Sermão em Gálatas 4.21-31: FILHOS ESCRAVOS OU LIVRES?

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Transcript

Introdução

Em todo o capítulo três, Paulo vem fazendo uma extensa defesa da salvação pela fé. Os judaizantes, inimigos de Paulo, ensinavam que para ser filho de Abraão é preciso abraçar os ensinamentos da Lei, e, ao que tudo indica, eles obtiveram grande êxito entre os irmãos da Galácia.
Nesta seção, Paulo quer que os Gálatas abandonem a Lei como meio de salvação e se voltem para a fé. O apóstolo usa a própria Lei para ensiná-los que a Lei os ensina a fazer isso.

I: A Lei Prova Que A Salvação É Um Milagre Divino E Não Um Esforço Humano (21-23)

Muitos cristãos da Galácia estavam naufragando na fé. Acreditaram nos judaizantes que diziam que a salvação era obtida pelo esforço do cumprimento da Lei. Agora, porém, os cristãos não estavam sendo levados, mas queriam estar debaixo da Lei (21). No entanto, os Gálatas eram tão ingênuos que, mesmo querendo estar debaixo da Lei, não conseguiam lhe dar a devida atenção. Paulo diz: acaso vocês não ouvem a Lei? (21), isto é, “vocês não estão prestando atenção no que ela diz?”. Então, Paulo passa a ensiná-los. Como um grande defensor da inspiração plena da Bíblia, Paulo cita: está escrito (22). Daí em diante segue o relato. Abraão teve dois filhos (22). É bem verdade que Abraão teve mais filhos além de Ismael e Isaque. Ele ainda teve mais seis filhos com Quetura. Mas, isso não era importante aqui e, por isso, Paulo os omite. Paulo é enfático em demonstrar alguns contrastes. O primeiro deles é que estes filhos eram de mães diferentes: um da escrava e outro da livre (22). O segundo contraste era que o filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa (23). Algumas versões dizem que o filho da escrava nasceu segundo a carne e, ainda que o sentido aqui seja realmente “nascer de modo natural”, a palavra “carne” vai contrastar com “Espírito” no v.29, e vai dar início a estes dois temas importantes nesta carta. O fato é que Ismael nasceu de modo natural, mas Isaque nasceu milagrosamente.
Neste trecho, Paulo nos ensina duas grandes verdade:
Embora quase não existam judaizantes nas igrejas, existem àqueles que creem que pelo próprio esforço serão salvos. Esses vivem aprisionados em “faça isso e faça aquilo”, ou, “não faça isso e não faça aquilo”. São escravos dos ritos religiosos. Isto não significa que regras não devem ser obedecidas, mas sim que delas não procedem a nossa salvação.
Todos nascemos como Ismael, na carne, no pecado. Por isso o homem precisa nascer de novo, pela fé. O novo nascimento é obra de Deus. Sara e Abraão tentaram dar um jeito na promessa de Deus. Hagar foi um elo nessa relação e só trouxe malefícios. Quando Isaque nasceu, mediante a promessa, recebida pela fé, tudo deu certo. Da mesma maneira é a salvação, é mediante a fé e não pelo nosso esforço.
Ilustração
Há coisas que estão ao nosso alcance e há coisas que não estão. Você pode planejar um pique-nique com a família, mas somente Deus pode dar uma manhã ensolarada. Nossa salvação é como uma manhã ensolarada, é perfeita, mas você não pode obtê-la pelo esforço próprio.
Aplicação
Receba pela fé a salvação. Não pense em comprá-la, você não pode!
Continue obedecendo a Deus, continue fazendo boas obras, continue buscando a santificação, mas tenha em mente que isso é fruto da sua salvação e não meio de salvação. O “crente” que não obedece a Deus, não realiza boas obras e não busca santificação, é apenas crente de nome.
Recapitulação
Paulo quer que os Gálatas abandonem a Lei como meio de salvação e se voltem para a fé. A própria Lei ensina que a salvação vem de forma sobrenatural e que não pode ser comprada.
Frase de ligação
Os judeus acreditavam que ser filho de Abraão era suficiente para receber a salvação. João Batista foi contra isso. Jesus também. Agora é a vez de Paulo.

