A dádiva do matrimônio.
Gn 2.18-24
Cena 2: Dádiva do Matrimônio (2.18–23)
Cenário (2.18)
18. não é bom [lō’ ṭôḇ]. A frase lō’ ṭôḇ é altamente enfática. Essencialmente, é ruim para Adão viver sozinho.31 Deus planeja o matrimônio, o qual acarreta intimidade e relação sexual. O relacionamento é modelado segundo Deus que não existe em isolamento, mas é uma triunidade, cercado por uma corte celestial.
auxiliadora [‛ēzer]. Deus cria a mulher para ajudar Adão, isto é, para honrar sua vocação, partilhar de seu desfruto e para respeitar a proibição. A palavra auxiliar pressupõe que o homem tem prioridade governamental, porém ambos os sexos são mutuamente dependentes. O homem é criado primeiro, com a mulher a auxiliar o homem, não vice-versa (ver também 1Tm 2.13); contudo, isso não significa superioridade ou inferioridade ontológica. A palavra auxiliadora, usada por Deus 16 das 19 vezes que aparecem no Antigo Testamento, significa a contribuição essencial da mulher, não inadequação.
correspondente [negdô]. O hebraico significa “igual e adequado”. Homens e mulheres diferem em sexualidade, porém são iguais como portadores da imagem divina e em sua condição diante de Deus.
Preparação do Homem para a Dádiva (2.19,20)
19. O SENHOR Deus formou … todos os animais. A criação dos animais é mencionada agora em razão de sua importância para a dádiva da história do matrimônio.
chamou. O narrador deixa em branco a origem da linguagem, porém mais tarde explica sua diversidade.
20. deu nomes. Ver também 1.5. Adão assume a chefia no ato de dar nome (anterior à criação da mulher). Seguindo o mandato cultural (1.26), Adão imita Deus e mantém o mundo sob seu domínio. No final da criação, os humanos são inferiores aos seres celestiais e superiores aos animais (Sl 8.5).
não achava nenhuma auxiliadora correspondente. Por que Deus determina que não é bom que Adão esteja sozinho e então lhe dá animais? Não deveria ter-lhe dado primeiramente a mulher? De fato, Adão deve compreender que não é bom viver sozinho. Antes que esbanje seu dom mais precioso em algo que não há como apreciar, Deus espera até que Adão esteja preparado para apreciar a dádiva da mulher.
Criação da Mulher (2.21,22a)
21. uma das costelas do homem. A intimidade e harmonia que corroborariam a relação matrimonial são captadas perfeitamente nesta imagem (ver também Ef 5.28). Nas famosas palavras de Matthew Henry: a mulher “não é feita de sua cabeça para estar acima dele, nem de seus pés para ser pisada por ele, mas de seu lado para ser sua correspondente, de debaixo de seu braço para ser protegida e de perto de seu coração para ser amada”. Semelhantemente, diz Cassuto: “Assim como a costela se encontra no lado do homem e lhe é anexa, da mesma forma a boa esposa, a costela de seu esposo, fica a seu lado para ser sua auxiliarsósia, e sua alma faz fronteira com a dele”.
Dádiva do Matrimônio (2.22b,23)
22b. e lha trouxe. Este primeiro casamento, realizado no santo templo-jardim e designado por Deus, significa o santo e ideal estado do matrimônio. Deus exerce o papel de assistente do noivo. Ele entrega ao homem sua esposa.
23. Esta é agora … homem. Aqui lemos somente as palavras de Adão registradas antes da queda. Em forma poética, ele celebra a união e igualdade de homem e mulher. Ao dar-lhe o nome de “mulher” (’iššâ), ele também se denomina de “homem” (’îš). O narrador lhe dá o nome por sua relação com o solo; Adão, porém, lhe dá o nome em relação à sua esposa. Um homem e uma mulher nunca se assemelham a Deus quanto no dia de suas núpcias, quando um se entrega incondicionalmente ao outro.41
a chamou. O duplo nome que sua esposa recebe acarreta sua autoridade no lar (3.20; cf. Nm 30.6–8). Nos tempos antigos, a autoridade de dar nome implicava a autoridade de governar (Gn 1.5; 2.19).
Epílogo (2.24,25)
24. Por esta razão. Este aparte do narrador indica o arquétipo propósito da história. Todo casamento é divinamente ordenado. A explicação inspirada almeja corrigir as culturas que dão prioridade aos vínculos parentais acima dos vínculos maritais.
deixa. Visto que o esposo e a esposa são uma só carne, a união matrimonial tem prioridade sobre a união procriativa. As obrigações do esposo para com sua esposa têm precedência sobre outras prioridades.
uniu. Esta é a linguagem do compromisso pactual. O matrimônio descreve a relação de Deus com seu povo (Os 2.14–23; Ef 5.22–32).
uma só carne. A intenção de Deus de que o casamento seja monógamo está implícita pela unidade completa e profunda solidariedade da relação.
25. não sentiam vergonha. Nesse estado ideal, homem e mulher viam suas pessoas e sexualidade com integridade, e por isso não sentiam vergonha em sua nudez. Aqui, sua nudez é uma imagem de franqueza e confiança. Com a perda da inocência na queda, sentirão vergonha e tentação, e por isso precisarão proteger sua vulnerabilidade pelo obstáculo da roupa (3.7).