Deus conosco: graça, verdade e glória

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No texto de hoje, o versículo 14 resume a grande ideia por trás do texto, e os demais versículos servem de apoio, testemunhando, exemplificando ou detalhando que “...o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Vejamos então o que o mistério da encarnação proporcionou ao povo de Deus.

Notes
Transcript

Saudação: Saúdo os irmãos com a paz e graça de nosso Senhor Jesus Cristo.

Introdução

No natal, tipicamente as igrejas presbiterianas meditam sobre o mistério da encarnação de Cristo Jesus. O eterno e santo Filho de Deus, o próprio Deus, nasce em meio à humanidade pecadora. O milagre da encarnação é algo que foge de nossa lógica humana: como pode o infinito Deus se fazer em finito homem? Como pode o Criador todo-poderoso se esvaziar e nascer como criatura? No entanto, é exatamente isto que a Bíblia nos diz que aconteceu. A encarnação ocorre para efetivar a redenção humana, de modo a trazer uma forma renovada de existência humana:

The incarnation is for the purpose of humanity’s entrance into trinitarian relations.… Incarnation is for the sake of human redemption, in other words. The ultimate point of the incarnation is not to give the Word a human shape but to bring about an altered manner of human existence, one realizing on a human plane the very mode of existence of the second person of the trinity.… Humanity is to take on the very manner of existence of the Word as that is displayed in the Word’s relations with the other members of the trinity.[1]

No texto de hoje, o versículo 14 resume a grande ideia por trás do texto, e os demais versículos servem de apoio, testemunhando, exemplificando ou detalhando que “...o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Vejamos então o que o mistério da encarnação proporcionou ao povo de Deus:

a) Pela encarnação Deus habitou entre nós

É interessante a escolha de palavras: não é “Deus nos visitou”, ou “Deus andou entre nós”, e sim “Deus habitou entre nós”.

1) “Habitou em uma tenda entre nós”

O verbo empregado[2] significa literalmente “armou sua tenda”, como uma reminiscência dos dias dos patriarcas, em que o povo de Deus não se fixava em ponto algum, mas reconhecia o caráter transitório desta vida. Também nos lembra dos tempos do Tabernáculo, em que este era armado para que o povo de Deus pudesse adorá-lo conforme prescrito por Deus. Assim, Deus efetivamente habitou temporariamente entre suas criaturas – não veio em aparência de homem, não veio como espírito apenas, mas efetivamente se encarnou – literalmente, nasceu[3] carne – veio ao mundo no estado natural de homem [4].

Jesus por sua graça conheceu nossas aflições, nossas dores, nosso sofrimento. Ele foi tentado, ele foi maltratado, ele foi desprezado e ele foi morto – mas como Deus, retoma a sua vida ao terceiro dia, derrotando assim a morte e o pecado, e nos comprando para si. Jesus não foi mero vizinho ou conhecido, o qual apenas cumprimentamos e mal sabemos coisa alguma sobre ele. Ele habitou entre nós para ter intimidade com o seu povo.

Que motivos te levam a não ter intimidade com Jesus?

2) O testemunho de João Batista

João Batista Testemunhou acerca de Jesus. Certa vez, indagado sobre ser ele, João, o messias, ele se identificou como a voz do que clama de Isaías 40.3-5:

3 Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. 4 Todo vale será aterrado, e nivelados, todos os montes e outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos, aplanados. 5 A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá, pois a boca do Senhor o disse.[5]

Ele tinha a noção que o ministério dele era de preparação para a vinda do Messias: “Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim” (v.15). Aqui está um fato interessante: pela leitura do Evangelho de Lucas, vemos que João Batista era mais velho que Jesus[6]. No entanto, João Batista cria no Verbo divino encarnado, motivo pelo qual declarou que Jesus já existia antes dele próprio.

3) O Verbo encarnado: o unigênito do Pai

E este é um ponto que é essencial para nós: Jesus é homem, mas também é Deus. Sua natureza divina não se altera com a encarnação – a natureza humana é que lhe é acrescentada. Se, pela adoção, somos feitos filhos de Deus, Jesus é o unigênito do Pai[7], o filho unigênito, a segunda pessoa da Trindade. Igual a ele não há.

Se pela encarnação Deus habitou entre nós, é igualmente verdade que:

b) Pela encarnação temos acesso à Sua plenitude de verdade e graça

A palavra “graça” aparece no Evangelho de João apenas neste parágrafo (v. 14, 16, 17)[8]. Ao introduzir referência à graça de Deus no final do prólogo do evangelho de João, faz-se a ligação de que este é um dos temas transversais do evangelho, ainda que de forma não declarada.

1) Jesus é a fonte de todas as bênçãos

Primeiramente, cumpre lembrar que todas as bênçãos vêm de Jesus. Recebemos graça de Jesus: “...todos nós temos recebido da sua plenitude...” (v.16). Ele é a plenitude da graça ao encarnar para pagar o preço de nossos pecados na cruz, e ressuscitar ao terceiro dia.

