PANORAMA - AT #20 - RUTE E SAMUEL

TEXTO

CONTEXTO - RECAPITULAÇÃO

Gênesis está dividido em dois grupos maiores:

Deus e o mundo (Gn1-11)

A humanidade a cada dia se distancia mais de Deus

Deus escolhe Noé para que o mundo recomece apenas com o justo e sua família

Deus e um homem (Gn12-50)

Deus escolhe Abraão

Abraão, Isaque e Israel recebem a promessa de uma terra, uma multidão como descendência e o mundo abençoado por meio dessa descendência

Israel e sua família vão ao Egito para não morrerem de fome e se multiplicarem

Um Faraó que nunca conheceu José sobe ao trono e escraviza os hebreus por medo

Moisés é adotado pela filha do Faraó

Moisés mata um egípcio e foge

Moisés faz uma família em Midiã

Moisés tem um encontro com Deus na Sarça

Moisés se encontra com Arão para ir ao Egito

Moisés x Faraó

Nilo em Sangue

Rãs

Piolhos

Escaravelhos

Morte do gado

Úlceras

Chuva de pedras

Gafanhotos

Trevas

Décima Praga - o povo é libertado

Regras sobre a Páscoa;

O Faraó e seu exército perseguem os judeus;

Deus abre o mar

No Deserto

A primeira revolta (águas de Mara)

A segunda revolta (Maná)

desobediência em seguir as regras da colheita do Maná

A terceira revolta (Água da Rocha)

Luta contra os Amalequitas e a Intercessão de Moisés

Monte Sinai

Santificação do Povo

Fala de Deus diretamente ao povo - Dez Mandamentos e a Aliança com o Povo

Uma nova geração se levanta após a morte da antiga geração rebelde

O povo é novamente instruído para tomar posse da terra de Canaã

Moisés Morre e Josué assume seu lugar

Josué é o novo Moisés - Ambos conduzem Israel até a terra, ambos renovam a aliança, ambos apontam para um cumprimento maior.

Josué sabia que a nação não manteria a aliança (Js 24.19–20), ecoando o próprio Moisés (Dt 31.26–29).

Juízes

Se tivéssemos que resumir esse livro em uma imagem, não seria um círculo, mas um ralo. Israel não andou em círculos; eles desceram numa espiral de degradação."

O Problema: "Fizemos o que era reto aos nossos próprios olhos": Vimos que Juízes é a história do que acontece com o coração humano quando ele rejeita a Deus como Rei. O refrão do livro: "Naquele tempo não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo." nos prepara para o que vem a seguir.

A Queda dos Líderes (A Espiral): Nós vimos que, conforme o tempo passava, a qualidade dos líderes piorava, refletindo a podridão do povo:

Otoniel, o único juiz sem defeitos registrados.

Passamos pela ambiguidade de Eúde e seu punhal traiçoeiro.

Vimos a covardia masculina no tempo de Débora e Baraque.

Assistimos Gideão começar derrubando altares e terminar construindo um ídolo para si mesmo.

Choramos com a ignorância teológica de Jefté, que sacrificou a filha por não conhecer a bondade de Deus.

E terminamos no fundo do poço com Sansão: um homem ungido, mas dominado pelos seus desejos, que lutava por vingança e não por Deus.

3. O Fim Trágico: o livro termina com um filme de terror (Caps. 17-21):

Caos Religioso: Um levita de aluguel e ídolos roubados.

Caos Moral: O estupro e esquartejamento da concubina em Gibeá (cidade de Saul).

Caos Social: Guerra civil, onde tribos de Israel quase exterminaram a tribo de Benjamim.

4. O Gancho para Hoje (A Ponte)

Nós fecharíamos o livro de Juízes desesperados. Israel virou Sodoma e Gomorra. A sensação é de sufocamento. O povo precisa de ordem. O povo precisa de redenção. O povo precisa de um REI.

Mas onde encontrar esperança quando tudo está perdido?

É aqui que entramos na aula de hoje. Vamos ver como Deus preparou a resposta para o caos de Juízes através de duas histórias: uma de amor silencioso (Rute) e outra de transição política (Samuel), preparando o trono para o Rei que Deus escolheu.

