Alegrai-vos

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Alegrai-vos.

“Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”
Χαίρετε ἐν κυρίῳ πάντοτε· πάλιν ἐρῶ, χαίρετε
Aurélio especifica alegria como: “Qualidade ou estado de quem tem prazer de viver, de quem denota jovialidade. Contentamento, satisfação.” Dicionário Aurélio.

Χαίρετε ἐν κυρίῳ πάντοτε· πάλιν ἐρῶ, χαίρετε

Aurélio especifica alegria como: “Qualidade ou estado de quem tem prazer de viver, de quem denota jovialidade. Contentamento, satisfação.” Dicionário Aurélio.
No grego a palavra usada é Χαρα que é traduzida como: alegria, gozo, regozijo, júbilo.
Podemos dizer então que a alegria é um estado, ou uma condição de satisfação, de contentamento, prazer, júbilo, e tal sensação ou estado sempre tem uma causa, uma razão. quando se está alegre se está alegre por causa de alguém, (mesmo que esse alguém seja você mesmo), ou de alguma coisa.
Os motivos das “alegrias” são diferentes de pessoa pra pessoa e são diferentes de acordo com a faixa etária. Por ex: Um bebê se regozija (simplesmente) pela presença da mãe, uma criança se sente alegre por ter um brinquedo. A adolescência é a fase onde o ser humano vai descobrindo novas sensações, novos motivos que lhe fazem se sentir alegre, alguém que se gosta, participar de uma festa, ter algo que se quer muito.
Um adulto já fica bem satisfeito com um bom emprego, estabilidade, segurança, etc… daí você se casa e passa a ficar muitíssimo alegre com boleto pago, casa arrumada, uma pia vaziinha.
S
Brincadeiras à parte, tem um aspecto da alegria que também chama muito nossa atenção que é o fato de que motivos que trazem alegria também mudam bastante de lugar pra lugar. Uma mãe americana se sente plenamente alegre em saber que o filho está indo bem nos estudos da faculdade, uma mãe síria se sente plenamente bem em saber que o filho está vivo e não foi morto pelo Ìsis, uma mãe carioca se sente plenamente alegre em manter o filho longe da criminalidade. E assim vai, eu poderia dar diversos exemplos de vários motivos que causam alegria nas pessoas. E essa questão sim, até um certo ponto é bem relativa, por esses vários motivos que pontuei, faixa etária, localização geográfica, etc.
No texto que lemos Paulo usa o termo Χαίρετε, que é o imperativo de Χαρα, o imperativo no grego, além de indicar uma ordem como no português, também indica exortação ou súplica. Indica a intenção de quem fala, ou seja, Paulo exorta, suplica, ordena àqueles irmãos Filipenses à que “se alegrem sempre no Senhor”, e ele ainda repete: “se alegrem”.
Isso é interessantíssimo, nós vimos que os motivos das alegrias comuns são vários, e variam muito de pessoa pra pessoa e de circunstância pra circunstância. No texto nós temos Paulo exortando, suplicando, ordenando que àqueles irmãos se alegrem, mas ele não os deixa a mercê de seus próprios motivos ou circunstâncias, ele dá o motivo, Alegrai-vos sempre no Senhor. O motivo, a base, o fundamento da alegria deles deveria ser O Senhor.
É significativo observar isso aqui porque, quem os está ordenando a se alegrar não é alguém que tem na vida tudo do bom e do melhor, não é alguém que está confortável na poltrona de sua casa no ar condicionado, não é alguém que está de férias numa ilha do caribe, não, é alguém que está preso. Filipenses é uma das 4 cartas da prisão.
Paulo está preso, privado de sua liberdade, e não por ser um assassino, um criminoso, muito pelo contrário, ele é um arauto de Cristo, portador das boas novas, pregoeiro da mensagem que dá vida. Ele está preso pelo seu amor a Cristo, está preso pelo seu amor ao evangelho, e preso, com todas as privações dessa prisão eles escreve não como alguém que está se lamentando e reclamando da própria sorte, mas como alguém que está jubiloso, alegre, prazeroso no Senhor.
Alguns teólogos chamam essa carta, de carta da alegria, dada as várias ênfases que Paulo faz aqui à esse conceito. Mas não é saudável reduzir a carta somente a esse aspecto, ainda que a alegria seja algo forte aqui. O Teólogo Batista, Carlos Osvaldo Diz o seguinte: “O propósito da carta é promover a vitalidade contínua do evangelho entre os filipenses para que este pudesse continuar a progredir por intermédio deles.” (Foco no Desenvolvimento do Novo Testamento. Pg 361). A progressão do evangelho está contido a alegrar-se constantemente em Deus, mesmo em decorrência dos problemas da vida.
