Crer ou não crer ?
A ressurreição foi um fato real
Introdução
Primeiro ponto
12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé;
3. A ressurreição dos mortos
15.12–34
De seu resumo do evangelho (v. 3–5), Paulo destaca a doutrina da Ressurreição para uma discussão adicional. De modo positivo, ele afirma que Cristo foi ressuscitado de entre os mortos. Ele segue perguntando o motivo pelo qual algumas pessoas negam esse fato histórico e redentor. De modo negativo, ele examina os resultados de se repudiar essa doutrina: crer que a pregação dos apóstolos e a fé dos crentes é vazia e impotente. Sem proclamar a doutrina da ressurreição, os pregadores pronunciam mentiras, as pessoas permanecem em pecado, crentes que morreram em Cristo estão perdidos, e os cristãos são dignos de piedade. Por isso, quando opositores da fé cristã atacam e minam a doutrina da Ressurreição, o que querem é destruir os alicerces do Cristianismo. Se obtivessem êxito em seu assalto, a igreja fundada em Jesus Cristo se desintegraria e finalmente deixaria de existir. Em suma, a doutrina da Ressurreição é básica para a fé cristã.
3. A ressurreição dos mortos
15.12–34
De seu resumo do evangelho (v. 3–5), Paulo destaca a doutrina da Ressurreição para uma discussão adicional. De modo positivo, ele afirma que Cristo foi ressuscitado de entre os mortos. Ele segue perguntando o motivo pelo qual algumas pessoas negam esse fato histórico e redentor. De modo negativo, ele examina os resultados de se repudiar essa doutrina: crer que a pregação dos apóstolos e a fé dos crentes é vazia e impotente. Sem proclamar a doutrina da ressurreição, os pregadores pronunciam mentiras, as pessoas permanecem em pecado, crentes que morreram em Cristo estão perdidos, e os cristãos são dignos de piedade. Por isso, quando opositores da fé cristã atacam e minam a doutrina da Ressurreição, o que querem é destruir os alicerces do Cristianismo. Se obtivessem êxito em seu assalto, a igreja fundada em Jesus Cristo se desintegraria e finalmente deixaria de existir. Em suma, a doutrina da Ressurreição é básica para a fé cristã.
3. A ressurreição dos mortos
15.12–34
De seu resumo do evangelho (v. 3–5), Paulo destaca a doutrina da Ressurreição para uma discussão adicional. De modo positivo, ele afirma que Cristo foi ressuscitado de entre os mortos. Ele segue perguntando o motivo pelo qual algumas pessoas negam esse fato histórico e redentor. De modo negativo, ele examina os resultados de se repudiar essa doutrina: crer que a pregação dos apóstolos e a fé dos crentes é vazia e impotente. Sem proclamar a doutrina da ressurreição, os pregadores pronunciam mentiras, as pessoas permanecem em pecado, crentes que morreram em Cristo estão perdidos, e os cristãos são dignos de piedade. Por isso, quando opositores da fé cristã atacam e minam a doutrina da Ressurreição, o que querem é destruir os alicerces do Cristianismo. Se obtivessem êxito em seu assalto, a igreja fundada em Jesus Cristo se desintegraria e finalmente deixaria de existir. Em suma, a doutrina da Ressurreição é básica para a fé cristã.
a. O argumento lógico
15.12–19
12. Mas se Cristo é pregado, que ele foi ressuscitado dos mortos, como alguns dentre vocês dizem que não existe ressurreição dos mortos?
a. “Mas se Cristo é pregado, que ele foi ressuscitado dos mortos.” A primeira parte dessa sentença condicional declara um fato, isto é, o evangelho de Cristo está sendo proclamado em Corinto e em outros lugares. A palavra Cristo obviamente representa o evangelho que se originou com ele e que seus seguidores continuam a proclamar.
Para provar a veracidade da ressurreição de Jesus (v. 5–8), Paulo enumera os numerosos aparecimentos depois que ressurgiu dos mortos e antes de ele ascender ao céu. O tempo perfeito no grego do verbo erguer indica que a ressurreição de Cristo, que aconteceu no passado, tem significado duradouro para o presente. Por ter vencido a morte, Jesus Cristo não mais terá de enfrentar a morte. A expressão dos mortos significa que Jesus foi ressuscitado da morte por Deus o Pai. Para ser preciso, o texto grego tem o plural mortos, que deve ser entendido num sentido geral. Se Deus, então, levantou Jesus dos mortos, ele também levantará os crentes da morte no fim dos tempos (6.14). Paulo declara que todos os que creem em Jesus compartilham de sua ressurreição (15.20–23).
b. “Como alguns dentre vocês dizem que não existe ressurreição dos mortos?”. Paulo declarou que Cristo foi erguido dos mortos. Agora ele pergunta por que alguns coríntios negam a doutrina da Ressurreição. Não rejeitaram essa doutrina, mas reinterpretaram-na, dizendo que a ressurreição de Cristo foi espiritual. Ensinaram que com Cristo eles também foram ressuscitados dos mortos na ocasião de seu batismo. Portanto, para eles a ressurreição já tinha acontecido e teve apenas significado passageiro. Eles não a aceitavam como uma doutrina da fé cristã, e assim corriam o risco de se separar da igreja.
