Participando e Compartilhando: Koinonia na Comunidade Cristã

Romanos 13:12  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented   •  46:07
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Tema: Participando e Compartilhando: Koinonia na comunidade cristã. Rom. 12:13 Hoje está em voga a utilização de alguns termos dentro do mundo da tecnologia. Você pode se inscrever em um canal para receber notificações, publicar no seu feed algo que ache interessante, dar um like em uma notícia que foi compartilhada. Assim, a gente pode também compartilhar algo que nos foi compartilhado. De onde vem essa notícia compartilhada, não sei, mas achei bacana e vou repassar ela para frente. A tecnologia promove ao usuário uma experiência do mundo virtual totalmente interativa. Ao mesmo tempo que participo de uma live por meio de comentários, perguntas e opiniões, posso também interagir com a pessoa ao vivo, e até com várias outras pessoas criando assim uma rede de conexão sem fim. Os relacionamentos e a interatividade estão entrelaçados em dois movimentos que gostaria de verificar com vocês: a ideia de participar e de compartilhar. No fundo por detrás dessas duas palavras estão um conceito bíblico: da koinonia. De cara gostaria de falar que o tema é de relevância urgente no período que vivemos. Vamos começar com uma breve definição do termo: o termo grego Koinos refere-se aquilo que é comum seja enquanto objetos ou pessoas. Dentre os gregos e romanos havia uma valorização grande do senso de comunidade. Embora, a reflexão tenha dado início a reflexão do indivíduo enquanto cidadão, este tinha para com sua sociedade deveres que vinculava. A koinonia em uma perspectiva bíblica está ligado a três áreas principais: primeiro a ideia de participação, segundo a ideia do compartilhar, e por fim a ideia da comunhão. Quero pensar com vocês todas essas ideias ligadas ao conceito da koinonia a partir da ideia de conexão em rede. Por trás da ideia de conexões em rede têm-se então a imagem perfeita para se pensar nesse conceito. As redes de conexões virtuais não são conceitos palpáveis, antes estão no campo da virtualidade. Sabemos que por meio de nossas redes sociais estamos conectados à inúmeras relações e com elas participamos, compartilhamos e comungamos de uma rede de ligação e relacionamento. Nenhum destes três itens são exclusivos das redes de conexões. O entrelaçamento pressupõe essas três ações. Proponho continuarmos nosso diálogo com vistas a três passos em cada um destes três elementos da koinonia. Primeiro, mostrar em uma perspectiva bíblica o fundamento de cada um destas ações ligado ao conceito. Depois, problematizar questões relativas a comportamentos inadequados e infundados em uma vivência cristão. Por fim, pensar possíveis alternativas e caminhos para o fortalecimento destes valores em âmbito pessoal e comunitário. I. Participando; Participar pode ser entendido como a simples ação de fazer parte de um processo e ser integrante de sua ação. Logo, podemos começar nossa definição a partir de pressupostos. Pensando com respeito a participação do cristão esse funciona como um agente de algo que não é seu. Participar é tomar parte, encarnar, se apropriar de algo para si. No caso da koinonia a participação acontece em vários âmbitos. Primeiro, somos participantes da própria natureza de Cristo (2 Pe 1:4). "Por meio delas, ele nos concedeu as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vocês se tornem coparticipantes da natureza divina, tendo escapado da corrupção das paixões que há no mundo" Para Pedro isso indica uma ação de "libertação" da condição da corrupção e do pecado. Tomar para si a "natureza de Cristo" é entender então a essência de ser cristão, entender a natureza de nossa criação Isso também indica somos participantes da vida de Cristo: assim com ele participamos de seu sofrimento, vida, morte e ressurreição. Ser participante destas ações indica encarnar, incorporar, tomar para si os principais acontecimentos do cristianismo. Quando me enxergo como alguém que participa da vida, do sofrimento, da morte e da ressurreição, também me