A Mulher Adúltera.
Exposições no evangelho de João. • Sermon • Submitted
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Texto
Texto
1 Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?
6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.]
O texto é real ou não?
O texto é real ou não?
O presente texto é envolto em discussões por parte dos teólogos. Isso se dá pelo fato de que esses versículos não existem na maioria dos manuscritos joaninos. Eu comentei um pouco sobre isso na pregação sobre Jo 5, onde a exemplo dessa passagem aqui o versículo 4 daquele capítulo também não consta na maioria dos manuscritos.
Vamos rememorar um pouco sobre essa questão para entendermos o que isso quer dizer.
O Novo Testamento, originalmente, foi escrito na língua grega que era, podemos dizer, como se fosse o inglês de hoje, ou seja, uma língua universal. Todos os documentos oficiais eram escritos em grego, assim como todos os textos acadêmicos. (mesmo que naquela época não havia uma academia como hoje).
Com isso, fica claro para todos que o que temos hoje são traduções, ou seja, o texto não foi escrito em português, ou inglês.
Junto a isso, vale observar que o material que se usa para fazer tais traduções são as cópias que sobreviveram ao tempo. Ninguém possui mais os autógrafos. As cópias que chegam até nós hoje são fruto de um extenso trabalho de manutenção, preservação, etc..
Basicamente o que ocorria era o seguinte, as igrejas iam pegando as cartas escritas pelos apóstolos e iam fazendo cópias, como na época não havia xérox, isso era feito tudo a mão, por isso o nome manuscritos. E tais manuscritos foram passando pelas igrejas.
De acordo com que esses manuscritos foram sendo encontrados, foi criando uma espécie de famílias de manuscritos, essas famílias eram determinadas de acordo com a região em que o manuscrito era encontrado, de acordo com a pessoa que o encontrasse, etc..
Na medida em que tais manuscritos foram sendo estudados foi-se percebendo sutis diferenças entre alguns deles, e hoje, dependendo de qual tipo de manuscrito que um grupo utiliza para fazer sua tradução, o resultado é que chega até nós traduções com algumas diferenças.
E, em casos como o desse texto de Jo 8, alguns optam por incluir as diferenças entre colchetes nos textos.
Agora a pergunta principal é: Qual o grau de relevância dessas diferenças? Existe alguma possibilidade de tais diferenças comprometerem algo fundamental de nossa fé cristã? De maneira nenhuma! As diferenças, em sua maioria, residem em aspectos de data, lugar, quantidade, e, quando não, em questões como essa que uma simples análise no texto mostra que os princípios apresentados podem ser claramente encontrados em outras partes da Escritura, o que, de certa forma então, não acrescentou nada contrário ao contexto macro da Sagrada Escritura.
Dito isso, precisamos entender que, ainda que o presente texto esteja inserido nesse grupo de discussões, veremos que tal acontecimento é real.
A questão orbita em trono quando tal evento ocorreu e onde deve ser inserido no relato bíblico. Bem, por uma questão bem simples, é muito mais fácil deixá-lo aqui onde está, e expormos o texto levando em conta este lugar.
A mulher pega em adultério.
A mulher pega em adultério.
2 De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
No versículo 2 somos informados que Jesus está de volta no templo, e as pessoas vão até Ele. Essa é uma imagem muito vívida nos evangelhos, Jesus assentado ensinando as pessoas.
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
Aqui somos informados que religiosos influentes levam à Jesus uma mulher.
Eles se dirigem a Jesus como “mestre”, alguns enxergam uma certa falsidade no fato deles se dirigirem a Jesus usando este termo.
O vs 4 nos diz que tal mulher havia sido apanhada em adultério. Algumas traduções optam por traduzir como “flagraram”.
A NVI traduz como: “esta mulher foi surpreendida em ato de adultério”.
Já temos alguns problemas desde aqui pois, ninguém adultera sozinho. Porque levaram só a mulher até Jesus?
5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?
A fala desses homens é carregada de diversos erros e acertos.
Realmente, a lei de Moisés condenava o adultério com a pena de morte.
“O apedrejamento era a punição biblicamente prescrita para uma virgem noiva que fosse sexualmente infiel a seu noivo, uma punição que devia ser aplicada aos dois parceiros sexuais”. D.A. Carson.
23 Se houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade e se deitar com ela,
24 então, trareis ambos à porta daquela cidade e os apedrejareis até que morram; a moça, porque não gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a mulher do seu próximo; assim, eliminarás o mal do meio de ti.
Essa punição de Deuteronômio diz respeito à traição cometida por uma moça que estiver noiva de alguém. Ou seja, ela ainda não é casada, no entanto, o compromisso do casamento já está firmado.
10 Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera.
Já nesta passagem de Levítico, o texto fala sobre uma mulher realmente casada, a pena é de morte também, no entanto, aqui não é especificado o tipo de morte, se apedrejamento ou outra coisa.
