Salmo 23: De Nada Tenho Falta
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Handout
Introdução
Introdução
O conceito de satisfação é subjetivo. Alguns pensam que estar satisfeito é ter bastante dinheiro, na ideia de que o dinheiro pode comprar tudo aquilo que lhes trarão satisfação. Alguns creem que, quando comprarem a casa própria, ficarão satisfeitos. Outros entendem que, quando tiverem um carro na garagem, estarão satisfeitos. Todavia, muitos já realizaram esses sonhos e continuaram insatisfeitos.
A satisfação, portanto, nada tem a ver com riqueza ou pobreza. Existem pobres satisfeitos e ricos insatisfeitos, assim como o contrário também é verdadeiro. Satisfação é “contentamento; prazer resultante da realização daquilo que se espera ou do se deseja”.
O salmo 23 é a expressão de contentamento de Davi com o Senhor.
Não se sabe quando o salmo 23 foi escrito nem em que ocasião. No entanto, a teoria de João Calvino me parece plausível. Sengundo ele, Davi escreveu este salmo “quando usufruia das bênçãos de Deus e de prosperidade no seu reino”. Desta maneira, Davi estava reconhecendo que todo o seu sucesso no reino devia-se ao fato de Deus ser o provedor dos seus caminhos.
Este salmo é classificado como cântico de confiança. Cânticos de confiança, segundo Gordon Fee, “centralizam sua atenção no fato de que se pode confiar em Deus e que, mesmo em tempos de desespero, sua bondade e seu cuidado para com seu povo devem ser expressos”.
Neste salmo, Davi utiliza-se de duas metáforas e oito provisões para indicar que sendo o Senhor o nosso provedor, devemos manter firme nossa confiança nele, mesmo em meio às maiores adversidades que estejamos enfrentando.
Antes, porém, de entrarmos nas metáforas e provisões, precisamos explicar o significado de “nada me faltará” no versículo um. O que significa essa expressão? Certamente não significa que Deus nos dará todo capricho material que quisermos, pois há coisas que, se ganharmos, nos destruirão. Também não quer dizer que os crentes não passarão por tribulações, isso seria uma grande contradição na vida de Paulo, e até mesmo de Davi. Então, o que essa expressão quer dizer? “Nada me faltará” significa que tudo quanto for necessário à minha vida, dentro da vontade divina, se realizará, pois o Senhor é o meu provedor, tanto na angústia, quanto na alegria.
Agora passemos às seguintes questões: Quais são estas oito provisões? Quais são as duas metáforas? Vejamos então:
I. O Senhor como pastor (1-4)
I. O Senhor como pastor (1-4)
A figura de Deus como pastor é vasta em toda a Bíblia. Alguns exemplos são: Ap 7.17; Jo 10.11; Is 40.11; Sl 80.1; Hb 13.20; 1Pe 2.25, 5.4; Ez 34.14,23; Sl 78.52; Sl 100.3. Nenhum desses exemplos, no entanto, são mais marcantes que o exemplo de Cristo como o pastor de ovelhas (Jo 10).
Primeira provisão: não nos faltará satisfação e descanço (2)
Exposição
“Deitar-me faz em verdes pastos”
O pastor é o responsável pelo cuidado de suas ovelhas, isto indica que ele deve prover alimentação, descanso e orientação. Ovelhas não se deitam enquanto não estão saciadas. Deus nos provê satisfação espiritual em Cristo, por isso, agora, podemos descansar nele.
Ilustração
Assim como ovelhas, bem como muitos seres humanos, não conseguem descançar de barriga vazia, também o homem sem Deus não pode achar descanso para a sua alma. Isso explica a insatisfação de homens que têm tudo quando desejam nessa vida, mas, ainda parece lhes faltar algo.
Aplicação
Enquanto você não encontrar satisfação espiritual em Cristo, você não pode descançar, pois tudo gerará insatisfação. Quando, porém, você encontra satisfação em Cristo, você pode descansar, mesmo à beira da morte.
Segunda provisão: não nos faltará condução segura (2)
Exposição
“Guia-me mansamente a águas tranquilas”
Jesus, nosso Sumo Pastor, é o nosso guia, o nosso líder. Ele nos orienta e não nos empurra. Ele nos conduz a aguas tranquilas.