aproprio de seus significados como algo pertencentes a mim enquanto indivíduo e a comunidade de fé. Tomar o sofrimento é reconhecer que na caminhada da fé a noite escura faz parte do caminho. De que sofrer não é coisa de quem não tem Deus ou de quem não tem fé, mas que a vida em suas viravoltas traz momentos de sofrimento. Tomar o sofrimento de Cristo faz parte do chamado cristão de renunciar o seu ego, paixões, desejos e tomar a cruz. É entender que Cristo padeceu em lugar nosso, tomou o nosso sofrimento. Isso nos projeta a vivenciarmos a fé aliviando o sofrimento alheio. Somente um Cristo que padeceu consegue entender a dor do sofrimento. Ser participante da morte, é entender que a condição do ser humano é de finitude, é não esquecer a existência limitante que possuímos. Jesus morreu, no entanto, a morte não foi a última palavra. A morte que tomamos é o sepultamento do velho homem, da velha natureza, das coisas que não participo mais. Morro diariamente para mim, a fim de nascer para cristo. Tomar a vida indica apropriar-se de um Cristo que vive. A morte não usurpou a vida de Cristo. Cristo veio para oferecer a própria vida. Nada há mais valioso no ser humano do que sua existência. Tomar da vida de Cristo é entender o real motivo da sua existência, é tornar a vida algo valioso demais para ser negociado, é dar a vida pelo outro. Ser participante da ressurreição é entender a condição última de glorificação. O ressurreto é aquele que tomou toda complexidade da vida (sofrimento, existência e morte) e superou ressuscitando. A ressurreição é o símbolo de uma nova existência já não mais como a anterior. Participar da ressurreição é também anunciar por meio da vida, essa nova condição. A complexidade da vida permite que consigamos participar de todos estes elementos. O cristão é por assim chamado a ser participante de uma vida que reconhece o sofrimento como parte da vida, ao mesmo tempo, entende que o sofrimento de Cristo propiciou alívio ao outro, assim é chamado a aliviar o sofrimento alheio, entendendo que essa não é a condição desejada por Deus. Também usamos da vida de Jesus como paradigma de modelo participando de sua vida e natureza, entendendo que ser participante da vida é promover a vida como valor "supremo". A morte nos coloca diante de nossas limitações, da brevidade da vida, e também daquilo que é essencial. Participar da morte é entender que a condição última é vida do ressurreto. É encarnar os valores da ressurreição, da nova vida em Cristo. Nessa complexidade vivemos participando da fé. Que tipo de vida esse elemento da koinonia denuncia? Primeiro, a participação da vida de Cristo como elemento da fé denuncia toda vivência apática e sem encarnação dos valores do reino. A missão de Deus encarnada na pessoa de Jesus é dada para que a igreja participe como agente. Em nosso meio, há muitas pessoas que vivem de forma apática. Vivem como se não participassem e pertencessem a fé. Afinal, esse é um sentimento que precisa ser resgatado: o de pertencimento. Vir a igreja e assistir um culto não é o suficiente. Isso não é pertencimento. Falar boa-noite para seu irmão e perguntar como foi a semana não é o suficiente. Isso não é pertencimento. Viver como se a fé fosse algo só do fim de semana não é o suficiente, isso não é pertencimento. Pertencimento é se importar, é tomar parte da vida do reino, é tornar-se ativo na ação de Deus no mundo. Isso é contrário a uma vida apática que muitos vivem importando com a fé apenas alguns minutos na semana, como se cumprissem um protocolo. A participação também denúncia uma vida egoísta que está envolta a agenda pessoal. Participar da vida de Cristo é tomar para si a agenda de seu Reino, seus propósitos, seu estilo de vida. Somos participantes juntamente com outras pessoas de uma agenda de missão do próprio Deus. Isso nos chama a incluir em todas as esferas de nossas vidas a missão dEle, essa não está isolada aos cultos semanas, mas a vida toda. Meu trabalho é esfera da participação da vida de Cristo assim como meus estudos e minha família. Nenhuma dimensão está exclusa. Cabe então perguntar como vencermos