Em outro lugar, Paulo escreve que porque Himeneu veio a naufragar na fé, Paulo o entregou a Satanás (1Tm 1.19–20). Com Fileto, Himeneu negou a doutrina da Ressurreição do corpo e destruiu a fé de alguns crentes (2Tm 2.17–18). Não podemos saber ao certo quantas pessoas em Corinto questionavam esta doutrina, que influência exerciam na igreja, ou quem eram. À vista do longo discurso sobre esta doutrina em particular, presumimos que esses coríntios eram influentes.36
Influenciados pela filosofia grega, esses membros da igreja argumentavam que a alma (que é imortal) retorna a Deus que a deu (Ec 12.7), mas que o corpo é mortal e na morte desce para o túmulo. A alma, eles acreditavam, é erguida para estar com Deus e goza da vida eterna, mas o corpo é aniquilado. Essa é uma visão truncada da ressurreição, porque Deus criou Adão com corpo e alma como um ser humano completo. A alma e o corpo são criação de Deus e compartilham da ressurreição de Cristo. Cristo ressurgiu dos mortos fisicamente, como Paulo prova com sua lista dos aparecimentos de Jesus (v. 5–8). Em contraposição à visão filosófica grega de alguns coríntios, no capítulo 15 Paulo desenvolve uma perspectiva bíblica. No versículo seguinte, ele apresenta um argumento que mostra tanto contraste como lógica.
13. Mas se não existe ressurreição dos mortos, nem mesmo Cristo foi ressuscitado.
Colocando os versículos 12 e 13 em colunas paralelas, observamos que Paulo contrasta seus pensamentos:
Versículo 12
Versículo 13
Mas se Cristo é pregado,
Mas se não existe
que ele foi ressuscitado
ressurreição
dos mortos
dos mortos
como alguns dentre vocês dizem
que não existe
nem mesmo Cristo
ressurreição
ressuscitou.
dos mortos?
Com lógica irrefutável, Paulo contradiz a visão incorreta dos coríntios de que Deus ressuscita a alma, mas não o corpo. Se algumas pessoas creem numa ressurreição espiritual da alma e negam uma ressurreição do corpo, então a conclusão inevitável será que o corpo de Cristo ainda está no túmulo e sua obra redentora é infrutífera. O fato é que Jesus não veio à terra, morreu na cruz, ressurgiu dos mortos para si, mas para aqueles que ele redime. Um evangelho sem a doutrina da ressurreição não tem nenhuma mensagem de redenção.
Com a negativa dupla nas duas partes desse versículo, Paulo redige uma sentença condicional que é contrária à realidade. A cláusula se não existe ressurreição dos mortos contrasta com o fato que há ressurreição. Mas se os críticos negam o fato, então Paulo deduz para eles a conclusão inescapável de que o corpo físico de Cristo também não ressurgiu da sepultura.
14. E se Cristo não ressurgiu, então nossa pregação é vã e também sua fé é vã.
a. “E se Cristo não ressurgiu.” Paulo continua escrevendo uma sentença condicional que contrasta o ensino incorreto com a realidade. Paulo afirma que negar a ressurreição de Cristo é ir contra toda a evidência pertinente que estava à disposição da igreja primitiva. Centenas de pessoas do tempo de Paulo podiam testificar da ressurreição porque haviam visto pessoalmente seu Senhor glorificado. Fora os apóstolos, cerca de 500 pessoas viram o Senhor vivo entre a Páscoa e a ascensão (v. 5–8). Paulo pôde dizer aos coríntios que consultassem essas testemunhas oculares. Até ele tinha visto Jesus perto de Damasco, e por esse motivo proclamava a mensagem de seu Senhor ressurreto.
b. “Então nossa pregação é vã e também sua fé é vã.” A lógica do discurso de Paulo é irresistível. Se Cristo ainda está no túmulo fora de Jerusalém, ele argumenta, então o conteúdo de minha pregação nada mais é que palavras vazias e eu, assim como todos os outros apóstolos e pregadores, sou um charlatão. E mais, a fé de todos aqueles fiéis que escutam Paulo e seus companheiros é vã. Tanto ele como seus ouvintes estariam mal servidos se tivessem de crer numa mentira e perpetuá-la.
