AULA 01: PANORAMA DA CARTA E ESTUDO EM EF 1.1-14.

Estudos Expositivos na Carta aos Efésios  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Este texto é o primeiro da série de estudos na Carta aos Efésios. Neste estudo vamos abordar o texto de Efésios 1.1-14 onde estudaremos o plano da salvação feito por Deus na eternidade.

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ESTUDOS NA CARTA DE PAULO AOS EFÉSIOS. AULA 01: PANORAMA DA CARTA E ESTUDO EM EF 1.1-14. Samuel S. Gomes, Th.C.1 São Paulo, maio de 2020. INTRODUÇÃO. Esta série visa estudar a carta de Paulo aos Efésios, a carta mais profunda e sublime do Novo Testamento. Nosso objetivo é analisar a carta toda, a fim de aprender seus ensinamentos sobre Cristo, igreja, e o modo de vida digna do cristão. A carta aos Efésios trata desses e de outros assuntos. Com toda certeza, temos muito trabalho pela frente. Antes, porém, de iniciarmos nossos estudos, é necessário que reafirmemos alguns princípios que, embora sejam óbvios, precisam ser destacados. Esses princípios têm a ver com a Escritura Sagrada. Estudaremos a carta aos Efésios tendo em mente que esta carta é palavra de Deus autoritativa, inspirada, inerrante, infalível e suficiente. (Ef 2.20; Ap 22.18-19; 2Tm 3.16; Mt 1.27). A Confissão de Fé de Westminster (doravante CFW) declara: "Sob o nome de Escritura, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Antigo e Novo Testamento, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática" (CFW I.2).2 Por que deixamos isto claro? Vivemos em um mundo pós-moderno, regido pelo relativismo e o pluralismo.3 De acordo com a pós-modernidade, não existe nada autoritativo, inerrante, infalível ou divinamente inspirado. A bíblia não pode ser autoritativa, uma vez que tudo é relativo e que cada indivíduo possui sua verdade. Ela não pode ser inerrante ou infalível porque é um produto humano; sendo assim, também não é divinamente inspirada. Para a mente pós-moderna, a Bíblia é um simples livro da antiga religião judaica e dos seguidores de Jesus, que dizia ser o Cristo, o Filho de Deus. Mas, se este estudo foi elaborado para cristãos, por que afirmar a inerrância, inspiração, infabilidade, autoridade e suficiência da Bíblia? A resposta é: em muitos círculos evangélicos a Bíblia não é autoritativa nem inerrante. Nenhum cristão evangélico nega a inspiração e infabilidade da Escritura, mas nega sua autoridade e suficiência quando dá lugar às novas revelações. Quando um evangélico diz que Deus ainda dá revelações, ele está dizendo que a Bíblia não é suficiente, pois eventualmente as modernas revelações se fazem necessárias para guiar sua vida ou a vida da igreja; e assim, nega-se a autoridade da Escritura. Neste ponto, fazemos coro com o que afirma a Declaração de Cambridge: Tese 1: Sola Scriptura Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.4 Tendo isso em mente, podemos avançar em nossos estudos sobre Efésios. A seguir, daremos uma breve introdução à carta e, em seguida, iniciaremos o estudo que trata das bênçãos espirituais de Deus em Cristo. 