EXPOSIÇÃO

Aula: A Preparação do Trono (Rute e Samuel)

Objetivo Central: Demonstrar como Deus orquestrou a história — silenciosamente em Rute e ruidosamente em Samuel — para estabelecer a Casa de Davi, prefigurando o Reino Eterno de Cristo.

Parte 1: Rute — A Providência Silenciosa (A Ponte)

Comece contrastando a atmosfera. Saímos dos gritos de guerra de Juízes para o silêncio dos campos de cevada.

1.1. Contexto e Atmosfera

O livro é situado na época dos Juízes (Rt 1.1), mas o tom é radicalmente diferente. Enquanto Juízes é repleto de intriga sexual destrutiva e violência, Rute apresenta uma narrativa onde a força moral, lealdade e bondade prevalecem.

Ninguém pode ser chamado de mau em Rute.

Teologia da "Coincidência":

O versículo chave é Rt 2.3: "por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz".

O material explica que essa frase significa o exato oposto do que parece. Não é sorte. É a maneira do narrador dizer que a falta de premeditação humana abriu espaço para a providência divina. Deus guiou Rute tão diretamente quanto guiou o Êxodo, mas sem abrir o mar — apenas guiando os pés de uma viúva.

A "Providência Oculta e Contínua". Deus age nos milagres (Mar Vermelho), mas age soberanamente no dia a dia comum (no trabalho, no namoro, na colheita).

1.2. O Propósito Político e Messiânico

O Problema Dt 23.3: Como o Rei Davi (e Jesus) poderia descender de uma moabita (povo amaldiçoado em Dt)?

O livro serve para legitimar a dinastia de Davi. Ele mostra que a inclusão dos gentios se dá pela fé e lealdade. Rute excede os israelitas naturais em fidelidade à Aliança.

Os defensores da casa de Saul provavelmente viam Davi como um intruso e a sua nobreza precisava de legitimação.

A base de poder de Davi era formada em grande parte por estrangeiros.

Estrangeiros que adotavam YHWH são vistos como pessoas que excedem os israelitas em bondade e merecem ser aceitos como israelitas genuínos.

Mateus 1 lista Tamar (incesto/prostituição), Raabe (prostituta) e Rute (estrangeira/viúva). Deus usa o que é "difamado" para trazer o Messias, mostrando que a salvação não depende da pureza biológica, mas da graça eleitiva.

Concluímos o Livro de Rute com alguns pontos:

Rute demonstra intensa lealdade e Orfa é o contraste a ela.

Boaz encarna abondade e generosidade em oposição ao resgatador anônimo.

O escritor está nos dizendo algo como: “Seja leal como Rute e gentil como Boaz, e Deus o recompensará”.

Mas essa é uma leitura muito superficial, o livro trata muito mais da providência divina e contínua de Deus. O livro quer ensinar como Deus guia todas as coisas, inclusive escolhas e acontecimentos simples e rotineiros, para seus justos propósitos (resgatar um povo perdido por meio de um Rei eleito, não pelos homens, mas pelo próprio Deus).

Parte 2: 1 Samuel — A Busca pelo Coração de Deus

Entramos na transição da Teocracia para a Monarquia. O povo rejeita Deus como Rei e pede um humano.

2.1. Estrutura Literária: O Livro "Embrulhado" em Cânticos

Narra a história de três homens: Samuel, Saul e Davi.

O autor é anônimo.

Era originalmente um único livro que, posteriormente na Septuaginta, foi dividido em 1 e 2 Samuel por causa do seu tamanho.

Samuel não é uma bagunça histórica; é uma obra de arte "envelopada" por duas poesias:

Início (1 Sm 2): O Cântico de Ana. Ela profetiza a chegada de um Rei ("Ungido") antes mesmo de existir monarquia. Ela canta sobre um Deus que abate os soberbos e exalta os humildes.

Fim (2 Sm 22): O Cântico de Davi. Davi celebra, ao fim da vida, que Deus foi sua rocha e cumpriu a promessa.

