Gálatas 3.15-22: A Superioridade Da Promessa

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Superioridade é a condição daquilo que está acima. Quando criança, sempre ouvimos: não responda os mais velhos!
O argumento de Paulo, basicamente, tem a ver com superioridade. Ele argumenta que a Promessa de Deus a Abraão e ao seu Descendente tem idade superior à Lei e contra isso não há discussão.
Os judaizantes reclamavam do ensino de Paulo de que a Graça de Deus, somente pela fé em Cristo, livre da observação da Lei, era capaz de salvar o homem. Esses falsos irmãos invadiram as igrejas da Galácia pervertendo o ensino paulino e ganhando adeptos ao legalismo.
Esta apostasia levou Paulo escrever sua carta combatendo ferozmente esses falsos profetas. Mas, antes disso, Paulo precisou defender seu apostolado destacando sua independência dos apóstolos de Jerusalém e sua conformidade com o mesmo evangelho pregado por eles. O capítulo dois se ocupa desses detalhes.
Uma vez defendida sua credencial apostólica, Paulo pode defender a liberdade cristã, o que faz a partir do capítulo dois, versículo onze. No capítulo três Paulo traz à memória de todos o patriarca Abraão, ensinando que ele mesmo foi justificado mediante a fé e não pela prática da Lei.
Neste trecho que lemos, Paulo ensina aos seus leitores e a nós que nada e nem ninguém pode invalidar ou mesmo acrescentar algo à Promessa de Deus feita a Abraão e ao seu Descendente. Nenhum esforço humano pode dar direito à posse da herança espiritual do crente.
Como você realmente crê que o homem é recebido por Deus em seu Reino? Como ele vai para o céu após a morte? O que lhe dá o direito de vida eterna? É preciso esforço, basta crer ou os dois?
Meu objetivo nesta mensagem é que você entenda que a Promessa de Abraão, que nós alcançamos em Cristo é maior que todo esforço humano, além de ser a única capaz de nos fazer herdar o céu e que todo esforço humano, por mais que tenha o seu valor e lugar, não pode nos levar para junto de Deus.
Para que Paulo pudesse alcançar o seu objetivo de demonstrar que a Promessa é superior a Lei, ele usa três argumentos:

I: PELA PRECEDÊNCIA, A PROMESSA FEITA A ABRAÃO E AO SEU DESCENDENTE É SUPERIOR A LEI(15-18)

A ilustração (15)
Paulo tem um grande amor pelas igrejas. Este amor pode ser visto no seu trato. Ele os chama de irmãos. Claro que isso também denota a certeza de Paulo de que os cristãos da Galácia ainda não tinham totalmente se apostatado da fé.
Depois de colocar-se em um mesmo pedestal com os irmãos da Galácia, Paulo ilustra o seu argumento dizendo: humanamente falando, ninguém pode anular um testamento depois de ratificado, nem acrescentar-lhe algo. Obviamente, em nossos tempos, testamentos podem ser modificados, mas, o que Paulo talvez tenha em mente seja a antiga legislação grega que não permitia que um testamento ratificado fosse anulado, ou mesmo acrescentado. Pode ser também que ele esteja falando em termos de morte, pois, se alguém morre, ninguém pode modificar ou anular o testamento deixado. Seja como for, a ilustração se mostrará clara em seu objetivo daqui para frente.
A espiritualização da promessa (16)
Antes mesmo de concluir o seu raciocínio óbvio, Paulo faz um parêntese para explicar aos seus leitores que a Promessa feita a Abraão e à sua descendência registrada em Gênesis 12.7; 13.15; 15.18; 17.7-8 refere-se não apenas à nação israelita, nem tampouco limita-se a uma extensão territorial. Paulo diz que as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Ele ainda prossegue: A Escritura não diz: “E aos seus descendentes”, como se falando de muitos, mas: “Ao seu descendente”, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo. Na realidade, a palavra “descendente” ou “descendência” é um singular coletivo, ou seja, ainda que seja singular, expressa também a coletividade. Paulo entende que a promessa se refere a Abraão e a Cristo e, por conseguinte, na coletividade, todos àqueles que estão, pela fé, em Cristo, isto é, a Igreja.
A conclusão do raciocínio (17-18)
A conclusão de sua ilustração é perfeita: A Lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois (Ex 12.40), não anula a aliança previamente estabelecida por Deus, de modo que venha a invalidar a promessa. Abraão recebeu a promessa séculos antes da Lei, sendo assim, como a Lei pode anular a Promessa ou mesmo acrescentar algo à ela? Ora, se a lei não pode anular ou acrescentar algo a Promessa, por que os crentes se envolveriam com ela? Só podiam mesmo estar “enfeitiçados”! (Gl 3.1). Diante deste fato, Paulo chama os irmãos a escolherem de que lado vão ficar. Ele lembra Josué ordenando ao povo que escolhesse a quem iam servir, ou a Elias esperando uma decisão do povo do Senhor no Monte Carmelo. Neste sentido Paulo diz que se a herança depende da Lei, já não depende de promessa. Em outras palavras: ou vocês se agarram na Promessa e recebam a herança ou abracem a Lei e fiquem “chupando dedo”. Para finalizar seu raciocínio óbvio, Paulo demonstra com clareza que a posse da herança prometida é alcançada pela Graça divina, pois Deus … concedeu-a gratuitamente a Abraão. Isto é, Abraão não teve de fazer nada para receber a herança senão crer.
Aprendizado
A Promessa de Deus é:
Inviolável. Ninguém pode anulá-la ou acrescentá-la.
Hereditária. Se estamos em Cristo a recebemos.
Imerecida. A recebemos pela Graça, livre de qualquer ato humano.
Ilustração
Há pessoas que “nasceram em berços de ouro” e se beneficiam daquilo que seus pais construíram ao longo da vida sem sequer se esforçarem por isso. Esta é uma realidade inviolável. Há também aqueles que nasceram de novo, entregando-se a Cristo. Agora, eles foram adotados pelo Pai, estes receberam, sem merecimento algum a promessa de uma herança eterna, desde que permaneçam até o fim em Cristo. Esta também é uma realidade inviolável, que não pode ser alterada ou anulada.
Aplicação
Se a promessa de Deus é inviolável, é tolice acrescentar algo a ela ou tentar invalidá-la. Por isso, não estipule regras para que as pessoas sejam salvas. Aceite a graça de Deus de fato como um favor que você, além de não merecer, não pode pagar. Permaneça na fé em Cristo, pois brevemente receberemos a herança espiritual em sua totalidade. Lembre-se que, além de tolice, acrescentar algo à Promessa ou tentar invalidá-la é um grave insulto ao bom Deus.
Recapitulação
Vimos até aqui que Paulo argumenta que a Promessa de Deus, feita a Abraão e ao seu Descendente, é superior à Lei, pois é anterior a ela. A partir desse argumento, Paulo precisa defender seu ponto de vista mostrando qual era a razão de ser da Lei.