1. PANORAMA DA CARTA AOS EFÉSIOS. A carta aos Efésios pertence ao grupo do corpus paulinus chamado "Cartas da prisão". As cartas que pertencem a este grupo são: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Em cada uma dessas cartas Paulo diz que é um prisioneiro (Ef 3.1; 4.1; Fp 1.7, 12-14; Cl 4.3,10; Fm 1, 9, 13, 23).5 Elas foram escritas depois de um período missionário ativo de Paulo e têm um tom mais reflexivo.6 1.1. Autoria. Evidências externas. As evidências externas são fortes quanto à autoria paulina. Inácio, Marcião, o Fragmento Muratoriano, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano mencionam Éfeso entre as cartas de Paulo.7 Evidências internas. Paulo se identifica como o autor no início da carta (Ef 1.1.). Ele faz referência a si mesmo nominalmente em Ef 3.1 (Cf. Ef 4.1). Além disso, a estrutura da carta é semelhante às demais que compõem o corpus paulinus.8 1.2. Local e Data. A carta foi escrita durante o período em que Paulo esteve preso em Roma (At 28.16, 30; Cf. Ef 3.1; 4.1), na mesma época em que escreveu Colossenses e Filemom. A carta foi escrita em 62 d.C.9 1.3. Audiência. Há muita incerteza quanto aos destinatários originais desta epístola. A questão gira em torno das palavras "em Éfeso" (evvn VEfe,'sw|). Elas aparecem em muitos manuscritos existentes do Novo Testamento, com exceção de três, que são os importantes manuscritos Sinaiticus (também conhecido como Códice a [alef], datado do 4º século), o Vaticanus ( também conhecido como Códice B [beta], datado do 4º século) e o codex 67.10 Há um espaço entre as palavras "aos santos que estão" e "e fiéis" nesses manuscritos.11 As palavras "em Éfeso" aparecem dentro de colchetes nas edições modernas do Novo Testamento grego:12 toi/j a''''ç´´´´`gi,oj toi/j ou=sin [evvn VEfe,'sw|] kai. pistoi/j Os estudiosos concordam que esta epístola era uma carta circular, enviada a várias igrejas na Ásia, como as de Éfeso, Laodiceia e Hierápolis. É muito provável que as palavras "em Éfeso" não estivessem, originalmente, no texto. Assim, concordamos com a hipótese de Ussher, de que foi deixado um espaço em branco, originalmente, depois de toi/j ou=sin, e que Tíquico ou outra pessoa deveria fazer várias cópias desta epístola e preencher o espaço e branco com o nome da igreja a que cada cópia deveria ser enviada.13 1.4. Propósito. O propósito de Paulo para escrever esta carta foi de caráter geral. Ela não indica que houvesse algum problema nas igrejas da Ásia. Nela, Paulo trata da unidade de todos os crentes em Jesus Cristo, e do modo de vida santo, em Cristo, que deve resultar de tal unidade.14 O tema da carta pode ser entendido como "Entendendo as bênçãos, obrigações e a batalha do cristão em Cristo".15 2. ESTUDO DE EFÉSIOS 1.1-14: A OBRA DA TRINDADE NA SALVAÇÃO E AS BENÇÃOS DECORIDAS DELA. Agora que tivemos um breve panorama da carta aos Efésios, vamos avançar rumo ao estudo baseado em EF 1.1-14. Em primeiro lugar, Paulo se apresenta como autor da carta e saúda seus destinatários (Ef 1.1). Em seguida, ele roga bênçãos a eles (Ef 1.2). Após tudo isso, ele bendiz a Deus pela "benção espiritual" dada aos cristãos (Ef 1.3-14). O texto de Ef 1.3-14 é a sentença mais longa do Novo Testamento. Paulo menciona três bênçãos dadas a nós por Deus em Cristo: 1) a eleição (Ef 1.4-6); 2) a Redenção (Ef 1.7-12) e 3) o selo do Espírito Santo ou a segurança (Ef 1.13-14). Cada pessoa da Trindade está envolvida em uma dessas bênçãos. 2.1. APRESENTAÇÃO DA CARTA. Em Ef 1.1-2: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo". Paulo introduz a carta apresentando-se como seu autor e diz que é apóstolo de Cristo Jesus. A palavra "apóstolo" (avpo,stoloj) significa "enviado".16 Esse é seu sentido básico. Ele diz que é apóstolo pela vontade de Deus (dia. qelh,matoj qeou/). Esta frase é fundamental na literatura paulina. Paulo não era um apóstolo por parte de homens, mas pela vontade de Deus. Paulo tinha muitos inimigos que diziam que ele não era um apóstolo de verdade, que tinha aprendido tudo aos pés dos apóstolos em Jerusalém. Paulo envia sua