II: A Lei Faz Filhos Escravos Enquanto A Salvação Faz Filhos Livres (24-28)

Para explicar seu ponto de vista, Paulo usa a história de Hagar e Sara, Ismael e Isaque, como uma ilustração (24). Algumas versões dizem “alegoria”. Quando Paulo examina a história judaica, conclui que são uma alegoria. Ele não está sugerindo que isto é a explicação literal da passagem, mas encontra semelhanças que podem explicar uma verdade. Então ele prossegue: estas mulheres são duas alianças (24).
A história Sagrada registra duas alianças: a antiga e a nova. A nossa Bíblia está dividia assim. John Stott explica que “uma aliança é um acordo solene entre Deus e os homens, através do qual ele os transforma em seu povo e promete ser o seu Deus”. E continua: “a antiga aliança (mosaica) fundamentava-se na lei; mas a nova aliança (cristã), figurada em Abraão e profetizada por Jeremias, fundamenta-se em promessas. Na lei Deus colocou responsabilidades sobre as pessoas e disse: ‘Farás… não farás...’; mas, na promessa, Deus assume ele próprio a responsabilidade, dizendo: ‘Eu farei...’”.
Para explicar a Antiga Aliança, Paulo usa a imagem de Hagar, ele diz que ela procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão (24). No monte Sinai foi onde Israel recebeu a Lei e, logo no versículo 25, Paulo conecta Hagar ao monte Sinai e diz que fica na Arábia (25). É pouco provável que Paulo queira ensinar Geografia aos Gálatas. É mais provável que ele esteja relembrando que Hagar fugiu para a Arábia com Ismael. Paulo ainda liga Hagar, a escrava de Sara, com a atual cidade de Jerusalém (25). Vamos ligar os pontos e entender o que Paulo está dizendo. Hagar era escrava e gerou um filho na escravidão. A Lei, recebida no monte Sinai, aprisionava o povo ao dizer “faça isso e não faça isso”. Agora Paulo liga tudo isso a atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos (25).
É comum representar um povo pela capital de seu país. Desta maneira Paulo está ligando o judaísmo (atual cidade de Jerusalém) com os judeus (os filhos escravizados).
Mais um contraste entre escravidão e liberdade é relatado. Por isso Paulo lembra que a Jerusalém do alto é livre (26), e complementa, e é a nossa mãe (26). Ora, se a Jerusalém atual, terrena e escrava tem a ver com o judaísmo e os judeus, a do alto e livre tem a ver com o cristianismo e os cristãos.
O próximo passo de Paulo é ligar a profecia de Isaías 54.1 à Jerusalém do alto. Os judeus entendiam que esta profecia se cumpriria depois do cativeiro babilônico, em que a estéril (27), simbolizando Jerusalém do exílio, aquela que nunca teve um filho (27), e que nunca esteve em trabalho de parto (27), deveria regozijar-se, gritar de alegria (27), porque mais são os filhos da mulher abandonada (Jerusalém do exílio) do que os daquela que tem marido (Jerusalém antes do exílio) (27). Paulo parece ligar esta profecia à Jerusalém do alto, isto é, á Igreja, uma vez que na Jerusalém pós exílio essa profecia não se cumpriu.
Paulo então conclui sua ilustração lembrando aos seus irmãos (28) de que eles são filhos da promessa, como Isaque (28).
Nestes versículos, Paulo combate a falácia judaica de que é preciso ser filho de Abraão mediante a observação da Lei para ser herdeiro da promessa. Ele lembra que Abraão teve duas esposas: uma era escrava, mas a outra livre e que somente o filho da livre pode ser herdeiro.
Ilustração
Há um jargão que diz que Deus não tem netos. Assim como muitos judeus pensavam ser filhos de Abraão com direito à sua herança, hoje muitas pessoas acreditam que são filhas de Deus porque seus pais o são, o problema é que Deus tem filhos e não netos.
Aplicação
Não confie sua salvação a ninguém que não seja Jesus Cristo. É preciso entregar sua vida a ele e ser livre.
Ilustração
Falando em termos terrenos, ninguém é filho de seus pais por mérito, eles o são porque nasceram. Assim é o cristão, ele não pode ser filho de Deus o obedece. Só pode ser filho de Deus quem nasce dele por fé.
Aplicação
Lute para ser santo, lute contra a sua carne, lute para agradar a Deus, mas, jamais lute por sua salvação, pois é uma luta inútil!
O segredo de ser salvo é nascer de novo e isso é um dom de Deus.
Recapitulação
Paulo quer que os cristãos da Galácia abandonem a Lei como meio de salvação e se voltem para a fé. Ele prova pela própria Lei que a salvação é um milagre e não um esforço. Ele demonstra que a Lei faz filhos escravos enquanto a Salvação faz filhos livres.
Frase de ligação
Depois de demonstrar tudo o que demonstrou, Paulo ainda tem uma última tarefa: demonstrar que a própria Lei ensina abandoná-la.
