O evangelho e a coragem

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Introdução: (v. 1-5)

Se em Atos 19 Paulo queria entrar no tumulto, em Atos 21 ele se joga de cabeça no sofrimento.
Apesar de todas as advertências e profecias (de que seria preso), Paulo disse: 'Estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus' (v. 13).
É neste cenário — espancado, preso, e prestes a ser levado para a fortaleza — que o nosso texto, Atos 22:1, começa. Paulo não está apenas se defendendo do linchamento. Ele usa o palco de sua perseguição para dar o seu testemunho pessoal. A Coragem para enfrentar o linchamento (Atos 21) é a Coragem reorientada de quem foi transformado de perseguidor em embaixador."
O Ídolo Mais Perigoso: Paulo se apresenta como um fariseu, um homem de "zelo cego" (v. 3). Ele era o perseguidor.
O Evangelho confronta o ídolo do orgulho religioso e da justiça própria.
O telos de Paulo era a sua própria glória e desempenho, e não a glória de Cristo.
A Soberania de Deus pode transformar a vida de qualquer perseguidor, por mais obstinado que seja. Nossa principal resposta a essa graça é a obrigação de testemunhar com coragem e alegria o que Deus fez por nós.
Atos dos Apóstolos 22.1–22 NVI
“Irmãos e pais, ouçam agora a minha defesa”. Quando ouviram que lhes falava em aramaico, ficaram em absoluto silêncio. Então Paulo disse: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade. Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês hoje. Persegui os seguidores deste Caminho até a morte, prendendo tanto homens como mulheres e lançando-os na prisão, como o podem testemunhar o sumo sacerdote e todo o Sinédrio; deles cheguei a obter cartas para seus irmãos em Damasco e fui até lá, a fim de trazer essas pessoas a Jerusalém como prisioneiras, para serem punidas. “Por volta do meio-dia, eu me aproximava de Damasco, quando de repente uma forte luz vinda do céu brilhou ao meu redor. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo?’ Então perguntei: Quem és tu, Senhor? E ele respondeu: ‘Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem você persegue’. Os que me acompanhavam viram a luz, mas não entenderam a voz daquele que falava comigo. “Assim perguntei: Que devo fazer, Senhor? Disse o Senhor: ‘Levante-se, entre em Damasco, onde lhe será dito o que você deve fazer’. Os que estavam comigo me levaram pela mão até Damasco, porque o resplendor da luz me deixara cego. “Um homem chamado Ananias, piedoso segundo a lei e muito respeitado por todos os judeus que ali viviam, veio ver-me e, pondo-se junto a mim, disse: ‘Irmão Saulo, recupere a visão’. Naquele mesmo instante pude vê-lo. “Então ele disse: ‘O Deus dos nossos antepassados o escolheu para conhecer a sua vontade, ver o Justo e ouvir as palavras de sua boca. Você será testemunha dele a todos os homens, daquilo que viu e ouviu. E agora, que está esperando? Levante-se, seja batizado e lave os seus pecados, invocando o nome dele’. “Quando voltei a Jerusalém, estando eu a orar no templo, caí em êxtase e vi o Senhor que me dizia: ‘Depressa! Saia de Jerusalém imediatamente, pois não aceitarão seu testemunho a meu respeito’. “Eu respondi: Senhor, estes homens sabem que eu ia de uma sinagoga a outra, a fim de prender e açoitar os que crêem em ti. E quando foi derramado o sangue de tua testemunha Estêvão, eu estava lá, dando minha aprovação e cuidando das roupas dos que o matavam. “Então o Senhor me disse: ‘Vá, eu o enviarei para longe, aos gentios’ ”. A multidão ouvia Paulo até que ele disse isso. Então todos levantaram a voz e gritaram: “Tira esse homem da face da terra! Ele não merece viver!”