Era a função do pastor conduzir o rebanho para águas tranquilas, livre dos ataques de feras.
Em Apocalipse 7.17, está escrito que “o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida”.
Deus, por meio de sua graça, nos conduz ao fim desejável.
Ilustração
Como é difícil dormir numa viagem em que você não confia no motorista! Pneus “cantando”, freiadas brusca, aceleração desnecessária e etc. Assim não é possível ter sossego! No entanto, quando o motorista é confiável, a viagem torna-se agradável e tranquila.
Aplicação
Se vivemos em meio a turbilhões e sem sossego é porque talvez tenhamos tomado a direção da nossa vida. A verdade é que somos péssimos motoristas nesse quesito. Portanto, entregue a direção de sua vida a Cristo e deixe que ele o conduza livre de perigos.
Terceira provisão: não nos faltará restauração espiritual (3)
Exposição
“Refrigera a minha alma”
“Refrigera” pode melhor ser traduzido por “restaura”. O verbo aqui utilizado é o mesmo verbo do Salmo 19.7, onde o salmista diz que a lei do Senhor “restaura a alma”.
Alma aqui sugere o “eu interior”. Portanto, regrigerar a alma pode significar “restaura-me o vigor”, como sugere a NVI.
A ovelha depois de se alimentar, descançar e beber água, estaria com as forças renovadas.
O que Davi está dizendo aqui seria uma espécie de renovação espiritual, como sugere Derek Kidner.
“Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome”
Como resultado da renovação espiritual em Cristo, o rebanho do Senhor agora está preparado para andar por caminhos de retidão. Isto o Senhor faz através de sua Palavra que serve para “instruir em justiça” (2Tm 3.16). Deus não apenas nos adverte contra o mal, como também nos instrui no caminho da justiça por amor do seu nome. O Deus, cujo nome é santo (Sl 111.9; Mt 6.9), quer que seu povo também seja santo (Lv 19.2; 1Pe 1.14-16).
Como se tem dito até aqui, isto é, que o Senhor é o provedor do seu povo, dando-lhe alimentação, descanso, orientação e renovação espiritual, ainda o salmista acrescenta que Deus desvia do seu povo tudo quanto é prejudicial para que ele possa andar por veredas confortáveis em planura e retidão.
Ilustração
A justiça humana guia os homens a uma vida justa dentro de seus padrões e isto ela faz através de suas leis que estão disponíveis para todos. Muitos são rebeldes e infringem a lei por querer, outros o fazem por ignorância.
Aplicação
A melhor maneira de vivermos neste mundo refletindo a justiça celeste é consultando os mandamentos do Senhor na sua Palavra. Desde que pecamos em Adão, tornamo-nos naturalmente rebeldes, mas àqueles que estam crucificados para este mundo não podem viver às margens da lei por ignorância. Não há desculpas, os mandamentos do Senhor estão disponíveis para você, consulte-os!
Quarta provisão: não nos faltará coragem para enfrentar as adversidades da vida (4)
Exposição
“Ainda que eu andasse”
Perceba que, ainda que o povo do Senhor esteja protegido sob os seus braços, ainda assim estão expostos a muitos perigos. Conforme pensa o teólogo holandês, João Calvino, ele assim se encontra para que “possam melhor sentir o quanto necessitam da proteção divina”.
“Pelo vale da sombra da morte”
Este vale não representa um lugar real, e sim uma metáfora empregada para designar um grande perigo, até mesmo de morte. Segundo Warren W. Wiersbe, “o vale da sombra da morte representa qualquer experiência difícil em nossa vida que nos enche de temor, inclusive a morte”.
“Não temeria mal algum, porque tu estás comigo”
A razão de o povo do Senhor não temer o mal, seja ele de que espécie for, não está relacionado com a sua própria força. Nem ainda Davi menciona os instrumentos do pastor (bordão e cajado) como a maior razão de sua coragem para enfrentar as adversidades da vida. Antes, o salmista percebe que, a presença de Deus é a maior certeza da vitória.
“A tua vara e o teu cajado me consolam”
Ainda que a maior certeza da vitória esteja no fato de que o Senhor está com ele, o salmista nos lembra do cuidado e do conforto de estar protegido por Deus.