carta aos santos e fiéis que estão em Éfeso. A palavra santo (a´´[gioj) significa "separado". Note que as palavras santos e fiéis formam uma unidade. Sendo assim, ser santo e fiel é uma e a mesma coisa. Um cristão não pode ser santo sem ser fiel, e vice-versa. Segundo comenta Calvino, "ninguém pode ser crente [fiel] se não for também um santo".17 Os santos e fieis estão em Éfeso. Como vimos acima, as palavras "em Éfeso" não se encontram nos principais e mais antigos manuscritos do Novo Testamento. É possível que esta fosse uma carta circular que seria lida nas várias igrejas da Ásia. Assim, ao fazerem cópias da carta, os copiadores acrescentariam o nome da cidade para a qual fosse endereçada. A cópia da carta que chegou até nós havia sido destinada à cidade de Éfeso. Éfeso era a cidade mais importante da província romana da Ásia. Ficava na costa ocidental da atual Turquia Asiática. Possuía um teatro capaz de receber 25 mil pessoas, balneários, biblioteca, ágora (mercado) e ruas pavimentadas. Seu templo dedicado a deusa Diana (Ártemis) era uma das sete maravilhas do mundo antigo, antes de ser destruído pelos godos em 263 d.C.18 No versículo 2, Paulo faz sua costumeira saudação, Graça e paz. Segundo Williams (Vida Nova, 2000), o conceito de graça implica "perdão, salvação, regeneração, arrependimento e o amor de Deus".19 No Antigo Testamento temos a palavra חֶסֶד (HeseD), cujo significado é "lealdade, bondade, devoção, amor inabalável".20 Seu significado básico é "favor" ou "boa vontade".21 Considerando o contexto semântico da palavra חֶסֶד, a graça, de acordo com Berkhof, não "é um qualidade abstrata, mas é um princípio ativo e dinâmico, que se manifesta em atos benevolentes (Gn 6.8; 19.19; 33.15; Êx 33.12; 34.9; 1Sm 1.18; 27.5; Et 2.7)".22 Assim, a ideia central é de que as bênçãos graciosamente concedidas são dadas livremente (gratuitamente), e não em consideração a qualquer reivindicação ou mérito.23 No Novo Testamento temos a palavra ca,rij (charis), que significa "graciosidade, favor, graça, ajuda graciosa, boa vontade".24 2.2. A OBRA DA TRINDADE NO PLANO DA SALVAÇÃO. Em Ef 1.3-14, o apóstolo Paulo passa a descrever o misterioso plano da salvação preparado por Deus, executado por Cristo e assegurado pelo Espírito Santo. Paulo descreve a obra da Trindade econômica no plano da salvção. A CFW descreve a Trindade assim: "Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e integridade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo (Mt 3.16,17; 28.19; 2C 13.13) [...]" (II.3).25 A Trindade econômica é o aspecto da Trindade que reflete a maneira como Deus nos salva. Isso porque a palavra "econômica" em grego tem a ideia de "plano". Paulo diz que Deus tinha um plano. Este plano foi "criado" na mente de Deus antes da fundação do mundo, e com Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo este plano está em vigor para nós hoje. Este plano está constituído da seguinte maneira: (1) Deus o Pai planejou a salvação; (2) Deus o Filho redimiu aqueles que dentre a humanidade foram escolhidos; (3) Deus o Espírito Santo selou os escolhidos, preservando-os até aquele dia final, o dia que teremos nossos corpos ressurretos e a vida eterna nos novos céus e nova terra. Isso é a Trindade econômica. Paulo, então, começando em Ef 1.3-14, descreve o desenvolvimento deste plano e as bênçãos decorrentes dele: 1) a eleição (Ef 1.4-6); 2) a Redenção (Ef 1.7-12) e 3) o selo do Espírito Santo ou a segurança (Ef 1.13-14). 