Sem título Sermão
Sermon • Submitted
0 ratings
· 26 viewsNotes
Transcript
/42
Na tradução da Boa Nova
“38 Jesus e os discípulos seguiam o seu caminho. Ao entrarem numa aldeia, uma mulher chamada Marta recebeu Jesus em sua casa. 39 Ela tinha uma irmã chamada Maria, que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir. 40 Ora Marta andava muito atarefada, por ter muito que fazer. Aproximou-se e disse: Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só com todo o trabalho? Diz-lhe então que me venha ajudar. 41 Mas Jesus respondeu: Marta, Marta, andas preocupada e aflita com tantas coisas, 42 quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.”
Marta e Mariam, como está nos textos originais e que está traduzido por Maria, mas também podia ser Miriã, que também existe em português, são as duas principais personagens desta passagem bíblica. Sabemos no entanto, pelo evangelho de João, em , que eram irmãs e que havia mais um familiar que vivia com elas, que os irmãos conhecem. Também lá estava Lázaro que Lucas não menciona, porque a sua intenção foi somente descrever a atitude de Jesus neste caso e o evangelista não se preocupou em nos “apresentar toda a família”.
Lucas diz que Marta recebeu Jesus em sua casa, pelo que suponho que seria uma viúva, que tinha herdado a casa do seu marido, pois se a herdassem dos seus pais, a casa seria só de Lázaro, de acordo com as leis dessa época em que as filhas só eram herdeiras se não houvesse filhos. Deuteronômio 21:15/17
Talvez Lázaro fosse o mais novo, ainda um jovem, pelo que nem é mencionado por Lucas.
Estas duas irmãs, Marta e Maria, pode-se dizer que representam dois tipos diferentes de crentes, duas tendências opostas, ou duas maneiras de seguir a Jesus, que ainda hoje vemos nas nossas igrejas.
É interessante que Lucas descreve este acontecimento logo a seguir à parábola do Bom Samaritano.... Haverá alguma relação nesta sequência que Lucas dá no seu evangelho?
Penso que sim, pois na parábola do Bom Samaritano, que os irmãos conhecem bem, temos uma exortação à prática da religião que produz frutos, que mostra as suas obras. Talvez Lucas, quando escreveu a parábola do Bom Samaritano, tenha pensado....... Quem ler isto, vai certamente dizer: Então é isto que Cristo deseja. Nesta parábola do Bom Samaritano está bem claro que o importante são as acções e não a parte devocional, pois Jesus elogiou o Samaritano que teve a iniciativa de ajudar e não o sacerdote ou levita... Então, para que ninguém pensasse numa salvação através das obras, Lucas coloca esta descrição do que se passou em casa de Marta, em que Jesus elogiou Maria que esteve aos seus pés, ouvindo os seus ensinos.
Vejamos, como conciliar estes dois ensinos, aparentemente opostos, da parábola do Bom Samaritano, e da atitude de Jesus em casa de Marta.....
Se olharmos para o que se passa nas nossas igrejas, penso que todos nós temos uma certa tendência para enveredar pela nossa identificação com um destes dois tipos de crente, pois raros são os que conseguem manter um equilíbrio entre o que poderíamos chamar de “cristianismo devocional” e um “cristianismo operacional”.
Normalmente, ou nos tornamos cada vez mais eficientes na parte operacional como a elaboração das Actas das Assembleias, ou o arranjo das flores, os relatórios, os chás das senhoras, as contas da igreja... etc, acabando por negligenciar a parte devocional, ou pelo contrário, nos dedicamos às pregações e estudos bíblicos e não temos tempo para os outros trabalhos duma igreja.
Estive a pensar na pergunta do domingo passado: Qual a nossa escolha? Marta ou Maria?......
É uma pergunta difícil, que me levou a pensar no assunto e daí resultou esta mensagem. Na minha precipitação, a primeira tendência que tive foi dizer: Vamos todos fazer como Maria. Deixem lá os outros trabalhos. Esse foi o pecado de Marta.
Mas então.... quem irá limpar e preparar o salão de cultos? Quem irá preparar e arranjar as flores?
Não é nada fácil responder à pergunta que nos foi colocada.