2) Jesus é a plenitude da verdade e graça

Se o v. 14 traz a expressão “cheio de graça e de verdade”, o v.16 declara “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça”. Jesus não é somente pleno de verdade, ele é a própria verdade encarnada: “eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Outro tema transversal de João é a comparação entre Moisés e Jesus. No v. 17 temos uma contraposição dos dois: “...a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”[9] – literalmente, “a graça e a verdade nasceram por meio de Jesus Cristo”.

3) Graça sobre graça[10] = A graça infinda de Deus

Aqui temos uma expressão sem igual: graça sobre graça. No original, temos literalmente “graça”, como objeto direto, “contra” ou “em lugar” [11] de “graça” como qualidade. Então temos uma alusão à graça vindoura substituindo a graça presente, graça no lugar de graça, graça sobre graça, uma graça superabundante e sem medidas. Podemos comparar esta sucessão de graça às ondas do mar: mal uma onda quebrou na praia, já outra se formou.

Não pensemos que não existem mais graças de Deus para nossas vidas. A graça de Deus não seca. Se nossas vidas estão como um poço seco de graça, precisamos avaliar o porquê estamos experimentando isto. Temos nos afastado de Deus? Fazemos o que o desagrada?

Assim, pela encarnação Deus habitou entre nós e pela encarnação temos acesso à Sua plenitude de verdade e graça. Saibamos também que:

c) Pela encarnação a glória de Deus se manifestou entre nós.

Quem poderia conhecer a glória de Deus? No Antigo Testamento, o temor e tremor para com Deus era tão grande que contemplar a glória de Deus era tido como motivo certo para a morte...

1) Necessitamos aprender a ver a glória de Deus

O verbo utilizado para “ver”, no v. 14, é um verbo incomum[12] para esta ação. Significa literalmente “olhar com atenção algo incomum”. O mesmo verbo é usado em João 1.32, para se referir ao batismo de Jesus:

32 E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele[13]

2) Vemos a glória de Deus por sua graça

No monte da transfiguração Jesus manifesta certa medida de sua glória. No entanto, Jesus expressa a glória de Deus de forma aperfeiçoada ao ressurgir dos mortos ao terceiro dia, com corpo ressurreto.

Se enxergássemos a glória e a bênção de Deus, como isso mudaria nossa atitude de adoração para com Deus?

Conclusão/aplicação:

Graça, verdade e glória. Estes são os três conceitos dominantes do texto de hoje: Deus habitou no meio de seu povo por sua graça, de modo que a plenitude de sua verdade e graça se tornou acessível ao seu povo, expressando assim a glória de Deus.

Jesus habitou no meio de seu povo, para ter intimidade conosco. O que te leva a não ter intimidade com Jesus? Intimidade se constrói com convívio. Você tem meditado diariamente na palavra de Deus? O tem buscado em oração? Tem dado tempo para ouvir a resposta de Deus?

A graça de Deus não seca. Se estamos experimentando um período de seca de graça, precisamos avaliar nossa vida. Temos nos afastado de Deus? Fazemos o que o desagrada? A graça de Deus vem para aquele que se mantém fiel a Deus. Com quem está a sua fidelidade?

Temos sido atentos com a glória de Deus? Se enxergássemos a glória e a bênção de Deus, como isso mudaria nossa atitude de adoração para com Deus?

[1] Susan K. Hedahl, Proclamation and Celebration: Preaching on Christmas, Easter, and Other Festivals, Fortress Resources for Preaching (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2012), 35.

[2] ἐσκήνωσεν – aoristo

[3] σὰρξ ἐγένετο

[4] Σάρξ, too, is strongly inclined to an abstract sense (the natural state of man). Friedrich Blass, Albert Debrunner, e Robert Walter Funk, A Greek grammar of the New Testament and other early Christian literature (Chicago: University of Chicago Press, 1961), 134.

[5] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Is 40.3–5.

[6] Lc 1:24-26

[7] μονογενοῦς παρὰ πατρός

[8] George R. Beasley-Murray, John, vol. 36, Word Biblical Commentary (Dallas: Word, Incorporated, 2002), 14.

[9] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 1.17.

[10] Χάριν (acusativo) ἀντὶ χάριτος (genitivo)

[11]In Mt. 2:22 ἀντὶ τοῦ πατρός the substitution takes the form of succession as son succeeds father on the throne. Cf. ἀνθ-ύπατος (Ac. 13:7). In Jas. 4:15 ἀντὶ τοῦ λέγειν the result is also substitution, the points of view being contrasted. In Heb. 12:2 the cross and the joy face each other in the mind of Jesus and he takes both, the cross in order to get the joy. The idea of exchange appears also in 1 Cor. 11:15 κόμη ἀντὶ περιβολαίου. Blass considers χάριν ἀντὶ χάριτος (Jo. 1:16) as “peculiar,” but Winer2 rightly sees the original import of the preposition. Simcox3 cites from Philo χάριτας νέας ἀντὶ παλαιοτέρων ἐπιδίδωσιν as clearly explaining this “remarkable” passage. But really has not too much difficulty been made of it? As the days come and go a new supply takes the place of the grace already bestowed as wave follows wave upon the shore. Grace answers (ἀντί) to grace. A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research (Logos Bible Software, 2006), 574.

[12] Vimos – (ἐθεασάμεθα, θεάομαι) -

[13] Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 1.32.

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