O que vale ressaltar é que em todas as passagens que discriminam a punição o homem também está envolvido, ou seja, o homem também deve ser punido com a morte. O que não acontece aqui. Aqui eles levam somente a mulher até Jesus.
E isso já mostra que a preocupação deles não é realmente o trato devido com a lei de Moisés, mas, há um subterfúgio por trás.
6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
O vs 6 é claro ao dizer que o fato de levarem a mulher e mencionarem a lei de Moisés era um teste que estavam fazendo a Jesus. E não um teste no sentido de averiguar se ele era apto para alguma coisa, mas sim uma armadilha.
Armadilhas deste tipo eram muito comuns no ministério de Jesus, observe:
2 E estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem.
2 E, aproximando-se alguns fariseus, o experimentaram, perguntando-lhe: É lícito ao marido repudiar sua mulher?
7 Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar.
Aqui então novamente Jesus será provado. Mas qual é a armadilha aqui?
Uma vez que lei prescrevia a morte para adúlteros, Jesus então, deveria condenar aquela mulher à morte. Ele deveria cumprir o que a lei dizia.
Se ele se negasse a cumprir a lei mosaica, isso traria sérias consequências para ele. Estaria provado que Jesus negava-se a cumprir moisés (lembre-se o contexto aqui está muito perto da questão do sábado, diversas vezes Jesus foi acusado de não observar a lei por efetuar curas aos sábados, em outras palavras, diversas vezes Jesus foi acusado de não observar a lei).
Por outro lado, se Jesus ordenasse a execução daquela mulher, ele teria problemas com a opinião popular.
E teria também problemas com Roma. Ele poderia ser acusado de tentar passar por cima de Roma, uma vez que Roma era que detinha o poder de matar alguém. (vide crucificação de Jesus e o episódio com Pilatos).
Eis a armadilha, como Jesus reage a tudo isso?
Bem, Jesus se inclina e começa a escrever na areia.
O que ele escreveu no chão? Ninguém sabe. Qualquer coisa que alguém disse é pura especulação.
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
É impressionante a forma como Jesus se livra dessa armadilha. Sem negar a lei e sem negar perdão e misericórdia.
Qual daqueles homens que tentava pegar Jesus naquela armadilha não tinham pecado? Qual?
Qual deles poderia jogar uma pedra naquela mulher com a consciência limpa de que não havia nada nele mesmo que o tornasse merecedor de apedrejamento também?
Só Cristo! E o que Cristo faz? Ele não atira pedras. Ele lança perdão, amor, misericórdia, graça, bondade.
Não seja rápido demais para lançar pedras. Elas podem acertar você mesmo!
No clássico da literatura O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien, tem um momento interessante onde Gandalf fala a Frodo sobre Gólum, e de como Bilbo poupou a vida de Gólum quando se encontrou com ele na fuga dos gobelins. Frodo fica irado e diz que Bilbo deveria ter matado Gólum.
Ao que Gandalf diz: - "Muitos que vivem merecem morrer. Alguns que morrem merecem viver. Você pode lhes dar a vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém a morte, pois mesmo os mais sábios não podem ver os dois lados."- Gandalf, em The Lord of the Rings.
A questão que Gandalf coloca aqui é que os mais sábios não podem ver os dois lados, e por isso não podem julgar, muito menos os menos sábios que na maioria das vezes são os que são mais rápidos a proferir julgamentos.
Jesus, sendo o sábio dos sábios profere perdão e graça àquela mulher.
9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
Esse versículo fala por si só. “Acusados pela própria consciência”. Ah meus irmãos, o quanto nos falta isso às vezes. O quanto nos falta essa acusação da própria consciência. Muitas vezes as pessoas agem sem consciência. E isso é um problema, pois agir sem a consciência nos faz nos sentirmos inatingíveis e imortais. Isso é grave.
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.]
Vai e não peques mais. O quanto essa palavra soa doce. Jesus não absolve a mulher de forma irresponsável. Ele afirma que ela pecou, e a palavra dele para ele é de exortação, embora o gesto seja de amor, ou seja, no conjunto da obra temos exortação pelo pecado, amor para com a pecadora, e perdão.
Aplicação
Aplicação
Não seja ávido para condenar quem quer que seja. Você deve condenar o pecado, você deve sim apontar a prática, mas quanto a decidir o que deve acontecer com o transgressor não está em suas mãos fazer. Deixe isso para Cristo. E se ao apontar o erro, a transgressão houver arrependimento, perdoe, e nunca impeça alguém de chegar até Cristo para receber o perdão divino.
Jesus é perdoador. Não existe mancha, pecado, falha que Jesus não perdoe. A culpa nunca pode sufocar em nossas vidas a capacidade que Cristo tem de nos perdoar nossas falhas. Corra até ele. Jogue-se aos pés dele. Deixe que ele lhe perdoe. Abandone esse orgulho invertido, do tipo que pensa que sua ofensa é tão grave que nem Cristo pode perdoar, abandone isso, deixe que ele decida essas coisas, e, após ser perdoado, renovado, restaurado por ele, vá e não peques mais.