Ponto 1: A Perseguição e o Zelo Cego (v. 3-5)

O Currículo de um Perseguidor (v. 3): Paulo se estabelece como a elite religiosa. Ele era judeu, nascido em Tarso, mas treinado em Jerusalém aos pés de Gamaliel, um dos mais importantes mestres do seu tempo (a mais alta erudição).
O Zelo Desviado (v. 4-5): Ele não era um criminoso comum; era um perseguidor religioso que agia por "zelo" (v. 3). Seu amor (seu telos) estava tão desviado que ele confundia a perseguição a Cristo com o serviço a Deus.
Zelo Cego: Ele precisava constantemente justificar sua imagem e seu desempenho perante os líderes e a Lei. Seu zelo era na verdade a manifestação de um ego que precisava provar seu valor perseguindo os outros. Ele estava sempre preocupado com sua reputação e seu currículo (v. 3).

1. O Orgulho da Justiça Própria

Paulo (Saulo) apresenta seu currículo (v. 3): "Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei... sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês é hoje."
Stott interpreta essa passagem
"O orgulho da justiça própria é o pecado mais sutil e o mais difícil de reconhecer e renunciar. É a presunção de que podemos, por nossos próprios esforços, adquirir mérito diante de Deus."
(John Stott, Princípio extraído de comentários sobre Atos e Romanos)
Aplica-se a Saulo: O zelo de Saulo não era para a glória de Deus, mas para provar seu próprio mérito e pureza perante o sistema judaico e a Lei. Ele precisava perseguir os cristãos para manter a integridade (e, consequentemente, a superioridade) do seu grupo.

2. O Perigo de Perseguir quem Fogem dos Nossos Padrões

há uma ligação entre o orgulho da justiça própria à perseguição e intolerância.
Em Contracultura Cristã (seu livro sobre o Sermão do Monte), Stott insiste que os cristãos são chamados a ser diferentes, mas o orgulho faz com que os religiosos se tornem conformistas e julgadores.
A cegueira do zelo faz com que o religioso persiga quem foge do seu padrão. Para Saulo, os cristãos que seguiam "este Caminho" (v. 4) eram a prova de que a sua forma de servir a Deus estava errada. Sua perseguição era uma tentativa desesperada de defender o seu ídolo (a sua retidão).
"O Saulo de Atos 22 não era um cético; era um fanático religioso. O maior perigo da religião é o orgulho da justiça própria. Esse orgulho nos cega e nos transforma em perseguidores, porque precisamos que o outro falhe para que o nosso próprio desempenho seja validado. Saulo perseguia os cristãos não porque odiava a Deus, mas porque amava o seu próprio mérito no lugar de Deus."
O Evangelho como Ameaça: Para Saulo, o Evangelho era a maior ameaça, pois colocava em risco toda a sua construção de autovalor. o ídolo mais difícil de derrubar é a nossa justiça própria (o "eu sou bom" ou o "eu sou o mais zeloso"). O Evangelho é ofensivo para quem confia em seu desempenho.

Ponto 2: O Confronto na Estrada: A Força Irresistível da Graça (v. 6-11)

A conversão é um ato soberano que quebra o ídolo do esforço próprio.
A Interrupção Irresistível (v. 6): Paulo estava no auge de sua missão de perseguição, com cartas de autoridade (v. 5), quando o Evangelho o derruba e o cega.
A Palavra de Poder: O Senhor não pergunta, Ele afirma: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (v. 7). A luz da glória de Cristo (Soberania) confronta diretamente a escuridão do zelo humano.
A Identidade Revelada (v. 8): "Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues." O Messias não é o ídolo que Paulo defendia; o Messias é Aquele que ele estava atacando. Isso destrói o telos de Paulo em um instante.
A Nova Dependência: O homem orgulhoso e zeloso (Ponto 1) é agora cego e precisa ser guiado pela mão (v. 10-11).
A Graça: A Graça de Deus é tão poderosa que transforma o ódio em adoração, a violência em vulnerabilidade e o perseguidor em discípulo. A nossa vida não muda pelo nosso esforço, mas pela intervenção soberana de Deus.
Meu pai, que após um encontro com Cristo, um homem que estava envergonhado porque tinha perdido algumas batalhas na vida, mas após o encontro se tornou um pregador do Evangelho, lembro dele indo aos mesmo bares que frequentava antes com os amigos, e em todos a oportunidades que tinha, falava do amor de Jesus. Até o fim dos seus dias, ele se entregou a Cristo! Hoje, vários amigos de bar, se tornaram discípulos de Jesus. Porque Deus transformou um homem que se sentia derrotado mostrando a Ele que era sua graça que importava, era o Amor de Cristo que o sustentava, não seu desempenho.

