O Pródigo do Antigo Testamento

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O PRÓDIGO DO ANTIGO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO
Sem duvidas Jonas pode ser comparado ao filho pródigo, porém no antigo testamento. Ele é uma figura totalmente imprevisível. A história de Jonas pode ser descrita em quatro movimentos: correndo de Deus, correndo para Deus, correndo com Deus e correndo à frente de Deus.
II – CORRENDO DE DEUS -
O livro tem início com a ordem divina a Jonas na forma imperativa: “Levanta-te” (v. 2, ARC). Em seguida, somos informados de que “Jonas se levantou” (v. 3, ARC), mas para fugir em desobediência. Em vez de dirigir-se para Nínive, que estava no leste, ele partiu para Társis, uma colônia fenícia, no oeste. De acordo com o mapa conhecido nos dias de Jonas, o profeta escolheu fugir para o ponto mais distante na direção oposta: uma viagem de quase um ano. Jonas viu Nínive como uma missão impossível.
Ele tentou “fugir da presença do Senhor” (v. 3). Como isso seria possível? Não diz o que é impossível fugir da onipresença divina? Fugir de Deus, aqui, significa desertar, abandonar o posto de dever.
Em sua fuga, aonde foi Jonas? O profeta começou a descer: para Jope (v.3), para o porão do navio (v. 5), para o fundo do mar (v. 15), para o ventre de um peixe (2:6). Todo aquele que resolve fugir de Deus também está descendo.
III – CORRENDO PARA DEUS –
No ventre do peixe, meio morto, assustado, com algas marinhas enroladas em seu pescoço e cabeça, na escuridão, confuso e desorientado, com o estômago dando voltas de enjoo pelos movimentos e pelo odor insuportável, Jonas cai em si e tem o mesmo ímpeto do filho pródigo: “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu Pai.” O extraordinário é que Deus, em Sua glória e graça, Se compadece de nossa insanidade e rebelião. Ele não coloca obstáculos ao nosso retorno.
“Falou, pois o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra” (v. 10). Que língua falam os peixes? Não sei, mas Deus Se fez entendido por essa criatura. Aquele que comanda o Universo e tem nas mãos todas as chaves, Aquele que é o guia das estrelas e que segura em Suas mãos o mar e a terra não tem problemas, apenas planos.
Poderíamos pensar que Deus tivesse esquecido o projeto original. Mas o perdão divino, a graça e a salvação não são escusas para a desobediência. A salvação não anula a responsabilidade da obediência, apenas dá a ela nova motivação.
IV – CORRENDO COM DEUS -
Jonas está no ponto de partida novamente. A ordem é a mesma. Se alguém tem que mudar nesta história, este é Jonas. Não é Deus que Se curva para ajustar Sua vontade aos nossos caprichos. Jonas, claro, poderia continuar em sua rebelião, mas três dias no ventre do peixe foram suficientes para fazê-lo pensar duas vezes antes de nova tolice. “Levantou-se Jonas” (, ARC), desta vez para obedecer. Aqui encontramos o profeta correndo com Deus. Ele iniciou sua série evangelística: “Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída!” (v. 4, NTLH). Jonas falou com o poder dos apóstolos no Pentecostes. Quem não seria tocado?
“Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (v. 5). Nínive era famosa por sua impiedade, inimiga clássica de Israel, mas não estava além do alcance divino. O próprio rei ficou tão impressionado que, assentado sobre cinzas, resolveu dar sua contribuição ao reavivamento, emitindo um decreto. Deus Se arrependeu? As circunstâncias mudaram, não Ele.
V – CORRENDO À FRENTE DE DEUS –
Imagine o sucesso do evangelista Jonas, no poder do Espírito, falando com a convicção de quem estivera morto e revivera. Como você administra o sucesso? Então, o profeta passa a correr à frente de Deus. Qual é o problema de Jonas? Ele teve sucesso! Não é isso irônico? Em vez de se alegrar com o que o Senhor havia feito, ele prefere concentrar-se no medo de ser visto como um falso profeta. Ele está preocupado com a própria imagem. Jonas esqueceu que Deus mostrou misericórdia para com ele e agora não aceitava que a mesma misericórdia fosse demonstrada aos ninivitas. Perde de vista algo infinitamente maior: o valor das pessoas.
Muitos são como Jonas. Tão preocupados e absortos em contemplar o próprio umbigo, deixam de ver o que está acontecendo ao redor. Além disso, como é fácil esquecer as lições experimentadas, nos iludirmos e voltarmos para os velhos enganos. Jonas afirmou: “Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? […] Sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-Se, e grande em benignidade” (). Ele dominava a teologia correta sobre Deus, mas estava descontente porque a graça divina havia sido aplicada, segundo ele, às pessoas erradas. Será que às vezes também agimos assim?