2.2.1. A obra de Deus o Pai no plano da salvação: a eleição (Ef 1.4-6). Vamos começar com o versículo 3: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo." (Ef 1.3). Nestes versículos o apóstolo Paulo descreve o propósito de Deus Pai. Deus o Pai planejou a salvação para aqueles que ele escolheu desde antes a fundação do mundo. Este ato de escolha de Deus é uma benção decorrente desse plano. Paulo diz que esta benção é nos dada em Cristo. Esta é uma importante frase em Efésios, aparecendo quatorze vezes em toda a carta. Há ainda a expressão "em Cristo Jesus" que aparece oito vezes em toda a carta. Isso nos mostra que tudo que Deus faz em nós e por nós é mediante Cristo. Nada está fora de Cristo. Ele é o mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). A primeira benção que compõe o pacote de benção espiritual que nos foi dada em Cristo é a eleição. O texto de Ef 1.4 diz assim: "assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele [...]". Paulo diz que Deus nos escolheu em Cristo (nele) quando o mundo ainda não existia (antes da fundação do mundo). Sendo assim, não há espaço para a suposta cooperação humana na salvação, uma vez que ela aconteceu antes do mundo existir. Nossa salvação aconteceu na eternidade. O texto aborda a doutrina da eleição. Em suma, a doutrina da eleição pode ser definida como: [...] o imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído, por sua própria culpa, de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, mas envolvidos na mesma miséria. São escolhidos, porém, em Cristo, a quem Deus constituiu, desde a eternidade, Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá-los por Cristo, Deus decidiu dá-los a ele e efetivamente chamá-los e atrai-los à sua comunhão por meio da sua Palavra e de seu Espírito. Em outras palavras, ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-se guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, finalmente glorificá-los. Deus fez isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça. Como está escrito "... assim como nos escolheu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado..." E em outro lugar: "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também, glorificou" (Ef 1.4-6; Rm 8.30).26 Estamos diante da doutrina da eleição. Esta doutrina ensina que Deus escolhe para si pessoas para compor o seu povo. Esta escolha não foi feita com base em mérito ou condição por parte do indivíduo que é escolhido. Pelo contrário, essa escolha é feita com base na soberana vontade de Deus (Ef 1.4). O Senhor Jesus afirmou que tinha um povo disperso que lhe pertencia e que ele o reuniria, chamando cada indivíduo pelo nome: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor". (Jo 10.16, grifos nossos). O apóstolo João entendeu essa verdade e, por isso, escreveu: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13, grifos nossos).27 Há outros textos que provam a doutrina da eleição incondicional: Êx 33.19; Dt 7.6,7; Sl 65.4; Is 46.9-11; Dn 4.35; Mt 11.27; 20.15; 22.14; 24.24,31; Mc 13.20; Jo 15.16; At 13.48; 16.14; 18.10; 18.27; Rm 9.11-13, 16; 11.29; Ef 1.4; Fp 2.12,13; 2Ts 2.12-14; 2Tm 1.9; Tt 1.1; 1Pe 1.1,2; Ap 13.8; 17.8,14 etc.28 Além de nos escolher, Deus também nos predestinou, "nos predestinou para ele, para a adoção de filhos" (Ef 1.5). Ele nos predestinou para sermos seus filhos (adoção de filhos) por meio de Jesus Cristo. Predestinar significa decidir previamente, preordenar (proori,zw [proorízo]).29 Paulo usa o verbo cinco vezes em suas cartas (Rm 8.29-31; 1Co 2.7; Ef 1.5,11). Em cada texto, Deus é aquele que predestina para a salvação.30 Este verbo aparece pela primeira vez na