PERDIDOS, MAS NÃO ESQUECIDOS
História do grande Mestre • Sermon • Submitted
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Transcript
PERDIDOS, MAS NÃO ESQUECIDOS
Texto – .
Tema – Reencontro
Tese – O amor de Jesus nos constrange a voltar para a casa do pai.
INTRODUÇÃO
Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?
é o capítulo conhecido como o “evangelho dentro do evangelho”. Jesus apresenta uma resposta à acusação que Lhe é feita pelos austeros fariseus: “Este recebe pecadores e come com eles” (). Ele, então, conta três parábolas. Essas histórias não são primariamente uma exposição do evangelho, mas uma defesa dele. Elas representam a poderosa teologia de Cristo diante daqueles para quem a graça de Deus parecia um desperdício, aqueles que se sentiam indignados face à afirmação de que Deus Se interessa pelos pecadores. Para esse grupo, Jesus conta a parábola da ovelha perdida (), a parábola da moeda perdida (v. 8-10) e a parábola do filho perdido (v. 11-32).
Como você se sente quando perde qualquer coisa considerada valiosa? Jesus utiliza um conceito que facilmente podemos compreender e com o qual logo nos identificamos. É óbvio que as pessoas se sentem frustradas, deprimidas e tristes quando perdem aquilo a que dão valor e se alegram quando encontram o que foi perdido. A estupenda revelação que Jesus faz é de que Deus também Se sente assim. Essas são histórias de Deus na linguagem dos homens. Tais parábolas têm uma estrutura comum: elas enfatizam a tragédia da perda, a diligência da busca e a alegria do encontro. A lição é clara em cada caso. Os bens perdidos não foram esquecidos e não perderam seu valor, o que é indicado pela busca. No caso da ovelha, a proporção é uma em cem; no caso da moeda perdida, uma em dez; e, no caso do filho perdido, um em dois.
Viajando de ônibus de Toronto, no Canadá, para a cidade de Nova York, fizemos uma parada em um terminal rodoviário na cidade de Buffalo. Chamou-me a atenção um enorme mural, tomando toda a parede, com fotografias de pessoas desaparecidas. Homens, mulheres, rapazes, moças e principalmente crianças. Todos eles, filhos, filhas, esposos, esposas, pais, netos de alguém. Acima das fotos, escrito em letras bem grandes: “Perdidos, mas não esquecidos.” Não pude deixar de fazer a associação daquele quadro com essas histórias de Jesus. Pessoalmente Deus Se envolveu na busca daquilo que foi perdido. Toda a inteligência do Universo concentrada na tarefa de resgatar o que se extraviou. Você, querido irmão, é o objeto dessa inestimável busca!
II – NA DIREÇÃO DO PAÍS DISTANTE
Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante.
A terceira história de , a parábola do filho pródigo, é a mais longa, mais conhecida, mais amada e mais citada das parábolas de Jesus. Mas, infelizmente, é pouco entendida. Ela representa a pincelada magistral no quadro que Jesus pinta de Deus. “Certo homem tinha dois filhos” (v. 11), Ele iniciou Sua história. “O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe” (). Tal pedido implica um desejo de morte, uma vez que na cultura oriental apenas com a morte do pai a herança estaria disponível. Em alguns dias, o filho transformou tudo em dinheiro e partiu. Isso significa que ele não pretendia voltar.
O pai poderia ter obrigado o filho a ficar. Mas isso adiantaria? O rapaz já estava emocionalmente distante. Esse é o ponto vulnerável do amor: ele pode ser rejeitado. Essa e a parte fraca de Deus. O rapaz estava decidido a buscar a felicidade longe. A tragédia é que frequentemente buscamos a felicidade em lugares em que ela não pode ser encontrada. Nas buscas erradas da vida, já estamos permitindo que os fios dos ventos comecem a tecer a capa de nossos maiores desacertos.
Para onde a fantasia do moço o levou? Segundo Jesus, ao “país distante”. Onde fica tal país? Geograficamente, o “país distante” ficava entre os gentios, caracterizado pelos valores e moralidade pagãos. Espiritualmente, “o país distante” é a inconsciência de Deus. Viver como se Ele não existisse.
