Jesus é Superior aos Anjos
Jesus é Superior aos Anjos
A preocupação do escritor é provar qual é o ofício de Cristo.
Hoje, nossa tarefa frente aos papistas é a mesma; pois confessam conosco que Cristo é o Filho de Deus, o Redentor que fora prometido ao mundo; quando, porém, nos aproximamos da realidade, descobrimos que o despojam de mais da metade de seu poder.
Sustentar é usado no sentido de cuidar e de conservar toda a criação em seu próprio estado. Ele percebe que tudo se desintegraria instantaneamente se não fosse sustentado por sua munificência. O pronome demonstrativo seu pode ser aplicado em referência tanto ao Pai quanto ao Filho: pode ser traduzido como [poder] “do Pai” ou “seu próprio” [poder]. Sinto-me inclinado a aceitar a última tradução, visto ser mais amplamente aceita e se ajusta melhor ao contexto. Literalmente, lê-se “pela Palavra de seu poder”, mas o genitivo tem a força de um adjetivo em concordância com o idioma hebreu. Não há nenhum apoio para a tortuosa explicação de alguns sobre o fato de Cristo sustentar todas as coisas pela palavra do Pai, quando ele mesmo é a Palavra. Não há qualquer necessidade de uma exposição tão forçada, pois Cristo não é chamado ῥῆμα, e sim λόγος.8 Palavra, aqui, significa simplesmente vontade, e a essência de tudo consiste em que Cristo é quem sustenta o mundo inteiro tão-somente pela instrumentalidade de sua vontade, ainda que não tenha recusado a tarefa de efetuar nossa purificação.
Essa é a segunda seção da doutrina que é tratada nesta Epístola. Toda a discussão se acha expressa dentro destes dois tópicos – que Cristo, a quem é dada a suprema autoridade, deve ser ouvido antes de todos os demais; e assim como por meio de sua morte nos reconciliou com o Pai, ele pôs fim aos antigos sacrifícios. Eis a razão por que essa primeira sentença, que se encontra na forma de uma proposição geral, contém duas partes.
Quando o escritor diz: por si mesmo, há que entender-se que existe aqui uma antítese implícita, ou seja: que ele não foi auxiliado, em seu propósito, pelas sombras da lei mosaica. Ele mostra uma nítida diferença entre Cristo e os sacerdotes levíticos. Na verdade lhes foi dito que perdoassem os pecados, mas esse poder lhes foi concedido de uma outra fonte. Em suma, sua intenção é excluir todos os demais meios ou mediadores, colocando em Cristo tanto o valor quanto o poder de nossa purificação.9
Para expressar a excelência do Filho de Deus, o escritor de Hebreus descreve o que Deus fez.
Deus nomeou seu Filho como herdeiro de todas as coisas. Um herdeiro herda por direito tudo o que o pai estipulou em seu testamento. Como o único Filho, Jesus herda tudo que o Pai possui. Incompreensível! Ininteligível!
Não pode ser determinada a época em que Deus nomeou o Filho como herdeiro de todas as coisas. O Filho pode ter sido designado herdeiro no eterno plano de Deus. Jesus pode ter sido nomeado herdeiro quando, na plenitude do tempo, ele entrou no mundo, ou quando ele anunciou a Grande Comissão: “Toda a autoridade no céu e na terra foi dada a mim” (Mt 28.18).
O escritor de Hebreus imediatamente esclarece o termo todas as coisas ao dizer que Deus fez o universo por meio de seu Filho. A frase, obviamente, refere-se à narrativa da criação nos primeiros capítulos de Gênesis. Muitas pessoas pensam que o Novo Testamento, que fala da redenção, nada tem a dizer sobre a criação. No entanto, o Novo Testamento não é inteiramente silencioso a respeito desse assunto; tanto Paulo como o escritor da Epístola aos Hebreus ensinam que Jesus estava ativo na obra da criação. Em sua discussão sobre a supremacia de Cristo, Paulo ensina: “Pois por meio dele todas as coisas foram criadas…; todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele” (Cl 1.16). E João, em seu Evangelho, confirma a mesma verdade: “Por meio dele todas as coisas foram feitas, sem ele nada do que foi feito se fez” (1.3).4
Por meio de seu Filho, Deus fez o universo. É impossível ao homem entender a plena importância desta afirmação, mas um entendimento completo não é o objetivo nesse ponto. Contudo, é importante reconhecer a majestade do Filho de Deus, que estava presente na criação e é o soberano Senhor de todas as coisas criadas. Ele é Deus.
A palavra universo significa, em primeiro lugar, o cosmos, o mundo criado em toda a sua totalidade; e, secundariamente, todas as estrelas e planetas que Deus criou. Porém, o significado é muito mais compreensivo, porque envolve todos os eventos ocorridos desde a criação deste mundo. Refere-se à Terra e à sua história através dos tempos. A palavra tem sido interpretada como “a soma dos ‘períodos de tempo’, incluindo tudo que é manifesto neles e ao longo deles”.5 Não se refere ao mundo como um todo, mas a toda a ordem criada que continuou a desenvolver-se no decorrer dos tempos.
“Ele assentou-se à mão direita da Majestade no céu” (cf. Rm 8.34; Ef 1.2; Cl 3.1). As expressões assentou-se e mão direita não devem ser tomadas literalmente, mas simbolicamente. A ideia de assentar-se à mão direita de alguém significa um privilégio dado a uma pessoa altamente honrada. Nesse caso, significa que o Filho tem, agora, autoridade para governar seu reino mundial na terra, e está entronizado acima de todos os poderes espirituais “nos lugares celestiais”. O reino pertence a ele, e Deus lhe deu “o nome que está acima de todo nome, de modo que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, nos céus e na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai” (Fp 2.9–11).