Considerações doutrinárias em 15.14
O soldado romano que abriu o lado de Jesus com a lança e viu jorrar sangue e água sabia que Jesus tinha morrido. O corpo partido de Jesus estava além de poder ser restaurado e teve de ser sepultado. Assim, do ponto de vista médico, a ressurreição do corpo de Jesus é impensável, pois nunca ninguém retornou da sepultura. Alguns teólogos têm procurado dar resposta a essa objeção médica dando uma interpretação moderna à palavra ressurreição. Explicam o termo espiritualmente e dizem que a ressurreição não é um acontecimento objetivo de Jesus sair de um túmulo fora de Jerusalém. Dizem que ninguém esteve presente para testemunhar Jesus sair do lugar do sepultamento, pois os guardas ficaram como mortos (Mt 28.2–4). E eles concluem que a história de sua ressurreição, que não pode ser verificada pela observação, não faz parte da História.
Esses teólogos interpretam a ressurreição como sendo uma experiência subjetiva que ocorre no coração dos crentes. Alegam que, quando os crentes ouvem a Palavra de Deus e obedecem a ela, a ressurreição acontece no coração deles. Admitimos que esta interpretação espiritual é inventiva, pois desmancha todas as objeções levantadas pelos cientistas médicos e historiadores empíricos. Onde quer que pregadores proclamem essa mensagem de ressurreição espiritual, nenhum crítico levanta objeções.
A pura verdade, no entanto, é que essa mensagem juntou a doutrina da Ressurreição com uma descrição da experiência de conversão de um crente. Essa interpretação espiritual nada tem que ver com a ressurreição física de Jesus e com a de seus seguidores. Na realidade, nada tem em comum com a doutrina expressa no Credo Apostólico: “Creio na ressurreição do corpo”.
Os críticos da doutrina da Ressurreição exigem provas evidentes de testemunhas oculares de que Jesus levantou-se fisicamente dos mortos e saiu do sepulcro. Asseguram que, pelo fato de as Escrituras do Novo Testamento não darem tal prova observável, a fé cristã é duvidosa. Um deles ainda sugere a possibilidade de que os arqueólogos em Jerusalém teriam encontrado uma carta escrita por Caifás, endereçada a Pôncio Pilatos. Essa carta, então, revelaria um plano detalhado para remover o corpo de Jesus do túmulo e colocá-lo num lugar não revelado. Será que a fé cristã seria seriamente prejudicada por essa carta e perderia sua credibilidade?
A resposta é um sonoro não. Considere a diferença nos pontos de partida respectivos de crentes e descrentes. Os cristãos aceitam os ensinos da Escritura pela fé, mas o descrente a rejeita. Os cristãos creem na doutrina da Ressurreição, mas o descrente a nega. Suficiente para os crentes, mas insuficientes para os incrédulos, é o testemunho dos apóstolos que foram testemunhas oculares da ressurreição de seu Mestre (At 1.22; 3.15). A Bíblia dá a entender que na ocasião da ascensão de Jesus muitas pessoas satisfaziam as exigências para o apostolado porque tinham sido testemunhas oculares da ressurreição. E a Escritura ensina que pelo testemunho de duas ou três testemunhas a verdade é estabelecida (Dt 19.15).
Se Pilatos tivesse removido o corpo de Jesus para um local secreto, a doutrina da Ressurreição descansaria, de fato, sobre o testemunho fraudulento dos apóstolos e de um grande número de crentes. Então Cristo seria um impostor, seus apóstolos, enganadores, e a igreja uma grande fraude. Em vez disso, o próprio Cristo é a verdade e também a Palavra de Deus (Jo 14.6; 17.17).
15. E mais, nós somos até julgados ser testemunhas falsas de Deus, porque testificamos em contradição a Deus que ele ressuscitou Cristo, a quem não ressuscitou se os mortos não ressuscitam.
a. “E mais, nós somos até julgados ser testemunhas falsas de Deus.” Paulo ainda não terminou de modo algum sua análise lógica. Tem muito mais a dizer, porque declara enfaticamente que se a ressurreição de Cristo for mentira, Paulo e seus associados seriam expostos como “impostores da pior espécie”. Seriam marcados como sendo falsas testemunhas que espalhavam mentiras para pessoas ingênuas, enganandoas. Não só isso, porque estariam testificando falsamente sobre Deus e assim sendo culpados perante o próprio Deus.