Depois de pensar no assunto, julgo que ambas as irmãs, tanto Marta como Maria, eram crentes muito dedicadas e comprometidas com o Reino de Deus, mas o relacionamento delas com o Mestre apontava para direcções e objectivos completamente opostos:
Maria queria estar diante de Jesus, para aprender, para ouvir, para adorar, para alegrar-se, para se aconselhar expondo os seus sentimentos abrindo a sua alma perante o Senhor.
Marta, queria apresentar um bom trabalho, a casa limpa e bem arrumada, a comida gostosa, queria tudo impecável para receber o Mestre.
Mas........ então? Haverá algum mal nisso? Não fazia Marta, todo esse trabalho por amor do Mestre?........
Certamente que as duas atitudes são necessárias. Jesus não disse que Marta tivesse procedido mal. Coitada.... ela era bem intencionada, mas com a sua preocupação com as coisas materiais, ela descurava, esquecia-se do seu próprio alimento espiritual.
Penso que Marta não estava em pecado, mas estava no que poderíamos chamar de pobreza espiritual.
Ela foi talvez a primeira dum tipo de pessoas do cristianismo dos nossos dias, que são pessoas boas, pessoas muito comprometidas com um cristianismo social, inteiramente absorvidas nos seus trabalhos, mas interiormente desiludidas, frustradas espiritualmente, porque toda a sua atenção está tão voltada para o seu serviço que nem têm tempo para buscar a comunhão com o Senhor.
Perderam o hábito de buscar a comunhão com o Senhor em oração, que consideram pura perda de tempo. Todo o tempo disponível é para o seu trabalho na igreja, mas sempre em aspectos materiais, pois não lhes resta tempo para ouvir a Jesus.
Pensando na parábola do Bom Samaritano, isto seria como que uma interpretação exagerada, ou talvez deturpada, pois a parábola do Bom Samaritano, que é uma parábola importantíssima, mas como todas as ilustrações, tem de ser interpretada tendo em atenção todos os ensinos de Jesus.
Esta atitude poderá até conduzir a um estado se semi-conversão, se é que se pode chamar assim.
Marta não compreendeu o que mais agradaria a Jesus.
Ela utilizou outras prioridades que não eram as prioridades do Mestre, mas as prioridades da sua própria maneira de pensar, da sua tradição, da sua cultura.
Ela quis iniciar logo o trabalho, sem ouvir primeiro a Jesus.
Penso que foi o Pastor Caio Fábio que contou que certo dia estava a orar de manhã, muito cedo, quando um jovem veio procurá-lo e disse: Pastor, desculpe incomodá-lo a esta hora, mas temos um assunto urgente para resolver.
O Pastor respondeu: A esta hora estou em oração, mas logo que puder eu vou. Ao ouvir isso, o jovem responde: Então... se está em oração.... se não tem nada que fazer...
Não será este o pensamento de Marta? O importante é actuar. Estar com o Senhor em oração não conta, é o menos importante. Vamos todos trabalhar. Agora não há tempo para oração. Depois pensamos nisso.
Quando dizemos que a reunião do Conselho da Comunidade ou a Assembleia da Igreja ou o Sínodo correu bem, se perguntarmos porque é que correu bem, normalmente as respostas que ouvimos são: Correu tudo bem porque todos os relatórios foram aprovados, as contas estavam certinhas, houve bons alojamentos para todos... a comida estava óptima....
Será que a mentalidade de Marta já passou à história, ou ainda permanece nos nossos dias?
Certamente que tudo isso é importante. O serviço de Marta é importante, é imprescindível nas igrejas dos nossos dias.
Mas, há tempo para tudo. Tempo para estar com Jesus e tempo para servir a Jesus.
Esta sequência é muito importante e não pode ser invertida. Não podemos começar por servir ao Senhor, sem primeiro o ouvir.
Se queremos ser crentes eficientes, primeiro temos de estar com Jesus, ouvir os seus ensinos, compreender os seus métodos de trabalho, receber as suas instruções, porque só depois disso, estaremos aptos para trabalhar para ele.
O grande perigo, não só da IEPP, mas duma maneira geral, das igrejas dos nossos dias é a mentalidade de Marta.