literatura grega nas cartas paulinas.31 Este verbo se refere ao plano predeterminado de Deus que culmina na história salvação através pessoa de Jesus Cristo. Por essa razão, Deus é o sujeito desse verbo no Novo Testamento.32 Deus predeterminou de antemão aqueles a quem ele escolheu para serem salvos. O texto de At 13.48 ilustra essa doutrina: "Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (grifo nosso). A pergunta que se faz com base nesse texto é: quando eles foram destinados para a vida eterna? A resposta está em Ef 1.4: quando Deus os escolheu e os predestinou antes da fundação do mundo. Tanto a escolha como a predestinação foi feita com base na soberana vontade de Deus (segundo o beneplácito de sua vontade), para o louvor de sua glória. Paulo conclui dizendo que Deus nos escolheu em nos predestinou no Amado, a saber, em Jesus Cristo (Mt 3.17; 17.5). A palavra Amado poderia ser traduzido por "aquele que Deus ama", ou seja, Jesus Cristo. Em Cl 1.13, Paulo usa uma expressão similar: Filho do seu amor.33 2.2.2. A obra de Deus o Filho no plano da salvação: a redenção (Ef 1.7-12). O apóstolo Paula avança e passa a falar da obra do Filho no plano da salvação. A CFW diz o seguinte: Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo; e deu-lhe, desde toda a eternidade, um povo para ser sua semente, e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.34 (VIII.1) O início do v. 7 é continuação do v.6, por isso começa dizendo no qual temos a redenção (Cl 1.14). As palavras no qual é uma referência ao Amado, qual seja, Jesus Cristo. Até agora vimos que em Cristo alcançamos a eleição, predestinação e também a redenção. Esta redenção nos é dada pelo sangue do Amado. Redenção (apolu,trwsij [apolítroses])35 é libertar alguém (geralmente da escravidão ou prisão) pelo pagamento de um preço ou resgate. Nos tempos antigos, era possível comprar de volta uma pessoa que havia sido vendida como escravo. Do mesmo modo, Cristo, por meio de sua morte, comprou-nos para Deus, resgatou-nos da escravidão do pecado.36 Na teologia de Paulo, a redenção é passada, presente e futura. O preço da nossa redenção foi o sangue de Cristo derramado na cruz (At 20.28; Rm 3.25; 1Co 6.20; Ef 2.12; Cl 1.20; 1Pe 1.18,19). O sangue de Cristo é o meio pelo qual se realiza a nossa redenção. O Antigo e Novo Testamento ensina claramente que não há perdão sem o derramamento de sangue, o que implica na morte de alguém (Hb 9.22).37 Agora, em Cristo, estamos livres da lei (Gl 5.1), da escravidão do pecado (Rm 6.1), do mundo (Gl 1.4) e do poder de Satanás (Cl 1.13,14).38 Em Cristo temos também a remissão dos pecados. Isto é, o perdão de nossos pecados. O nosso perdão é baseado no sacrifício expiatório de Cristo. Este perdão é completo (Cl 2.14).39 Em Ef 1.9, Paulo fala do mistério da vontade de Deus. A palavra grega é musth,rion (mustérion), e significa "segredo".40 Este mistério pertence à sua vontade e está em conformidade com o beneplácito (bom desejo) de Deus a respeito de Cristo. Este é o único mistério que Deus o Pai tinha para nos revelar. Esse mistério consiste em fazer convergir em Cristo (nele) todas as coisa, tanto as dos céus como as da terra. (v. 10). Esse mistério significa a revelação do plano de Deus para que agora fosse entendido por todos (Ef 3.2-13). Este o plano é o próprio plano da redenção que foi feito antes da fundação do mundo em Cristo.41 Tal mistério envolve, principalmente, trazer todas as coisas para perto de Cristo.42 Cristo cumpriu o propósito do plano de Deus permitindo que a humanidade fosse reconciliada para