Compreendendo a Graça de Deus

Texto chave

João 1:16-17 (ACF2007) (1:16) E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. (1:17) Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

INTRODUÇÃO

Graça é um tema ainda muito mal compreendido entre o povo de Deus.

Uns não sabem do que se trata, outras pessoas conhecem, mas não compreendem, outras simplesmente não aceitam a graça de Deus.

Toda a vida do homem, do começo ao fim, é graça de Deus.

A importância do estudo da graça de Deus se mostra por alguns motivos:

· Temos visto em nosso meio um reducionismo do Ser de Deus ao mesmo tempo que existe um engrandecimento do homem.

· Quando se reduz Deus à um mero serviçal, cria-se um Deus que apenas satisfaz caprichos do homem, atendendo o homem nos anseios materiais, cria-se um Deus fraco.

Conhecer a Graça de Deus, nos faz redescobrir quem é Deus, seus atributos, sua grandeza e majestade. Compreender a graça de Deus faz voltar as coisas aos seus devidos lugares, o homem no seu lugar, e Deus no seu trono.

Conceito

Primeiro, vamos ver o que significa graça.

Dicionário de teologia: [Do hb. hessed; do gr. charis; do lat. gratia] Favor imerecido conce­dido por Deus à raça humana. Através da graça, o homem é capacitado a com­preender, a aceitar e a usufruir, imedia­tamente, dos benefícios do Plano de Salvação (Ef 2.8,9).

GRAÇA - Graça é o dom através do qual Deus estende misericórdia, bondade e salvação às pessoas. A graça de Deus permite que Ele confronte a indiferença e rebelião humanas com sua capacidade ilimitada de perdoar e abençoar. Deus é gracioso em ação.

Um Deus Santo não tem nenhuma obrigação de conceder graça a pecadores, mas Ele assim o faz segundo o bem querer da Sua vontade. Ele demonstra graça ao estender Seu favor, Sua misericórdia e Seu amor para suprir a necessidade do ser humano. Visto que o caráter de Deus é composto de graça, movido por bondade, Ele espontaneamente se dispõe a conceder Sua graça à humanidade pecadora em nosso tempo de aflição.

A graça de Deus pode ser definida como:

“Aquela qualidade intrínseca do ser ou essência de Deus, pela qual Ele, em Sua disposição e atitudes, é espontaneamente favorável” a outorgar favor imerecido, amor e misericórdia àqueles que Ele escolhe dentre a humanidade desmerecedora.”

Os três estágios da manifestação da Graça de Deus

Ao longo de toda a Bíblia, a graça de Deus se manifestou em três estágios.

No primeiro, Deus revelou Sua bondade e graça ao demonstrar misericórdia, favor e amor para com todos os homens em geral, mas para com Israel em particular. Deus escolheu Israel para que fosse o povo de Sua propriedade exclusiva através de um ato de pura graça (Dt 7.6-9).

No segundo estágio, Deus expressou ou apresentou Sua graça, de forma mais clara, através de Jesus Cristo, o qual veio ao mundo para pagar pelos pecados do homem mediante Sua morte sacrificial na cruz.

No terceiro, a graça de Deus proporciona salvação e santificação a todos os que, pela fé, confiam em Jesus Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas.

No Novo Testamento, o conceito de graça encontra uma expressão mais precisa, rica e completa no termo grego charis, o qual ocorre, no mínimo, por 170 vezes.

A graça de Deus assume uma dimensão pessoal totalmente nova e se torna evidente ao ser humano nas palavras e obras do ministério redentor de Jesus Cristo.

Que prova maior da graça de Deus poderia ser dada do que essa da salvação? Foi o próprio Deus que, em Sua bondade e graça, tomou a iniciativa de providenciar a salvação para o homem após a queda de Adão no pecado.

Existem cinco formas de manifestações da Graça de Deus na humanidade e são elas: A Graça Comum; A Graça Salvadora; A Graça Santificadora; A Graça Servidora; A Graça Sofredora.

Vejamos cada uma dessas manifestações

1. A GRAÇA COMUM

A graça comum se refere ao imerecido favor, amor e cuidado providencial de Deus, estendidos a toda a raça humana em corrupção, pelos quais Deus derrama Suas bênçãos sobre todos em geral, tanto sobre os salvos quanto sobre os descrentes.

Salmos 145:8-9 (ACF2007) (145:8) Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande misericórdia. (145:9) O SENHOR é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras.

Lucas 6:35 (ACF2007) (6:35) Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.

Mateus 5:45 (ACF2007) (5:45) Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.

Esse favor de Deus se se manifesta na vida dos seres humanos tanto de forma ativa quanto de forma passiva.

Na forma ativa Deus derrama sobre os homens bençãos em geral.

Na forma passiva Deus refreia o mal, impedindo que o mal se manifeste em sua totalidade. Deus refreia Sua ira contra a humanidade pecadora, concedendo a uma nação ou a uma pessoa o tempo necessário para que se arrependa.

