Gálatas 3.1-14: Regredir É Loucura

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Transcript
No “programa do Jô” exibido no dia 25 de agosto de 2014, pela emissora de tv Rede Globo, a já falecida Lady Francisco, atriz, produtora e diretora brasileira, contou uma história, no mínimo, bizarra.
Ela estava em Nova York, no fatídico 11 de setembro, quando as torres gêmeas foram derrubadas por aviões em ataques suicidas contra os Estados Unidos. Lady Francisco contou, na entrevista, que viu um dos aviões que atingiu uma das torres. Ao fim do seu relato, todos estavam chorando de tanto rir. A sua revelação dos fatos a fez parecer louca, isso porque ela disse que, antes do avião atingir uma das torres, ele deu marcha ré.
Confesso que até hoje fico pensando se ela era tão simples assim mesmo ou se eu estava assistindo uma cena de pura loucura. Seja como for, a vida nos ensina que, às vezes, regredir, como o avião da cabeça de Lady, é loucura.
Neste texto, Paulo, devido ao seu grande espanto, acusa de loucura os gálatas. Ele diz: “Ó gálatas insensatos”. A palavra “insensatos” aqui transmite a ideia de irracionalidade, de falta de juízo, de loucura.
Conforme vemos, nesta carta, Paulo precisa defender o Evangelho da Graça de Deus, conforme pregava, e também as suas credenciais apostólicas contra os ataques de falsos mestres judaizantes que queriam que os gálatas se circuncidassem para serem aceitos por Deus.
Paulo já havia feito uma extensa defesa do seu apostolado no capítulo dois, mostrando que seu chamado não dependia da aprovação dos homens. Agora, ele passa a argumentar que a justificação pelas obras da Lei é loucura. E que, aqueles que confiam na Lei para serem aceitos diante de Deus são, na verdade, amaldiçoados, porquanto não podem cumprir a Lei. Aqueles, no entanto, que creem em Cristo, são aceitos por Deus, pois Cristo tornou-se maldição no lugar deles para libertá-los da Lei e do pecado.
Paulo mostra a insensatez dos gálatas usando uma comparação interessante. Ele insinua que os gálatas foram enfeitiçados. Este verbo transmite a ideia de lançar um feitiço através dos olhares. A isso Paulo diz que expôs Jesus como crucificado diante dos olhos deles. A palavra prographo, aqui traduzida por “exposto” era usada para publicações em cartazes. O que Paulo está dizendo é que proclamou tão bem a morte de Jesus que, quase que eles poderiam vê-lo ali no Calvário.
Você alguma vez já esteve pronto a cometer essa loucura de regredir na fé? Ou de regredir no sentido de apelar para o esforço humano como meio de salvação?
Então, deve estar se perguntando o que Paulo fez para trazer os crentes da Galácia ao juízo perfeito. Veremos isso agora...

I: A EXPERIÊNCIA DOS GÁLATAS (1-5)