Deus e unificada nele, isto é, em Cristo.43 A palavra dispensação no texto grego é oivkonomi,a (oikonomía) e significa administração.44 Ela se refere, na linguagem cristã antiga, a encarnação e tudo o que Deus fez pela humanidade através dessa administração do tempo.45 As coisas que convergiram em Cristo são a benção espiritual (Ef 1.3), a eleição (Ef 1.4), a adoção (Ef 1.5), a graça (Ef 1.6) e a redenção (Ef 1.7). (Ef 1.7).46 Nos versículos 11 e 12, Paulo fala que os judeus, em Cristo (nele), foram feitos herança - o que é bem melhor do que a herança na antiga aliança.47 Paulo não se refere aos judeus em geral, mas àqueles judeus crentes. Estes judeus crentes estavam onde estavam pela vontade de Deus, e eram para louvor da glória de Deus. 2.2.3. A obra de Deus o Espírito Santo no plano da salvação: o selo (Ef 1.13-14). Paulo chega à obra do Deus o Espírito Santo no plano da salvação visando os gentios ("a quem também vós", v. 13). A obra do Espírito Santo consiste em selar aquele que foi escolhido e redimido. O Espírito Santo é descrito aqui como o "Santo Espírito da promessa". Deus o Espírito Santo foi prometido pelos profetas e por Jesus: Jl 2.28-29; Zc 12.10; Jo 14.15-26; 16.5-16.48 O que significa ser selado com o Espírito Santo? No mundo antigo, um selo indicava propriedade e proteção (Cf. Dn 6.17; 2Co 1.22).49 Era a impresso indelével deixado pelo selo do anel de um rei. Qual a função desse selo? A noção de selo aqui está relacionada com o dia do julgamento final: os crentes selados serão mantidos protegidos para sua herança final - a redenção no fim dos tempos (Ef 1.14).50 Os versículos 13 e 14 descrevem a maneira pela qual o crente é selado com Espírito Santo: ele ouve o evangelho da salvação, como Cristo morreu pelos seus pecados e ressuscitou; ele crê com a fé que traz a salvação e, depois, é selado com o Espírito Santo.51 Você recebe o Espírito Santo imediatamente após confiar em Cristo. CONCLUSÃO. Nesta aula vimos um breve panorama da carta. Vimos que foi escrita enquanto Paulo estava preso em Roma. Ele a escreveu por volta do ano 62 d.C., no mesmo tempo em que escreveu Colossenses, Filipenses e Filemom. Em seguida, vimos a obra da Trindade econômica na execução do plano da salvação. Vimos que o Pai planejou a salvação, o Filho executou o plano e o Espírito Santo garante a execução do plano. Além disso, discutimos de forma breve as doutrinas da eleição e da predestinação. O que o texto de Ef 1.1-14 ensina é que Deus é o autor da nossa salvação. Dependemos dele para termos nossa salvação e vida eterna. Cristo é o meio para obtermos essa salvaçaõ; sem Cristo, sem salvação. É ele quem nos comprou do pecado para Deus. Por isso, só podemos ser salvos mediante a pessoa de Cristo. O Espírito Santo nos sela a fim de nos garantir a salvação até o dia do grande julgamento. Esta é a obra da Trindade que vimos em nosso estudo. Ore a Deus e agradeça pelas bênçãos espirituais concedidas na eternidade por Deus, mediante Cristo e garantidas pelo Espírito Santo. Non nobis, Domine. BIBLIOGRAFIA. As obras que foram consultadas na Internet estão referenciadas nas páginas em que foram citadas. Assembleia de Westminster, Confissão de Fé de Westminster. 17ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. BERKHOF, Louis Teologia Sistemática 4ª Ed. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. ______, Introdução ao novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014. BOICE, James Montgomery; SASSE, Benjamim E. (orgs.), Reforma hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2017. GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W, Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2012. GRANCONATO, Marcos, As Tocantes Verdades da Flor. São Paulo: Redenção Publicações, 2017. HARVEY, John D., Interpretação das Cartas Paulinas. São Paulo: Cultura Cristã, 2017. LOPES, Hernandes Dias, Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo, SP: Hagnos, 2009. MITCHEL, Larry A; PINTO, Carlos O. C; METZEGER, Bruce M, Pequeno dicionário de línguas bíblicas. São Paulo: Vida Nova, 2002. SAYÃO, Luiz Teixeira (ed.), Novo Testamento trilíngue: grego, português e inglês. São Paulo: Vida Nova, 1998. Sínodo de Dort. Os cânones de Dort. São Paulo: Cultura Cristã, 2016. WILLIAMS, Derek (ed.), Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000. WRIGHT, R. K. 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A., Introduction to the New Testament in the Original Greek: Appendix. New York: Harper and Brothers, 1882. 1 Estudou Teologia pelo Instituto de Discipulado por Extensão (IDE, 2008 - 2009), cursou Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Southeastern Baptist Theological Seminary (SEBTS, 2015 - 2016) e Método de Estudo Bíblico pelo Dallas Theological Seminary (DTS, 2016). Atualmente participa do programa de Teologia com ênfase em Ministério Cristão pelo Birmingham Theological Seminary. É teólogo de linha reformada e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Concentra-se em Teologia, Linguística, Interpretação Bíblica e Fenomenologia da Religião. 2 Assembleia de Westminster, Confissão de Fé de Westminster. 17ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 17. 3 Sobre a mentalidade pós-moderna, Cf. BOICE, James Montgomery; SASSE, Benjamim E. (orgs.), Reforma hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 25-41; 60-76. 4 BOICE; SASSE (orgs.), 2017, p. 16. 5 BARRY, John D. (et al.), The Lexham Bible Dictionary. Bellingham, WA: Lexham Press, 2016, In: Logos Bible Software. 6 HARVEY, John D., Interpretação das Cartas Paulinas. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 95. 7 BERKHOF, Louis, Introdução ao novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 163 8 BERKHOF, loc. cit. 9 BERKHOF, op. cit., p. 168; HARVEY, 2017, p. 75; BARRY, 2016, In: Logos Bible 10 BERKHOF, op. cit., p. 166; WESTCOTT, B. F; HORT, F. J. A., Introduction to the New Testament in the Original Greek: Appendix. New York: Harper and Brothers, 1882, In: Logos Bible Software; BARRY, 2016, In: Logos Bible. 11 O Códice Sinaiticus (Codex a) apresenta um espaço onde estaria o nome dos destinatários. Note o símbolo de Grau (º) após as palavras toij ousi. Este sinal representa omissões nos textos originais. παυλος αποστολος ι̅υ̅ χ̅υ̅ δια θελημα τος θ̅υ̅ τοις αγιοις ° τοις ουσι ° και πιστοις Cf. International Greek New Testament Project (IGNTP). Codex Sinaiticus: Septuagint and New Testament. Cambridge, UK: The Codex Sinaiticus Project Board, 2012. 12 SAYÃO, Luiz Teixeira (ed.), Novo Testamento trilíngue: grego, português e inglês. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 533. Esta edição trilíngue usa os textos do Novum Testamentum Graece Nestle-Aland, 4ª edição, também conhecida como NA27 ( 27ª edição da UBS), o texto grego mais aceito e recomendado nos círculos acadêmicos. A edição do Novo Testamento grego feita pela SBL (Society of Biblical Literature) também apresenta as palavras evvn VEfe,'sw| em colchetes. 13 BERKHOF, 2014, p. 166,167. 14 Ibid., p. 162. 15 HARVEY, 2017, p. 75. 