1.1. A graça comum através do Espírito Santo

A graça comum também pode ser constatada na obra do Espírito Santo, quando este move o coração de uma pessoa ao persuadi-lo e convencê-lo da necessidade de buscar a salvação por intermédio de Jesus Cristo (Jo 16.8-11).

João 16:8-11 (ACF2007)(16:8) E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. (16:9) Do pecado, porque não crêem em mim; (16:10) Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; (16:11) E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.

2. GRAÇA SALVADORA

Infelizmente até hoje tem gente dentro das igrejas que não entendem que a salvação é pela Graça de Deus.

Isso acontece em decorrência da influência católica em nosso meio. No catolicismo a salvação é alcançada pela observância aos sacramentos, isto é, quando o fiel observa os sacramentos ele se salva. É uma salvação do homem pelo próprio homem.

O Catolicismo define os sacramentos como sete: o Batismo, a Crisma (ou confirmação), a Eucaristia, a Penitência (ou confissão), o Matrimônio, as Ordens Sagradas e a Unção dos Enfermos. Dentre estes sete, Igreja Católica define quatro que são necessários para a salvação: o Batismo, a Crisma, a Eucaristia e a Penitência. Uma pessoa que não participe destes quatro Sacramentos (salvo alguns casos tratados de forma diferente pela Igreja) não está apto a receber a salvação.

Tem muito crente católico em nosso meio. Saiu da igreja católica, mas a fé católica ainda não saiu dele. Vive sua vida do mesmo jeito que vivia quando era católico, só mudou a missa pelo culto, o padre pelo pastor.

A palavra salvação é um termo abrangente. Refere-se ao ato redentor de Deus pelo qual Ele, no presente momento, redime o indivíduo da penalidade e do poder do pecado, e, no futuro, libertará o crente em Cristo da presença do pecado na ocasião da glorificação dos salvos.

A salvação é um dom gratuito de Deus, concedido a uma pessoa em virtude da graça, por meio da fé, independentemente de qualquer obra ou mérito da parte da pessoa que o recebe. Não depende de qualquer coisa que o indivíduo faça.

Romanos 3:23-24 (ACF2007) (3:23) Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (3:24) Sendo justificados (perdoados / salvos) gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

Não foi pelos meus méritos que Ele me salvou, é apesar dos meus deméritos que Ele me salvou.

No momento da salvação, a graça imerecida e a fé do crente são dons que procedem diretamente do Senhor àqueles que põem sua fé em Cristo (Ef 2.8-9).

Efésios 2:8-9 (ACF2007) (2:8) Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. (2:9) Não vem das obras, para que ninguém se glorie;

A graça da salvação, oferecida na atual dispensação, inclui cada aspecto da obra redentora de Deus em favor dos crentes em Jesus e abrange a redenção, a propiciação, a justificação, o perdão, a santificação, a reconciliação e a glorificação para aquele que, pela fé, recebe a Cristo.

Tito 2:11 (ACF2007) (2:11) Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens,

Quando se entende a salvação pela graça, você coloca as coisas nos seus devidos lugares. Deus no seu sublime trono, e o homem como pecador e necessitado da Graça para ser salvo.

2.1. Quando Nietzsche mata Deus

Lembrar que essa visão de engradecer o homem surge com o iluminismo, humanismo. Quando Nietzsche mata Deus, então se coloca o homem no lugar de Deus, por que agora, só é verdade aquilo que é compreensível pela mente humana.

Uma frase, é a principal responsável pela sua popularidade, aparece na principal obra de Nietzsche, A Gaia Ciência:

“Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! [...] O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu sem forças aos golpes das nossas lâminas. [..] A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!

3. GRAÇA SANTIFICADORA

No que se refere a um indivíduo, a santificação pode ser definida como a obra da livre graça de Deus através do Espírito Santo, na qual Ele separa o crente para ser moldado conforme à imagem de Cristo.

A santificação é uma promessa feito no passado para os crentes da nova aliança.

Ezequiel 36:24-25 (ARA) (36:24) Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra (salvou). (36:25) Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. (santificou)

3.1. Como se dá o processo da santificação na vida do crente?

· No momento em que a pessoa, pela fé, recebe a Cristo (é salvo).

· Após a salvação, imediatamente inicia o processo de santificado pela graça de Deus.

· A palavra santificação significa “tornar santo” ou “separar para Deus” com propósito ou uso sagrado.

EXEMPLO DO POÇO DE LAMA

3.2. Os três estágios da santificação

As Escrituras se referem a três estágios de santificação pela graça de Deus. Posicional, Progressiva e Glorificação.

3.2.1. Santificação posicional

O primeiro deles é o da santificação posicional que diz respeito à posição santa do crente perante Deus, fundamentada na redenção que Cristo efetuou a seu favor.

Romanos 1:7 (ACF2007)(1:7) A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

1 Coríntios 1:2 (ACF2007) (1:2) À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

3.2.2. Santificação progressiva

O segundo estágio é o da santificação progressiva, na qual o crente em Cristo se encontra no processo de ser santificado através da Palavra de Deus. Os crentes são exortados a crescer “na graça”; na busca desse crescimento, tornam-se recipientes do favor imerecido que procede do Senhor.