Na história de Jonas, nós temos uma curiosa mistura entre o exato conhecimento teológico, obstinada reclamações e a exagerada preocupação com a própria reputação. Qual é a causa desse comportamento?
Observe, no capítulo 4, a concentração de pronomes da primeira pessoa: “eu”, “meu” e “me” (v. 2-4). O fato de Jonas estar muito preocupado consigo mesmo é, em última análise, uma das grandes causas de seu comportamento. Quem está muito preocupado consigo não pode ver os outros e suas necessidades. Existe muitas diferenças entre essa oração e a que ele fez no capitulo 2, assim como o espírito que o originou. Lá, ele orou pela vida, aqui, pela morte. Lá, ele foi humilde, aqui, está irado.
Além disso, corremos todos o mesmo risco de cair na intolerância do exclusivismo, julgando que somos os donos de Deus, da verdade e da salvação. Complexo de superioridade e presunção denominacional podem acabar fechando as portas para muitos corações. Se o evangelista Jonas parece exasperar-se com o sucesso, o perigo de outros é atribuir o sucesso a si mesmos. Mas, no fim, o pecado é o mesmo: egolatria.
V – CONCLUSÃO –
Como Elias, Jonas pede que o Senhor tire sua vida. A resposta de Deus vem na forma de uma pergunta, marcada por sua brevidade e caráter suave. Deus age como nós deveríamos agir com pessoas de natureza rebelde. O Senhor aqui nos ensina o Seu método. Esta é outra lição difícil de aprender. Deus Se comporta como um pai sábio que procura remover a rebelião de sua criança. A cena relembra o encontro do pai da parábola do filho pródigo com o filho mais velho. Nenhuma ameaça, nenhuma instrução doutrinária, nenhum moralismo vazio. O Senhor apenas convida Jonas à reflexão: “Pense e veja se o seu comportamento é razoável?”
Jonas está fora da cidade, como uma criança amuada, em seu “dodói” e hipersensibilidade. O Senhor faz nascer uma planta miraculosa, que não tem duração longa (4:6). Isso irrita o profeta ainda mais. A lição se estabelece num contraste formidável entre o profeta (“tu”) e Deus (“Eu”). “Tu tens piedade de uma planta, Eu tenho piedade de Nínive”, ensina Deus. O "tu" é enfático no hebraico. Jonas, o profeta zangado e antipático, estava disposto a mostrar piedade e poupar uma planta inconsequente e de pouco valor, na qual ele não tinha empregado nenhum trabalho ou esforço, mas não mostrava a mesma consideração para com o povo de Nínive. A LXX traduz a primeira parte do versículo como: "E disse o SENHOR: Tu tiveste compaixão da planta que tu não criaste e pela qual não sofreste." Jonas ficou irado porque Deus não destruiria os ninivitas (v. 1, 4) e, ao mesmo tempo, porque Deus permitiu que a planta murchasse (v. 9). Seu sistema de valores estava distorcido. Jonas se importava mais com a planta do que com as pessoas de Nínive a quem tinha advertido.
APELO
Quando o livro termina, a questão permanece aberta. O que acontece com Jonas? Qual é sua reação final? Permanece rebelde ou cai em si novamente? O livro não esclarece. Talvez essa conclusão seja intencional. Isso transporta o interesse do leitor para si mesmo diante do apelo de Deus: “tens compaixão de coisa mais não de pessoas?” será que temos cuidado com os bancos da igreja e importamos mais com eles do que com quem vai sentar neles, nos importamos mais com os carros do que com quem vai andar nele, damos mais valor a prédio do que os adoradores que entraram aqui para adorar, gastamos mais tempo em momentos superficiais, com conversação insignificante, e vendo o que não edifica ao invés de buscar a presença de Deus em oração pela conversão das crianças, dos jovens, dos adultos e idosos. Conta-se que Billy Graham, quando foi visitar na Inglaterra, em 1940, a antiga reitoria de Epworth, onde residia a família de John Wesley, um dos grandes avivalistas do século XVIII. James Edwion Orr, professor da Faculdade Wheaton, levou seus alunos até este lugar e Graham estava entre eles. Dizem que era notório que ao lado da cama de John Wesley encontrava-se dois pequenos círculos onde o tapete estava desgastado pelas marcas de seus joelhos após tanto orar pela renovação espiritual da Inglaterra. E foi neste local que o professor encontrou Billy Graham ajoelhado, orando: “Faz de novo, Senhor! Faz de novo!” Então a questão crucial não é como Jonas reagiu, mas como você reage aos atos divinos. Em ira e rebelião ou em amor e serviço?
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