Gálatas 2.11-21: Como O Homem É Aceito Diante De Deus

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INTRODUÇÃO

Se há algo que o homem gosta é de ser aceito. Queremos ser aceitos na Igreja, pelos amigos, na escola, no trabalho ou na família. Enfim, queremos ser aceitos onde estivermos.
Muitas vezes, para ser aceito na sociedade, o homem precisa de uma boa vida financeira, simpatia, empatia e outras boas características. Ninguém aceita bem uma pessoa com valores ruins. Por isso, para ser bem recebido, o homem deve procurar bons valores.
Mas, como Deus recebe o homem, isto é, como ele o aceita? Será que Deus olha as questões étnicas? Será que se importa se é judeus, brasileiro, ou etíope? Será que Deus deixa-se impressionar pelas “boas” características dos homens?
Neste texto, Paulo repreende Pedro diante de todos em Antioquia da Síria. E o que estava em questão era a aceitação do homem perante Deus. Será que o homem precisa ser obediente à Lei para ser aceito por Deus? Ou será que ele precisa ter apenas fé em Cristo e não demonstrar boas obras? Hoje nós vamos falar sobre isso.
Com a repreensão de Pedro por Paulo, aprenderemos hoje que a aceitação do homem perante Deus é mediante a fé em Cristo Jesus e que a união com Cristo nos liberta do pecado.
Em lugar de Paulo você teria a coragem de repreender Pedro? Enquanto você pensa nisso, nós vamos falar hoje sobre a atitude de Pedro em contraste com a de Paulo e quais as implicações disto.

I. A ATITUDE DE PEDRO (11-13)

A separação de Pedro dos gentios (12)
“alguns da parte de Tiago”
Certamente que Tiago, irmão do nosso Senhor, não enviou essas pessoas para espionarem a atitude de Pedro, nem tampouco para espionar a liberdade dos crentes, pois isto estaria contrariando o texto de Atos 15.24, pois ali Tiago diz que esses judaizantes “saíram de nosso meio, sem a nossa autorização”.
Donald Guthrie sugere que estes homens “estivessem cumprindo alguma missão especial sob a orientação de Tiago, e não foram especificamente enviados para espionar a situação relativa à comunhão entre judeus e gentios”.
“afastou-se e separou-se dos gentios”
A ideia que o texto transmite é que, aos poucos, Pedro foi se afastando dos gentios até isolar-se totalmente. O verbo “afastar” (hupostello) pode significar “esconder” no sentido de que Pedro pouco a pouco foi se afastando de maneira disfarçada. Já “separar” (aphorizo) significa “isolar algo e colocar em um grupo, a parte de outros”. Este verbo é usado em Mt 25.32, onde Jesus separa os bons dos ruins.
Portanto, a atitude de Pedro foi de afastar-se disfarçadamente a ponto de isolar os gentios, colocando-os em uma segunda classe. Por que ele fez isso?
“temendo os que eram da circuncisão”
A razão pela qual Pedro se afastou e separou-se dos gentios foi motivada pelo medo que ele tinha daqueles que eram a favor da circuncisão dos gentios. Que tipo de medo Pedro tinha deles?
Certamente Pedro não tinha dúvida de que os gentios foram aceitos por Deus. Isto estaria contrário ao relato na casa de Cornélio (At 10). Além do que, Pedro havia se defendido contra a acusação de ter comunhão com gentios em Atos 11. Portanto, o medo que Pedro tinha dos judeus da circuncisão não era referente a alguma dúvida quanto a aceitação de Deus dos gentios.
Muitos comentaristas têm sugerido que Pedro não queria causar algum tipo de divisão entre os judeus. Pedro, portanto, estava cedendo aos judeus para evitar algum atrito. Todavia, Pedro não pensou direito nas consequências de sua atitude.
As consequências da atitude de Pedro (13)
"Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar”
A atitude de Pedro fez com que os outros judeus de Antioquia que ali estavam e também Barnabé se unissem a Pedro.
Paulo chama a atitude deles de hipocrisia. Hipocrisia na Bíblia é sinônimo de insinceridade.
Pedro e os demais citados agiram contrário às suas crenças fingindo serem leais à Lei de Moisés.
Ilustração
Não se deve discriminar ninguém na igreja. Más atitudes de outros, muitas vezes, são reflexos de nossas más atitudes.
Em nossos dias está na moda dividir o país em classes: homens, mulheres, negros, brancos, ricos, pobres, heterossexual, homossexual e etc. Independentemente de filosofia política e das discriminações que algumas classes sofreram ao longo dos anos, a divisão de classe nem sempre é positiva, pois retira a homogeneidade de um povo. A Igreja é uma comunidade e, todos sem exceção, devem viver em comum. Não existe espaços divididos para homens e mulheres, para negros ou brancos, para ricos ou pobres. Quando fazemos distinção de classes, agimos como Pedro servindo de mau exemplo para outros.
Aplicação
O que fazer?
Não discrimine ninguém na igreja. Lembre-se que todos nós estávamos cerrados debaixo do pecado, mas que agora estamos unidos através da morte e ressurreição de Cristo.
Como fazer?
Lute contra o seu orgulho. Peça a Deus para torná-lo mais humilde. Quando acreditamos ser melhor desprezamos os outros.
Por que fazer?
Não fazer acepção de pessoas é agir conforme Deus e glorificá-lo pelo que Ele é.
Recapitulação
A atitude de Pedro foi extremamente negativa, ainda que de maneira inconsciente, ele inferiorizou os gentios para não se indispor com os da circuncisão. Além disso, sua má atitude influenciou negativamente outras pessoas. Mas, há também neste texto atitudes positivas. Vejamos.

