Procedimento exemplar entre os gentios no trabalho

Introdução

1Pedro 2.11–12 RA

11 Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, 12 mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.

Pedro escreve para pessoas em um mundo muito diferente do nosso. Um mundo pré-cristianismo, ou seja, uma sociedade que ainda não conhecia os valores que têm formado a base da sociedade ocidental até aqui, os valores judaicos-cristãos.

A dignidade dos seres humanos era levada em pouca ou nenhuma consideração pela civilização romana. Um exemplo disso era a escravidão. Havia mais de 1 milhão de escravos em todo Império Romano, talvez um terço ou até 50% da população do império fosse de escravos. Além disso, se a escravidão em si é desumana, a forma como os romanos tratavam seus escravos era excepcionalmente cruel.

Neste mundo, homens e mulheres convertidos a Cristo peregrinavam portando uma nova fé e, consequentemente, uma nova forma de vida. Contudo, mesmo convertidos a Cristo, continuavam a ser quem eram na sociedade. E muito desses eram escravos de senhores perversos.

Pedro sabe disso! E sensivelmente escreve a cristão escravos a fim de ensiná-los sobre como terem um comportamento exemplar diante de seus senhores.

No que diz respeito ao procedimento exemplar no meio dos gentios:

Os servos devem ser submissos aos seus senhores

1Pedro 2.18 RA

Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso;

O que é um servo?

Servo (οἰκέτης): é um escravo (ou livre) ou doméstico. Estes tinham um contato mais direto como seus senhores, por isso, estavam sujeitos a mais maus tratos por parte de seus senhores: (agressões físicas e morais, castigos severos e caprichosos, abusos sexuais etc.

É certo que houvesse senhores "bons e cordatos" como considera Pedro, mas esses eram a exceção. O mais comum era senhores "perverso". Não há dúvida que Pedro tem em vista aqui, principalmente, os irmãos que são escravos de senhores perversos.

Como cristãos, como eles deveriam se portar diante dos seus senhores, quer bons quer perverso?

Eles deveriam ser submissos "com todo temor aos seus senhores".

Com todo temor qualifica a submissão, que não veria ser por força ou dissimulada, mas respeitosa e até voluntária.

Colossenses 3.22 RA

22 Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor.

O procedimento exemplar não é exatamente por causa dos gentios. O fim disso é que as pessoas "observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus"(1Pe 2.12b). Servos que se submetem como todo o temor aos seu senhores (quer bons, quer maus) realizam uma boa obra que produzirá no final que Deus seja glorificado. A motivação não deveria ser o medo ou o reconhecimento do Senhor ou alívio dos maus tratos, mas a glória de Deus.

Porque isso é grato

1Pedro 2.19–20 RA

19 porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. 20 Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.

Com a expressão "isso é grato", Pedro quer dizer que quando servos se submetem aos seus senhores com todo temor, isso é louvável, é uma atitude graciosa, que revela graça.

Veja que Pedro tem um situação específica em mente: "que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente". Mas, que mesmo assim, "por motivo de sua consciência para com Deus", ou seja, por temor a Deus ou pelos efeitos do poder do Espírito Santo e do Evangelho em sua vida, suporte os maus tratos de senhores, servindo-os sinceramente e da melhor maneira.

Para não haver dúvidas. Pedro conclui seu pensamento nesse ponto dizendo que isso é grato a Deus.

Efésios 6.5–8 RA

5 Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, 6 não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; 7 servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens, 8 certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre.

Antes de prosseguirmos, precisamos fazer um pausa aqui. Esta instrução de Pedro nos revela que o evangelho tem uma proposta radical para os que foram chamados por ele. É difícil concordar com tal diretriz e mais difícil executá-la em nosso dia a dia. O que Pedro está dizendo é que um procedimento exemplar deveria produzir um tipo de servo que se submete a senhores perversos e os tratam com todo respeito, não exatamente por causa deles, mas por causo do Senhor. Na base, desse ensino está a principal diretriz do evangelho, conforme ensinado por Jesus: "negue-se a si mesmo, tome sua cruz a cada dia e siga-me" (Lc 9.23). O evangelho não é uma proposta fácil nem natural, ao contrário é o mais difícil dos caminhos, mas é o único que conduz à vida. "O Caminho é estreito e são poucos o que acertam por ele".

