NÃO ESPERE HONRA NA SUA PRÓPRIA TERRA

Introdução:

Raramente somos valorizados entre os nossos familiares pelo que fazemos. Muitas vezes há desprezo ou espanto diante daquilo que alguém decidiu ser, com expressões de surpresa como: “Fulano é médico?” ou “Fulano é policial?”, como se fosse algo impossível para um parente ou amigo alcançar tal posição.

Isso acontece por causa do julgamento baseado no que conhecemos da pessoa. Por sabermos de sua infância, limitações e fraquezas, acabamos fazendo um pré-julgamento e, assim, desqualificando-a para determinado ofício. “Fulano, mole como ele é, vai ser policial?”

O acolhimento, quando acontece, não é de confiança em sua capacidade, mas de dúvida quanto a ela. Muitas vezes, o bom recebimento de alguém se dá pelo status que essa pessoa passa a ter — elevando, consequentemente, o status da família — ou pelo interesse no que ela pode proporcionar. Ou seja, raramente a pessoa é valorizada ou respeitada pelos parentes e amigos como realmente merece, por quem é de fato.

Na vida espiritual, não é diferente. Nem sempre teremos honra entre os nossos familiares e conterrâneos. Poucas vezes alguém nos receberá verdadeiramente como servos de Deus, crendo em nosso testemunho e pregação. Isso muitas vezes nos entristece, mas é algo normal. Não podemos esperar honra em nossa terra. Como veremos em João 4.43–45, o servo de Deus não tem honra entre os seus familiares e conterrâneos.

Lição: O Servo de Deus não Tem Honra entre os seus Familiares e Conterrâneos.

Texto: João 4.43-45.

Jesus está prestes a realizar o segundo milagre narrado no Evangelho de João: a cura do filho de um oficial (João 4.46-54). Após passar dois dias com os samaritanos — onde foi recebido como o Salvador do mundo (João 4.42) — Ele continuou Sua viagem da Judeia para a Galileia (João 4.3).

O trecho que lemos mostra uma mudança na recepção a Jesus: de uma verdadeira fé n’Ele como o Salvador do mundo para uma falsa fé baseada em milagres; de um povo que não O conhecia, mas creu n’Ele, para um povo que O conhecia, mas não creu n’Ele.

Neste texto, João apresenta a realidade do ministério de Jesus — longe de casa e em casa —, uma realidade que também afeta todo servo de Deus. Aqui, aprendemos que não podemos esperar muita coisa entre os nossos familiares e conterrâneos.

Não devemos esperar valorização, reconhecimento, popularidade ou mesmo respeito entre os de nossa própria casa. Portanto, não deve nos causar espanto a desvalorização, o desconhecimento, a impopularidade ou mesmo a falta de respeito por parte de nossos familiares ou conterrâneos.

O que aprendemos nesta passagem é que não temos honra entre os nossos familiares e conterrâneos. Essa verdade é confirmada por dois aspectos: O testemunho de Jesus sobre a desonra e o episódio com Jesus que demonstra a desonra.

O testemunho de Jesus sobre o profeta não ser honrado na própria terra (43-44).

43 “Passados dois dias, partiu dali para a Galiléia.” 44 “Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra.” 

A expressão “passados dois dias” se refere ao período que Jesus passou com os samaritanos antes de seguir para a Galileia (João 4.40).

A Galileia era a terra onde Jesus foi criado.

Seu nascimento ocorreu em Belém (Mateus 2.1; Lucas 2.4–7), cumprindo a profecia de Miqueias 5.2.

Sua infância e juventude foram vividas em Nazaré, uma pequena vila localizada na região da Galileia.

Após o retorno da família de Jesus do Egito (Mateus 2.19–23), José e Maria se estabeleceram em Nazaré, onde Jesus cresceu.

Por isso, Ele é chamado nos Evangelhos de “Jesus de Nazaré” (Mateus 21.11; Marcos 1.9).

Nazaré, na época, era uma vila simples e socialmente desprezada, o que explica a pergunta de Natanael em João 1.46: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”

A Galileia era, portanto, a terra onde Jesus tinha parentes e era conhecido.

A familiaridade com as pessoas — parentes, vizinhos e amigos de infância — não implica valorização ou reconhecimento de quem somos.