O jovem da história de Jesus fez da vida um carnaval. Viveu dias alegres e noites deslumbrantes, mas tinha um encontro marcado com o desastre. Gradualmente ele desceu ao seu inferno. As amizades duraram enquanto durou o dinheiro. Note a sequência: ele perdeu todo o dinheiro, começou a passar necessidade e ninguém lhe dava nada (). Sua aparência radiante de príncipe tornou-se imersa em depressão e tristeza. Suas roupas custosas se converteram em trapos. As leis, os conselhos e a sabedoria desprezados tornam-se anjos vingadores. A história desse filho é nossa biografia. Todos nos desviamos como ovelhas desgarradas. Em nossa cegueira e rebelião, tentamos criar paraísos precários: felicidade baseada em idolatrias, prazeres e aquisições, para descobrir o sabor amargo do desencanto. Porque, afinal, o país distante nunca poderá ser nosso lar!
III – CAINDO EM SI
Então, caindo em si, disse: […]Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai. ,
O filho da parábola foi empregado por um gentio para apascentar porcos, uma atividade nem mesmo imaginável para um judeu. A guarda do sábado, conforme indica a lei, dificilmente poderia ser observada agora. Seu estágio final no país distante sugere completa apostasia de sua identidade, que aparece aqui desfigurada e esquecida. Nesse ponto, vem-nos à mente o quadro comum, que pinta o jovem mal vestido, assentado, com a cabeça pendida nos joelhos, cercado de porcos. Muito pouco sobrou do rapaz que saíra da casa do pai.
O ponto de retorno na parábola é extraordinário. Jesus diz que o moço “caiu em si”. Isso significa que, quando ele abandonou o pai, o jovem estava “fora de si”. Todo abandono de Deus é uma forma de insanidade. Está fora de si todo aquele que busca ser feliz longe de Deus, em seus pobres substitutos. Essa busca é uma forma de demência, pois o “país distante” será sempre “terra estranha”. Ele havia saído de casa pensando: “Tenho que ser eu mesmo.” Mas descobriu que a verdadeira identidade não é encontrada longe. Ainda distante, ele se lembrou de seu pai, de seu amor e bondade. Fragmentos de memórias vieram à sua lembrança. Essa é a base de toda iniciativa de retorno. A graça já estava operando.
Note, sua decisão não é voltar à sua vila ou mesmo ao antigo lar, mas voltar para o seu pai. É a distância, na companhia dos porcos, que ele chega a compreender a glória do amor paterno. Ele admite ter perdido o status de filho. Imagina-se como um simples empregado, mas afinal lar é lar. “Levantar-me-ei”, ele diz para si mesmo. Não há lugar mais difícil para o qual retornar do que aquele em que falhamos. Os lugares de nossos fracassos são lugares cruéis. Voltar seria obrigar-se a se deparar com a própria vergonha. Seria voltar com o cheiro dos porcos, com os trapos de seu fracasso. Mas ele está certo de que seu pai o receberá.
Nessa parábola, Jesus não trata o pecado com leviandade. Ele pinta suas trágicas consequências. Mas Ele não pode aceitar que a separação de Deus seja um ato de sanidade. Ele acredita que com cada pessoa pode se repetir a experiência do pródigo: “caindo em si…”. Esse é o extraordinário otimismo de Cristo. O judaísmo tinha fé no arrependimento: “Deus nos ama porque nos arrependemos.” Cristo ensina o contrário: “Ele nos revela Seu amor para que nos arrependamos” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 189).
IV – O PAI DO PRÓDIGO
Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.
O pai da parábola de Jesus viu de longe o filho que se aproximava. A implicação é extraordinária: ele esperava o filho. Dia após dia, nunca deixou de esperar. Apenas amor paterno genuíno poderia reconhecer o filho sob os farrapos que cobriam aquele andarilho distante. O amor tem bons olhos. O pai discerniu seu filho ao longe. O filho estava ainda distante para expressar arrependimento, como os judeus esperariam, mas a graça do pai já se revelava presente e atuante. Para os judeus, bem como para os cristãos medievais, Deus vem em nossa direção apenas quando caminhamos em direção a Ele.