II: PELA EXTENSÃO TEMPORAL, A PROMESSA FEITA A ABRAÃO E AO SEU DESCENDENTE É SUPERIOR Á LEI(19-20)

1ª defesa do argumento paulino: a razão de ser da Lei (19a)
Depois de demonstrar a todos que a Promessa de Deus não pode ser invalidada ou acrescentada pela Lei, Paulo precisa se defender de possíveis ataques. Seus opositores poderiam dizer: Ora, se a Promessa é suficiente para a nossa salvação a Lei então foi dada por Deus sem propósito algum? Talvez seja por isso que Paulo diz: Qual era então o propósito da Lei? A isso, ele mesmo responde: Foi acrescentada por causa das transgressões. A Lei tinha, portanto, uma razão de existir.
A palavra acrescentada aqui não significa aquilo que foi dado para melhorar algo, ou uma condição a mais a ser cumprida. De forma alguma! Esta palavra apenas se refere ao tempo, visto que a Lei veio quatrocentos e trinta anos depois da Promessa (v. 17).
Diante disto, Paulo quer demonstrar que a Lei veio com o propósito de apontar o pecado humano e mostrar-lhe a necessidade de um Salvador. Isto está de acordo com sua carta aos Romanos, onde diz: “pela lei veio o pleno conhecimento do pecado” (3.20). E, “onde não há lei, também não há transgressão” (4.15). E, também em (7.7) que está escrito “eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei”.
A transitoriedade da Lei (19b)
A Lei revelava o pecado do homem, mas Deus não tem prazer nisto, por isso, a Lei tinha um tempo estabelecido, ela era transitória. A sua ação era até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa. Cristo satisfez toda exigência da Lei. Ele cumpriu-a cabalmente. Somente Deus poderia satisfazer toda a sua santidade. Mas, Cristo também sofreu toda a maldição da Lei, pois, “tornou-se maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). Todo castigo decorrente das nossas transgressões estava sobre ele (Is 53). Por isso o crente precisa abandonar todo legalismo e refugiar-se, pela fé, em Cristo.
A superioridade da Promessa (19c-20)
Paulo não se limita apenas a expor o propósito da Lei, como também demonstrar sua inferioridade comparada à promessa. Sobre a Lei, Paulo vai dizer que ela foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Segundo Paulo a Lei foi entregue a Moisés pelas mãos de anjos, que a recebeu das mãos de Deus. No Novo Testamento esta ideia é clara. Podemos observá-la em Atos 7.53 através de Estevão e em Hebreus 2.2 por seu autor. O Antigo Testamento, por sua vez, nada relata sobre isso. Porém, a tradição judaica, com base em Deuteronômio 33.2 afirma este pensamento e, pode ser, que Paulo esteja se referindo a ela.
Seja como for, este difícil texto pode ser entendido como um argumento de Paulo demonstrando a superioridade da Promessa em relação a Lei, pois a Lei foi dada através de intermediários (anjos e Moisés), enquanto que a Promessa veio diretamente da boca de Deus a Abraão. Talvez este seja o sentido da frase: o mediador representa mais de um; Deus, porém, é um.
Aprendizado
Deus não tem prazer em apontar erros sem prover soluções. A Lei apontava para o erro humano, mostrando-o a sua miséria, mas isso era temporário, pois a solução estava na Promessa da vinda de Cristo.
Ilustração
Quando alguém comete um crime é condenado. Isso mostra o seu erro. Existe também o processo de reabilitação, que é um benefício jurídico criado com o intuito de restituir o condenado para a situação anterior à sua condenação, limpando toda a sua ficha. Em Adão nós pecamos contra Deus. A Lei nos mostrou os nossos erros, mas teve o seu fim em Cristo. Por meio de Cristo somos reabilitados na situação em que o homem foi criado antes da Queda.
Aplicação
Qualquer acréscimo à Promessa é uma ofensa a Deus. Fomos condenados por nosso crime, mas reabilitados em Cristo. Portanto, devemos nos lembrar que normas religiosas são passageiras e mortas enquanto que a Promessa de Abraão é eterna e traz vida.
Recapitulação
A Promessa de Deus feita a Abraão e ao seu Descendente é superior à Lei. Ela é superior primeiramente por precedência, mas não só isso, como também a sua extensão temporal. Agora surgirá uma dúvida: os judeus aprenderam que a justiça vinha pela Lei, Paulo diz que é pela fé e que se recebe a herança espiritual pela promessa. Então, Lei e Promessa são opostas?

