Oração de um Sofredor

Introdução

Este salmo é conhecido como o mais triste de todos os saltérios, porque ele termina com a palavra “trevas”. Apesar de ser um cântico, ele lembra a oração de alguém que está sofrendo profundamente, que busca a Deus mas não encontra resposta, que tem um sofrimento que se perpetua sem dar-lhe alivio. É possível que seja um apelo individual por socorro, ou ainda um apelo comunitário dos tempos em que o povo estava no exílio.

De acordo com cabeçalho do Salmo ele foi escrito por alguém chamado Hemã, Ezraita. Há duas ou três pessoas com esse nome no antigo testamento. Provavelmente este é mencionado em 1Reis 4.31, como entre as pessoas mais Sábias do tempo do Rei Davi e do Rei Salomão.

Havia muitos sábios naquela época e em 1º Reis 4:31 a uma relação daqueles que eram considerados pessoas de maior sabedoria, cultura, visão e Hemã estava entre eles.

Quem era Hemã?

Se ele compôs um Salmo para ser cantado no templo, significa que ele era no mínimo em Levita. E o que nós temos diante de nós é o seguinte: esse homem consagrado a Deus e que vivia para o serviço de Deus no templo, uma pessoa conhecida, renomada, preparada e admirada, entretanto é uma pessoa que enfrentava um sofrimento terrível.

O fato de você ser crente temente a Deus, bem sucedido, cercado de benesses, não significa que você não vai sofrer nessa vida. Quando um avião cai, cai crente e descrente, quando tem uma epidemia ela atinge crentes e descrentes, quando tem um problema econômico financeiro no mundo empresa de crente fecha as portas, crente perde emprego, crente fica doente, crente sofre com sua família, crente sofre com seu vizinho, crente sofre com seu patrão, crente sofre com tudo aquilo que as outras pessoas sofrem nesse mundo.

O que levou Hemã a escrever o salmo?

Não sabemos ao certo as causas do sofrimento de Hemã, e isso é bom porque se soubessemos qual o seu tipo de sofrimento, talvez ele falaria somente a algumas pessoas.

É como o espinho na carne de Paulo. Paulo disse que Deus colocou um espinho na carne dele pra humilhar e abater, mas ninguém sabe o que é o espinho na carne, então podemos nos identificar com aquele espinho que pode ser tudo aquilo que causa o mesmo efeito que causou em Paulo, humilhação e submissão diante de Deus.

Algumas pessoas entendem que o que afligia Hemã era uma doença que o fazia sofrer desde a Mocidade e que o excluía da presença dos seus amigos, porque ele fala a partir dos versos 3 e 4 que se sente como alguém que está pra morrer, alguém abandonado como morto, depois no verso 8 ele diz que Deus apartou todos os seus conhecidos, no verso 15 ele diz que está aflito desde que era moço. Só tem uma doença no antigo Oriente que explicaria esta condição de Hemã, que era a lepra. O problema é que leprosos não podiam frequentar o templo, logo Hemã ou era leproso ou era levita. Más como ele escreveu este salmo para ser cantado e isso era uma prerrogativa dos Levitas, então acreditamos que ele era um Levita.

Salmo 32, por exemplo, quando Davi está dizendo que está angustiado porque não confessou a Deus os seus pecados, ele diz: “os meus ossos secaram...”, não é que ele estava sofrendo de uma doença que fazia com que seus ossos secassem, mas a dor que ele estava sentindo era como alguém que tinha esse tipo de problema.

Versos 1 e 2

Salmo 88.1–2 RA

1 Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti. 2 Chegue à tua presença a minha oração, inclina os ouvidos ao meu clamor.

Quanto mais ele sofre, mais ele ora. Ele não deixou o sofrimento afasta-lo de Deus como acontece com muita gente que, ressentidos, amargurados e revoltados, achando que Deus os tratou injustamente, viram as costas pra Deus e permanecem nesse estado de amargura durante anos, por causa de alguma tragédia pessoal lhes aconteceu.

Em que pese o sofrimento que Hemã estava passando, ele se apega a Deus e dia e noite, orando e buscando a Deus.

Salmo 88.9 RA

9 Os meus olhos desfalecem de aflição; dia após dia, venho clamando a ti, Senhor, e te levanto as minhas mãos.

Ele repete a Deus, - Eu estou sofrendo, mas não estou parando de orar.

Salmo 88.13 RA

13 Mas eu, Senhor, clamo a ti por socorro, e antemanhã já se antecipa diante de ti a minha oração.

Mal o dia raiava já estava Hemã clamando a Deus.

Salmo 88.15 RA

15 Ando aflito e prestes a expirar desde moço; sob o peso dos teus terrores, estou desorientado.

Por aqui aprendemos que Hemã era uma pessoa já avançada em idade, porque senão ele não seria considerado entre os sábios de Israel. Ele confessa que tem vivido com as sombras da morte ameaçando-o diretamente desde os dias da juventude. Ele tem vivido uma vida difícil, seja por enfermidade ou alguma outra razão. Sua condição o leva a ponto de perder toda a esperança.

Conclusão

Outra realidade é que mesmo os homens mais santos, piedosos e fieis, passam por momentos de profunda melancolia espiritual.

O profeta Elias queria morrer, Jonas pediu à morte duas vezes, Moisés no Salmo 90, mostra o desespero da vida, dizendo que vale apenas viver até os 80 anos, o que passa disso é canseira e enfado.

Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores do mundo, as vezes estava tão deprimido que os diáconos tinham que pega-lo em casa e leva-lo arrastado para pregar, de tão deprimido e abatido que ele se encontrava.

Para Hemã o único amigo que lhe resta são as trevas. Isolado do auxílio humano, ele ainda é capaz de chamar Deus de “Seu Salvador”. É aqui onde sua verdadeira esperança realmente repousa. Em dias quando não há luz, o crente tem de caminhar, confiando no nome de seu Deus (Is 50.10).