É o perigo de nos transformarmos em Martas com muita actividade e pouca dependência do Senhor.
É essa mentalidade que pode levar as igrejas a esquecer a pregação do genuíno Evangelho, para se transformarem em instituições de solidariedade social.
Certamente que a Igreja não pode ser indiferente aos problemas sociais, mas essa não é a sua principal função. A principal função da Igreja, que está um pouco esquecida nos nossos dias, é a proclamação da mensagem do Evangelho, é a mensagem de que o homem está perdido e condenado à eterna destruição (eles já contam com isso), mas que a solução não está nos sistemas económicos, não está no acumular das riquezas, nem está nas igrejas, mesmo nas igrejas evangélicas.
Todas as nossas igrejas falham, e cometem graves erros... Elas não são a solução, pois somente Jesus Cristo é a solução.
Até que o Senhor volte, haverá sempre Marias e haverá sempre Martas, e graças a Deus pelas duas. É bom que cada um de nós tenha um pouco de Maria e um pouco de Marta, pois a igreja necessita das duas.
Geralmente as pequenas missões, têm-se mantido afastada dos vários problemas das igrejas que roubam muito tempo aos crentes, por vezes até com certo prejuízo dos cultos, quando estes são encurtados e o mais grave é quando após os cultos, a atenção dos crentes é desviada pelos vários anúncios de assuntos a tratar e os crentes terminam o culto, não a pensar na mensagem que ouviram, mas a apensar nos vários assuntos que têm de resolver... Penso que é um mal necessário, pois há sempre trabalhos que têm de ser feitos, mas devemos estar atentos para não nos acontecer como aconteceu a Marta, para não nos deixarmos absorver pelos vários assuntos a tratar a ponto de prejudicarmos a nossa comunhão com o Senhor.
É por isso, que quando dirijo um culto, prefiro fazer os anúncios, tirar a colecta e tratar de todos os assuntos primeiro, deixando a pregação para o fim.
Depois da pregação só deve haver a oração de encerramento e um hino apropriado à mensagem, para que possamos sair do culto a pensar na Palavra do Senhor e não nos vários assuntos a tratar.
Devemos defender intransigentemente que a mentalidade de Maria continue a ser a principal, sem descurar os trabalhos de Marta.
Mas vejamos a atitude de Marta quando disse: Senhor, não te preocupa que a minha irmã..... Há geralmente uma certa tendência dos crentes tipo Marta julgarem que o seu trabalho é o mais importante. Marta não compreendeu a atitude de Maria e tentou converter Maria à sua mentalidade, pois para ela, só o trabalho material é que contava.
Marta é o tipo de crente que dá nas vistas... poderá ser até o presbítero ou o pastor que é responsável por isto e por aquilo e mais aquilo, é o “crente indispensável” que acumula todos os cargos possíveis, que corre para cá e para lá e nunca tem tempo para nada, nem mesmo para orar...
Muitas vezes, não tanto por culpa dele próprio, mas as circunstâncias e a falta de colaboração dos outros, podem transformar-nos em Martas, acumulando-nos com responsabilidades a ponto de nos roubar o tempo para estar a sós com o Mestre e compreender as suas prioridades.
Quantas pessoas há nas igrejas, que apresentam trabalho eficiente e útil sob o aspecto material, mas que são incapazes de dirigir uma oração ao Senhor.
Situação bem triste, pois afinal, toda a Igreja beneficia do trabalho desse tipo de crentes continuando eles próprios em pobreza espiritual por falta de tempo para estar com Jesus.
Esta passagem mostra, que não é só o pecado que nos pode afastar de Jesus.
Muitas vezes, pode acontecer-nos como aconteceu a Marta em que foram os próprios trabalhos que ela fazia para Jesus, que a impediram de estar com o Mestre.
Mas qual será o significado da afirmação de Jesus de que Uma só coisa é necessária?
Será que as outras coisas não eram necessárias?
Penso que Jesus, com essa expressão, queria realçar a suprema necessidade da proclamação do Evangelho.
Há muitas coisas que são boas.... e são lícitas: A saúde, o dinheiro, a posição social, a prosperidade, tudo isso é bom e é lícito. Não há mal nenhum nisso.
