Toda a glória pertence somente a Deus — pela criação, redenção e salvação.
Nenhum homem pode reivindicar mérito algum.
Vivemos, servimos e adoramos para que Deus seja exaltado em tudo.
“A Reforma começou quando homens deixaram de buscar aplausos da terra e passaram a viver para a glória do céu.”
A Reforma continua!
A Reforma continua!
Esses cinco princípios, ou cinco lemas, foram os pilares da Reforma Protestante. Foram verdades pelas quais os reformadores, no século XVI, batalharam e defenderam, até mesmo colocando suas próprias vidas em risco. No entanto, a necessidade de reformar a Igreja nunca foi uma ideia vista como um movimento único, mas sim como algo contínuo.
O convite de retornar às Escrituras e de relembrar verdades da fé cristã foi feito pelos reformadores no século XVI, mas também precisa ser realizado constantemente na Igreja dos nossos dias.
Às vezes, precisamos lembrar e retornar para as Escrituras — e somente para as Escrituras. Lembrar que não podemos comprar o nosso lugar ao lado de Deus, que as nossas obras não nos tornam mais dignos, mas evidenciam que Deus começou a trabalhar dentro do nosso coração.
Por vezes, precisamos exercitar e colocar em prática a nossa fé, crendo exclusivamente no sacrifício de Jesus, tendo a certeza de que não precisamos de outro mediador, ou de outra pessoa, mas que a nossa maior necessidade é Jesus.
Hoje somos convidados a retornar. Somos convidados a participar de uma reforma que começou e só vai terminar no dia em que Cristo Jesus retornar para buscar a sua Igreja.
Que Deus nos ajude e tenha misericórdia de nós. Amém!
Sermão exposto no dia: 30 de outubro de 2025
Local: Igreja Vivendo em Amor (Mandaqui-Noite)
Por Alex Carvalho
Soli Deo Gloria