João nos mostra que o próprio Jesus testificou essa verdade:

“Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra.” (v. 44)

O verbo “testemunhar” aqui significa dar informações ou confirmar uma verdade sobre alguém ou algum fato. Jesus expressou esse testemunho também em Mateus 13.57, Marcos 6.4 e Lucas 4.24.

Esse provérbio dito por Jesus é semelhante ao ditado popular: “Santo de casa não faz milagre.”

O que João faz, ao relatar a ida de Jesus para a Galileia — Sua terra — após sair de Samaria, onde fora bem recebido como o Salvador do mundo, é recordar o que Jesus já havia testemunhado e que foi registrado pelos outros evangelistas.

Assim, o próprio Senhor Jesus Cristo testificou que um servo de Deus não é bem recebido nem honrado em sua própria terra, nem em sua casa.

Reflexão:

Em sua experiência cristã, você tem sido bem recebido ou rejeitado por aqueles que o conhecem?

Lição:

A desvalorização no lar, entre os parentes ou na própria terra é um fato testemunhado por todos os servos de Deus.

O episódio que demonstra o profeta não ser honrado na própria terra (45).

45 “Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido.”

O bom recebimento de parentes e conterrâneos nem sempre é motivado pelo interesse correto — a salvação em Cristo Jesus.

O texto diz que os galileus receberam Jesus:

“Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam”.

O verbo “receber” aqui significa acolher alguém de forma amigável (cf. Hebreus 11.31).

Ou seja, eles O receberam de maneira cordial e estavam dispostos a ouvi-Lo, mas com intenções erradas. Veja a sequência do versículo:

“porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido”.

Eles estiveram na festa da Páscoa, ficaram impressionados com a purificação do Templo realizada por Jesus (João 2.13–16) e com Seus milagres — chegando até a crer (João 2.23). Mas Jesus sabia que essa fé não era n’Ele como o Cristo e Salvador do mundo (João 2.24–25).

Eles não estavam interessados na salvação oferecida por Jesus, mas em Seus milagres.

Judas Iscariotes é um exemplo de alguém que esteve com Jesus, mas com intenções erradas (João 12.4–6; Mateus 26.14–16) — seu motivo era o dinheiro.

Outro exemplo são as multidões que seguiam Jesus pelos pães e peixes (João 6.26), movidas por interesses materiais.

O bom recebimento de parentes e amigos, muitas vezes, se deve ao que viram Deus fazer em nossa vida materialmente, e não espiritualmente; ao que temos na terra, e não no céu; ao que somos neste mundo, e não em Cristo.

Esse episódio demonstra que Jesus não foi honrado em Sua própria terra, e isso nos mostra que também não seremos honrados na nossa. Eles não O receberam como o Filho de Deus, o Cristo e o Salvador do mundo; da mesma forma, também não nos receberão como servos de Deus.

Reflexão:

Como você tem sido recebido por sua família e amigos? Quantos familiares e amigos se converteram a Cristo por meio da sua pregação?

Aplicações:

O fato de não sermos reconhecidos ou valorizados entre os nossos familiares e amigos deve nos alegrar, pois isso nos identifica com Cristo e confirma a verdade bíblica acerca dos servos de Deus.

O interesse de muitos em Jesus não está na salvação eterna, mas em obter saúde, bens, status e outras coisas materiais.

Não precisamos ser honrados por nossos familiares; precisamos ser fiéis a Deus. Não devemos buscar honra, e sim fidelidade ao Senhor. Os poucos familiares e amigos que ganharmos para Cristo serão alcançados por meio de uma vida fiel a Deus.

Conclusão:

Não espere honra em sua terra. Dê um bom testemunho e, sempre que tiver oportunidade, testifique sobre o que Deus tem feito em sua vida e pregue o Evangelho. Mas nunca espere ser honrado entre os seus, porque isso, na grande maioria das vezes, não acontecerá. Como a Bíblia nos mostra, e como vimos neste estudo, os servos de Deus não têm honra entre os seus familiares e conterrâneos.

Assim como Jesus não foi honrado entre os seus conterrâneos, também não devemos esperar reconhecimento entre familiares e amigos. Infelizmente, não espere muita coisa dos seus parentes e amigos.

43 E, depois dos dois dias, partiu dali para a Galileia. 44 E o próprio Jesus testemunhou que um profeta tem respeito na sua própria terra. 45 Mas, quando chegou na Galileia, todos os galileus que viram tudo quanto fez em Jerusalém, na festa, o deram as boas-vindas, pois eles também foram a festa.