Sermão em Gálatas 4.1-11: De Escravos A Filhos

Introdução

No capítulo três desta carta, Paulo, com o intuito de demonstrar que a fé em Cristo é superior às obras da Lei, passa por três grandes personagens bíblicos, a saber: Abraão, Moisés e Jesus.

O raciocínio de Paulo se desenvolve da seguinte forma: Abraão foi aceito por Deus mediante a sua fé. Ele recebeu uma promessa que teve o seu cumprimento em Jesus. A Lei é santa e boa, mas aprisiona o homem e o condena, visto que ele é mau. Por esta razão, Jesus veio e tornou-se maldição em nosso lugar para nos livrar da maldição da Lei.

Agora, no capítulo quatro, versículos de um a onze, Paulo quer demonstrar que depois de receber a Cristo pela fé somente, o homem é exaltado de escravo a filho e herdeiro da promessa. Para este fim, Paulo relata a condição de escravidão do homem sob a Lei (1-3); A nova condição de liberdade do homem em Cristo (4-7); E, faz um apelo aos seus ouvintes (8-11).

I: A Escravidão do homem sob a Lei (1-3)

Para ilustrar o seu ponto de vista, Paulo usa a figura de um herdeiro que ainda é menor de idade. Embora seja dono de tudo, ele ainda é herdeiro apenas por promessa e não por experiência, pois ainda é uma criança. E, não tendo ainda direito à herança, em nada difere de um escravo, visto que ainda ele está sujeito a guardiães e administradores até o tempo determinado por seu pai. Desta maneira, explica Paulo nós estávamos escravizados aos princípios elementares do mundo (rudimentos do mundo RA; RC). O que isto significa?

Stoicheia é a palavra que foi traduzida por “princípios elementares” na NVI ou “rudimentos” na RA e RC. Esta palavra significa “elementos” e, aqui, pode significar duas coisas:

Pode significar as coisas elementares, como o as letras do alfabeto, o ABC que aprendemos na escola. Se essa foi a intenção de Paulo, então ele estaria comparando o AT como o ensino rudimentar do povo de Deus, que foi completada com a chegada de Cristo.

Uma segunda alternativa está na tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje, onde stoicheia é traduzido como “poderes espirituais que dominam o mundo”. No mundo antigo, os poderes espirituais que dominavam o mundo estava associado aos elementos físicos como (terra, água, fogo e ar) ou com os corpos celestes (sol, lua e as estrelas), que controlavam os festivais periódicos comemorados na terra. Este pensamento se encaixa com o versículo oito, onde diz que antes, quando vocês não conheciam a Deus, eram escravos daqueles que, por natureza, não são deuses, isto é, demônios ou espíritos maus. Obviamente que Paulo não estaria dizendo que a Lei foi dada por espíritos maus, pois sabia que a Lei era boa e vinha de Deus. Todavia, o propósito dela, era ser um meio para a justificação e não a própria justificação do homem. Desta forma, Satanás se aproveita da Lei para infundir o desespero nos homens.

Aprendizado

Às vezes é preciso olhar para trás e perceber o que éramos antes de sermos aceitos por Deus.

Ilustração

Há pessoas que passam horas vendo e revendo fotos antigas. Quando fazemos isso, normalmente dizemos: puxa, como o tempo me fez bem. O cristão quando olha no tempo também pode perceber o quanto Deus lhe fez bem.

Aplicação

Paulo lhe convida a olhar para trás antes de tomar qualquer atitude de abandonar a fé.

Frase de ligação

Olhar para trás é perceber que Deus mudou a sua vida. Isto lhe dará sensatez para não voltar à escravidão do pecado. No entanto, precisamos lembrar que nem só de passado vive o crente.

II: A Liberdade Do Homem Em Cristo (4-7)

A partícula mas (v.4) indica uma mudança, isto é, até aqui éramos escravos, agora, somos outra coisa.

A mudança na vida do crente dá-se no momento de sua maior idade que é quando ele é recebido pelo pai. Esse momento é chamado por Paulo de plenitude do tempo (v.4), que está ligado ao tempo determinado (v.2) pelo pai. O que isto quer dizer? Plenitude do tempo é o momento certo. Ela marca o término da lei e início da obra de Cristo. Na plenitude do tempo, duas coisas acontece:

Deus enviou seu Filho (v.4)

Deus enviou o Espírito de seu Filho (v.6)

A razão do envio do Filho de Deus era redimir (v.5), isto é, resgatar alguém do poder de outro pelo pagamento de um preço. Desta forma, Cristo redimiu os que estavam sob a Lei (v.5), ou seja, Cristo nos resgatou do poder da Lei que nos sujeitava como guardiães e administradores (v.2), mas não apenas redimiu-nos por redimir, como também o fez para que recebêssemos a adoção de filhos (v.5).