II. A ATITUDE DE PAULO (14)

Em que se baseia a atitude de Paulo (14)
“Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro diante de todos: “Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios viverem como judeus?”
A atitude de Paulo ao repreender Pedro nos chama a atenção em três pontos:
Em primeiro lugar, por que Paulo repreendeu Pedro?
Paulo percebeu que eles “não estavam andando de acordo com a verdade com evangelho”.
Orthopodeo é o verbo que foi traduzido aqui por “estavam andando de acordo” e significa “andar reto”. Pedro e os demais não estavam andando retamente. segundo “a verdade do Evangelho”, eles estavam ziguezagueando neste caminho.
Em segundo lugar, por que Paulo o repreende na frente de todos?
Não seria conveniente que Paulo repreendesse Pedro em particular? Não. A atitude de Pedro foi diante de todos e todos precisavam participar dessa repreensão.
Em terceiro lugar, onde a atitude de Pedro levaria a igreja caso Paulo não o repreendesse?
A atitude de Pedro talvez dividisse a igreja para sempre entre gentios e judeus, ou lançaria sobre ela as raízes do legalismo.
Paulo lembra a Pedro que ele mesmo não estava debaixo da Lei, pois “vive como gentio e não como judeu”. Pedro já não abraçava a fé judaica, mas a fé cristã. Ele vivia como cristão, mas, ao separar-se dos gentios, ensinaria a eles que precisavam circuncidar-se para serem aceitos perante Deus.
Ilustração
Paulo repreendeu Pedro porque ele não estava vivendo de acordo com a verdade do Evangelho. Sua atitude traria grandes danos à Igreja.
No início do século XVI, Martinho Lutero teve a coragem de enfrentar o Papa porque a sua atitude de cobrar indulgências vendendo terreno no céu traria enorme dano à Igreja. Não que Pedro fosse uma espécie de Papa e que estava totalmente desviado da verdade, mas, sem dúvida exercia grande autoridade na Igreja. A atitude de Paulo traz grandes reflexos positivos até hoje.
Aplicação
O que fazer?
Precisamos andar de acordo com a verdade do Evangelho
Como fazer?
Só poderemos andar de acordo com a verdade do Evangelho se:
Primeiro, se somos, de fato, convertidos.
Segundo, se conhecemos o Evangelho. Isto é possível através do contato diário com a Palavra de Deus.
Terceiro, buscando a Deus e pedindo que ele molde a nossa vida em conformidade com o Evangelho.
Por que fazer?
Ao andarmos de acordo com a verdade do Evangelho viveremos vidas:
irrepreensíveis
Exemplares
Que glorificam a Deus
Aplicação
O que fazer?
Devemos nos opor àqueles que negam o Evangelho.
Como fazer?
Devemos ser corajosos. O Evangelho é maior que nós, que pregadores ou que pastores. Seja quem for não é maior que o Evangelho.
Por que fazer?
O Evangelho verdadeiro, além de glorificar a Deus, traz benefícios à Igreja, mas o falso não glorifica a Deus e traz grandes danos ao longo do tempo.
Recapitulação
A atitude de Pedro foi negativa. Ele inferiorizou os gentios e influenciou negativamente para que outros fizessem o mesmo. Paulo, no entanto, teve a coragem de enfrentá-lo quando percebeu que ele não estava andando corretamente de acordo com a verdade do Evangelho. Caso Paulo não tomasse essa atitude a Igreja poderia ter se desencaminhado para o caminho do legalismo. Então agora Paulo argumenta como gentios e judeus são aceitos diante de Deus.