Paulo, através da experiência dos cristãos, quer que eles percebam a irracionalidade dos seus atos (1-5)
Paulo, espantado com a irracionalidade dos gálatas e, querendo reverter o “feitiço” lançado contra eles, relembra-os de suas experiências usando quatro perguntas retóricas.
A experiência do recebimento do Espírito Santo (2)
“foi pela prática da Lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram?”
A primeira pergunta de Paulo diz respeito a como eles receberam o Espírito Santo. E a lógica é clara: se foi pela prática da Lei, sigam ela, mas se foi pela pregação da fé, porque estão agora enveredando pela prática da Lei?
A experiência do início da jornada cristã (3)
“Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”
A segunda de Paulo pode ser expressa assim: será que a irracionalidade de vocês é tanta que, tendo iniciado a vida cristã pelo Espírito Santo, que vocês receberam através da fé em Cristo, agora querem terminá-la por obras da carne, ou seja, pelo cumprimento da circuncisão e outras obras da Lei? Seriam as obras da Lei mais poderosas que o Espírito Santo recebido pela fé em Jesus a ponto de aperfeiçoá-los? Que parte vocês desempenharam neste processo de recebimento?
É bom destacar que a declaração de Paulo é apenas hipotética, pois é impossível começar pelo Espírito e terminar pela carne.
Paulo aqui dá início a um importante ponto de Paulo nesta epístola: a incompatibilidade de Espírito e carne.
A experiência do sofrimento (4)
“Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil!”
Podemos observar, em primeiro lugar, que a igreja da Galácia não estava totalmente desviada. A sentença final deste versículo “se é que foi inútil” revela que Paulo tinha esperança de reverter a situação.
Isto posto, a terceira pergunta retórica de Paulo diz respeito a sofrer sem motivo algum. Os gálatas enfrentaram perseguição por causa da sua fé em Jesus. Se a circuncisão fosse necessária ao Evangelho, sendo este uma extensão do judaísmo, bastava apenas fazê-la e eles não sofreriam perseguição no início da jornada, uma vez que o judaísmo ainda não era perseguido.
A experiência dos milagres (5)
“Aquele que lhes dá o seu Espírito e opera milagres entre vocês realiza essas coisas pela prática da Lei ou pela fé com a qual receberam a palavra?”
Se na primeira pergunta (v.2) o foco estava nos receptores do Espírito, aqui está no doador. Deus é “aquele que lhes dá o seu Espírito”, não apenas isso mas também Deus é o realizador de milagres extraordinários entre eles. Paulo relembra os gálatas de que sempre pregou diante deles e Deus agiu extraordinariamente, pois a sua palavra e pregação “não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1Co 2.4). Então, Paulo os fazem relembrar como ele pregava: uma mensagem de fé em Cristo ou nas obras da Lei.
Os milagres operados por meio da fé serviram de sinal de que o homem é aceito diante de Deus pela fé em Cristo.
Aprendizado
A fé somente em Cristo é o meio pelo qual o homem inicia sua jornada cristã bem como a finaliza. Olhar para trás revela-nos que a graça de Deus e não a força do homem o conduz. Portanto, desviar-se da fé, para seguir outro caminho é irracional.
Ilustração
Um bom motorista não olha apenas para frente para seguir viagem. Às vezes é preciso olhar no retrovisor para evitar acidentes. Na vida cristã também é assim: às vezes precisamos olhar para trás para perceber que Deus é quem nos trouxe até aqui e assim os acidentes são evitados.
Aplicação
O que fazer?
Precisamos olhar para trás.
Como fazer?
Lembre-se de quem era e de quem em Cristo você é.
Pondere:
Você tem força para seguir na jornada Cristã senão pela força do Espírito alcançado mediante a fé?
Depois de ter recebido o Espírito, você consegue viver pelo seu próprio esforço?
É preciso se esforçar na jornada cristã? Se sim, de onde vem essa força, de você ou de Deus?
A sua salvação depende da obediência à Palavra de Deus ou você é obediente à Palavra de Deus porque você é salvo?
Por que fazer?
Olhar para trás nos faz enxergar que só chegamos aonde estamos porque a graça de Deus nos sustentou e nos conduziu. Isso afasta todo o desvio por caminhos que levam à morte.
Recapitulação e ponto de ligação
Desviar-se pelo caminho das obras da Lei é loucura. Paulo precisou demonstrar a irracionalidade dos gálatas através de sua experiência pessoal. Agora, porém, Paulo argumentará em favor da justificação pela fé através da vida de Abraão.

II: A EXPERIÊNCIA DE ABRAÃO (6-9)

