A tecnologia digital e a vida cristã
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A tecnologia digital e a vida cristã
Este texto oferece algumas reflexões sobre a tecnologia digital e defende que devemos trazer a nossa vida digital sob a liderança de Jesus Cristo. A tecnologia digital torna a vida mais confortável e agradável de diversas maneiras. Graças à Internet e nossos dispositivos digitais, como desktops, laptops, tablets, smartphones etc., facilitam a conexão de uns com os outros e temos acesso a informações em todos os lugares. Só o Facebook tem 1.4 bilhões de usuários.1 Se fosse um país,2 seria o maior do mundo. De fato, a era digital nos trouxe muitos privilégios; facilita o acesso a grandes quantidades de informação, que interliga as pessoas de maneiras inimagináveis em tempos passados, e facilita a realização de muitas tarefas como nunca antes. Em muitos aspectos, é um privilégio viver nesta era digital e desfrutar dos benefícios que ela traz para todas as áreas de nossa vida. Tais benefícios, no entanto, têm um preço, a combinação de dispositivos sofisticados com os tentáculos da "Web" em constante expansão está remodelando nosso mundo, nós e nossos relacionamentos. Então, podemos querer refletir sobre as maneiras que podemos desfrutar das bênçãos da era digital sem sermos prejudicados por ela. Este curto texto oferece algumas reflexões sobre alguns aspectos teológicos, filosóficos e éticos da tecnologia. Ele conclui algumas sugestões práticas sobre como lidar com nossas vidas super conectadas de maneiras que honrem a Deus. 6 Pensamentos teológicos sobre a Tecnologia Digital O termo tecnologia designa "os instrumentos que criamos a fim de efetivar o mundo existente"3 e, assim, facilitar a nossa vida sob o sol. Como tal, a tecnologia surge da criatividade dada por Deus e não deve ser considerada como um mal em si. Criados à imagem de Deus, somos capazes de moldar o mundo de maneiras que não são possíveis à outras criaturas. Assim, desde o Jardim do Éden, os seres humanos têm estado no negócio de inventar dispositivos para tornar a vida mais confortável, agradável e eficaz. Tudo começou quando Deus colocou Adão no Jardim do Éden para o cultivar e guardar" (). Mas antes da criação de Adão, as Escrituras reconhecem que "não havia homem para lavrar a terra" (). O ato de cultivar a terra, que assume o uso de ferramentas e, consequentemente, a tecnologia aparece como uma atividade necessária e positiva. Portanto, "Adão deveria tomar o mundo ‘natural’ "(o que Deus fez) e molda-lo em outra coisa, algo não completamente 'natural', mas sancionado por Deus”. 4 A tecnologia então aparece para ajudar os humanos a melhor cumprir a missão de cuidar da Terra e cuidar de criação. Posteriormente, a entrada do pecado distorceu não só a criação, mas contaminou as produções artísticas e tecnológicas da criatividade humana. Por conseguinte, a tecnologia tornou-se ambivalente e pode ser usada de uma maneira que "não só amplifica o potencial para um bem maior, mas também para um mal maior. ” 5 A tecnologia pode servir tanto para arar a terra de forma a sustentar a vida ou ela pode ser transformada em uma arma para destruir a vida. Ela pode abençoar os seres humanos com dispositivos que salvam vidas, como a medicina moderna pode testemunhar, mas ela também pode produzir bombas nucleares para trazer destruição e morte. No entanto, apesar de seus riscos e perigos, a tecnologia é um produto da criatividade humana, que é um aspecto da imagem de Deus. E o fato de que o primeiro desenvolvimento tecnológico sustentado descrito na Bíblia ocorre entre os descendentes de Caim () não invalida a legitimidade da tecnologia. Como a Bíblia mostra, a tecnologia sob a forma de altares, pratos, panelas, jarros, tigelas, castiçais etc., era tanto uma parte das atividades como dos serviços e rituais do santuário/templo (; Crônicas 28:11-21). Nas atividades seculares os israelitas não se abstinham do uso da tecnologia; ela foi usada pelos filisteus para afiar suas ferramentas uma vez que tinham o conhecimento tecnológico para trabalhar com o ferro (1 Sam 13:20). Na construção do templo, Salomão usou a perícia técnica de Hiram de Tiro, que foi "um hábil artesão em bronze" (1 Rs 7:14). Os apóstolos e outros cristãos primitivos 