A vara, ou o bordão, como colocam algumas versões, era um bastão pesado usado para bater e até matar os predadores. O cajado, por sua vez, possuía uma curva na ponta que servia para vários propósitos, desde apoiar-se até controlar o rebanho, pois, no final do dia, o pastor fazia as ovelhas passarem, uma por uma, debaixo do cajado para que pudesse contá-las e examiná-las (Lv 27.32).
Ilustração
Filhos pequenos precisam ser treinados em situações difíceis para adquirirem coragem para enfrentar os desafios da vida. Imagine um pai que leva o seu filho ao parquinho. Lá o filho encontra aqueles brinquedos de escalar. Logo a criança começa a subir e a aventurar-se no brinquedo, porém, quando ele percebe que está a certa altura, o medo lhe domina e ele pede auxílio do pai. O que o pai faz? Ele grita com o filho: tenha coragem, você vai conseguir. O filho chora, mas o pai é resoluto. Como não há outro jeito, o filho desce com medo. Quando chega lá em baixo, todo orgulhoso o filho quer subir de novo. A cena se repete por mais duas ou três vezes até que a criança não tenha mais medo. Nosso Pai celeste não nos abandona nas situações difíceis, mas também não nos livra dos “vales da sombra da morte”. Por quê? Porque ele nos está treinando, nos aperfeiçoando, mostrando-nos que, no seu poder podemos vencer os desafios da vida. Deus assim nos treina até que tenhamos coragem e confiança de que, se precisar-mos ele está ali conosco. A sua vara e o seu cajado te consolam.
Aplicação
Quanto estivermos com medo, ansiosos quanto ao futuro, lembremo-nos de que o nosso Pai está ao nosso lado. Ele tem os instrumentos para nos dar vitória. O medo é como um lenço que tampa nossos olhos impedindo-nos de ver que nosso Pai está ali. Você está com medo? Faça a oração de Eliseu para que o Senhor abra-lhe os olhos para que você consiga enxergá-lo de perto!
Recaptulação
A partir do verso cinco a cena muda. Davi agora usa a metáfora do anfitrião e não mais do pastor, porém o assunto continua o mesmo: o Senhor é o nosso provedor, por isso devemos manter firme nossa confiança nele, mesmo em meio às maiores adversidades que estejamos enfrentando.
II. O Senhor como anfitrião (5-6)
II. O Senhor como anfitrião (5-6)
Quinta provisão: não nos faltará triunfo sobre as adversidades da vida (5)
Exposição
“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos”
Em sequência do que anteriormente havia dito, isto é, que o Senhor lhe dá coragem para enfrentar as adversidades da vida, agora o salmista passa a mostrar-nos não apenas a ideia de enfrentar o vale da sombra da morte, como também o nosso triunfo à mesa do anfitrião.
A ideia de preparar uma refeição diante de seu inimigo, pode significar uma celebração de vitória na qual seu opositor está ali como um cativo.
Ilustração
O primeiro passo para uma grande conquista é a coragem, mas, de nada valerá a ousadia se não houver triunfo. Houve um padre que teve coragem de voar pendurado num balão, mas morreu no percurso. Deus não apenas nos encoraja a vencer, mas também nos provê o triunfo.
Aplicação
Para que o trinfo seja completo, é preciso confiarmos inteiramente em Deus e despojar-nos das nossas enganosas suficiências. Enquanto crermos que há força em nós para conseguirmos sempre seremos derrotados, mas quando dizemos ao Senhor que prepare para nós a mesa, a vitória é certa!
Sexta provisão: não nos faltará abundância de alegria (6)
Exposição
“Unges a minha cabeça com óleo”
Ungir com óleo a cabeça de um convidado era a melhor maneira de recebê-lo bem. Jesus censurou o fariseu que não o recebeu assim em sua casa e que repudiou o ato da mulher pecadora que ungiu os seus pés (Lc 7.46).
“O meu cálice transborda”
O anfitrião é tão generoso com o seu convidado que serve um cálice transbordante a ele. Quanto a isso devemos lembrar que o vinho na Bíblia é, muitas vezes, usado como símbolo de alegria transbordante.
