Sem título Sermão (2)
Posso saber se sou salvo?
Nestas palavras, Jesus nos dá uma visão antecipada do julgamento final. Ele diz que pessoas se dirigirão a ele chamando-o pelo título de “Senhor”. Dirão a Jesus: “Senhor, fizemos coisas maravilhosas em teu nome. Nós te servimos, pregamos em teu nome, expelimos dem nios; fizemos todas estas coisas”. Jesus diz: “Eu me voltarei para essas pessoas e direi: apartai-vos de mim”. Ele não dirá apenas: “Eu não vos conheço”, e sim: “Eu nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.
O que é especialmente inquietante nesta terrível advertência é o fato de que Jesus começa dizendo: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus”. Depois, ele repete isso, dizendo: “Naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!”
“SENHOR, SENHOR!”
Há somente quinze ocorrências, em toda a Escritura, em que alguém é tratado pela repetição de seu nome. Mencionarei algumas:
No monte Moriá, Abraão estava prestes a fincar o cutelo no peito de seu filho, Isaque, mas Deus interveio no último segundo, falando-lhe por meio do anjo do Senhor: “Abraão! Abraão!… Não estendas a mão sobre o rapaz” (Gn 22.11–12).
Jacó estava com medo de descer ao Egito, e Deus veio para renovar-lhe a confiança, dizendo: “Jacó! Jacó!” (Gn 46.2).
No monte Horebe, da sarça ardente Deus falou a Moisés, dizendo: “Moisés! Moisés!” (Êx 3.4).
Deus chamou o jovem Samuel no meio da noite, dizendo: “Samuel, Samuel!” (1 Sm 3.10).
Talvez o exemplo mais comovente desta repetição nas Escrituras seja o clamor de Jesus, na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).
Esta estrutura gramatical rara tem importância na língua hebraica. Quando alguém repete esta forma de tratamento pessoal, ela sugere e transmite a ideia de um relacionamento pessoal com aquele a quem se está dirigindo.
Portanto, Jesus diz nesta passagem do Sermão do Monte que, no último dia, as pessoas não somente se chegarão a ele e dirão: “Senhor, pertencemos a ti, somos teus”, mas também se dirigirão a ele em termos de intimidade pessoal. Elas dirão: “Senhor, Senhor” como se o conhecessem de maneira profunda e pessoal. Mas, apesar desta suposição de um relacionamento íntimo, Jesus lhes dirá: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.
Jesus está dizendo que há muitas pessoas que professam ser cristãos, que usam o nome de Cristo e o chamam por seu elevado título de “Senhor”, mas não estão realmente no reino de Deus. Não pertencem a ele e não serão capazes de subsistir no julgamento final. O aspecto apavorante disto é que estas pessoas não estão à margem da igreja. Pelo contrário, elas estão imergidas na vida da igreja, envolvidas intensamente no ministério e, talvez, tenham a reputação de serem cristãos professos. Mas Jesus não as conhece e as banirá de sua presença.
Apresento este fato no início deste livro porque, quando fazemos uma profissão de fé como cristãos, temos de fazer a nós mesmos esta pergunta: como sabemos que não estaremos neste grupo de pessoas no julgamento final, esperando entrada no reino e dirigindo-nos a Jesus com termos íntimos, somente para sermos lançados fora? Como sabemos que a nossa confiança de que vivemos num estado de graça não descansa na coisa errada? Como sabemos que não temos enganado a nós mesmos? Como podemos ter certeza de que somos salvos?