a apatia e o egoísmo da nossa koinonia? II. Compartilhando; Outra característica ligada ao conceito da koinonia é o de compartilhar. A palavra pode ser dividida em duas para melhor compreensão partilhar com, ou seja, me torno instrumento de dar a alguém algo que possuo a fim de que ele(a) também possua isso. No contexto bíblico, a ideia do compartilhar estava ligada ao desapego das coisas materiais (Lc 12:33; 14:33; Mt 6:19) e voltado a necessidade do outro (At 2:45; 4:35). Uma das definições do termo koinonia de acordo com o léxico grego BDAG é "Uma associação de proximidade envolvendo interesses mútuos e o compartilhar (comunhão, compartilhar) - poderia ser utilizado como relação em um casamento. O compartilhar era algo comum da igreja primitiva. É assim que viviam no "compartilhar do alimento e das riquezas." A mesa aparece como local do compartilhar (1 Cor 10:16). Isso também pode ser visto nas multiplicações de pães e peixes (Mc 6;8). Lá, Jesus em um ato de solidariedade (criar vínculos sólidos) tem compaixão (sofre com) aqueles que necessitavam de um alimento e compartilha com estes o que possui. O milagre na multiplicação acontece no poder de Deus de multiplicar a partir da insuficiência humana e do compartilhar daquilo que se possui. O conceito da partilha indica uma ação de entender que somos administradores daquilo que Deus nos dá e assim distribuímos conforme a necessidades das pessoas. Compartilhar é entender que todos a mesa devem participar do alimento seja esse físico ou espiritual. É compreender que não há diferenças e quem todos devem ter acesso. O próprio João diz que aquele que tendo possibilidade de ajudar seu irmão, não o faz, não possui o amor de Deus em seu coração (1 João 3:16). Ao contrário, o amor de Deus e a verdadeira religião é demonstrada (Tg 1:27) no compartilhar com o órfão e a viúva. A linguagem bíblica do partilhar figura uma vivência em comunidade onde o pai é nosso, o pão é nosso, as bênçãos são nossas, os sofrimentos são nossos. A comunidade vive auxiliando principalmente aqueles que são da fé (At 2:42; 2 Cor 8:4; Rm 15:26), mas também os necessitados. O compartilhar desafia a igreja a ter um comportamento bíblico. Quais são os desafios que este elemento nos coloca. Primeiro, o compartilhar depõe sobre qualquer tipo de vivência que seja pautado no ajuntamento, no possuir, no acúmulo. A narrativa bíblica da partilha é vista sobre o ponto de vista da provisão de Deus que me dá o suficiente para o hoje e para a partilha com o próximo. A condenação é justamente àqueles que ajuntam tesouros onde a traça corrói, aqueles que em buscam do enriquecimento e do acúmulo se esquecem do próximo. O compartilhar é princípio de dependência de Deus enquanto o acúmulo é confiança no próprio braço. É incabível que pessoas ao nosso redor padeçam de fome quando temos alimentos, que irmãos fiquem endividados quando temos sobrando, que o outro não tenha a palavra de Deus quando temos tanto conhecimento. O princípio da partilha ensina que nada é meu e tudo é nosso. É difícil falar de partilha numa sociedade desenfreada marcada pelo consumo enlouquecido, individualismo, e que exalta a ideia apenas da "meritocracia". A denúncia é àqueles que amontoam riquezas, ajuntam conhecimento, multiplicam seus títulos, tem suas dispensas com alimentos estragando, ao passo, que na mesma comunidade muitos padecem porque carecem. Tem muita gente "obesa" na igreja enquanto outros "passam" fome (e não entendam essa metáfora de forma literal). Que Deus nos livre de uma fé minha e me abra para a fé com o outro. Somos igreja. A dimensão do compartilhar nos abre para a solidariedade, a compaixão, o altruísmo. A partilha nos chama a entendermos a dimensão comunitária da fé. Que não existe cristianismo de um só. A fé é múltipla, plural, comunitária, é nossa. Isso contraria nossa concepção individualista. III. Comungando; Por fim, a última dimensão da koinonia é a dimensão da comunhão. Somos muitos em um só. A ideia da unidade está implícita nesse elemento. Este elemento pressupõe pessoas que vivem uma fé em comum pois pertencem ao mesmo corpo e