Sendo assim, Davi transmite a ideia de que o Senhor é um anfitrião que recebe o seu povo muito bem. Não lhes falta as honrarias, nem abundância de alegria.
Ilustração
Robin Williams, grande ator comediante, morreu aos 63 anos de idade, aparentemente por suicídio. O que leva pessoas aparentementes alegres a episódios reais de tristeza? Não sei se tenho resposta satisfatória a essa pergunta, mas uma coisa sei: a vida, para muitos, não passa de um grande teatro e vazia de sentido.
Aplicação
Quando percebemos Deus ao nosso redor, o mundo torna-se mais colorido. Quando sabemos que ele é o nosso provedor que nos dá coragem em meio as lutas e nos dá vitória nelas, mesmo em meio ao caos podemos sorrir. É preciso crer que o Senhor está aí ao seu lado, conduzindo a sua vida mesmo no vale da sombra da morte. Chegará o tempo de celebrar a vitória, pense nele e comece a sorrir desde já!
Sétima provisão: não nos faltará a continuação de todas as bênçãos na vida (6)
Exposição
“Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”
Segundo Charles Hodge, “a bondade, no sentido bíblico do termo, inclui a benevolência [disposição para promover a felicidade], o amor, a misericórdia e a graça”.
Para Augustus Hopkins a “bondade é o princípio eterno da natureza de Deus que o leva a comunicar sua própria vida e bênção aos que são semelhantes a Ele no caráter moral”.
A misericórdia aqui é a tradução de “hesed” e indica o amor leal de Deus baseado na fidelidade à sua aliança com o seu povo.
Davi, portanto expressa a certeza de que as bênçãos de Deus, aqui na figura de sua bondade e misericórdia o acompanharão enquanto viver.
Ilustração
Há pessoas que passam anos com o mesmo carro velho ainda que possam comprar um novo. Eles preferem cuidar do seu "lata velha” como se fosse de sua família. O que leva alguém a ter tal atitude? Certamente é o valor sentimental que o objeto possui.
Aplicação
Deus valoriza o seu povo tanto que ele proporciona cuidados especiais. O Senhor não apenas abençoa o seu povo, como também faz disso um ciclo interminável. Confie que as bênçãos de Deus estão com você, ainda que não pareça, ele está ao seu lado te abençoando, sempre.
III. Conclusão (6)
III. Conclusão (6)
Oitava provisão: não nos faltará um lar eterno quando esta vida findar (6)
Exposição
“E habitarei na Casa do SENHOR por longos dias”
O que significa “habitar na Casa do SENHOR”?
Duas possibilidades:
A tradução de “habitarei” pode ser “regressarei”. Assim traduz a NVI: “voltarei à casa do SENHOR”. A Casa do SENHOR, nos tempos de Davi, era o tabernáculo. Se esta opção estiver correta, Davi, então, estava expressando a certeza de que voltaria no tabernáculo para adorar por longos dias.
Habitarei seria uma palavra literal e, com Casa do SENHOR, Davi queria dizer o lar eterno do salvo.
A segunda opção me parece mais plausível, pois trata-se da conclusão do salmo, além de haver apoio na versão ARA, onde diz “e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre”. Obviamente, “longos anos” é uma figura de linguagem.
Portanto, ao finalizar o salmo, Davi não coloca suas esperanças nas coisas materiais e efêmeras desta vida, mas sim nas espirituais e eternas.
Ilustração
Em 1912, o Titanic, o navio mais indestrutível afundou. Por mais engenhoso que seja, o homem não pode garantir condução 100% segura.
Aplicação
Deus, no entanto, está no controle da vida de seus filhos. Ele pode nos garantir uma condução segura. Todavia, o Senhor não nos força no trajeto. É preciso soltar o leme e deixá-lo te guiar.
Conclusão
Conclusão
Sendo o Senhor o nosso provedor, devemos manter firme nossa confiança nele, mesmo em meio às maiores adversidades que estejamos enfrentando. Figuras não faltam para expressar o cuidado de Deus conosco. Ele é Pai, Pastor, Anfitrião, Guia e etc. Estejamos certos de que, se confiarmos nossa vida a ele, não nos faltará a provisão de que necessitamos nesta vida, e por fim, estaremos com ele em um novo lar.