Bem Aventurados os Mansos
Sermão da Montanha • Sermon • Submitted
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· 146 viewsBem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
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Bem aventurados os Mansos.
Bem aventurados os Mansos.
No mês de Novembro do ano passado eu preguei sobre as duas primeiras bem aventuranças, nós vimos que Jesus considera bem aventurados os “humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”, e vimos que ele considera “bem aventurados os que choram, porque serão consolados”.
Vamos recapitular algumas coisas importantes em caráter de contextualização, e depois passaremos a analisar a bem aventurança de hoje.
Na ocasião nós vimos que:
O Sermão da Montanha é o sermão mais longo do Novo Testamento, ele começa no capítulo 5 e vai até o capítulo 7. São três capítulos de puro ensinamento proferidos por Jesus. Jesus aqui nesse sermão fala sobre muitas coisas. Fala sobre as Bem aventuranças, fala sobre os discípulos serem sal da terra e luz do mundo, fala sobre homicídios, adultérios, juramentos, vingança, amor ao próximo, fala como se deve dar esmolas, como se deve orar, como jejuar, sobre o acúmulo de bens, luz e trevas, sobre o cuidado de Deus para com os crentes, sobre julgamentos temerários, incita as pessoas a orar, fala sobre os falsos profetas, fala sobre os dois fundamentos (casa construída na rocha e a casa construída na areia). E ao fim, somos apresentados ao espanto das multidões. Eles ficaram maravilhados com a doutrina de Jesus (,29), pois Jesus não ensinava como os escribas, mas sim ensinava com autoridade.
Essa é uma característica marcante da pregação de Jesus, era costume dos rabinos judeus ensinar seus discípulos com longas citações de escritos de outros rabinos e estudiosos, Jesus, em sua pregação, profere palavras próprias, ensinamentos próprios. Ensina com vigor, com autoridade, e isso impressiona.
Outra coisa que vimos é que:
Exposição:
Vs 1- Ainda que a prática fosse ficar em pé quando liam as Escrituras em público, os mestres judeus costumavam assentar-se para explicar o texto sagrado, muitas vezes com os discípulos assentados a seus pés.
Vs 2 - ênfase no fato de Jesus estar ensinando.
Outra coisa que analisamos na ocasião foi o significado do termo “Bem Aventurados”, observe:
Significado do termo.
Antes de analisarmos as bem aventuranças, cabe-nos analisar o significado de “bem aventurado”. O que quer dizer ser Bem aventurado?
“Bem aventurados”: O termo original traduzido como “Bem aventurados” é a forma plural da palavra Μακάριοι, que significa estar “plenamente satisfeito”. No grego clássico, o vocábulo refere-se ao estado de bem-aventurança do homem no mundo vindouro. Nas páginas do Novo Testamento, entretanto, é usado com respeito à alegria que resulta da salvação. Essa satisfação não é o resultado de circunstâncias favoráveis na vida, mas da habitação do Espírito de Cristo na vida do indivíduo. Portanto, seria inapropriado verter Μακάριοι simplesmente como “felizes”, porque este adjetivo está relacionado com circunstâncias favoráveis.
Essa mesma ideia é encontrada no Antigo Testamento, a palavra Μακάριοι, tem seu equivalente no hebraico como as-rê. Em todo o A.T são 44 referências a esse termo com suas devidas variações. Todas dando a ideia de: feliz, ditoso, bem aventurado, etc. (; ; ,; ; ; ; ;;;;; ; . etc).
No N.T Μακάριοι aparece em 27 referências, todas com o significado de “Abençoados” que se encaixa melhor no contexto do que a palavra “feliz” como algumas traduções trazem. É uma benção de Deus, advinda da salvação, não é uma felicidade ligada ao que os homens fazem, mas sim ligada ao que Deus faz em favor do homens. (; ; ; ).
Outra coisa a se observar é que na estrutura textual, as bem aventuranças estão na forma de paralelismo sintético, também conhecido como paralelismo progressivo, um tipo de poesia hebraica na qual a segunda linha completa o significado da primeira. Desse modo, aqui a segunda linha define mais especificamente a conotação de “bem aventurado”.