7 Pensamentos filosóficos sobre a tecnologia digital De acordo com alguns teóricos, a tecnologia pode ser dividida, grosseiramente, em quatro categorias: (1) aquela que complementa ou amplia nossa capacidade inata: o arado, a agulha e o carro; (2) a que estende a amplitude ou a sensibilidade dos sentidos: o microscópio, o amplificador; (3) aquela que remodela a natureza para melhor servir as nossas necessidades ou desejos: os reservatórios de petróleo, a usina hidrelétrica; e (4) as que se estendem ou apoiam nossos poderes mentais, ou seja, instrumentos técnicos utilizados para coletar informações, articular ideias, partilhar conhecimento, realizar cálculos, e ampliar a capacidade de nossa memória tais como livros, jornais e computadores.7 No que diz respeito à sua relação e efeitos sobre os seres humanos, a tecnologia pode ser abordada a partir de duas principais perspectivas filosóficas: o instrumentalismo e determinismo. Instrumentalismo sustenta que um artefato técnico é apenas uma ferramenta neutra sob o controle de seu usuário. Neste ponto de vista, os nossos dispositivos tecnológicos são meros instrumentos nas nossas mãos e, portanto, sujeitos ao uso que fazemos deles.8 Por outro lado, o determinismo sustenta que a tecnologia de modo algum é neutra. Ela molda os usuários e os induz a realizar alguns objetivos pré-determinados. Como costuma ser o caso, a verdade pode estar em algum lugar no meio. Apesar de uma visão instrumental da tecnologia possa parecer mais intuitiva e auto evidente, que não deve ser alheio ao fato de que a tecnologia, e a tecnologia digital neste caso, traz alguns valores inerentes a ela. Como vários teóricos da comunicação têm alertado, a tecnologia conserva alguns valores destinados pelos seus idealizadores.9 Marshall McLuham adiverte, “o meio é a mensagem”10 , um aviso repetido por outros teóricos da mídia.11 Tem sido amplamente observado que os recursos tecnológicos que vieram a existir durante as últimas décadas estão agora realinhando nosso cérebro.12 Parece claro que um dispositivo tecnológico vem com alguns valores predeterminados embutidos nele. Como disse um teórico: "Embutido em cada ferramenta há um viés ideológico, uma predisposição para construir o mundo de um jeito em vez de outro, a valorizar uma coisa em detrimento de outra, para amplificar um sentido ou habilidade ou atitude mais alto do que o outro”.13 E o mesmo autor continua: "As novas tecnologias alteram a estrutura dos nossos interesses: as coisas que pensamos. Elas alteram o caráter de nossos símbolos: que formam os nossos pensamentos”.14 Por exemplo, os telefones celulares foram concebidos para conectar os gerentes aos seus funcionários. Conforme os telefones celulares tornaram-se populares, eles transformaram a maioria dos usuários em "gerentes", mesmo durante um jantar em família ou culto de adoração. Além disso, parece evidente que cada tecnologia traz não só benefícios, mas também problemas, que para solucioná-los é necessário novastecnologias. Como Freud brincou muito tempo atrás: "Se não tivesse havido ferroviária para conquistar distâncias, meu filho nunca teria deixado sua cidade natal e eu não precisaria de telefone para ouvir a sua voz; se viajar através do oceano por navio não houvesse sido introduzido, meu amigo não teria embarcado em uma viagem marítima e eu não iria precisar de uma conexão para aliviar a minha ansiedade por ele”.15 Ao ponderar as vantagens e desvantagens de dispositivos tecnológicos, é difícil discordar de Freud. Cada nova tecnologia parece trazer alguns benefícios que são, no entanto, acompanhados por alguns problemas que por sua vez exigem uma tecnologia mais recente para combater seus efeitos indesejáveis. Por exemplo, tecnologias que têm os seres humanos cada vez mais liberadas do trabalho físico, eventualmente, tornou-se necessário uma outra tecnologia, como a esteira, para mitigar os efeitos de um estilo de vida sedentário. Mas a boa notícia é que as desvantagens dos nossos dispositivos digitais podem ser mitigadas, e podem, portanto, ser usadas de maneira que honrem a Deus. Nas reflexões que seguem tento sugerir algumas diretrizes éticas para nos ajudar a lidar com essa vida muito conectada. 