Mas, há muitos que vivem sem ter saúde, sem ter o dinheiro necessário e sem terem uma vida próspera.
Não devemos ser indiferentes a essas necessidades, mas o que não podemos é considerá-las prioritárias em relação à pregação do Evangelho.
A Graça de Deus e a salvação de Jesus é a maior prioridade.
A princípio isto pode levantar algumas dúvidas, mas à medida que os anos vão passando, por mais que se faça, os cabelos brancos aparecem, a saúde vai enfraquecendo, o dinheiro acaba-se, ou pelo menos diminui, a posição social também se acaba quando chegamos à idade da aposentação e quando já velhos, não podemos trabalhar, não podemos pensar em prosperidade, mas a salvação de Jesus, essa nunca acaba.
Não será essa a única coisa necessária? As outras são lícitas, mas são secundárias. A salvação de Jesus é a única coisa que é prioritária.
Há um ditado popular que diz que nada levaremos deste mundo,.... mas penso que não é verdade.
A salvação de Jesus, essa permanece para sempre. Essa levaremos connosco, pois foi o Mestre que assim o prometeu.
Podemos dizer que ambas as actividades, de Maria e de Marta, são necessárias, mas se queremos ser crentes conscientes, crentes adultos espiritualmente, crentes úteis à igreja, temos de nos preocupar com ambas as actividades, mas, como já dissemos, há uma sequência que é muito importante:
Primeiro devemos acompanhar Maria, devemos sentar-nos aos pés de Jesus, para ouvir o Mestre, pois sem ele, nada de útil poderemos fazer.
O mal de Marta, não foi o facto de trabalhar para Jesus, mas o facto de ter tentado ser útil sem primeiro tentar compreender o que o Mestre queria dela.
Trabalhar para Jesus sem primeiro o ouvir, apesar de toda a nossa boa vontade, certamente que nos levará a servi-lo de acordo com os métodos deste mundo, que nem sempre são válidos no Reino de Deus.
Há uma diferença básica entre a visão do homem secularizado e a visão do crente.
O homem secularizado, o homem do nosso tempo, regula-se pelo que se chama a deificação da mente humana, pois em última instância, é o seu raciocínio que decide o que deve fazer. Embora possa ponderar toda a informação que lhe chega, do que aprendeu, da mensagem de Jesus e da sua experiência, as instruções do Mestre estão em pé de igualdade com muita outra informação e é somente o seu raciocínio que decide o que fazer.
O crente, não pode, nem deve de maneira alguma, prescindir do seu raciocínio, pois este não só, é criação do Senhor, como a própria Bíblia nos incentiva a servir ao Senhor com todo o nosso coração, toda a nossa alma, todas as nossas forças e todo o nosso entendimento.
Mas o homem natural necessita dum novo nascimento, duma nova maneira de pensar, pelo que primeiro temos de compreender o pensamento de Jesus, para podermos actuar em sintonia com os seus pensamentos, para podermos falar como ele deseja e como ele falaria se estivesse fisicamente presente. Temos de nos tornar.... mais parecidos com Jesus, se queremos ser úteis no seu Reino.
Para terminar, podemos dizer que a mentalidade de Marta continua bem viva nos nossos dias, sempre que nos preocupamos demasiado com o que Deus quer fazer por nós, quer fazer por nosso intermédio, julgando-nos preparados para o servir e ignoramos o muito que Deus tem de fazer previamente em nós, para que possamos ter alguma utilidade na sua obra.
Espero que não me levem a mal, se lhes disser que,.... o que Deus quer fazer em nós, deve ser sempre muito mais importante do que aquilo Deus quer fazer por nosso intermédio.
Se queremos ser úteis no serviço do Mestre, que possamos em primeiro lugar implorar ao Senhor que nos conceda a todos nós, a compreensão necessária do seu pensamento, da sua vontade, que nos conceda o novo pensamento, a nova mentalidade e que possa purificar e aumentar as nossas capacidades intelectuais, para que possam estar ao seu serviço, para que possa surgir uma nova igreja em que Jesus não seja somente um símbolo do passado, mas que seja o verdadeiro dirigente e orientador de cada um dos seus membros.