Paulo usa a salvação mediante a fé de Abraão como exemplo para os gálatas (6-9)
Certamente Paulo usa o exemplo de Abraão, pois os judaizantes opositores deveriam tê-lo usado como referência de circuncisão para ser aceito. Então, Paulo lembra que ele foi aceito por Deus antes de ser circuncidado.
Como Abraão se tornou justo? (6)
“Ele creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”
Paulo, ciente da autoridade bíblica, está usando o AT como prova da salvação mediante a fé. Aqui ele está citando Gn 15.6.
Abraão creu em Deus, ou seja, não apenas confiou em Deus como também confiou sua vida a ele. O texto diz que, por conta disso, foi creditado a Abraão o status de justo.
A palavra “creditado” ou “imputado” em outras versões é um termo da contabilidade que significa “computar na conta financeira de alguém”. O que o texto, portanto, está dizendo é que ao confiar em Deus, Abraão teve creditado em sua conta o status de retidão jurídica que satisfazia as exigências morais do caráter de Deus, em palavras mais fáceis, Abraão foi aceito por Deus porque creu nele.
Quem são os filhos de Abraão? (7)
“os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão”
Há duas categorias distintas para Paulo neste trecho: “os que são da fé”(v.7) e “os que se apoiam na prática da Lei” (v.10).
Certamente, “os que são da fé” são àqueles que, a exemplo de Abraão, depositam a confiança não em si mesmo mas em Deus para a sua salvação. Já “os que se apoiam na prática da Lei” são os que confiam na Lei para serem salvos.
Os judeus acreditavam que, por serem descendência de Abraão estavam salvos e se orgulhavam disto. Paulo expressa que, na verdade, os verdadeiros filhos de Abraão são àqueles que creem em Deus, portanto é um tipo de filiação espiritual e não carnal.
Paulo mostrará, no próximo versículo, a importância de ser filho de Abraão.
A quem se estende a bênção de Abraão? (8)
“Por meio de você todas as nações serão abençoadas”
Aqui Paulo cita Gn 18.18.
Conforme vimos no versículo anterior, os filhos de Abraão são àqueles que depositam sua confiança em Deus para sua salvação. Estes são filhos espirituais de Abraão. A importância disto é que filhos recebem herança de seus pais. Desta maneira, a herança de Abraão, isto é, à sua bênção, é estendida a todos os seus filhos.
Este versículo diz que na Escritura já estava previsto que Deus aceitaria os gentios pela fé e, por isso, “anunciou primeiro as boas novas a Abraão” dizendo: “por meio de você todas as nações serão abençoadas”.
Resta-nos agora refletirmos: qual é a bênção de Abraão?
Paulo liga a bênção de Abraão à “promessa do Espírito mediante a fé” (v.10) e à aceitação do homem diante de Deus (v.6). Isto é, receber a bênção de Abraão é receber o Espírito Santo e a justificação.
Como Abraão e os seus descendentes são salvos? (9)
“os que são da fé são abençoados junto com Abraão, homem de fé”
Não há muito mais o que dizer. Ser filho de Abraão garante o direito ao Espírito Santo e à aceitação diante de Deus. De que forma isto acontece? Através da fé.
A Escritura quer que sigamos o exemplo de Abraão, homem de fé, ou o crente Abraão, como outras versões sugerem. A versão NVI é melhor aqui porque mostra que a fé não é apenas inicial, não bastou a ele apenas crer, mas permanecer na fé por toda a vida.
Aprendizado
Neste ponto, aprendemos duas lições:
Primeira lição: o que o evangelho nos oferece.
O dom do Espírito e aceitação diante de Deus.
Segunda lição: o que o evangelho nos exige.
Crer e permanecer.
Ilustração
Bons pais podem proporcionar boas coisas aos seus filhos. Uma boa alimentação e conforto são exemplos disso. Filhos pequeninos não podem ajudar em casa, eles apenas confiam na provisão de seus pais e permanecem com eles. Os cristãos são como filhos pequeninos. Não podem contribuir com nada, tudo que Deus exige de nós é confiar nele e permanecer nessa confiança. Muitas bênçãos o Pai celestial podem dá-los, mas duas são aqui destacadas: o Espírito Santo e a aceitação.
Aplicação
O que fazer?
Confie sua salvação a Cristo e a mantenha viva até o fim.
Como fazer?
Para não salvos:
Arrependa-se dos seus pecados.
Entregue a sua vida a Cristo.
Para os salvos:
Não se desvie da fé.
Saiba que todos cometemos pecados. Lembre-se: a justificação é uma declaração de Deus, mas ela não o torna justo, por isso, você é falho e pecará outras vezes, mas também, através dela, você será uma nova criatura e terá o Espírito Santo que lhe proporcionará santificação. Os seus pecados podem ser perdoados em Cristo e não há razão para você abandonar a fé!
Por que fazer?
Somente a graça de Deus por meio da fé somente em Cristo pode nos salvar. Manter viva a fé é essencial, pois só receberão a coroa da vida àqueles que forem fiéis até a morte (Ap 2.10).
Recapitulação
Para demonstrar aos gálatas que a salvação deles depende inteiramente da graça de Deus e é pela fé somente, Paulo os faz rememorar o passado e também utiliza a Bíblia através do exemplo de vida de Abraão. Agora, ele partirá para o seu argumento cabal, colocando a Lei e a Fé em um duelo para demonstrar a força de seu pensamento.