8 Pensamentos éticos sobre a tecnologia digital Segundo um autor, a percepção geral de uma sociedade sobre a tecnologia pode ser classificada em três categorias: Em primeiro lugar, "tudo o que já está no mundo quando você nasce é apenas normal". Em segundo lugar, "tudo o que se inventou antes de você ter trinta anos é incrivelmente emocionante e criativo e com alguma sorte você pode fazer uma carreira deles". Em terceiro lugar, "qualquer coisa que começou a ser inventado depois que você fez trinta anos é contra a ordem natural das coisas e o começo do fim da civilização como a conhecemos até que passe a existir por mais de dez anos, quando gradualmente passa a ser considerado normal”.16 Seja qual for a faixa etária que você pertence, é cada vez mais difícil viver sem uma conexão com a Internet ou dispositivos móveis. Ficar privado de um telefone celular pode gerar ansiedade. Nove em cada dez pessoas com menos de trinta anos de idade admitem sofrer de "nomofobia", o medo de ficar sem um telefone celular.17 Tendo em conta as funções generalizadas dos dispositivos digitais e o papel da Internet em nossa cultura, não podemos separar nossa vida espiritual da vida muito conectada. Como vivemos a nossa vida digital tem implicações na nossa vida pessoal,18 e, consequentemente, no nosso relacionamento com Jesus. A seguir constatamos que alguns benefícios da vida digital vêm com desafios éticos que precisam de muita atenção. Para honrar a Jesus com a nossa experiência digital, pode ser útil refletir sobre como a eficácia, acessibilidade, informação, conectividade, responsabilidade, privacidade, adoração e sabedoria se encaixam na experiência digital da pessoa. Eficácia A tecnologia digital funciona como economia de tempo, pois ela pode rapidamente e eficientemente organizar a execução de tarefas e proporcionar o acesso a grandes quantidades de informações. Contudo, pode muitas vezes drenar o seu tempo. O que começa como uma busca digital focada pode muito facilmente leva-lo a uma busca sinuosa, trivial, distraída de um link a outro, verificação de mídia social, ou responder mensagens. Assim, uma grande vantagem da tecnologia digital pode ser descompensada pelas tentações inerentes ao próprio meio cibernético. Desperdício de tempo em trivialidades, tomando o tempo do estudo da Bíblia. A reflexão e uma vida devocional saudável é um grande desafio na era digital; é uma questão de mordomia que deve ser seriamente considerada. Assim como usamos nossos dispositivos digitais, devemos estar cientes de que a gestão do tempo pode ser um sério desafio a superar. Nunca antes o conselho inspirado é tão pertinente como agora: "Ande prudentemente, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus" ( e 16). Acessibilidade Muitos aplicativos, sites e outros softwares fornecem acesso à Palavra de Deus em qualquer lugar imaginável ou circunstância. Tanto que na igreja, muitos adoradores preferem ler a Bíblia a partir de seus aparelhos, em vez de um volume impresso. No entanto, os nossos dispositivos digitais geralmente também possuem uma série de outros aplicativos além da Bíblia, em alguns casos, até mesmo uma conexão com a Internet, daí a tentação na igreja para navegar na web, verificar e-mails, e participar de mídia social podem dominar o adorador. Os antigos israelitas enfrentaram a tentação constante de trocar a adoração do verdadeiro Deus por rituais pagãos realizados em lugares altos e debaixo de árvores sagradas. Tentações semelhantes assaltam muitos adoradores atualmente como "deuses virtuais”19 que seduzem o adorador da adoração verdadeira. No entanto, o primeiro mandamento nos lembra: "Não terás outros deuses diante de mim" (). 9 Informação Um dos principais benefícios da tecnologia digital é o acesso rápido a dados e a informação. No entanto, essa grande quantidade de dados e informações, é normalmente acessada em varreduras rápidas, provavelmente, sem merecer nossa atenção. Estas verificações rápidas tendem a comprometer a capacidade de pensar profundamente e se concentrar em uma ideia específica.20 Como um autor cristão explica; As pessoas que passam longas horas lendo livros com ideias complexas tendem a se tornar bons nesta tarefa. Da mesma forma, as pessoas que passam seus dias consumindo pequenos pedaços das informações, tais como mensagens de texto ou atualizações de