Uma vez que se entende que as “bem aventuranças” não estão organizadas de forma aleatória, ou simplesmente casual, mas que uma segue a que a precede de forma objetiva, cabe aqui para título de contextualização recapitularmos o significado das duas primeiras.
Vs 3 - “Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Jesus começa seu sermão então dizendo que os humildes de espírito são bem aventurados. Vimos que essa humildade de Espírito, ou pobreza de espírito como algumas traduções trazem, somente é encontrada naqueles que realmente foram regenerados pelo Espírito Santo, pois humildade de espírito aqui significa que tal pessoa reconheceu sua miséria, reconheceu sua incapacidade de se apresentar diante de Deus com sua própria justiça. O termo é utilizado para denotar miséria ao extremo, não é aquele que tem pouco, é aquele que não tem absolutamente nada. O humilde de espírito é aquele que reconhece que espiritualmente é tão miserável a ponto de sentado a beira do caminho estender uma mão pra pedir esmola e cobrir o rosto com a outra dado sua miséria. É aquele que reconhece que não tem pouca justiça, que precise de Deus completar a medida necessária, mas é aquele que não possui nenhuma justiça E é exatamente esse indivíduo que possui o reino dos céus, porque no lugar de sua “falta de justiça” lhe é imputado a justiça de Cristo, e ele por causa da justiça de Cristo, é plenamente justificado.
Vs 4 - “Bem aventurados os que choram”
A esse indivíduo se segue a segunda bem aventurança, “Bem aventurados os que choram”. Conforme vimos os que choram são aqueles que uma vez reconhecendo sua miséria, sua pecaminosidade são conduzidos ao arrependimento, e uma vez estando ligados a Deus por meio de Cristo não conseguem se regozijar com seu pecado, e também com o pecado cometido pela humanidade contra Deus, antes de arrependem, confessam seus pecados, claro que não significa que se deve fazer uma regressão cognitiva para poder se lembrar exatamente de cada pecado que um dia cometeu, mas é aquele que entendendo a gravidade do pecado, no seu dia a dia se arrepende de seus atos maus e os confessa a Deus. Os que choram são aqueles que entendem a gravidade do pecado, entendem como os pecados fazem separação entre o ser humano e Deus e se sentem pesarosos por causa disso.
O quadro que temos então é: Os humildes de espírito reconhecem que nada são, reconhecem que são miseráveis, reconhecem sua incapacidade de chegar a Deus, e ao reconhecerem isso recebem a justiça de Cristo, recebem o favor e a misericórdia de Deus. Ao reconhecerem sua real situação eles se arrependem, sentem pesar por seus pecados e também pelos pecados cometidos contra o seu Amado Senhor que é Santo.
Agora segue-se a terceira das Bem Aventuranças que está conectada com as duas que a precedem: “Bem aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.
Quem são esses mansos? Qual é essa terra?
O termo usado aqui no grego é Praus, que traz a ideia de alguém: brando, amistoso, meigo, manso.
O significado da verdadeira mansidão, infelizmente, tem sido com frequência mal-entendido. Por diversas vezes ele tem sido imaginado em termos de uma humildade modesta, negativa e quase falsa. Mas, na verdade, é algo muito diferente. Podemos começar definindo a mansidão citada neste texto da seguinte maneira:
A mansidão é uma graça lavrada na alma; e o seu exercício está primeira e principalmente relacionado a Deus. É aquele estado de espírito em que aceitamos os seus tratos conosco como bons e, portanto, sem discussão ou resistência. Podemos dizer também que a mansidão é a entrega a Deus, a submissão à sua vontade, o preparo para aceitar o que quer que Ele possa oferecer, e a prontidão para assumir a posição mais baixa. Colocada em termos mais simples, a mansidão é a submissão à vontade de Deus na nossa vida diária, e o não pensar de si mesmo além daquilo que se deve.
Em tempos de “eu determino”, “eu não aceito”, “eu decreto”, esse conceito precisa vir a baila no evangelicalismo de nossos dias.