A expressão falsas testemunhas de Deus pode ser entendida tanto de modo objetivo como subjetivo. Ela pode significar objetivamente que Paulo e seus cooperadores estavam dando um falso relato do que Deus fez em Cristo. E subjetivamente pode significar que foram enviados pelo próprio Deus para pregar e praticar engano. Das duas interpretações, só a primeira seria aceitável: Deus não envia embaixadores para representá-lo enganosamente. A expressão acima, então, tem uma conotação objetiva e dá a entender que se a ressurreição de Cristo for uma mentira, aqueles que a proclamam como princípio de fé são mentirosos. Essas pessoas precisam se colocar diante do tribunal de Deus como impostores. Estão na mesma categoria dos falsos profetas da era do Antigo Testamento (Dt 18.20–22) e dos falsos apóstolos da era do Novo Testamento (1Jo 5.10; 2Jo 10).
b. ”Porque testificamos em contradição a Deus que ele ressuscitou Cristo.” O conceito pronunciar-se contra alguém é terminologia jurídica. É usado quando uma testemunha presta juramento para afirmar a verdade de seu testemunho. A verdade está em jogo, porque ou Deus ressuscitou Jesus dos mortos, ou, se a ressurreição não aconteceu, Paulo e todos os seus associados pregam uma mentira e falam contra Deus. Mas por que promoveriam uma decepção, estariam dispostos a sofrer e morrer por ela, e reconhecer que ainda defrontariam o Deus da verdade?
c. “A quem não ressuscitou se os mortos não ressuscitam.” Essa parte diz praticamente o mesmo do versículo 13. A ressurreição de Jesus Cristo está inseparavelmente ligada à ressurreição dos mortos. Esta verdade consola o crente cuja esperança está edificada em Cristo. Como esta verdade consola o cristão? Um catecismo do século 16 responde:
Não só minha alma
será levada imediatamente depois desta vida
a Cristo, o cabeça dela,
mas até minha própria carne,
ressuscitada pelo poder de Cristo,
será reunida à minha alma
e feita como o corpo glorioso de Cristo.
16. Pois se os mortos não ressuscitam, então nem Cristo ressuscitou.
Esse versículo também repete o versículo 13 (ver v. 14). A reiteração serve para alertar os leitores para as consequências de negar a doutrina da ressurreição de Jesus. Aqueles que negam esta doutrina implicitamente rotulam Deus de mentiroso e os apóstolos de testemunhas falsas. Mas essas pessoas devem reconhecer que terão de comparecer diante do trono do juízo de Deus para dar conta daquilo que disseram.
17.E se Cristo não ressuscitou, sua fé é sem valor e vocês ainda estão em seus pecados.
O versículo 17 é uma continuação do versículo anterior. Paulo estende sua lógica constrangedora para que seus leitores vejam o efeito de uma negação da ressurreição. Passo a passo, ele lhes revela as implicações espirituais dessa negação.
Paulo se dirige aos coríntios com o uso da segunda pessoa do plural vocês. Ele diz: “Se vocês negam a ressurreição de Cristo, então devem perceber que sua fé nada vale” (comparar com v. 2). No versículo 14, Paulo usa o adjetivo inútil, mas aqui, “sem valor”. A diferença é que o adjetivo grego kenē, traduzido “inútil”, expressa “vazio”, e o adjetivo grego mataia, traduzido “sem valor” indica falta de direcionamento”.
Quais são as ramificações de uma fé sem valor? Primeiro, se Cristo não ressuscitou do túmulo, ele está morto; um Cristo morto é incapaz de justificar os crentes; e crentes não justificados permanecem em seus pecados. Tiramos a conclusão inevitável de que a justificação dos crentes depende justamente da ressurreição de Jesus Cristo. Sem o Cristo ressurreto não existe justificação, sem a justificação não existe a fé viva, e sem a fé viva não existe perdão de pecados. Paulo confronta os coríntios que rejeitam a ressurreição de Cristo e o que de fato lhes diz é isto: “Se vocês permanecem em seus pecados sua fé nada vale, vocês não mostram sinal algum de que pertencem ao povo santificado de Deus, e vocês não estão salvos”.