Chegamos ao ponto onde Paulo explica que a Lei esperava uma decisão daqueles que a seguia, mas antes disso ele conta mais um relato do Antigo Testamento. Diz Paulo: naquele tempo, o filho nascido de modo natural (segundo a carne - RA; RC) perseguiu o filho nascido segundo o Espírito (29).
A Bíblia conta (Gn 21) que quando Isaque foi desmamado (provavelmente com três anos), Abraão deu uma grande festa. Nesta festa Ismael “caçoava de Isaque” (Gn 21.9). Esta era a forma com que Ismael perseguiu Isaque. O mesmo acontece agora (29), diz Paulo, ou seja, assim como o filho da carne perseguia o filho nascido pelo Espírito, vocês estão sendo perseguidos pelos judaizantes e seus ensinamentos.
O que fazer diante desta situação? Paulo explica que a própria Lei tinha a resposta (Gn 21.10). Mas o que diz a Escritura? “Mande embora a escrava e o seu filho” (30). Ora se a escrava e seu filho representavam a lei, conforme visto nos versículos anteriores, logo, Paulo estava se referindo a mandar embora, tanto os judaizantes quanto os seus ensinos legalistas. Diante disto, a própria Lei estava ensinando que haveria um tempo em que era hora de abandoná-la, de deixá-la partir, visto que já tinha cumprido o seu papel.
A razão de mandar embora Hagar e Ismael era porque o filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre (30). Abraão e Sara tentaram fazer a promessa de Deus se cumprir através de Hagar, mas um problema maior aconteceu. Eles tinham que partir. Da mesma forma, o legalismo, Paulo explica, tem que sair da Igreja, pois não há ali espaço.
Paulo finaliza seu argumento mais uma vez relembrando aos irmãos (31) que não somos filhos da escrava, mas da livre (31).
Três lições são aprendidas neste trecho:
Primeira. Devemos esperar a perseguição dos filhos da carne. Essa perseguição nem sempre vem do mundo. Na maioria das vezes vem de dentro de casa.
Segunda. Se devemos esperar a perseguição, também devemos esperar a recompensa. Se é verdade que os filhos da carne perseguem os filhos do Espírito, também é verdade que Deus recompensará como herdeiros os filhos do Espírito.
Terceira. Às vezes o sofrimento é fruto de más escolhas que fazemos. A solução é simples: mande embora o que te faz sofrer.
Ilustração
Assim como os cristãos da Galácia estavam sendo perseguidos pelos judaizantes dentro da igreja, a Bíblia e a história nos contam histórias de perseguição dentro de casa. José foi perseguido pelos seus irmãos. Jesus foi perseguido pela sua nação. Paulo foi perseguido pelos judeus que tanto amava. Os reformadores foram perseguidos pelo Papa. Muitos crentes são perseguidos dentro da igreja pelos seus “irmãos em Cristo”.
Aplicação
Se você está sendo perseguido por religiosos ou por ímpios não murmure e nem pare. Na verdade, a Bíblia já nos ensina que devemos esperar por isso.
Se você persegue alguém, pare já. Ainda que a Bíblia já nos advirta contra a perseguição, não seja o perseguidor. Igreja não é lugar para inimizades.
Ilustração
Se os cristãos da Galácia deveriam esperar a perseguição e o sofrimento, eles também deveriam esperar a recompensa. Alguns sofrimentos valem a pena. Para se formar em medicina é preciso, pelo menos, oito anos de estudo. Seis anos de faculdade e dois anos de especialização. Todo esse esforço, entretanto, valerá a pena depois do primeiro salário. Assim é a vida do cristão, o sofrimento atual não se pode comparar com a glória do porvir.
Aplicação
Aguente a perseguição sem murmurar. Muitas vezes somos reprovados pela murmuração. A luta tem o sentido de nos provar, se formos reprovados teremos sofrido em vão, mas se formos aprovados, valerá a pena.
Ilustração
Assim como a solução para os cristãos da Galácia era simples, a solução para o sofrimento de muita gente é simples. É preciso desapegar daquilo que te faz sofrer. A dor no dedo da mão só vai embora quando a farpa for removida. De igual modo, a escravidão do legalismo só vai embora quando você se livrar dela.
Aplicação
Abandone de vez todo o legalismo que te aprisiona. Pare de querer pagar a Deus por aquilo que ele te fez. Isso é impossível! Alguém que paga pelo presente que recebe ofende aquele que lhe presenteou.

Conclusão

O desejo de Paulo era que todo o cristão da Galácia abandonasse a Lei como meio de salvação e abraçasse de uma só vez a fé. Ele usa a Lei como prova de que os verdadeiros filhos de Abraão e herdeiros da promessa são aqueles que são livres da escravidão da Lei. Aprendemos hoje que a salvação é um milagre e não um esforço; que a Lei faz filhos escravos enquanto a salvação faz filhos livres; e que a própria Lei nos ensina a abandoná-la para que nos tornemos livres.
Quero deixar uma pergunta para a sua meditação: ouvindo este sermão, você se considera um filho livre ou escravo?
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