III: PELO OBJETIVO, A PROMESSA FEITA A ABRAÃO E AO SEU DESCENDENTE É SUPERIOR À LEI(21-22)

2ª defesa do argumento paulino: a razão de ser da Promessa (21-22)
Uma vez explicada a razão de ser da Lei, poderia surgir a seguinte indagação entre os judaizantes: se Paulo diz que a Lei revela o nosso pecado e não nos pode salvar, mas a Promessa pode nos fazer tomar posse da herança, logo, a Lei é contrária a Promessa de Deus. Sendo assim, Paulo está blasfemando contra Deus.
Por essa razão é que Paulo faz a pergunta retórica: a Lei opõe-se às promessas de Deus? A questão é tão séria que ele mesmo responde com um sonoro: De maneira nenhuma! A questão, argumenta Paulo, desenvolve-se no objetivo de cada lado, ou seja, o objetivo da Lei é um e o objetivo da Promessa é outro, eles se complementam. Paulo diz que se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei. Com isso, Paulo nos ensina que a Lei jamais tencionou justificar alguém diante de Deus, como criam os judaizantes. Paulo já havia mencionado antes que Abraão “creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gl 3.6). Portanto, a justiça é imputada não no homem que guarda a Lei, mas no que recebe, pela fé em Cristo, a Promessa de Abraão.
A quem a Promessa é dada? (22)
A justiça, portanto, não poderia vir da Lei, uma vez que o objetivo desta não é justificar, mas apontar o pecado e a necessidade de um Salvador. Em sua sabedoria, Deus, através da Escritura, que aqui é personificada como um carcereiro que aprisiona os criminosos, encerrou tudo debaixo do pecado, com o objetivo de que a promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem. Perceba que a Promessa não é dada aos que creram, mas aos que creem. Ter fé em Cristo é importante, assim como permanecer nela para tomar posse da herança destinada à Igreja.
Aprendizado
A Lei revela nossa miséria e aponta para a necessidade de um Salvador. Ela não é contrária à Promessa, mas complementar. Para que o homem tome posse da herança espiritual não basta apenas crer, como também persistir.
Ilustração
Gabrielle Andersen foi uma atleta suíça de muito destaque. Nas olimpíadas de Los Angeles em 1984, Gabrielle cruzou a linha de chegada na 37ª colocação, em uma competição de 44 corredoras. Obviamente o seu destaque não se deu por sua colocação, e sim pela sua persistência. Depois de perder a última estação de água, Gabrielle acabou desidratada sob o forte sol de Los Angeles. Com a desidratação ela ficou também desorientada. Além disso, uma forte cãibra tomou a sua perna esquerda. Todavia, mesmo cambaleando e desorientada ela não desistiu da prova e chegou à linha de chegada. O exemplo de Gabrielle Andersen serve para ilustrar a maratona cristã. Depois de entregar nossas vidas a Cristo, recebemos a sua justiça. Mas, só alcançaremos a linha de chegada se persistirmos.
Aplicação
Permaneça firme em Cristo, não desanime pelas lutas que enfrentas, persista. De nada valerá ter sido iluminado por Deus se não persistires e cruzares a linha de chegada. Quando chegares ao fim, e trocares a cruz pesada pela coroa de glória, verás que valeu a pena!

Conclusão

Não há dúvidas de que a Promessa é superior à Lei e que somente a fé em Cristo nos garante a herança de Abraão e não o nosso esforço próprio. Assim como sabemos que discutir com os mais velhos é errado, argumentar contra a Promessa em favor da Lei também o é. O problema é que habita no ser humano o desejo de se obter algo por esforço próprio. Porém, como vimos, diante de Deus isso é impossível. Ou você recebe a herança mediante a fé em Cristo pela sua graça, ou você morrerá tentando se esforçar para conquistar. O que você vai fazer?
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