O chamado cristão é para imitarmos a Cristo

1Pedro 2.21–25 RA

21 Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, 22 o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, 24 carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. 25 Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma.

Para isto mesmo foste chamados

Pedro não nega as implicações do ministério cristão no mundo. Em muitas ocasiões isso implica suportar com paciência injúrias e maus tratos.

2Timóteo 3.12 RA

12 Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.

Assim não devemos jamais pensar que ser cristão sempre nos colocará numa posição favorável e proceder de modo exemplar segundo o evangelho será algo livre de oposição ou que mesmo fazendo bem receberemos sermos premiados. Nem sempre será assim. Mas esse é o nosso chamado, por isso o cumprimos com fidelidade mesmo com dano pessoal.

Nosso conforto e motivação é Cristo

1Pedro 2.21–25 RA

21 Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, 22 o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, 24 carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. 25 Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma.

Cristo sofreu em nosso lugar (conforto): só Cristo sofreu injustamente. Pedro traz a memória Isaías 53 "por suas chagas, fostes sarados". Aqueles que eram esbofeteados injustamente por seus seus senhores, deveriam encontrar conforma na salvação. Jesus sofreu injustamente. Mesmo sem cometer pecado, foi ultrajado, maltratado e suportou a cruz pelos nossos pecados. Pedro cita três vezes Isaías 53 (v. 22, 24 e 25) para nos lembrar que Jesus é o Servo Sofredor, que sofreu para nos salvar. Os servos que sofrem sabem que Cristo os libertou da escravidão do pecado e que lhes dará conforto hoje e no futuro.

Deixando exemplo para seguirdes seus passos (motivação):

Eles não pecou nem falou dolosamente.

Não revidou os ultrajes que recebeu.

Não fez ameaças aos quando maltratado.

Entregava-se a Deus, que julga retamente.

1João 2.6 RA

6 aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.

Para que, mortos para o pecado, vivamos para justiça (o que temos que fazer)

O sofrimento de Jesus Cristo uma nova vida para os eleitos. Não apenas uma vida celestial, mas uma vida peregrina no aqui e agora. Em nossas relações pessoais, políticas e profissionais. Ele quer que vivamos para justiça. E isso que Pedro tem em mente ao nos exortar a termos um procedimento exemplar enter o gentios e quando diz aos servos que se submetam aos seus senhores com todo temor.

Aplicação

Proceda exemplarmente em seu trabalho.

Submeta-se ao contrato de trabalho até o ponto que isso seja agradável a Deus.

Respeite seus superiores e trabalhe com excelência, sem murmurações ou contendas.

Cumpra os horários e prazos.

Não fale mal da sua empresa ou superiores.

Não participe de complôs ou reivindicações injustas, ilegais ou imorais.

Se precisar combater injustiças ou fazer solicitações necessárias, faça com respeito e cordialidade.

Se não está satisfeito e não e a situação é irremediável, não faça tente prejudicar seu patrão causando-lhe prejuízos e constrangimentos. Peça demissão

O cristianismo impactou o mundo

A base econômica do Império Romano era a escravidão. Um dos motivos do seu declínio foi o enfraquecimento desse pilar econômico. O procedimento exemplar dos cristãos contribuiu muito para o fim da escravidão do império. Senhores de escravo que se convertiam eram ensinados a temer a Deus e tratar com dignidade seus escravos e respeitá-los como irmãos. Escravos tementes a Deus impactaram a vida de seus senhores e muitos foram convertidos por esse testemunho. Quanto cristianizado se tornava o Império Romano, menos a escravidão tinha espaço.

A cultura ocidental sustentada nos pilares do cristianismo dignificou as pessoas e pouco a pouco a escravidão foi sendo abolida. Isso nos faz ver que o quanto um procedimento exemplar cristão pode impactar a cultura. Portanto, vivamos de forma exemplar entre os gentios.