2.2. A Ascensão e Queda de Saul (A Aparência)

A Escolha: 1Samuel 8.5–7 “5 Eles disseram: — Veja! Você está ficando velho e os seus filhos não andam pelos seus caminhos. Por isso, queremos agora que você nos constitua um rei, para que nos governe, como acontece em todas as nações. 6 Mas Samuel não gostou desta palavra, quando disseram: “Dê-nos um rei, para que nos governe.” Então Samuel orou ao Senhor. 7 E o Senhor disse a Samuel: — Atenda à voz do povo em tudo o que lhe pedem. Porque não foi a você que rejeitaram, mas a mim, para que eu não reine sobre eles.”

1 Samuel 8:11–20 NAA

11 dizendo: — Este será o direito do rei que vier a reinar sobre vocês: ele tomará os filhos de vocês e os empregará no serviço dos seus carros de guerra e como seus cavaleiros, para que corressem na frente deles. 12 Ele porá alguns por capitães de mil e capitães de cinquenta; outros para lavrar os campos dele e fazer as suas colheitas; e outros para fabricar armas de guerra e equipamentos para os seus carros. 13 Tomará as filhas de vocês para serem perfumistas, cozinheiras e padeiras. 14 Tomará de vocês o melhor das lavouras, das vinhas e dos olivais e o dará aos seus servidores. 15 Ficará com uma décima parte dos cereais e das uvas que vocês colherem, para dar aos seus oficiais e aos seus servidores. 16 Também tomará os servos e as servas de vocês, os melhores jovens e os jumentos de vocês, e os empregará no seu trabalho. 17 Ficará com uma décima parte dos rebanhos de vocês, e vocês serão seus servos. 18 Então, naquele dia, vocês clamarão por causa do rei que escolheram, mas o Senhor não os ouvirá naquele dia. 19 Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: — Não! Queremos um rei sobre nós. 20 Seremos como todas as outras nações. O nosso rei poderá nos governar, sair adiante de nós e fazer as nossas guerras.

Saul era o rei que o povo queria: alto, o mais belo, "marketing" perfeito. Um rei como os das outras nações. Mas Deus rejeita a aparência.

O Diagnóstico da Falha: Por que Saul foi rejeitado? Não foi apenas por erros rituais. O material aponta que Saul "honrava o povo em vez de honrar a Deus". Ele era movido pelo medo da opinião pública (1 Sm 15), ele era hesitante e fraco, falho em derrotar os filisteus, paralisado diante de Golias e é contrastado com o próprio filho Jônatas.

O Contraste: Enquanto Eli honrava seus filhos e Saul honrava o povo, Deus busca alguém que O honre acima de tudo.

2.3. A Ascensão de Davi (O Coração)

O termo "Messias" (Ungido) ganha força aqui. Davi se torna o padrão de rei íntegro.

Davi vs. Golias (O Eco da Serpente):

Retome o ponto da aula anterior. Saul (a "cabeça" de Israel, o mais alto) está escondido com medo.

Davi, o pastor, enfrenta o gigante "serpente" (cota de malha de escamas) sozinho.

O Detalhe Técnico: A "Couraça de Escamas" (1 Samuel 17.5)

Para a maioria dos leitores, Golias é apenas um homem muito grande com uma armadura pesada. Mas o autor bíblico escolheu uma palavra muito específica para descrever essa armadura, criando um "link" visual imediato para o leitor hebreu.

O Texto Bíblico: Em 1Samuel 17.5, lemos (ler o texto).

A palavra original usada ali é "Qasqesset" (קַשְׂקֶשֶׂת).

Essa palavra não é o termo comum para armadura militar genérica.

O significado literal dela é "Escamas".

É a mesma palavra usada em Levítico 11.9-10 para descrever peixes que têm (ou não têm) escamas.

Também é a raiz usada para descrever a pele de animais répteis.

Imagine a cena: Golias é um gigante. A armadura dele é feita de bronze (metal brilhante e avermelhado/dourado). E a textura dessa armadura é descrita biblicamente como "escamas". Para um israelita treinado na Torá, ao olhar para Golias no vale, ele não via apenas um soldado; ele via uma gigantesca serpente de bronze brilhando ao sol, desafiando o Deus vivo. Ele é a personificação visual do "Dragão", a antiga Serpente.