III: LEI VERSUS FÉ (10-14)

A maldição da Lei (10,11a, 12)
“os que se apoiam na prática da Lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei. É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei, pois o justo viverá pela fé. A Lei não é baseada na fé; ao contrário, ‘quem praticar estas coisas, por elas viverá’”.
Paulo continua citando o AT para demonstrar que àquele que confia na Lei para ser salvo está debaixo de maldição. O que isto significa?
Ser amaldiçoado aqui, neste trecho, significa ser separado de Deus. Perceba o contraste: o homem que crê em Deus a sua vida, torna-se filho de Abraão e consequentemente herda à sua bênção (o Espírito Santo e a aceitação diante de Deus). Por outro lado, o homem que confia na Lei para a salvação precisa persistir “em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei” (Paulo está citando Dt 27.26). Tiago diz que “qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Sendo impossível ao homem guardar toda a Lei, ele está debaixo da maldição de Deus, isto é, separado dele.
A libertação em Cristo pela fé (11b,13,14)
“É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei, pois ‘o justo viverá pela fé’ […] Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro’. Isso para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão chegasse também aos gentios, para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé”
As palavras de Paulo são fortes quando se refere a Cristo. Paulo cita Dt 21.23, que diz: “[…] o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus”. Alguns crimes em Israel, além de apedrejamento serviam para demostrar a rejeição de Deus. Esses criminosos eram expostos pendurados em uma árvore. Aqui Paulo quer demonstrar que Cristo tornou-se maldito de Deus ao ser crucificado. Todo esse raciocínio explica a agonia de Cristo na cruz e sua exclamação: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Cristo, portanto, quebrou o elo da trindade, tornando-se maldição em nosso lugar, ou seja, ele tomou sobre si a maldição que era nossa, para nos libertar dela. A palavra “redimiu” era usada para compra de escravos. Alguns escravos eram comprados para serem libertados. A ideia de Paulo é que ao nos comprar da maldição da Lei, Cristo nos tornou livres do dela e do pecado. Por isso Paulo cita Habacuque 2.4 “o justo viverá pela fé”. “Viverá” aqui indica não a vida física, mas a transcendente e eterna. Isto é, através da fé, o que foi declarado justo por Deus, receberá a vida eterna.
Aprendizado
Há dois caminhos a percorrer que nos levará a destinos diferentes. A fé nos leva à bênção enquanto o esforço próprio nos conduzirá à maldição.
Ilustração
No livro “O Peregrino” de John Bunyan, Cristão ao ler a Bíblia decide rumar-se a “cidade celestial”. Então ele sai de sua cidade, a “cidade da destruição” carregando um grande fardo sobre os ombros. Não havia meio de livrar-se do peso e isso dificultava muito o seu caminho. Porém ao chegar, com muita dificuldade, ao local íngreme, onde estava a cruz, o seu fardo se afrouxou e escorregou de suas costas, aliviando-lhe os ombros. Este livro retrata bem a vida cristã, pois enquanto o homem está debaixo do fardo da Lei, não pode avançar, mas, quando encontra-se com a cruz de Cristo, o fardo da Lei lhe é tirado, ele não está mais debaixo da maldição e sim da bênção do Pai. Caminhar com aquele fardo tornaria impossível ao Cristão alcançar a cidade celestial, mas livrar-se dele pela fé em Cristo conduziria-o à vida eterna.
Aplicação
O que fazer?
Para não salvos
Seja livre em Cristo da maldição da Lei.
Para salvos
Liberte-se do fardo do legalismo.
Como fazer?
Para não salvos
Arrependa-se do seu pecado e venha a Cristo pela fé. Entregue sua vida totalmente em suas mãos, sem reservas.
Para salvos
Lembre-se que você teve o fardo da Lei tirado de seus ombros pela fé em Cristo. Não pense que pode chegar à cidade celestial por seus esforços próprios.
Por que fazer?
A razão disto está em alcançar a bênção de Deus. Há somente duas estradas, a lei ou a fé e somente a fé pode te levar à bênção.

Conclusão

Assim como aviões não dão marcha ré, os crentes que subirão para o céu não podem regredir. É loucura pensar que podemos chegar à cidade celestial pelos meios do esforço humano. Por isso Paulo precisou lembrar os gálatas que a experiência deles comprovavam a sua aceitação mediante a fé em Jesus Cristo. Paulo também usa o exemplo de Abraão para dizer-lhes que, assim como Abraão foi abençoado pela fé, eles também o serão. Por fim, Paulo mostra que o caminho da Lei conduz à maldição, mas o caminho da fé, conduz à salvação. E você, em qual caminho vai se guiar?
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