status, tendem a ter mentes particularmente adequadas para o desempenho dessas funções. Mas, assim como é difícil dominar, corridas de longa distância e levantamento de pesos nas pernas ao mesmo tempo, estas duas tarefas mentais são mutuamente até certo ponto exclusivas.21 Uma pesquisa recente mostra que por causa da tecnologia digital, a atenção humana caiu de uma média de 12 segundos no ano 2000, para apenas 8 segundos hoje (menos do que a de um peixinho dourado, que é em média de 9 segundos).22 Além disso, a memorização da Bíblia tende a ser negligenciada uma vez que qualquer passagem pode ser rapidamente encontrada em um dispositivo digital. Ciente desses riscos digitais, devemos nos esforçar pelo pensamento mais profundo, reflexão e meditação, lidando com a Palavra de Deus de forma responsável. O pensamento superficial, inevitavelmente, leva a vida fútil.23 À medida que navegamos com nossos dispositivos digitais vamos sempre ter em mente o que o Senhor disse a Josué: "Este livro da lei não se aparte da tua boca, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo o que nele está escrito. Então você vai prosperar nos seus caminhos, e então você terá sucesso"(). Conectividade A tecnologia digital permite-nos conectar com outras pessoas, estabelecer relacionamentos e fazer amizades e comunidades que não seriam de outro modo possível. A vida da Igreja também se beneficiou com a mídia digital, transcendendo fronteiras geográficas em espalhar a mensagem do evangelho e fornecendo serviços de culto para muitos que de outra forma seriam privados de tal experiência. Infelizmente, algumas pessoas optam por uma experiência de adoração “impessoal” na frente de um computador, em vez de comparecer fisicamente na igreja para desfrutar da presença em pessoa de outros crentes. Estes adoradores perdem o privilégio de experimentar a presença física de outros crentes e todas as responsabilidades que decorrem de uma verdadeira comunidade na igreja. O culto mediado ou virtual, apesar de aceitável em circunstâncias atenuantes, nunca pode substituir adequadamente as bênçãos da presença pessoal. Fomos criados para os relacionamentos face-a-face e interação não mediada com Deus e com nossos companheiros seres humanos. Curiosamente, embora o apóstolo João muitas vezes usou a tecnologia da escrita para se comunicar com a igreja, ele reconheceu que um encontro face-a-face era muito melhor: "Tendo muito que escrever para vocês, eu não queria fazê-lo com papel e tinta; mas espero chegar até vocês e falar face a face, para que a nossa alegria seja completa "(2 ). Enfatizando o valor final de um encontro face-a-face, a Bíblia diz que um dia veremos a Deus face a face (; Co 13:12; 1 ). E o livro de Apocalipse conclui afirmando que na Nova Jerusalém, os remidos verão a face de Deus (). Privacidade Devemos também ter em mente 10 muito mais. Nossos mecanismos de pesquisa podem saber mais sobre nós do que o nosso cônjuge, pastor, ou psicólogo. Se nossas pesquisas indicam o que está dentro de nosso coração, nossos dispositivos dizem onde temos andado. Um certo autor cristão descreve da seguinte maneira: Passei alguns minutos lendo as manchetes em um site de notícias. Olhei os últimos artigos do blog coletados por meu leitor de RSS e entrei no Facebook para ver o que meus amigos têm feito. Mesmo nessas poucas atividades inócuas, deixei para trás um rastro de dados. Minha operadora de telefonia celular tem me monitorado enquanto andei de casa até a cafeteria, e até neste momento ela pode obter uma leitura sobre a minha localização com precisão de poucos metros, certamente precisão suficiente para saber que estou neste edifício. Poucos minutos atrás, o meu iPhone enviou o equivalente a doze horas de informações de localização da Apple em GPS, conexões Wi-Fi e torres de telefonia celular. O Facebook sabe os endereços de Internet que visitei, sabe o computador que estou usando, sabe cada um dos anúncios que eles mostraram para mim, e sabe que eu não cliquei em nenhum deles. O Google sabe quais blogs visitei esta manhã e sabe que fiz uma pesquisa ou duas enquanto isso. O MasterCard sabe onde estou, ou pelo menos eles sabiam onde eu estava cerca de quinze minutos atrás, uma vez que agora eles têm um registro da compra que fiz (um bom sanduíche