2 Pedro 3:18 (ACF2007)

(3:18) Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.

O crescimento na graça não é obtido por meios naturais, mas se dá através do estudo da Palavra de Deus (2 Pedro 1:2 (ACF2007) (1:2) Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor;). À medida que um crente em Jesus cresce na graça, o fruto do Espírito se torna manifesto através da vida dele ou dela (Gl 5.22-23), levando a pessoa a uma conformidade com a imagem e semelhança de Cristo (Rm 8.29).

Esse crescimento é obtido pelos meios da graça (ferramentas) que Deus nos dá para sermos santificados.

A PALAVRA DE DEUS

João 17:17 (ACF2007) (17:17) Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.

CONTEMPLAR A CRISTO

2 Coríntios 3:18 (ARA) (3:18) E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.

Os meios da graça na confissão de fé da IPR

Capítulo 17: Dos Meios de Graça

A Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil incentiva, encoraja e valoriza os meios de graça. Entendemos por meios de graça: O ensino da Palavra, a oração individual, a oração uns pelos outros, o jejum, o batismo, a ceia do Senhor, a adoração, a disciplina da igreja, a oferta, os dons espirituais, a comunhão, a evangelização e o ministério individual.

3.2.3. Santificação Completa ou Glorificação

O terceiro estágio é o da santificação completa ou perfeita, que os crentes conhecerão por experiência quando receberem seus corpos glorificados e se completar a sua redenção (Rm 8.30; Ef 5.27). Esse acontecimento se concretizará na ocasião do Arrebatamento da Igreja (1 Co 15.51-52; 1 Ts 4.16-17).

Romanos 8:30 (ARA)

(8:30) E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

4. GRAÇA SERVIDORA

Deus, por intermédio do Espírito Santo, providenciou dons espirituais sobrenaturais com o objetivo de equipar e capacitar cada crente em Cristo para o seu ministério [i.e., serviço] na igreja local.

A palavra dom (do termo grego charisma: “dádiva ou dom da graça”) se refere a um favor que alguém recebe gratuitamente, sem merecê-lo.

Deus, por intermédio do Espírito Santo, providenciou dons espirituais sobrenaturais com o objetivo de equipar e capacitar cada crente em Cristo para o seu ministério [i.e., serviço] na igreja local.

Não existe apenas um dom, mas, sim, uma diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos crentes (Rm 12.6-8; 1 Co 12.8-11; Ef 4.7,11-12; 1 Pe 4.11).

Romanos 12:6-8 (ARA)

(12:6) tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; (12:7) se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; (12:8) ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria.

Efésios (4:7) e a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo.

4.1. O que Paulo achava dos seus dons

No uso de seu dom, um crente deve se dirigir às outras pessoas com uma atitude de graça.

No que diz respeito ao serviço para o Senhor, Paulo estava equipado, não com sua própria força e poder, mas com a graça de Deus que lhe fora outorgada. Ele disse: “...trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co. 15.10).

1 Coríntios 15:10 (ACF2007)

(15:10) Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.

Os crentes dispõem de “diferentes dons segundo a graça que [por Deus] nos foi dada” (Rm 12.6).

Romanos 12:6-7 (ACF2007)

(12:6) De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; (12:7) Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;

Alguns crentes possuem uma abundância de dons, enquanto outros possuem apenas um ou dois. Esses dons, ou graças, não são dons, talentos ou habilidades naturais; pelo contrário, são dons proporcionados por Deus, os quais, através do crente, efetuam a edificação do Corpo de Cristo, rendendo, assim, a glória que pertence a Deus.

5. GRAÇA SOFREDORA

O sofrimento faz parte da condição humana, em virtude do pecado, do envelhecimento do corpo, da desobediência ao Senhor, ou da punição de Deus.

Muitos cristãos hoje tem a ideia de que cristão não pode sofrer. Quando o crente está sofrendo ou é porque está em pecado, ou não tem fé, e começam a fazer as vezes dos amigos de Jó.

Não é isso que a bíblia nos ensina. O próprio Jesus Cristo nos adverte que no mundo passareis por aflições

João 16:33 (ACF2007)

(16:33) Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

Filipenses 1:29 (ACF2007)

(1:29) Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer (sofrer) por ele,

Graça sofredora é o recurso, a capacitação de Deus para suportarmos as provações dos dias maus quando estamos testemunhando a sua obra.

Paulo tinha um “espinho na carne” (i.e., uma debilidade física) que ele, por três vezes, suplicara a Deus para que fosse removido. Cada uma de suas súplicas recebeu esta mesma resposta: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9).

Em outras palavras, a graça de Deus era suficiente para fortalecer Paulo em sua dificuldade física, de modo que ele a pudesse suportar.

O mesmo acontece com os crentes nos dias atuais. Deus proporciona a graça suficiente para nos fortalecer em meio a qualquer provação, tentação ou período de sofrimento.