Deus te chama ao arrependimento

Zacarias 1.1–6 RA

1 No oitavo mês do segundo ano de Dario, veio a palavra do Senhor ao profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho de Ido, dizendo: 2 O Senhor se irou em extremo contra vossos pais. 3 Portanto, dize-lhes: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos. 4 Não sejais como vossos pais, a quem clamavam os primeiros profetas, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Convertei-vos, agora, dos vossos maus caminhos e das vossas más obras; mas não ouviram, nem me atenderam, diz o Senhor. 5 Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, acaso, vivem para sempre? 6 Contudo, as minhas palavras e os meus estatutos, que eu prescrevi aos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais? Sim, estes se arrependeram e disseram: Como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos e segundo as nossas obras, assim ele nos fez.

INTRODUÇÃO

“Tornai-vos” para mim... (v.3) , “Convertei-vos”, agora...(v.4) e Sim, estes “se arrependeram” (v.6)

A palavra šwb é essencial para o conceito de arrependimento.

A imagem empregada é de uma pessoa dando meia volta.

Nessa mudança completa de rumo — caso esta seja considerada arrependimento — é crucial que a pessoa se volte para a direção certa, a saber, para Javé.

Os passos nesse processo de mudança são delineados claramente em Jeremias 3.22–4.2, uma verdadeira liturgia do arrependimento:

Jeremias 3.22–4.2 RA

Voltai, ó filhos rebeldes, eu curarei as vossas rebeliões. Eis-nos aqui, vimos ter contigo; porque tu és o Senhor, nosso Deus. Na verdade, os outeiros não passam de ilusão, nem as orgias das montanhas; com efeito, no Senhor, nosso Deus, está a salvação de Israel. Mas a coisa vergonhosa devorou o labor de nossos pais, desde a nossa mocidade: as suas ovelhas e o seu gado, os seus filhos e as suas filhas. Deitemo-nos em nossa vergonha, e cubra-nos a nossa ignomínia, porque temos pecado contra o Senhor, nosso Deus, nós e nossos pais, desde a nossa mocidade até ao dia de hoje; e não demos ouvidos à voz do Senhor, nosso Deus. Se voltares, ó Israel, diz o Senhor, volta para mim; se removeres as tuas abominações de diante de mim, não mais andarás vagueando; se jurares pela vida do Senhor, em verdade, em juízo e em justiça, então, nele serão benditas as nações e nele se glorificarão.

reconhecer o senhorio de Deus (3.22);

admitir o pecado (3.23),

inclusive por meio de confissão verbal, “temos [tenho] pecado” (3.25);

tratar da vergonha (3.25);

afirmar e manter-se firme na nova conduta (4.1–2).

Um uso frequente e muitas vezes teológico de šwb, refere-se a Deus desistir ou não do seu furor (2Rs 23.26).

26 Nada obstante, o Senhor não desistiu do furor da sua grande ira, ira com que ardia contra Judá, por todas as provocações com que Manassés o tinha irritado.

IDEIA EXEGÉTICA

A atitude espiritual apropriada do remanescente (pecados de procrastinação e inversão de prioridades ao retornar para a terra – contexto de Ageu) é o arrependimento verdadeiro diante do SENHOR (contexto das maldições da aliança) a fim de evitar a disciplina pactual administrada a seus ancestrais por não levarem a sério a palavra profética do Senhor dos Exércitos (reflete que não estavam entendendo quem Deus é e o que faz – noção de misericórdia e graça).

IDEIA HOMILÉTICA

Há um chamado divino que devemos atender 1Baseado na aliança e proclamado pelo profeta 2-5Apoiado na memória, registrado na história 6 e possível pela graça.

FRASE DE TRANSIÇÃO

Dito de outro modo, irmãos, Deus graciosamente nos concede, no contexto de sua Santa Aliança, a possibilidade de aprendermos com os erros de nossos irmãos no passado, para que não precisemos ser corrigidos como que com cabrestos – como eles foram –, a fim de procedamos de forma a glorifica-lo. (Em Oséias os profetas são chamados de laços de amor).

DIVISÃO TEXTUAL

Deus te chama ao arrependimento:

Em obediência a voz profética à luz da Aliança (v.1-2)

Por meio do aprendizado da história e da guarda da memória (vv.2-5)

Na confiança de sua graça (v. 6).