de ovo frito, se você quer saber). Uma câmera de segurança no banco ao lado tem armazenado algumas imagens minhas enquanto depositava um cheque no caixa eletrônico. Todos esses dados foram gravados em algum lugar, em muitos lugares, na verdade. E esses dados provavelmente permanecerão lá para sempre. Será uma exceção e não a regra, se os dados chegarem a serem excluídos.24 Assim, embora possamos ter a impressão de que o que fazemos na web é privado, nossas vidas estão mais expostas ao público hoje do que nunca. Com tanta visibilidade podemos trazer tanto honra como vergonha para o nome de Deus. Assim que ao nos envolvermos com uma ferramenta útil, embora potencialmente arriscada como a Internet, devemos ter em mente o conselho de Paulo: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (). Adoração Outra questão que merece consideração diz respeito ao aumento do uso de bíblias digitais na igreja, especialmente por jovens, os chamados "nativos digitais”. 25 Os membros tradicionais da igreja podem se sentir desconfortáveis com esta situação. Afinal de contas, carregar uma Bíblia impressa pessoal à Igreja transmite a imagem de um cristão fiel. No entanto, um olhar mais atento sobre alguns desenvolvimentos históricos adverte contra qualquer posição dogmática. A este respeito, deve-se lembrar que desde os tempos de Moisés até a Reforma, crentes comuns raramente possuíam uma cópia pessoal da Bíblia. Eles se encontravam com a Palavra de Deus quando se reuniam para adorar nas instalações do templo, sinagogas e igrejas. Cópias manuscritas eram tão caras que apenas padres, rabinos e outroslíderesreligiosos podiam compra-las, e mesmo assim principalmente para uso da comunidade. Com o advento da imprensa, as famílias puderam comprar uma cópia das Escrituras. Mas foi só no século XX que as pessoas comuns puderam possuir uma cópia da Bíblia, e assim, levá-la à igreja.26 Portanto, não há razões históricas ou teológicas sobre as quais devamos rejeitar um meio em favor de outro. Pode-se argumentar que uma cópia impressa da Bíblia pode carregar poder simbólico mais forte, porque o meio reforça a mensagem. Uma Bíblia digital, por outro lado, geralmente tem de competir com os outros aplicativos existentes no dispositivo. Aqueles que optarem por uma Bíblia digital são mais propensos a distrações, como já mencionado. Apesar destas considerações, não devemos restringir a Bíblia a um meio específico. Acima de tudo, devemos nos concentrar em incentivar os nossos jovens a estudar a Bíblia, seja em uma tela ou impressa. Afinal, quer consagrado em um manuscrito, um volume impresso, ou um aplicativo digital, "a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e dasjuntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração"(). 11 Sabedoria À medida que a tecnologia de comunicação mais fascinante e revolucionária, a Internet constitui uma combinação de livro, rádio, fotografia, telégrafo, televisão, telefone etc. Tal tecnologia poderosa acessada a partir de nossos dispositivos digitais cria uma sensação de poder ilimitado sobre qualquer tipo de informação que podemos estar interessados ou curiosos. E, ao contrário da maioria das tecnologias anteriores, a Internet é uma via de mão dupla. O usuário também pode responder, reagir e publicar conteúdo sem qualquer necessidade de avaliação por parte do outro. Por conseguinte, como um erudito, ele "maciçamente desestabiliza as estruturas do conhecimento estabelecidas por séculos de impressão (direção editorial, revisões do outro, aprovações governamentais ou eclesiásticas, e assim por diante)”. 27 Para navegar de forma adequada em tal mar de informações temos que discernir a verdade do erro de formas não previstas pelas tecnologias anteriores.28 É instrutivo saber que os mecanismos de pesquisa, por exemplo, medem a verdade por relevância, e wikis medem a verdade por consenso. A questão crítica, como um autor cristão observou, não é se a Wikipédia é boa ou má, ou se mecanismos de pesquisa são bons ou maus. A questão é sobre a verdade, a maneira como nossas tecnologias estão mudando a nossa própria concepção de verdade. Isso aconteceu com o advento da fotografia também. Em uma época de impressão, acreditávamos no que liamos. Mas em uma era de fotografia, de imagens, em algum