Contudo, Paulo havia escrito que os coríntios estavam santificados em Cristo Jesus, seriam conservados fortes até o fim, e eram chamados para a comunidade de Deus (1.2,8,9). Mais do que isso, Paulo lhes dissera que eles eram lavados, santificados e justificados no nome de Jesus pelo Espírito de Deus (6.11). Seus pecados estavam perdoados; eles foram tornados santos e justos em Cristo Jesus. Paulo não se contradiz nessa carta; ao contrário, ele quer que os coríntios entendam a lógica de seu argumento e vejam o erro do seu caminho. Precisam enxergar o efeito que negar a ressurreição de Jesus tem sobre a vida espiritual deles, e portanto devem se arrepender. Paulo quer que eles possuam a segurança de que foram remidos por Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou da sepultura em benefício deles. Ele quer que saibam que, com base na ressurreição de Jesus, eles foram justificados e santificados.
18. Então também aqueles que já dormiram em Cristo pereceram.
Paulo chega à conclusão de seu argumento lógico e o introduz com a expressão grega ara, que nesse versículo significa “como resultado”. Ele pede a seus leitores que reflitam sobre uma questão que é relacionada a uma geração passada de crentes. Ele se refere àqueles que dormiram, o que no Novo Testamento é um eufemismo comumente usado para os que já morreram (em inglês, o eufemismo é he passed away; em português, ele descansou). O eufemismo do Novo Testamento é relacionado não ao sono da alma, mas a um corpo físico esperando num túmulo o dia da ressurreição. Nesse texto, contudo, a expressão dormiram em Cristo se aplica aos cristãos que na hora da morte creram que entrariam no céu para estar eternamente com Cristo. Os coríntios criam que a separação entre corpo e alma teria fim quando Jesus retornasse (1Ts 4.16).
Se uma pessoa nega a ressurreição, Paulo informa aos leitores, a implicação lógica é que aqueles que morreram em Cristo estão perdidos. Se Cristo não ressurgiu dos mortos, então Deus condena as pessoas a castigo eterno por causa de seus pecados; elas nunca entram no céu para estar na presença de Deus e, finalmente, o corpo delas permanece para sempre no túmulo. Afastadas, separadas do Deus vivo, elas perecem. Se os coríntios que negam a doutrina da Ressurreição dizem que aqueles que morreram estão com Jesus, então eles se contradizem. Uma negação da ressurreição significaria que todos pereceram, incluindo Jesus.
Os coríntios, no entanto, creem que seus queridos morreram em Cristo. Paulo os força a ver a falácia de seu modo de pensar. Devem reconhecer que se crentes morreram em Cristo, o próprio Cristo lhes dá as boasvindas no céu. Portanto, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e está vivo. A morte é incapaz de quebrar o vínculo que existe entre Cristo e os crentes durante toda esta vida terrena. Esse vínculo continua adentrando a vida do além e dura eternamente (comparar com Rm 6.11).
19. Se apenas para esta vida nós esperamos em Cristo, somos de todas as pessoas as mais dignas de piedade.
A fraseologia desse versículo dá origem a interpretações que surgem da posição e do significado do advérbio apenas. Note as seguintes observações:
Primeiro, o texto grego tem a palavra apenas no final da primeira cláusula, e a liga à construção verbal nós esperamos. A New American Bible reflete essa ligação: “Se só esperamos em Cristo nesta vida, somos de todos os homens os mais dignos de piedade”. Essa interpretação faz Paulo dizer que os coríntios têm errado em colocar sua esperança apenas em Cristo. Ele certamente não está indicando que os crentes devam pôr sua confiança em seres humanos também (ver Sl 146.3). Nem ele dá a entender que os cristãos devem focalizar a atenção em Jesus (Hb 12.2) para a vida do porvir e mostrar um descuido total pelo presente. O que Paulo está salientando, então, nesse versículo conclusivo dessa parte da discussão? Isso se torna claro na segunda interpretação.
Se colocamos o advérbio apenas depois de “para esta vida” e antes de “nós esperamos em Cristo”, o advérbio controla a primeira cláusula inteira. Então a leitura decisivamente limita nosso relacionamento com Jesus Cristo a esta vida terrena e coloca Jesus num nível horizontal, em vez de num nível vertical. Consequentemente, o nosso relacionamento com Cristo acaba quando a morte põe fim à nossa vida física, e não temos esperança de ressurreição.
Paulo frisa o verbo esperar com uma construção grega de um particípio passado que talvez se traduza melhor “nós temos estado esperando”. O tempo perfeito descreve uma ação que ocorreu no passado e continua até o presente. Desde o tempo da conversão até o da morte, os coríntios que morreram tinham vivido com base na esperança. Quando morreram, essa esperança não se tornou realidade, mas tornou-se desilusão. Paulo declara que quando a esperança é destruída, os crentes são logrados e de todas as pessoas são as que mais merecem compaixão. Os descrentes já vivem sem esperança, e assim buscam tirar todo o proveito possível da vida presente. Os crentes esperam pela restauração de todas as coisas na vida futura. Se sua esperança desaparece na hora da morte, são mais dignos de compaixão do que qualquer pessoa.49
Palavras, expressões e construções em grego em 15.12–19
Versículos 12–14
ἐκ νεκρῶν – ”dos mortos”. Sem o artigo definido, νεκροί significa os mortos em geral; com o artigo, significa os cristãos que morreram.
