Cap. 7 - Do pacto de Deus com o homem

Notes
Transcript

Introdução

No capítulo seis de nossa Confissão recebemos as piores notícias que poderíamos esperar: a queda. Adão pecou e todos os seus descendentes pecaram com ele (Rm 5.12). Por causa disso, todos que dele procedem por geração ordinária nascem no estado de pecado e miséria. Com isso, o destino deles é a morte e o inferno.
“Mas Deus sendo rico em misericórdia” (Ef 2.4) nos dá esperança de salvação! Veja como ela é apresenta na pergunta 20 do Breve Catecismo.
Deixou Deus todo o gênero humano perecer no estado de pecado e miséria?
Tendo Deus, unicamente pela sua boa vontade desde toda a eternidade, escolhido alguns para a vida eterna, entrou com eles em um pacto de graça, para os livrar do estado de pecado e miséria, e trazer a um estado de salvação por meio de um Redentor. Ref. Ef 1.4; Tt 1.2; 3.4-7; Jo 17.6.
A partir do capítulo sete começaremos a ver as boas notícias sobre como Deus salvou seus eleitos. Neste capítulo, iremos nos ocupar com o pacto da graça e no próximo com o Redentor, Jesus Cristo.

A graça do pacto

7.1 Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto. Ref. Jó 9:32-33; Sl 113:5-6; At 17:24-25; Lc 17: 10.
Nossa confissão começa deixando clara a distância entre o Criador e a criatura. Por sua natureza, Deus é completamente diferente da criação e absolutamente superior a ela. Isso é real, inclusive, em relação aos homens e aos anjos, suas criaturas racionais (Jó 9.32-33).
Uma vez que somos criados por Deus, devemos a Ele toda nossa obediência. Não que Deus precise de nós (At 17.24-25). Apenas, “Temos que fazer o que nos é mandado, e depois, assim como o servo da parábola de Jesus, devemos admitir que ‘fizemos apenas o que deveríamos fazer’ (Lc 17.10)”[1]. Enfim, é da natureza da criatura inteligente e moral “estar sob toda obrigação de obediência à vontade e de viver para a glória do Proprietário e Governante absoluto”.[2]
Por outro lado, Deus não nos deve nada. Se Ele nos abençoa com “bem-aventurança ou recompensa”, não é porque Deus nos deve essas coisas, mas por “alguma voluntária condescendência” da parte dele, ou seja, sua livre graça.
Com voluntária condescendência a confissão quer dizer que o “desfrute da plenitude do amor do Criador pela criatura [...] é uma matéria de livre e soberana graça, dependo exclusivamente do Criador”[3]. Desta forma, Deus descer e se relacionar com Adão é um ato de pura graça ou condescendência.
Então, a iniciativa de Deus em relacionar-se com Adão e estabelecer os termos para esse relacionamento é o que chamamos de pacto. Dizendo de outra forma, o pacto é o relacionamento gracioso de Deus com o ser humano. Ou ainda: “Pacto é um relacionamento de compromisso que tem promessas e deveres”[4].

O pacto das obras

7.2 O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal. Ref. Gl 3:12; Rm 5:12-14, 10:5; Gn 2:17; Gl 3:10.
A Confissão chama de pacto de obras o primeiro pacto que Deus fez com Adão e, sendo ele o cabeça da humanidade, com toda sua posteridade. É chamado pacto das obras porque aqui se enfatiza o dever do homem de prestar obediência absoluta a Deus. Já no Breve Catecismo ele é chamado de pacto da vida[5], posto que a ênfase recai sobre a promessa de vida feita por Deus a Adão e seus descendentes.

Os elementos do pacto das obras

Ainda que em Gênesis 1-3 não encontremos o termo “pacto”, há, porém, elementos de um pacto na narrativa da Criação (Gn 2.15-17).
As partes: Deus e Adão. Não como iguais, mas Deus soberanamente toma a iniciativa e estabelece os termos do pacto.
A promessa: vida eterna. Essa foi prometida a Adão e aos seus descendentes caso ele cumprisse a condição estabelecida por Deus.
A condição: obediência perfeita. Uma única lei objetiva foi dada a Adão: que ele não comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Porém, o gozo da promessa dependia da satisfação dessa condição.
A penalidade: morte. Caso a condição de perfeita obediência não fosse satisfeita, em vez de vida, Adão e sua descendência morreriam certamente.

Conclusão

Todos os homens estão debaixo do pacto das obras, por isso estão sujeitos à sua penalidade (Gl 3.10; Rm 3.19). Isso significa maldição. Da qual, somente Jesus Cristo pode nos salvar. Nele, Deus estabeleceu o pacto da graça para livrar os eleitos da maldição das obras.
[1] DIXHOORN, Chad Van, Guia de estudos da Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 119.
[2] HODGE, Archibald Alexander, A Confissão de Fé de Westminster comentada, São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 170.
[3] Ibid., p. 169.
[4] Catecismo infantil, pergunta 37.
[5] Breve Catecismo, pergunta 12.
Related Media
See more
Related Sermons
See more