lugar ao longo do caminho nós decidimos que uma imagem vale 1.000 palavras, que as imagens têm mais peso e autoridade na arena da verdade. Começamos a acreditar no que vemos em vez do que lemos, muitas vezes exigindo provas visuais antes de acreditar em qualquer coisa. Em algum lugar ao longo do caminho a imagem mudou o modo como entendemos a verdade.29 Isso altera, de forma fundamental, a concepção da verdade e o que constitui autoridade. O mesmo autor adverte que, como "Cristãos, sabemos que este caminho é nada mais que um beco sem saída. O conhecimento e a verdade não podem ser democratizados; eles fluem do Deus que é a verdade, à medida que criar, e utilizamos tecnologias digitais como wikis e ferramentas de busca para acessar informações, devamos nos resguardar do perigo de permitir que elas nos recriem à sua própria imagem".30 Assim, a fim de perceber melhor a utilidade e os limites da Internet e os dispositivos tecnológicos que acompanham, podemos aplicar um modelo que organiza o conteúdo da mente humana em cinco categorias: dados (símbolos), informações (dados processados que respondem as perguntas a quem, o quê , onde e quando), conhecimento (aplicação de dados para responder as perguntas "como"), a compreensão (valorização do "porquê") e sabedoria (compreensão analítica).31 A tecnologia pode ser útil como tentativa de adquirir as primeiras duas ou três categorias. Mas nenhuma tecnologia pode substituir a mente humana quando se trata de compreensão e sabedoria. Hoje em dia as pessoas tendem a confundir dados, informações e conhecimento com compreensão e sabedoria. Para lidar com a grande quantidade de dados, informações e conhecimento e transformá-los em compreensão e sabedoria, precisamos fazer uso adequado de nossas faculdades intelectuais. Nenhuma máquina pode substituir nosso cérebro à medida que separamos o bom do ruim e transformamos o conhecimento em compreensão e sabedoria para navegar na vida real. Mas, afinal, com uma quantidade tão esmagadora de dados e informações sendo derramado sobre nós, devemos sempre ser lembrados desse axioma sapiencial: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e o conhecimento do Santo é entendimento" (). Conclusão A fidelidade a Deus não exige ignorar, temer, ou rejeitar a tecnologia digital. Na verdade, nós devemos ser gratos de viver em uma época em que a tecnologia digital torna o conhecimento disponível como nunca antes e nos permite executar tarefas e ficar conectados 12 com entes queridos. É nossa responsabilidade viver a vida digital de maneiras que honrem a Deus, mostrar amor e respeito para com o próximo, e cuidar do mundo criado. Assim, um uso piedoso de dispositivos digitais é aquele que honra a Deus com a mordomia fiel dos nossos recursos digitais. Para concluir ofereço algumas sugestões práticas sobre como honrar a Deus com os dispositivos tecnológicos: (1) Quando pegar o seu smartphone ou qualquer outro dispositivo digital cada manhã, em primeiro lugar abra o aplicativo da Bíblia e comece o seu dia digital com a leitura da Bíblia. (2) Durante o dia, o mais frequente possível, abra o aplicativo da Bíblia em seu smartphone ou tablet e medite em uma passagem bíblica. Uma vez que o telefone celular faz com que você esteja sempre disponível para os outros, por que não deixar que Deus chegue até você através da Sua Palavra? (3) Dê prioridade a presença em pessoa ao invés do uso do smartphone. Em outras palavras, não interrompa uma conversa ou interação face-a-face para atender seu telefone celular ou verificar e-mails (a não ser em circunstâncias atenuantes). (4) Durante as refeições, culto familiar, e outras interações face-a-face, deixe de lado seus aparelhos para melhor aproveitar a presença pessoal de seus entes queridos. Você pode ter melhores ideias e maneiras de atingir esse objetivo proposto. A questão principal é: Seja o mestre de sua tecnologia, nunca o escravo. Assuma o controle de seus dispositivos tecnológicos e viva sua vida na web de forma a trazer honra a Deus. Em última análise, o princípio fundamental para guiar-nos como lidamos com nossa tecnologia digital continua a ser a recomendação antiga, mas sempre atualizada: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus" (1 Cor 10:31
Bibliografia
Artigo de Elias Brasil