A Promessa: Em Gênesis 3.15, Deus prometeu que o Descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente.

O Conflito: Ali no vale de Elá, temos a "Semente da Serpente" (Golias, o gigante escamoso, inimigo de Deus) contra a "Semente da Mulher" (Davi, o ungido de Deus, nascido em Belém).

O Golpe Fatal: Como Golias morre?

Davi não atira na perna, nem no peito (onde estavam as escamas).

A pedra atinge a testa (a cabeça) e afunda no crânio.

Davi então corta a cabeça de Golias.

É uma encenação histórica da profecia: A Serpente feriu o povo de Deus (o medo, a afronta), mas o Ungido de Deus esmagou a cabeça da Serpente.

"Do mesmo modo que Davi certa vez combateu sozinho o grande inimigo de Israel... assim também Jesus triunfou sozinho sobre o inimigo de nossas almas".

Parte 3: 2 Samuel — A Aliança e a Tragédia

O reinado de Davi não é um conto de fadas. É a realidade brutal do pecado e a esperança inabalável da Aliança.

3.1. A Aliança Davídica (2 Sm 7) — O Pico do AT

A Promessa: Deus promete a Davi uma "casa" (dinastia) eterna.

A Tensão Teológica: Deuteronômio ensina que a bênção depende da obediência. Mas a Aliança com Davi introduz um elemento de graça incondicional. Deus diz que se os filhos de Davi pecarem, Ele os castigará com varas, mas não retirará a Sua misericórdia como fez com Saul. Isso aponta para a segurança da salvação em Cristo.

3.2. O Pecado de Davi: O Pastor que Virou Lobo

A Mudança de Caráter: O material faz uma observação devastadora. Quando conhecemos Davi, ele matava leões para salvar ovelhas (1Sm 17). Agora, no caso de Bate-Seba e Urias, Davi "decidiu que os cordeiros deveriam morrer por ele". Ele sacrifica o fiel Urias para encobrir seu pecado.

A Espada na Casa: A profecia se cumpre. A violência sexual e o assassinato que Davi cometeu em segredo explodem publicamente em sua família (Amnom, Tamar, Absalão).

3.3. A Narrativa da Sucessão (Quem sentará no trono?)

Os capítulos 9-20 de 2 Samuel e o início de 1 Reis formam a "História da Sucessão". É um drama de corte realista: intrigas, traições e a questão crucial: Qual dos filhos sucederá Davi?.

Isso prepara o leitor para perceber que nenhum dos filhos de Davi (nem Salomão) é o Messias perfeito. Todos falham. A pergunta "quem sentará no trono?" só é respondida definitivamente no Novo Testamento.

4. Conclusão e Aplicação Prática (Cristocêntrica)

Sobre a Providência (Rute): Você pode achar que sua vida é feita de acasos. Mas, como Rute, você está sob uma Providência Oculta que guia seus passos para a Redenção.

Sobre o Coração (1 Samuel): Deus não se impressiona com seu "sucesso" religioso (Saul), mas com um coração contrito. Saul deu desculpas; Davi, quando confrontado, disse: "Pequei contra o Senhor".

Sobre o Verdadeiro Rei:

Precisamos de um Rei melhor que os Juízes.

Precisamos de um Rei melhor que Saul (que não seja medroso).

Precisamos de um Rei melhor que Davi (que não abuse do poder nem sacrifique suas ovelhas).

Um Rei que tenha a autoridade de Davi, mas a perfeição de Deus. Esse Rei é Jesus, o Filho de Davi, que deu a vida pelas ovelhas.

Apelo Final: "Irmãos, Juízes nos mostrou que precisamos de um Rei. Samuel nos mostrou que um rei humano, mesmo o melhor deles (Davi), ainda nos decepciona. A Bíblia nos deixa na porta do Novo Testamento esperando por alguém que tenha a bondade de Boaz, a unção de Davi, mas que nunca peque. Esse Rei é Jesus Cristo."