O que temos aqui é uma progressão lógica dentro do gráfico da obra salvífica do Espírito Santo na vida do crente, observe: O sujeito reconhece que é um miserável, reconhece que é um pobre de espírito, reconhece que não possui a mínima justiça para se apresentar diante de Deus, após isto ele demonstra arrependimento de seus atos pecaminosos, se lamenta pelos atos pecaminosos que vê outras pessoas cometendo, o que segue obviamente, é um estado de mansidão, de total submissão à vontade de Deus, é impossível que tal indivíduo tenha qualquer orgulho, qualquer vontade de apresentar méritos próprios, qualquer inclinação para exigências e murmurações. Se isso está acontecendo com pessoas que se dizem salvas algo muito errado está acontecendo. O que temos então é uma atitude de submissão a Deus, um exemplo claro que temos na Escritura, dentre outros, é o exemplo de Abraão, Abraão não faz reivindicações à Deus quando Deus lhe pede seu Isaque, Abraão não apresenta diante de Deus seus méritos, não vemos Abraão dizendo: - Mas Senhor, eu sou o pai da fé, eu sou aquele que será pai de uma grande nação, eu sou isso, sou aquilo. De forma nenhuma, o que temos é um Abraão de forma obediente caminha para cumprir a vontade de Deus.
Submissão à vontade de Deus não significa não pedir algo a Deus, não significa não desejar que coisas aconteçam diferente do que estão rumando para acontecer, mas significa que mesmo tendo pedido, implorado ao Senhor, se Ele não realizar aquilo que pedimos, devemos nos prostrar diante de e adorá-Lo pois Ele sabe de todas as coisas e governa nossa vida. Jesus no Getsêmani é o exemplo claro disso, Ele ora pedindo ao Pai que se possível afaste dele aquele cálice, mas contudo, que seja feito a vontade do Pai, e não a dele. A questão da submissão então não está em não desejar que algo aconteça diferente, mas sim se conformar à vontade de Deus, e não viver murmurando como se Deus cometesse erros.
Mansidão com o próximo.
A mansidão desse versículo, além de dobrar o indivíduo à total submissão a vontade de Deus, também conduz o indivíduo a um trato diferenciado com as demais pessoas.
Ele entende que não é mais ou melhor que ninguém, ele entende que sempre terá algo pra aprender e irá se submeter às demais pessoas na medida que isso for necessário.
Podemos dizer que a mansidão, além de submissão a vontade de Deus, é uma total quebra de orgulho, altivez e arrogância em relação ao trato com as demais pessoas.
Paulo escrevendo sua primeira carta aos Coríntios levanta a seguinte questão: ,:
“Estas coisas irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?”.
O contexto aqui é de uma disputa que estava acontecendo na igreja de Corinto por causa dos líderes que trabalharam na igreja, o que suscitou uma rivalidade entre os irmãos pois os do grupo A se achavam superiores aos do grupo B. E Paulo escreve para corrigir essa questão. A Almeida 21 traduz de uma forma que deixa isso mais claro:
“Irmãos, apliquei essas coisas a mim e a Apolo, por causa de vós, para que aprendais por nosso intermédio a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se encha de orgulho em favor de um contra o outro. Pois, quem te faz diferente dos demais? E o que tens que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te orgulhas, como se não o tivesses recebido?”.
Esse mesmo princípio pode ser aplicado ao que estamos analisando pois, nada do que temos nos é inerente, a única coisa que passa a ser inerente ao homem após a queda é o pecado. O que temos, temos porque recebemos de Deus, sendo assim, não há o mínimo motivo para orgulho. Temos que ser gratos a Deus por tudo o que temos, e olhar as demais pessoas não com altivez, arrogância, mas com condescendência. Principalmente em questões relacionadas a fé cristã. Não somos melhores que o neo pentecostal que participa de campanhas de prosperidade. O que acontece é que um dia a graça de Deus nos alcançou, pela plena misericórdia de Deus em nosso favor, e nossos olhos foram abertos para enxergar a verdade. Não podemos nos gloriar disso, não podemos nos orgulhar disso e tratar tais pessoas com desdém e arrogância, temos que orar, chorar por essas pessoas que estão perdidas nesses enganos.