ἐν ὑμῖν τινες – a preposição ἐν transmite o sentido partitivo: “alguns de vocês”.
εἰ – as sentenças condicionais nos versículos 13–18 são do tipo contrário aos fatos. Em sequência, as sentenças condicionais desenvolvem o raciocínio lógico da apresentação de Paulo.
ἐγήγερται – ver o verbete no versículo 4.
κενόν –”vazia” (vã). A posição desse adjetivo denota ênfase. “É vã a nossa pregação, e vã a fé de vocês”.
ὑμῶν – alguns manuscritos gregos importantes têm a leitura ἡμῶν, mas o contexto pede “a fé de vocês” para contrabalançar com “nossa pregação”.
Versículo 15
κατά – com o genitivo τοῦ θεοῦ, essa preposição transmite a ideia contra Deus.
εἴπερ – nesse composto, a partícula -περ coloca ênfase urgente sobre a partícula εἰ (se), que introduz a cláusula condicional: “se, conforme dizem, é verdade que…”
ἐγείρονται – Paulo usa o tempo presente da passiva para explicar que o agente implícito é Deus, que ressuscita os mortos.
Versículos 18–19
κοιμηθέντες – o particípio aoristo passivo de κοιμάω (eu adormeço, morro, faleço) indica ação simultânea com o verbo principal perecer.
μόνον – “apenas”. Nigel Turner observa: “Nessa sentença, o advérbio monon ocorre não depois das palavras ‘nesta vida’, mas depois do verbo, e de fato depois da sentença toda. Não se pretendeu um contraste entre ter fé enquanto estamos neste mundo e tê-la em algum outro. O contraste é antes entre ter fé apenas e ter fé apoiado pela realidade da vida ressurreta atual de Cristo”.
ἐλεεινότεροι – o adjetivo comparativo de ἐλεεινός (miseráveis, dignos de piedade) serve como um superlativo, “mais dignos de piedade”.
12, 13. Ora, se Cristo. Ele então começa provando a ressurreição de todos nós pelo prisma da ressurreição de Cristo. Pois uma inferência mútua e recíproca é bem estabelecida de um lado e do outro, tanto afirmativa quanto negativa. Em primeiro lugar, se considerarmos “de Cristo para nós”, então temos: “Se Cristo ressuscitou, então também ressuscitaremos. Se Cristo não ressuscitou, então também não ressuscitaremos.” Se mudarmos a ordem, “de nós para Cristo”, teremos: “Se ressuscitarmos, é porque Cristo ressuscitou. Se não ressuscitarmos, é porque também Cristo não ressuscitou.”
Agora tomemos essas partes em sua ordem. Este é o raciocínio por trás do argumento que é extraído do termo “de Cristo para nós”: “Cristo não morreu nem ressuscitou por sua própria causa, mas por nossa causa; portanto, sua ressurreição é a substância [hypostasis] da nossa; e o que foi efetuado nele deve concretizar-se em nós também.” A forma negativa, por outro lado, é a seguinte: “Do contrário, não haveria qualquer razão ou propósito para sua ressurreição, visto que o resultado dela não deve ser buscado em sua própria pessoa, mas em seus membros.”
Em contrapartida, o raciocínio por trás da conclusão precedente, do qual se deve extrair o argumento “de nós para ele”, é o seguinte: “A ressurreição não é um fato natural, e não se origina de nenhuma outra fonte, senão unicamente de Cristo. Visto que em Adão morremos, somente em Cristo é que voltamos à vida. Segue-se deste fato que sua ressurreição é a base da nossa; portanto, se a sua for eliminada, então não nos ficará nada.” O raciocínio por trás da conclusão negativa já foi apresentado; porque, uma vez que ele ressuscitou unicamente por nossa causa, então, se não houver benefício algum para nós,33 não haverá também nenhuma ressurreição de sua parte.
14. Então é vã nossa pregação, não simplesmente porque ela inclua um certo elemento de falsidade, mas porque é indigna e um completo logro. Pois o que fica se Cristo foi devorado pela morte; se foi aniquilado; se sucumbiu-se sob a maldição do pecado; se, finalmente, ficou cativo de Satanás? Numa palavra, uma vez que o princípio fundamental foi removido, tudo o que resta será de nenhum valor.