Ponto 3: O Chamado e o Testemunho: A Coragem da Nova Identidade (v. 12-22)

A nova vida é uma vida de testemunho.
Ananias reorienta Paulo para o seu novo propósito.
O Verbo Central: Paulo é chamado a ser "testemunha dele" (v. 15). Seu passado de perseguidor o qualifica de forma única para ser a maior testemunha da Graça Irresistível.
A Prática (v. 16): Ele deve "levantar-te e ser batizado, e lavar os teus pecados, invocando o nome dele". A vida do perseguidor é lavada e o seu novo telos é o nome de Jesus.
O Testemunho Exige Coragem (Vulnerabilidade): Paulo precisou de coragem para dar seu testemunho, sabendo que isso provocaria ira (v. 22). É aqui que o Evangelho nos equipa:
"Isto é uma oferta tremenda e importante: a coragem para enfrentar qualquer coisa. A coragem não para banir o medo, mas para ter alegria suficiente para que os medos desempenhem o seu papel adequado...
E nós olhamos para o Teu Filho, Jesus Cristo, que embora cheio de medo, disse: 'Não se faça a minha vontade, mas a Tua.' Ele olhou para a alegria de Te obedecer e a alegria de nos redimir, e isso O fez corajoso."
"A essência da humildade evangélica não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo."
(Timothy Keller, A Liberdade do Esquecimento de Si)

1. "Pensar Menos DE Si Mesmo": O Falso Remédio (A Tirania do Ego)

Pensar menos de si mesmo significa ter baixa autoestima, autodepreciação ou complexo de inferioridade. Você se vê como falho, inadequado ou sem valor.
Esse tipo de "humildade" é falso, pois mantém o eu no centro. A pessoa ainda está obsessivamente preocupada com o seu valor, só que a avaliação é negativa. Ela fica constantemente perguntando: "Eu sou bom o suficiente?", "Eu sou digno?"
Se Saulo tivesse uma crise e decidisse "pensar menos de si mesmo," ele se tornaria um judeu desesperado e deprimido, mas ainda obcecado com seu próprio desempenho, lamentando sua incapacidade de cumprir a Lei (ou sua perseguição).

2. "Pensar Menos EM Si Mesmo": A Liberdade Evangélica (A Cura do Ego)