Paulo em diz o seguinte:
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo.”
Aqui Paulo está contrastando aos da circuncisão que constrangiam os recém convertidos a se circuncidarem para se gloriarem na carne, e Paulo diz que o único motivo de se gloriar é na cruz. Não é na observância da lei, não é na genealogia, não é na teologia perfeita, mas sim, na cruz de Cristo. E se gloriar na cruz é a coisa mais humilhante que tem, pois ao olharmos pra cruz vemos o quão miseráveis nós somos, ao olharmos pra cruz vemos o quanto estamos em débito,ao olharmos pra cruz vemos o quanto nosso pecado é vil, e é ao olhar para cruz que conseguimos dizer: “Mas graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.”.
Todo conhecimento que temos, todos os nossos bens, toda nossa trajetória, seja ele de sucesso ou penúria, não nos é motivo de gloriar, é motivo de agradecermos a Deus, por cada segundo dessa vida, pois foi Ele quem nos concedeu tudo.
Muitas pessoas julgam ter muitos direitos, direitos sobre outras pessoas e direitos até mesmo sobre Deus. Julgam que pela sua história, por aquilo que possuem, por aquilo que são, têm o “direito” de reivindicar alguma coisa, seja de Deus, seja do próximo. Essa postura vai contra o significado de mansidão no texto que estamos estudando. Vamos ver alguns exemplos bíblicos de pessoas que tinham uma história, tinham uma posição, e não usaram esse “status” seja perante os homens, seja perante Deus, eles agiram mansamente.
Exemplos de Mansidão na Bíblia.
Na Escritura Sagrada nós temos vários exemplos de homens que se encaixam perfeitamente nesse conceito de mansidão vejamos. Tanto em submissão a Deus, quanto no trato com as demais pessoas.
Abraão - Em Abraão vemos um claro retrato de mansidão. Na ocasião com Ló, Abraão permite que um homem bem mais jovem fizesse uma escolha, sem qualquer murmuração, ou reclamação. Abraão crendo em Deus não impôs sobre Ló seu “direito”, ele deixa com que Ló escolha pra onde quer ir, e vai para o lado oposto.
Moisés - Moisés foi descrito como o homem mais manso da terra. Não encontramos em momento algum da Escritura Moisés arrogar a si qualquer proeminência frente aos demais irmãos do povo de Israel. Por várias vezes as pessoas se levantam contra seu ministério, se levantam contra sua liderança e ele permanece o mesmo, quando as pessoas se se rebelam vemos na argumentação de Moisés em sua defesa, uma argumentação de alguém simples e sincero : “Então, Moisés irou-se muito e disse ao Senhor: Não atentes para a sua oferta; nem um só jumento levei deles e a nenhum deles fiz mal”. Tal argumentação mostra que Moisés no exercício de seu cargo frente ao povo de Israel, não se viu como alguém cheio de direitos sobre o povo.
Davi - Davi sabia que seria o próximo rei de Israel, sabia que fora escolhido pelo próprio Deus, sabia que o tempo de Saul já havia passado, e mesmo assim, em nenhuma passagem sequer vemos Davi lançando isso em rosto de Saul, ou se arrogando de ser o próximo rei de Israel. Davi suportou mansamente todas as afrontas de Saul, suportou até mesmo tentativas de assassinato por parte de Saul, suportou falsos arrependimentos vindos da parte da Saul, e teve oportunidades de ceifar a vida de Saul e não o fez. Me pergunto se os paladinos da verdade de nosso dias se encontrassem em tal situação se teriam a mesma postura. Muitos hoje, por muito menos, se sentem os donos da moral e da verdade e não perdem oportunidade de achincalha, menosprezar, difamar, diminuir os Sauls que estão por aí, se tivessem oportunidade, em nome de sua própria verdade ceifariam as vidas deles gritando estar fazendo um serviço a Deus. Ainda bem que Deus não agiu nem age dessa forma com os mesmos. Pra mim misericórdia, para os outros juízo.