16 GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W, Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 31. Para uma análise do termo e seus usos, Cf. LOPES, Augustus Nicodemus, Apóstolos: a verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014, p. 23-38. 17 CALVINO, João, Efésios. Série Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP: Fiel, 2011. Disponível em https://ministeriofiel.com.br/bjc/efesios/. Acesso em 29 de abril de 2020. 18 WILLIAMS, Derek (ed.), Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 99. 19 WILLIAMS, op. cit., p. 148. 20 Cf. MITCHEL, Larry A; PINTO, Carlos O. C; METZEGER, Bruce M, Pequeno dicionário de línguas bíblicas. São Paulo: Vida Nova, 2002, p. 49. Esta palavra aparece, por exemplo, em Jr 31.3, que diz: "De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí". A palavra "benignidade" é a tradução da palavra hebraica חֶסֶד. 21 Cf. BERKHOF, Louis Teologia Sistemática 4ª Ed. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 394. 22 BERKHOF, loc. cit. 23 BERKHOF, loc. cit. Daí o motivo de dizermos que graça é o favor imerecido de Deus. 24 GINGRICH; DANKER, 2012, p. 222. Esta palavra grega é correspondente da palavra hebraica חֶסֶד. 25 Assembleia de Westminster, 2001, p. 32. Cf. Confissão Belga, artigos 8 e 9. 26 Sínodo de Dort. Os cânones de Dort. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, 22,23 27 GRANCONATO, Marcos, As Tocantes Verdades da Flor. São Paulo: Redenção Publicações, 2017, p. 26, 27. 28 WRIGHT, R. K. McGregor, A soberania banida. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 126. 29 GINGRICH; DANKER, 2012, p. 177; ABBOT-SMITH, G. A Manual Greek Lexicon of the New Testament. New York: Charles Scribner's Sons, 1922, In: Logos Bible Software. 30 BARRY, John D. (ed.). Faithlife Study Bible. Bellingham, WA: Lexham Press, 2016, In: Logos Bible Software. 31 BLUM, Edwin A.; WAX, Trevin (orgs.), CSB Study Bible: Notes. Nashville, TN: Holman Bible Publishers, 2017, In: Logos Bible Software. 32 BLUM; WAX (orgs.), op. cit.; ABBOT-SMITH, G., 1922, In: Logos Bible Software. 33 RADMACHER, Earl D; ALLEN, Ronald B; HOUSE, Wayne House, O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais - A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2015, p. 502. 34 Assembleia de Westminster, 2001, p. 73,74. 35 GINGRICH; DANKER, 2012, p. 31. 36 RADMACHER; ALLEN; HOUSE, loc. cit. 37 RADMACHER; ALLEN; HOUSE, loc. cit. 38 LOPES, Hernandes Dias, Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo, SP: Hagnos, 2009, p. 27. 39 Lopes, 2009, p. 27. 40 GINGRICH; DANKER, 2012, p. 138. 41 JAMIESON, Robert; FAUSSET, A. R.; e BROWN, David;. Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 1997, In: Logos Bible Software. 42 BLUM; WAX (orgs.), 2017, In: Logos Bible Software. 43 MANGUM, Douglas, (org.) Lexham Context Commentary: New Testament. Bellingham, WA: Lexham Press, 2020, In: Logos Bible Software. 44 GINGRICH; DANKER, op. cit., p. 144. 45 GORE, Charles; GOUDGE, Henry Leighton; GUILLAUME, Alfred (orgs.) A New Commentary on Holy Scripture: Including the Apocrypha. New York: The Macmillan Company, 1942, In: Logos Bible Software. 46 Lopes, op. cit., p. 29. 47 RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2015, p. 503. 48 JAMIESON; FAUSSET; BROWN, 1997, In: Logos Bible Software; BARRY (ed.), 2016, In: Logos Bible Software. 49 BARRY (ed), op. cit. 50 Ibid. 51 Lopes, 2009, p. 30. --------------- ------------------------------------------------------------ --------------- ------------------------------------------------------------ Ministério Entendes o que Lês? 1
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