Pensar menos em si mesmo significa que o eu não é mais o principal objeto de sua atenção, avaliação ou preocupação. Seu foco foi reorientado para fora do eu.
A Cura: Você não se importa se os outros pensam que você é brilhante ou burro, um herói ou um fracasso. Por quê? Porque seu valor não está ancorado em seu desempenho (sua justiça) ou em sua falha (seu pecado), mas na justiça de Cristo que lhe foi imputada. Seu valor é fixo e eterno.
Quando a graça de Cristo confrontou Saulo na estrada (Atos 22), ele compreendeu que não tinha justiça para se gabar. Ele foi transformado porque sua identidade foi movida de Saulo (o perseguidor) para Paulo (o servo de Cristo).
Nem Toda Conversão é um Raio: É fundamental reconhecer que Deus trabalha de forma diferente em cada vida. Alguns são tocados por uma luz intensa, como Paulo na estrada de Damasco. Outros, pela voz suave do discipulado e da Palavra, como Ananias.
O próprio Paulo revela que, mesmo após a conversão, a luta contra o medo e o ego continuou.
Paulo confessa que, em Jerusalém, ele teve um êxtase no Templo (Atos 22:17). Em oração, ele estava provavelmente dominado pelo medo, lembrando de sua vida de perseguição e sentindo o peso da rejeição que sabia que viria de seus antigos colegas.
É nesse momento de vulnerabilidade, orando no mesmo lugar onde anos antes ele perseguia, que Cristo o encontra novamente em uma visão (um toque forte), dizendo: "Apressa-te, e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho acerca de mim... Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios!" (Atos 22:18, 21).
O Toque de Cristo na Fraqueza (Aplica-se ao Nosso Medo):
Para quem luta com o medo e o ego: Paulo não foi sempre forte. No momento de sua dúvida e vulnerabilidade (o medo de ser rejeitado pelos seus em Jerusalém), Cristo o toca de forma forte, não para repreendê-lo, mas para reafirmar a missão, seu propósito.
O Evangelho não nos condena pela nossa fraqueza e pelo nosso medo. Ele é a força que nos encontra onde o medo e o ego ainda nos paralisam.
Se você está paralisado pelo medo (perder a reputação, perder o ídolo) e seu ego tenta se reerguer, a promessa é a mesma: Cristo nos encontra e nos reafirma no nosso telos.
"Por que a coragem de Paulo é tão indestrutível? Porque ele parou de tentar satisfazer a sua alma com a religião ou com o desempenho humano. Ele entendeu a profunda verdade que C. S. Lewis articulou:
'Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo.'
C S LEWIS (SURPREENDIDO PELA ALEGRIA)
Aplica-se a nós:
Você está tentando satisfazer sua sede de valor, de justiça e de sentido perseguindo os outros (o zelo cego)?
Você está tentando preencher seu coração com o 'sucesso deste mundo', com medo de perder o seu conforto?
Paulo entendeu que a sua perseguição era apenas um desejo insatisfeito reorientado para o alvo errado. Mas Cristo, com Seu toque soberano (o raio forte, o êxtase no Templo), quebra a tirania do nosso ego e nos enche da Alegria de sermos feitos para Ele! É essa Alegria de um 'outro mundo' que se torna a nossa coragem (o novo telos). Não para banir o medo, mas para torná-lo secundário."
O Paulo que está nas escadas em Atos 22 (quase linchado) demonstra essa humildade: ele não precisa se justificar para a multidão (porque sua justiça está em Cristo), e ele não se desespera (porque seu valor está seguro em Cristo). Ele está livre para testemunhar.
A coragem para testemunhar (seja na prisão ou no seu trabalho) não é a ausência de medo, mas a alegria da nossa redenção que é maior do que o medo da rejeição. A alegria do nosso telos (Cristo) supera o medo da perda dos ídolos (o passado).

Conclusão: A Sua História é o Seu Púlpito

"Se você sente que a sua conversão não foi um 'raio' forte o suficiente, ou se o medo ainda sufoca o seu testemunho: Olhe para Paulo. Mesmo ele, o gigante, precisou de um toque forte de Cristo no Templo para reafirmar sua coragem. A Coragem não é a ausência de medo, mas a alegria da redenção que é maior do que o medo (a nossa fraqueza). E se a sua alegria está fraca, a graça de Cristo é soberana para te tocar e te reafirmar no seu chamado."
O Chamado à Reconciliação (A Ponte): A missão da Igreja A Ponte é o "ministério da reconciliação" (2 Co 5:18). A história de Paulo é a garantia de que, não importa o seu passado (o quanto você perseguiu ou esteve errado), a Graça o reconciliou e o chamou para ser testemunha.
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