No novo testamento temos vários exemplos de igual mansidão. Temos o exemplo de Paulo, um grande homem de Deus que sofreu muito pela causa do evangelho, sofreu por causa das igrejas que plantava e que cuidava. Escrevendo ao ele diz:
“Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.”.
Nós temos aqui um homem que foi chamado por Cristo pra pregar as boas novas, e ele está relatando que “aprendeu” a viver contente em qualquer situação. Veja, ele não está questionando a Deus, ele não está comparando sua vida de agora com a vida antes de Cristo e dizendo que antes estava melhor, porque humanamente falando, ele tinha posição, tinha status, não era perseguido. Após se converter tudo isso começa a acontecer e ele começa dizendo: “Alegrei-me sobremaneira no Senhor”. Ora, você está sendo perseguido por causa de sua fé? Você está sendo humilhado por sua fé? Você está passando fome? Creio que não, muito pelo contrário a grande maioria de nós está na abundância, e geralmente não agimos com tanta mansidão como deveríamos, murmuramos, reclamamos, nos queixamos, somos raivosos, iracundos, praguejantes. “Bem aventurados os mansos”.
Em outra parte ele precisa defender seu apostolado em uma carta que escreve, pois o mesmo estava sendo colocado em cheque. Sofre pressões e até mesmo escárnios, as pessoas o difamavam dizendo que pessoalmente ele não era lá todas essas coisas, e ele se mantém fiel, sem murmurações, entendendo ser tudo isso vontade de Deus para sua vida.
Jesus Cristo - E por fim, mas não menos importante, temos o exemplo magno de mansidão na Escritura, Jesus Cristo.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” ().
Essa virtude é encontrada em toda a vida de Jesus. Jesus sofreu perseguições, escárnios, sarcasmo, constantemente era confrontado, testado, duvidavam dele, e não vemos Jesus em momento algum praguejando sobre as pessoas, não vemos Jesus em momento algum murmurando, reclamando, se queixando. Pelo contrário, a postura de Jesus era sempre uma postura a favor da verdade, confrontando sim as pessoas, mostrando seu erros, não moldando sua mensagem ao gosto das pessoas, mas sempre com mansidão, nunca de forma insana e raivosa. Nunca de forma desordeira e anárquica.
E a principal demonstração de mansidão em Jesus Cristo é sua total submissão ao Pai. Em Paulo diz o seguinte a respeito de Cristo:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de Cruz.”
Aqui Paulo nos mostra que Cristo não considerou sua igualdade com o Pai como uma prerrogativa à qual deveria apegar-se a todo custo. Ele se submeteu totalmente à vontade de Deus, e é isso que significa a verdadeira doutrina do Kenosis, ou esvaziamento. Não que Cristo perdera seus atributos divinos, não que Cristo deixou de ser Deus, mas que ele abriu mão do exercício particular de seus atributos. Tudo o que ensinava, ensinava de acordo com o que o Pai lhe ordenara a ensinar, ; . dentre outros.
O que não é a mansidão de que esses versículos tratam.
Não é ser fleumático - As pessoas de temperamento fleumático são calmas, descontraídas, raramente ficam perturbadas ou zangadas. O Fleumático é equilibrado. Para o fleumático a vida é uma experiência calma, equilibrada, feliz e sem grande agitação, na qual se envolve o menos possível.- É importantíssimo notar que não estamos falando daquela característica natural que algumas pessoas possuem, quando se fala em mansidão não se fala de alguém que é quieto, calmo por natureza. O que o texto bíblico quer trazer não são características pessoais e naturais, mas sim características trazidas ao homem pelo poder regenerador do Espírito Santo. Essa mansidão não é algo que a pessoa desenvolve por si só, mas sim uma atuação plena do Espírito de Deus na vida do Cristão.
Não é fraqueza - Outra coisa a notar é que quando o texto bíblico se refere a mansidão ele não está falando de indolência, indiferença, apatia. O texto também não está falando de fraqueza, frouxidão, debilidade.
Não é mera gentileza - Há pessoas que são naturalmente gentis, e cordatas, são pessoas de trato fácil, não é disso que se trata.