Pela mesma razão ele adiciona que a fé deles seria inútil; pois que solidez de fé pode haver, quando nenhuma esperança de vida vigora? Mas que na morte de Cristo, considerada em si mesma, nada descobrimos senão motivo para desespero; pois aquele que foi completamente vencido pela morte não pode efetuar a salvação de outros. Lembremo-nos, pois, que o principal fundamento de todo o evangelho é a morte e ressurreição de Cristo; de sorte que devemos dedicar especial atenção a ambas, caso queiramos fazer bom e normal progresso no evangelho, ou, antes, se não quisermos permanecer estéreis e infrutíferos [2Pe 1.8].
15. Somos ainda tidos por falsas testemunhas. Os outros resultados negativos que ele já relatou são certamente muitíssimo sérios, no tocante a nós, ou, seja: que a fé desvanece; que todo o ensino do evangelho é inútil e sem valor; que somos privados de toda esperança de salvação. Mas também não é uma questão trivial e sem importância o fato de os apóstolos passarem por homens que estiveram enganando o mundo com suas mentiras; pois tal coisa faria Deus repelível e o revelaria da pior forma possível.
Podemos tomar a frase, falsas testemunhas de Deus, de duas formas: ou que estavam mentindo ao fazerem mau uso do nome de Deus, simplesmente como pretexto; ou que o povo descobriu que eram mentirosos quando testificavam quanto ao que haviam recebido de Deus. A segunda exerce um apelo mais forte sobre mim, visto ser uma questão mais grave do que a outra; e Paulo já havia falado de como afetava os homens. Ele agora ensina que, se a ressurreição de Cristo for negada, então Deus será culpado de mentir na pessoa de testemunhas que foram apresentadas e contratadas por ele.36 A razão acrescida também concorda muito com isso, visto que fizeram falsa asseveração, não por sua própria iniciativa, mas pela de Deus.
Estou ciente de haver os que explicam a preposição κατα de forma diferenciada. A Vulgata a traduz adversus, contra; enquanto Erasmo a traduz de, concernente. Visto, porém, que ela em grego também produz o sentido de από, ou, seja, de, este significado pareceu-me estar em mais harmonia com a intenção do apóstolo. Porquanto ele aqui não está tratando da reputação humana (como já afirmei), mas do fato de Deus ser exposto à acusação de mentir, visto que aquilo que estavam proclamando tinha sua origem nele.
17. E ainda permaneceis em vossos pecados. Embora Cristo tenha feito expiação por nossos pecados, de modo que não são mais levados em conta para acusação contra nós ante o tribunal de Deus, e tenha crucificado nosso velho homem para que suas paixões não mais reinassem em nós, e finalmente ele, por meio de sua própria morte, tenha destruído o poder da morte e do próprio diabo [Hb 2.14], contudo não haveria nenhuma virtude nesses fatos caso ele não emergisse vitorioso por meio de sua ressurreição. Assim, caso a ressurreição fosse anulada, a tirania do pecado seria outra vez estabelecida.
18. Então os que adormeceram. Tendo em vista provar que, se a ressurreição de Cristo fosse eliminada, nossa fé seria baldada e o Cristianismo não passaria de uma ilusão, então ele disse que a existência [humana] permaneceria em seus pecados; mas como há uma ilustração mais clara desta matéria a ser vista nos mortos, ele então faz alusão a eles como um exemplo. “Que vantagem teriam os mortos que uma vez foram cristãos? Portanto, nossos irmãos que já enfrentaram a morte viveram na fé em Cristo sem nenhuma objetividade.” Mas se se admitir que a essência da alma é imortal, então este argumento, à primeira vista, parece conclusivo; porque mui prontamente se replicará que os mortos não pereceram, visto que suas almas continuam existindo num estado de separação de seus corpos. Daí, alguns fanáticos concluem, à luz deste versículo, que não pode haver vida alguma no período intermediário entre a morte e a ressurreição; mas não é difícil refutar tal frenesi. Porque, embora as almas dos mortos estejam agora vivas e felizes no bendito repouso, todavia a plenificação de sua felicidade e consolação depende unicamente da ressurreição; pois há boas razões para que estejam aguardando aquele dia quando serão convocados a tomarem posse do reino de Deus. Daí, no que tange à esperança dos mortos, tudo se desvanecerá, a menos que aquele dia chegue logo, ou chegue mais tarde.
