O engano da comunhão com mortos
O engano da comunhão com mortos.
Introdução:
A NECESSIDADE DA RESERVA ESCRITURÍSTICA
[554] A história da doutrina do estado intermediário mostra que é difícil, para os teólogos e para as pessoas em geral, permanecer dentro dos limites da Escritura e não tentar ser mais sábios do que podem ser. Os dados escriturísticos sobre o estado intermediário são suficientes para nossas necessidades nesta vida, mas deixam sem resposta muitas questões que podem surgir na mente inquisitiva. Se a pessoa, porém, insistir em resolvê-las, ela só pode tomar o curso da conjuntura e correr o risco de negar o testemunho divino pelas invenções da sabedoria humana. Isso se torna imediatamente evidente quando falamos sobre morte e imortalidade. A filosofia trata desse assunto de uma forma diferente da Escritura. A filosofia interpreta a morte como algo natural e pensa que a ideia de imortalidade, isto é, a existência contínua da alma, é suficiente para isso. No entanto, o entendimento da Escritura é muito diferente. A morte não é natural, mas surge da violação do mandamento divino (Gn 2.17); do diabo, porque, por meio de sua sedução, fez com que a humanidade caísse e morresse (Jo 8.44); do próprio pecado, porque ele tem um impacto desagregador sobre toda a vida humana e, por assim dizer, produz a morte por si mesmo (Tg 1.15); do juízo de Deus, porque ele paga o salário do pecado com a moeda da morte (Rm 6.23). Na Escritura, essa morte nunca é idêntica a aniquilação, não existência, mas sempre consiste na destruição da harmonia, na exclusão dos vários cenários de vida nos quais a criatura foi colocada de acordo com sua própria natureza, no retorno à existência elementar caótica que, pelo menos logicamente, esta sob a superfície de todo o cosmo.
há muitos que creem que as almas, depois da morte, ainda mantêm algum tipo de relação com a vida na terra. É predominante entre muitos povos a ideia de que as almas, depois da morte, permanecem próximas ao túmulo. Os judeus, também, criam que, por algum tempo depois da morte, a alma pairava por sobre o cadáver e usaram essa circunstância para explicar por que a pitonisa de En-Dor ainda podia invocar o espírito de Samuel. Havia a prática amplamente divulgada de oferecer aos mortos, em seus túmulos, comida, armas, posses e eventualmente até mesmo esposas e escravos. Geralmente, essa veneração dos mortos não era restrita ao dia do sepultamento ou ao período do velório, mas continuava posteriormente e era incorporada à prática cúltica ordinária privada ou pública. Não apenas os mortos, em geral, eram venerados, mas também parentes de sangue mortos, pais e ancestrais, os patriarcas e líderes da tribo, os heróis do povo, os príncipes e reis de um país, às vezes até mesmo quando ainda viviam. No Budismo e no Islamismo, os santos também eram venerados. Essa veneração consistia em manter seus túmulos, cuidar de seus corpos (às vezes embalsamando-os), de tempos em tempos colocando flores e comida em seus túmulos, respeitando suas imagens e relíquias, realizando banquetes e jogos em sua honra e dirigindo-lhes orações e sacrifícios. Embora, a esse respeito, as pessoas geralmente fizessem uma distinção – como acontecia na Pérsia, na Índia e na Grécia – entre venerar as pessoas mortas e honrar os deuses, o culto aos mortos era parte importante da religião. O propósito dessa veneração pelas pessoas era, em parte, ir em socorro aos mortos, mas, especialmente, evitar o mal que os mortos podiam fazer e assegurar-se, seja por meios ordinários ou extraordinários, oráculos e milagres, de sua bênção e ajuda.36
Desde o início do 2º século, todos esses elementos penetraram também no culto cristão. Assim como os monges, no Budismo, e os místicos, no Islamismo, os mártires da igreja logo se tornaram objeto de veneração religiosa. Altares, capelas e igrejas foram construídos nos lugares onde eles morreram ou onde suas relíquias foram enterradas. Especialmente na data da morte dos mártires, os crentes se reuniam nesses lugares para honrá-los com vigílias e o cântico de salmos, a leitura das atas de martírio, para ouvir sermões em sua honra e, especialmente, para celebrar a santa eucaristia. Depois do 4º século, essa veneração da virgem Maria, dos anjos, dos patriarcas, dos profetas e dos mártires foi ampliada para incluir bispos, monges, eremitas, confessores e virgens, tanto quanto uma variedade de santos, suas relíquias e suas imagens. Apesar da resistência a esse culto aos mortos tanto dentro quanto fora da Igreja Católica, ele ainda está, de forma alarmante, consistentemente e cada vez mais empurrando o culto ao verdadeiro Deus e a Jesus para segundo plano.