família. E assim como nossa família materna, não escolhemos aqueles que fazem parte dessa família. Na dimensão da comunhão, a koinonia se caracteriza pela atitude de boa vontade que manifesta um interesse em um relacionamento, da participação unitária de muitos membros, de um compartilhar de um estado comum. Quatorze vezes o termo koinonia é traduzido como comunhão na tradução Almeida. A comunhão dos cristãos está relacionada a vivência em conjunto e com o parti do pão (At 2:42; 1 Cor 10:16) A ideia da comunhão pode ser resgatada da própria imagem bíblica da criação onde o próprio Deus tinha uma relação com o ser humano. As escrituras nos dizem que temos comunhão com Jesus (1 Cor 1:9) com o Espírito Santo (2 Cor 13:13; Fp 2:1); com a trindade (1 João 1:3). Essa primeira relação fala do tipo de relacionamento vertical que nutrimos. Ter comunhão indica uma ligação tanto familiar quanto de estar presencialmente juntos. A comunhão com a trindade pressupõe um relacionamento bilateral. Também somos chamados a ter comunhão com outros cristãos (Fp 1:5 e At 2:42). No entanto, essa comunhão não é experimentada com o mundo ou com a escuridão? Que associação e comunhão têm aqueles da luz com a escuridão e que participam da justiça de Deus (2 Cor 6:14) pois ter comunhão com Jesus é também andar na luz (1 Jo 1:6). O conceito da comunhão precisa ser resgatado e atualizado frente a particularidade de nosso tempo. Isso de forma alguma indica perda na essência de sua definição, mas de repensar sobre a prática comunitária frente a virtualização e avanço da tecnologia no mundo. A cada dia mais, mais pessoas estão assistindo cultos apenas pela internet. Por necessidade, vivemos um período atípico em que esse processo de igreja virtual ganhou ainda mais aparência e notoriedade. Como serão nossas igrejas após esse tempo? Como podemos pensar na ideia de comunhão a partir das conexões das redes virtuais. A denúncia que podemos fazer é ao tipo de vivência individualista que não vê a necessidade da comunidade para vivência da fé. Diz o salmista "alegrei-me quando me disseram vamos a casa do Senhor". Com isso, não quero dizer que devemos nos assegurar a nossa visão "templocentrista", mas que não devemos esquecer que a comunhão e vivência comunitária é essencial para o modus operantes de ser Igreja. Acredito que teremos que pensar alternativas para inclusão das mídias e forma de fazer nossos cultos. Acredito que o pertencimento esteja ligado a qualidade da presença. Muitos estão na igreja, mas não comungam, não pertencem, não são igreja. O desafio é resgatar o sentimento de necessidade entre irmãos. Onde aquele que precisa de ajuda não se sinta acuado para pedir por ajuda, e aquele que pode ajudar não menospreze quem precisa de ajuda. Na "roda da fortuna" cada dia estamos em um local diferente, hoje ajudamos, amanhã podemos ser ajudados. O que precisamos é trazer de volta o senso de comunidade de fé. É entender que juntos somos "um corpo de pessoas remidas pelo sangue de Jesus" e que vivem em um mesmo propósito. Compreender que estamos em uma caminhada juntos e que muitos vão se cansar, tropeçar, querer voltar, e precisarem de ajuda. Mas quando estamos juntos renovaremos nossas forças, traremos animo ao abatido e ajuda ao oprimido. Isso é ser igreja, é participar, é compartilhar é ser em conjunto. A fé vivida em comunhão nos convoca a entender que partilhamos da mesma natureza (Jesus Cristo) que participamos do mesmo corpo, que temos união com Deus, vivemos em um mesmo propósito. É desafio da igreja promover relacionamentos profundos e verdadeiros, numa época marcada por relacionamentos superficiais. Isso as vezes não é nem proposital, mas a velocidade que a vida acontece nos leva a viver comunitariamente. A koinonia nos leva a pensar a respeito das conexões de redes sociais que estabelecemos e como temos participado, compartilhado e vivido entre irmãos(ãs). Biblicamente precisamos ainda encarar nossa realidade e refletir sobre como utilizar dos "desafios" para (re)significar e fortalecer estes conceitos na igreja.
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