Não é fraqueza - Há também pessoas que tem como característica certa fraqueza, certa frouxidão, certa leniência. Há certas pessoas que o mundo está pegando fogo e a pessoa não reage, não toma atitudes, não se decide. Isso não é a mansidão que o texto bíblico traz. Como bem nota o Dr Martin Loyde Jones:
“Há pessoas que parecem ter nascido naturalmente gentis. Não é isso que o Senhor quis dizer. Nesses casos, ocorre algo de natureza puramente biológica; o mesmo tipo de fenômeno que pode ocorrer nos animais. Um cão pode ser mais pacífico do que outro; um gato pode ser mais quieto do que outro”.
Não é pacifismo - Há quem interprete mansidão neste texto como uma total ausência de conflitos, interpretam como uma atitude de “paz a qualquer preço”. Há pessoas que toleram o erro, toleram as perversões com a desculpa de que Cristo disse bem aventurados os mansos. Há quem defenda um pacifismo em nome de ser manso. Isso está erradíssimo.
O Dr Loyd Jones diz o seguinte:
“A mansidão é compatível com grande força de caráter. A mansidão é compatível com grande autoridade e poder. Aquelas personagens bíblicas que mencionamos acima foram grandes defensoras da verdade. o homem manso é alguém que acredita em defender com tal empenho a verdade que se dispõe até a morrer por ela, se for necessário. Os mártires foram pessoas mansas, mas jamais foram débeis. Foram homens fortes, e, contudo, mansos. Que Deus nos livre de alguma vez confundirmos essa nobre qualidade, uma das mais nobres dentre todas as virtudes, com algo meramente animal, físico ou natural.”
Como age um manso?
Ser manso é usar de paciência e longanimidade mesmo quando sofremos injustamente.
Ser manso é usar de paciência e longanimidade mesmo quando sofremos injustamente. Certamente, você como cristão em um determinado momento de sua vida vai sofrer injustamente, essa é a oportunidade onde os mansos se mostram. LEIA .
Ser manso significa que estamos dispostos a ouvir e a aprender. A mansidão sempre implica em um espírito que se deixa ensinar. É novamente o caso que pode ser visto na experiência do próprio Jesus. Embora Ele fosse a Segunda pessoa da bendita Trindade Santa, Ele tornou-se homem, humilhando-Se deliberadamente até o ponto de ter de depender inteiramente do que Deus lhe conferisse, do que Deus lhe ensinasse e do que Deus lhe dissesse para fazer. Cristo humilhou-se a fim de chegar a esse ponto, e é isso que de deve entender por mansidão. Precisamos estar preparados a aprender a escutar, e, sobretudo, devemos render-nos à orientação do Espírito Santo.
Ser manso é ter a capacidade de deixar tudo nas mãos de Deus, e reconhecer que Ele tem poder e sabedoria para conduzir nossa vida de acordo com sua vontade, sem reclamarmos ou murmurarmos.
Ser manso é compreender que, nossa vidas estando nas mãos de Deus, ele sabe bem o que quer pra nós, e nem sempre seremos tão bem sucedidos como almejamos ser. Ser manso significa entender que talvez o que Deus tem para nós não é nenhum reconhecimento por aquilo que fazemos.
Ser manso é reconhecer que o que Deus tem para nós pode ser muito bem acordar cedo todos os dias, trabalhar duro pra sustentar a família, e morrer de velhice ou doença. Tudo isso sem questionar e reclamar com Deus.
Ser manso é entender que não somos tão bons quanto pensamos que somos, e que somos até mesmo pior do que algumas pessoas imaginam a nosso respeito. Geralmente nos temos em alta conta, mas ai de nós se não fosse Jesus.
O que significa herdar a terra?
Num certo sentido os mansos já são herdeiros da terra aqui na vida presente. Nossa condição de regenerados e justificados em Cristo já nos coloca num patamar de possuidores de todas as promessas das Escrituras. Se somos salvos, todos os méritos da nossa união com Cristo já nos são comunicados. Por outro lado, existe a promessa da bênção futura, na plenitude, onde estaremos pra sempre com o Senhor, herdando plenamente o desfrute de sua santa presença.
Fim.