III. ARGUMENTAÇÃO: GENTIOS E JUDEUS SÃO ACEITOS POR DEUS MEDIANTE A FÉ EM JESUS (15-21)

Argumento Geral (15,16)
“Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’, sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo […] pela prática da Lei ninguém será justificado”
Quando Paulo diz: “nós, judeus de nascimento”, está se referindo a todo o judeu cristão, mas, em primeira instância, a ele e a Pedro.
Os gentios são tidos pelos judeus como pecadores no sentido de que são desobedientes à Lei.
A declaração de Paulo, porém é geral e enfática “pela prática da Lei ninguém será justificado”. Paulo está fazendo alusão ao Salmo 143.2.
Aqui é onde, pela primeira vez, Paulo ensina a doutrina da justificação pela fé, pois, conforme cremos, Gálatas é a primeira epístola escrita por Paulo. Daqui em diante este termo é fundamental, por isso vale algumas observações:
Justificação é um termo forense e é o contrário de condenação. Então, o justificado está livre de acusação, pois foi inocentado.
Justificação é o ato pelo qual Deus declara justo em Jesus Cristo o pecador que nele crê, portanto, trata-se da imputação da justiça de Cristo no pecador.
Justificação é um ato e não um processo, portanto, nenhum cristão é mais justificado do que outro.
A justificação é uma declaração de Deus ao pecador que crê. Isto é, Deus não o torna justo, e sim o declara. Portanto, enquanto neste corpo corrompido, o pecado ainda existe, todavia, porém, a justificação faz com que haja uma mudança de vida no salvo tornando-o santo.
Ser justificado mediante a fé em Cristo é ser aceito por Deus mediante a fé em Cristo.
Argumento pessoal (16)
“nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pela prática da Lei”
Outro argumento em favor da justificação pela fé em Cristo é usado por Paulo de maneira pessoal, ele diz “nós”, referindo-se a Pedro e a ele mesmo. Isto é, através da experiência pessoal, estes apóstolos comprovam a doutrina.
A justificação, conforme Paulo apresenta, dá-se mediante a fé em Cristo. Fé é um termo pouco entendido em nosso meio, apesar de comum. A fé salvadora diz respeito sim em confiar, mas não simplesmente confiar em alguém, mas confiar a sua vida a alguém. Portanto, ter fé em Jesus é confiar não apenas nela, mas também confiar sua vida à ele.
Primeiro argumento de defesa da justificação pela fé (17,18)
“Se, porém, procurando ser justificados em Cristo descobrimos que nós mesmos somos pecadores, será Cristo então ministro do pecado? De modo algum! Se reconstruo o que destruí, provo que sou transgressor”
Paulo está defendendo a doutrina da justificação pela fé em Cristo de um possível ataque de antinomismo.
Antinomismo vem do grego “anti”, contra e “nomos”, lei. Portanto, ser acusado de antinomismo é ser acusado de ser contra a lei, o que Paulo foi durante sua vida.
O que seus acusadores poderiam argumentar era que, se para ser aceito por Deus o homem precisa apenas crer, logo, o homem poderia desprezar a Lei e viver no pecado. Paulo, portanto, replica:
O fato de Pedro e eu sermos aceitos por Deus pela fé e não pela prática da Lei, não significa de forma alguma que Cristo trabalha em prol do pecado (lembre-se que para os judeus desobedecer a Lei é o que caracteriza pecado). Nós certamente seríamos pecadores se reconstruíssemos o que destruímos, ou seja, se nós, voltássemos à prática da Lei que já abandonamos, então, provaríamos que a transgredimos.