Três pontos devem ser observados aqui:

Jesus veio nos redimir como homem, pois era nascido de mulher (4)

Jesus veio nos redimir como justo

Jesus veio nos redimir como Filho de Deus, pois Deus enviou seu Filho (v.4)

Se Jesus não fosse homem não poderia ter redimido os homens. Se Jesus não fosse justo não poderia ter redimido os injustos. Se Jesus não fosse Deus, não poderia ter redimido as pessoas para Deus, tornando-as filhas de Deus.

Paulo agora vai dizer aos gálatas porque vocês são filhos (v.6), então, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês e ele clama: “Aba, Pai” (v.6). Aba é um diminutivo aramaico de pai que revela a intimidade que somente um filho pode ter com seu pai.

A conclusão óbvia que Paulo faz é que se você já não é mais escravo, mas filho (v.7), logo, Deus também o tornou herdeiro (v.7), isto é das bênçãos espirituais de Abraão, conforme o contexto do capítulo três.

Aprendizado

Enquanto o passado nos mostra que éramos escravos, o presente nos revela a graça de Deus ao adotar-nos como filhos e herdeiros.

Ilustração

Ser promovido de escravo a filho é como a vida de um pássaro. Enquanto é filhote, suas asas não possuem penas, mas quando chega à fase adulta ele as recebe de graça e, assim, pode alçar voos altos. Os crentes são assim, nada fizeram para merecer o status de filhos, mas Deus lhes deu essa dádiva.

Aplicação

Seja grato a Deus por ser adotado como filho. Agora você em Cristo é livre e pode alçar voos mais altos.

Frase de ligação

Paulo lembra aos gálatas de que eles eram escravos antes de Cristo e que, agora, eles são filhos e herdeiros. Este fato, por si só, é suficiente para crer no Evangelho da Graça de Deus, mas, infelizmente os cristãos da Galácia estavam retrocedendo à escravidão e agindo loucamente. Por isso, Paulo passa a fazer um apelo a eles.

III: O Apelo de Paulo (8-11)

Paulo retorna à comparação anterior. Antes os gálatas eram escravos da Lei, agora são filhos de Deus, livres em Cristo. Mas, para que seu apelo possa ser feito e ganhe força a sua argumentação, o apóstolo lembra-os do conhecimento de Deus.

Antes, […] vocês não conheciam a Deus (v.8). A tradução de “conheciam” aqui é a palavra oida e significa conhecimento cognitivo. Os gálatas estavam presos aos princípios elementares (v.4,9), eram completamente ignorantes de Deus. Eles eram escravos daqueles que, por natureza, não são deuses (v.8). Esses espíritos maus que os aprisionavam não são, de fato, deuses (v.8). Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares […]?(v.9). A loucura dos gálatas era tão grande que eles estavam voltando à condição de escravos. Antes, diz Paulo, os gálatas não conheciam, nem de mente, a Deus, mas agora, eles o conhecem experimentalmente. Este é o sentido de conhecer aqui no versículo nove. “Conhecendo” aqui não é mais oida, e sim gnosko e significa conhecer experimentalmente. Todavia, eles não apenas conheciam assim a Deus, como também eram reconhecidos por Deus como seus filhos. No entanto, eles estavam voltando àqueles mesmos princípios elementares (v.9), aos quais Paulo chama de fracos e sem poder (v.9), pois não podem garantir a salvação dos homens.

Tanto no paganismo, quanto no judaísmo, guardada as devidas proporções, observava-se dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos (v.10). Obviamente que judaísmo e paganismo não são a mesma coisa, mas observar os rituais da lei era como retroceder, era voltar a princípios elementares fracos e sem poder (v.9). Por esta razão, Paulo disse: temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis (v.11).

Aprendizado

Desviar-se da fé para seguir esforços próprios é tão loucura quanto um filho legítimo retroceder à posição de escravo.

Ilustração

A primeira coisa que um corredor deve saber para ganhar a corrida é que ele não deve andar para trás. Assim é o crente, se retroceder jamais alcançará o prêmio.

Aplicação

É preciso ser racional. Não podemos afastar-se de Deus por motivo algum. Qualquer razão que te leve a cogitar afastar-se é loucura!

Conclusão

Aquele que é filho um dia foi escravo. A Lei nos aprisionou tornando a fé em Cristo indispensável. Deus, por sua graça, através da obra de Cristo nos adotou como filhos e herdeiros. No entanto, é possível que alguém esteja querendo regressar à posição de escravo. E você, o que quer ser: filho ou escravo?