É importante perceber isso, Paulo está preso, recebe a visita de Epafrodito, Epafrodito leva consigo uma oferta financeira à Paulo enviada pela igreja, e muito provavelmente ele também faz relatos de progresso e problemas ocorridos na igreja. Paulo escreve então à eles, agradecendo a generosidade da igreja, e também encorajando à que eles perseverassem nas áreas positivas e oferece correção nas áreas que a igreja se achava deficiente. E é nesse contexto que ele repetidas vezes menciona o conceito da alegria. O teólogo Batista John MacArthur diz o seguinte sobre esse texto: “Paulo usa a palavra “alegria” e suas variações inúmeras vezes nessa carta (por ex: , ,; ; ; ,). Nos primeiros capítulos, esses dois termos são usados basicamente para descrever a experiência de vida de Paulo em Cristo. O começo do cap 3, porém, é um ponto de transição, mudando para uma seção de orientação espiritual.” (Manual Bíblico MacArthur. Pg 467).
Paulo então é este preso alegre. Ele começa no cap 1.4 dizendo que está “fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós (filipenses)”. No versículo 18, após mencionar que muitos estavam pregando Cristo por diversos motivos, ele diz que “uma vez que Cristo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isso me regozijo, sim, sempre me regozijarei”. No cap 2.2 ele pede que os irmãos “completem sua alegria, de modo que pensais a mesma coisa”. No vs 17, ainda no cap 2, ele se alegre e se congratula com os irmãos pelo fato de “estar sendo oferecido por libação sobre o sacrifício e a fé dos filipenses”. Cap 3.1 ele repete o tema da alegria. De fato essa carta está repleta de menções a alegria.
O que devemos notar é que diferente dos vários motivos mundanos, Paulo exorta aos irmãos que se alegrem no Senhor, mas o que significa se alegrar no Senhor?
O contexto nos mostra que para Paulo, alegrar-se no Senhor, significa estar plenamente prazeroso, satisfeito, contente com o fato de pertencer a Cristo. Cristo é a fonte de nossa alegria. Diferente dos motivos passageiros da vida, a alegria no Senhor é algo eterno, pois o Senhor é eterno, não muda. Alegrar-se no Senhor, é ter plena satisfação em CRisto, independente da situação. Por isso entendemos que um prisioneiro maltrapilho está alegre no Senhor, por isso compreendemos o motivo de Paulo dizer com satisfação que sabe “estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. Tudo posso naquele que me fortalece.”. Uma pessoa que não está plenamente satisfeita em Cristo não consegue passar por todas essas situações com júbilo e prazer. Pois os prazeres desse mundo são efêmeros, mas Cristo é eterno. Todas as coisas passarão mas Cristo permanece. Por isso vemos que várias pessoas que serviram a Deus caminharam para a fogueira, para a forca, para o fuzilamento, afogamento, decapitação, crucificação, exultantes e jubilosos, pois sua satisfação estava em Cristo, e sabiam que a morte os estava levando para mais perto de Cristo ainda.
Por estar plenamente satisfeito em Cristo é que muitos vivem nas situações mais precárias, passando privações mas estão exultantes e regozijantes pois estão em Cristo.
Jonatham Edwards em seu livro Afeições Religiosas discute como as afeições podem realmente mostrar que alguém é realmente um salvo em Cristo ou não. Primeiro ele elenca várias afeições externas que ao mesmo tempo que podem ser demonstrações de uma alma verdadeiramente convertida, podem não ser, pois, estão na esfera comum de atuação humana. Então ele coloca por exemplo: Manifestações corporais, falar com eloquência, grande capacidade de decorar e citar textos bíblicos, aparência de amor ao próximo, predispor muito tempo para questões religiosas. No entanto, para ele, a manifestação da verdadeira religião está em dois conceitos, verdadeiro amor por Deus e pela sua obra, e, verdadeira alegria em Cristo.
Esta claro que para Edwards a verdadeira religião se mostra então, não necessariamente externamente, mas internamente, pois não tem como medir o grau de alegria de outra pessoa, mas sim, tem como se ter certeza de que realmente se está alegre no Senhor, mesmo em meio da dificuldades da vida. O Espírito comunica com nosso espírito que somos filhos de Deus.
Isso tudo não significa dizer que nunca iremos nos entristecer e chorar e nos lamentar com as coisas que acontecem a nossa volta. Pedro diz o seguinte: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo cisto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.” ().
Outra coisa a se tomar nota aqui é o tom pessoal e carinhoso que Paulo usa pra escrever a esses irmãos, essa carta é singular neste aspecto. E uma carta tão singular, contém um assunto tão singular na vida do cristão.
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