Segundo argumento de defesa da justificação pela fé (19,20)
“Pois, por meio da Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
Paulo continua sua defesa da justificação pela fé usando a figura de morte e ressurreição para dizer que a aceitação de Deus mediante a fé em Cristo não torna o crente livre para pecar, antes o faz apto a viver uma nova vida.
As palavras “viver” e “vida” aqui são importantes e significam “levar um certo tipo de vida”.
Assim como o homem pecou em Adão, os que creem em Cristo morreram juntamente com ele, mas não apenas morreram, como também ressuscitaram para uma nova forma de vida. Esta nova vida não reflete a natureza antiga da carne. Eles não vivem pecando, mas vivem para a glória de Deus.
Argumentação de ataque (21)
“Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente!”
Se nas duas últimas sentenças o apóstolo Paulo estava defendendo a doutrina da justificação pela fé em Cristo, agora ele está atacando a doutrina da justificação pela prática da Lei.
Ninguém pode anular uma sentença proferida por Deus. No entanto, Paulo está dizendo, hipoteticamente, que se ele ou Pedro voltasse atrás e pregasse a justificação pela prática da Lei, é como se eles estivessem anulando a sentença de Deus. Este falso ensinamento destruiria a verdade do Evangelho. Segundo John Stott, “os dois alicerces da religião cristã são a graça de Deus e a morte de Cristo. […] se alguém insiste em que a justificação é pelas obras e que se pode alcançar a salvação por esforço próprio está solapando os fundamentos da religião cristã. Está anulando a graça de Deus e tornando supérflua a morte de Cristo”.
Ilustração
O homem é aceito diante de Deus por meio da fé em Cristo e não pela prática da Lei. Uma vez unido a Cristo o salvo vive uma nova vida.
Para que possamos ingerir um alimento ele precisa estar temperado do nosso gosto. Nada além disso está bom para nós. Assim é a aceitação do homem perante Deus, para que ele possa nos aceitar tem que ser do seu modo, conforme à sua sabedoria e à sua justiça. O homem não tem o tempero que agrada a Deus, pois corrompeu-se em pecado. Cristo tomou o lugar do homem e ofereceu-se por nós a Deus, assim, em Cristo somos aceitos por Deus.
Assim como o alimento é temperado para o prazer de quem se alimenta dele, assim somos nós em Cristo, não vivemos para o nosso prazer e pelos nossos pecados, mas em santificação e para a glória de Deus.
Aplicação
O que fazer?
A aceitação do homem diante de Deus é a sua maior urgência.
Como fazer?
O homem precisa reconhecer-se como pecador e arrepender dos seus pecados
Por que fazer?
Se a aceitação diante de Deus é a maior urgência do homem ele precisa aceitar os termos divinos, reconhecendo o seu pecado, arrependendo-se dele e confiando a sua vida a Jesus.
Aplicação
O que fazer?
Permita que Cristo viva em você para a glória de Deus.
Como fazer?
Busque a Deus
Busque intimidade com Deus
Peça a Deus para conduzi-lo para a sua glória
Por que fazer?
O homem salvo não pertence a si mesmo. Ele deve viver para agradar a Deus.

CONCLUSÃO

Aprendemos que a aceitação do homem perante Deus é mediante a fé em Cristo Jesus. A história de vida de Paulo nos ensina que devemos lutar pela verdade do Evangelho, ainda que tenhamos que enfrentar homens “poderosos”.
A maior necessidade do homem é ser aceito por Deus, por isso devemos pregar a verdade do Evangelho. Como você tem contribuído para isso?
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