Para entender a história, devemos lembrar que no Oriente um homem idoso, respeitado, não deveria correr publicamente. Tal ato era considerado inapropriado e indigno. Mas esse pai, tomado de compaixão, desconsiderou todos os protocolos e etiquetas de sua cultura. Correu ao encontro de seu filho. Aqui encontramos o elemento redentivo da história. Correndo, lançou-se ao pescoço do filho, “beijou-o ternamente” ou “muitas vezes”. Os dois significados são possíveis. O pai queria ter certeza de que seria o primeiro na vila a encontrar-se com seu filho, para protegê-lo de críticas ou de atitudes hostis e julgadoras. O pai não queria correr o risco de que seu filho fosse desencorajado pela zombaria ou desdém de outros e acabasse desistindo.
O gesto do pai deixou os observadores da vila atônitos. Ele se lançou ao pescoço desse estranho, vestido em trapos e o cobriu de beijos. O pai segurou o rapaz e o apertou contra o peito, impedindo que ele caísse de joelhos, posição de subserviência. Ele nem mesmo permitiu que o filho completasse o discurso que havia ensaiado. A confissão do filho que retorna é sufocada por bondade infinita.
Surpreendentemente, o pai não pronunciou nenhuma palavra ao filho. Mas as ações diziam tudo. Ordenou que os servos trouxessem a melhor veste, roupa festiva, usada em grandes ocasiões. Colocou-lhe nas mãos um anel. Não apenas como ornamento, mas um anel-sinete, símbolo de autoridade. Colocou-lhe sandálias nos pés, porque apenas os servos andavam descalços. O que esse pai está dizendo é que todas as marcas do país distante deveriam ser apagadas. Tudo perdoado. Tudo esquecido. Meu amigo, você que hoje me escuta, é assim que você concebe Deus? O Deus aquém você serve é assim? Pois é assim que Ele é. Aquele que recebe, aceita e perdoa os que voltam!
V – CONCLUSÃO – COMO É DEUS
Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
Nossas definições de Deus, na maioria das vezes, falam mais de nós mesmos do que de Deus. Não raro, elas interpretam mal a Deus. Em , Jesus conta três parábolas em resposta à acusação que Lhe é feita: “Este recebe pecadores” (). Assim, Ele subverte a doutrina de Deus da teologia farisaica. Segundo Jesus, Deus não exige reforma e santificação como condição para aceitar os que O buscam. Ele não espera transformação moral nem mesmo nosso arrependimento para nos receber.
Isso lhe parece ofensivo? Observe as palavras de Ellen White: “Os judeus ensinavam que o pecador devia arrepender-se antes de lhe ser oferecido o amor de Deus. […] Conforme sua suposição, [Jesus] não devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se ter arrependido. […] Cristo ensina que a salvação não é alcançada por procurarmos a Deus, mas porque Deus nos procura” (Parábolas de Jesus, p. 189). Arrependimento, santificação e reforma não são a base da aceitação por Deus, mas o resultado dela.
Em comovente simplicidade, Jesus descreve como é Deus, Sua bondade, Sua graça e infinita misericórdia. Esse é o Deus a quem Jesus representou. O Deus que recebe os envergonhados, cegos, leprosos, surdos e imundos. Que não nega a culpa, mas perdoa e cura.
APELO
Querido amigo, encontra-se você no “país distante”? Sua jornada parece ter chegado ao fim, numa viela aparentemente sem saída? Está você desanimado, deprimido pelos descaminhos da vida que o levaram a viver longe do Pai, imaginando que não há esperança para seu caso? Aqui está o Deus que Jesus veio revelar. Aquele que “justifica o ímpio” (). Ele purifica e restaura. Não apenas nos ofereceu roupas de puro linho, mas “deu o Seu filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” ().
Aqui está o Deus do evangelho, que celebra e Se regozija com a volta dos perdidos. Corre ao encontro deles. Estende Seus braços eternos para recebê-los e abraçá-los. Esse Deus não coloca nenhum obstáculo aos que retornam. Agora mesmo, pode torná-lo nova criatura, um novo homem ou uma nova mulher. Ele pode dizer-lhe neste mesmo instante, com júbilo que invade o Universo: “Bem-vindo ao lar, meu querido. Estava esperando você!”