19. Se esperamos em Cristo somente nesta vida. Aqui temos outro absurdo, não só pelo fato de estarmos desperdiçando baldadamente nosso tempo e esforço, teimando em crer, uma vez que o benefício derivado de nossa fé perece com a morte, mas também pelo fato de ser preferível não crermos de forma alguma, pois os incrédulos estariam numa posição muito mais consistente e muito mais desejável.
Esperar “somente nesta vida”, aqui, significa restringir a este mundo os benefícios derivados de nossa fé, de modo que esta fé nada vê nem se estende para além dos limites desta presente vida. Esta afirmação mostra ainda mais claramente que os coríntios se deixaram influenciar por alguma noção equivocada e fantasiosa de que a ressurreição era de caráter simbólico, como aquela defendida por Himeneu e Fileto, naquele tempo, como se o fruto final de nossa fé estivesse diante de nós apenas nesta vida [2Tm 2.17, 18]. Porque, visto que a ressurreição é a completação de nossa salvação, e como todas as bênçãos, por assim dizer, visam a um alvo mais além, aquele que afirma que nossa ressurreição é assunto do passado não nos deixa nada que valha a pena esperar depois da morte. Seja como for, esta passagem não oferece qualquer apoio ao despropósito daqueles que imaginam que nossas almas adormecem juntamente com nossos corpos até o dia da ressurreição.41 Pois replicam que, se nossas almas continuam vivas depois de serem separadas de nossos corpos, então Paulo não teria dito que, se a ressurreição fosse eliminada, teríamos esperança somente nesta vida, visto que nossas almas teriam em si alguma sorte de felicidade. Minha resposta a esta questão é que o apóstolo não tinha em mente os campos Elíseos nem algum outro disparatado absurdo desse gênero, mas ele aponta para o indubitável fato de que os cristãos direcionam sua esperança inteiramente para o dia do Juízo Final; que as almas crentes, hoje, também se regozijam precisamente com a mesma expectativa; e, por essa razão, tudo estaria perdido para nós se uma segurança dessa sorte nos fosse provada ser falsa.
Por que, pois, nos disse ele que seríamos os mais miseráveis de todos os homens, como se a sorte de um cristão fosse pior que a de um incrédulo? “Tudo sucede igualmente a todos… ao justo e ao ímpio”, diz Salomão [Ec 9.2]. Replico que todos os homens, sejam eles bons ou maus, estão indubitável e igualmente expostos às mesmas calamidades e experimentam as mesmas frustrações e os mesmos infortúnios; entretanto, há duas razões por que os cristãos sofrem mais, em todos os tempos; e há ainda outra razão que pertenceu peculiarmente ao tempo de Paulo.
A primeira razão consiste em que, embora o Senhor pudesse com mais freqüência castigar também os incrédulos com seus azorragues, e começar a exercer seus juízos contra eles, contudo, particularmente, ele cuida de afligir seu próprio povo, e isso de diferentes formas. Ele assim procede, primeiramente, porque aqueles a quem ele ama também os disciplina; e, em segundo lugar, a fim de treiná-los na paciência, para provar sua obediência, ele os prepara, paulatinamente, pelo caminho da cruz, para uma genuína renovação. Seja como for, o seguinte fato sempre se prova verdadeiro no tocante aos crentes: “Pois chegou a hora de começar o julgamento pela casa de Deus” [Jr 25.29; 1Pe 4.17]; ainda: “Somos considerados como ovelhas para o matadouro” [Sl 44.22]; e mais: “Porque já morrestes, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus” [Cl 3.3]. Conquanto isto, as circunstâncias dos incrédulos são geralmente mais afortunadas, porque o Senhor os engorda como suínos para o dia da matança.
A segunda razão consiste em que os crentes, ainda que possuam em abundância riquezas e bens de toda sorte, todavia nem tudo corre bem em sua esfera, e nem se saciam festivamente. Numa palavra, o mundo não os satisfaz, como se dá com os incrédulos; ao contrário, seguem seu caminho com corações ansiosos, suspirando todo o tempo [2Co 5.2], em parte porque são cônscios de suas próprias debilidades, e em parte porque sentem saudade da vida por vir. Os incrédulos, em contrapartida, vivem completamente absortos pelos deleites intoxicantes desta presente vida.
A terceira razão, como disse antes, a qual era peculiar ao próprio tempo de Paulo, consiste em que o nome cristão era, naquele tempo, algo tão odioso e desacreditado, que ninguém selaria seu compromisso de fidelidade a Cristo sem se expor a imediatos riscos de morte. Portanto, Paulo tem boas razões para dizer que os cristãos seriam “os mais miseráveis de todos os homens” se sua confiança se limitasse a este mundo.