EXPOSIÇÃO

1 - DEUS TE CHAMA AO ARREPENDIMENTO - EM OBEDIÊNCIA A VOZ PROFÉTICA À LUZ DA ALIANÇA (vv.1-2)

1No oitavo mês do segundo ano de Dario,

veio a palavra do Senhor

ao profeta Zacarias,

filho de Baraquias,

filho de Ido,

dizendo:

2O Senhor se irou em extremo contra vossos pais.

(v.1) Rei Dario – não mais um rei de Israel – Disciplina amorosa de Deus

Palavra do SENHOR

Yahweh – Deus fiel da aliança que, tendo dado sua Palavra de amor e vida, guarda essa Palavra ao conceder amor e vida abundantemente por si mesmo.

Zacarias – Instrumento de Deus para anunciar sua palavra

Zacarias – Yahweh recorda – a esperança de que, apesar dos frequentes deslizes da nação, o Deus fiel da aliança se lembrará [= cumprirá] das promessas feitas no passado.

Baraquias e Ido – Em Esdras (5.1 e 6.14) como o filho de Ido (Ben, hb. sig. descedente)

A indicação de que Ido seria o chefe das famílias sacerdotais que voltaram da Babilônia sob o governo de Zorobabel (Ne 12.4,16) coloca Zacarias na companhia de Jeremias e Ezequiel como um profeta que também era sacerdote.

(v.2) Ira do SENHOR contra os pais – portanto maldições da aliança

Portanto dize-lhes: - Aquilo que Deus manda dizer, tem que ser dito

Deus não tolera pecado no seu povo

Lembra porque a nação se encontrava vivendo em tantas dificuldades

Remete a ideia que se israel continuar em seu pecado, Deus deve disciplina-los novamente

Devemos lembrar quem Deus é, sua santidade, e responder condignamente

Os eventos que eles estavam vivendo relembravam que Deus estava vindicando seus profetas e a verdade de suas profecias

2 - DEUS TE CHAMA AO ARREPENDIMENTO - POR MEIO DO APRENDIZADO DA HISTÓRIA E DA GUARDA DA MEMÓRIA (vv.2-5)

3Portanto, dize-lhes:

Assim diz o Senhor dos Exércitos:

Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos,

e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos.

4Não sejais como vossos pais,

a quem clamavam os primeiros profetas, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos:

Convertei-vos, agora, dos vossos maus caminhos e das vossas más obras;

mas não ouviram, nem me atenderam, diz o Senhor.

5 Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, acaso, vivem para sempre?

Zacarias evocou fortemente essas memórias do passado citando a linguagem usada pelos profetas anteriores.

Em particular, Zacarias ecoou a própria expressão mais frequentemente associada a Jeremias - retornar [šûb] para o Senhor.

O apelo de Zacarias também lembrou sua audiência da profecia dupla de Isaías de que "um remanescente retornará" (Is 10:21), uma mensagem de julgamento e graça.

O uso de šûb por Zacarias incorpora um trocadilho com o significado da palavra.

A ocorrência inicial do termo indica arrependimento, uma mudança de vida.

O último uso transmite uma mudança na resposta do Senhor ao seu povo de julgamento para favor.

Como julgamento, a profecia prediz o fim da nação e a deportação de Judá.

Como uma expressão de graça, o tema “remanescente” promete que Deus se lembrará de sua aliança com seu povo e, por fim, restaurará sua SORTE.

A advertência não poderia ser mais clara - a nação tem a escolha de se arrepender de seus pecados ou permanecer teimosa e sofrer um destino que lembra o antigo Judá.

Zacarias, como Jeremias, ansiava por ver o povo de Deus poupado da punição que seus pecados exigiam.

Embora a ameaça ao bem-estar da comunidade pós-exílica fosse real, Zacarias tinha grande esperança para o futuro de Israel, acreditando que o povo realmente se voltaria do pecado para Deus.

Como seus pais que enfrentaram sua própria mortalidade, cada pessoa deve enfrentar a morte também (1: 5).

Judá não deve procrastinar, contando com a longanimidade de Deus e a certeza de mais um dia de vida, pois Deus oferece apenas um tempo limitado para o arrependimento.

Em suas disputas com Pelágio, Agostinho deu atenção especial ao v. 3, “Volte para mim ... e eu voltarei para você”.

É importante reconhecer que a mensagem de Zacarias se baseia solidamente na linguagem e nos conceitos da aliança.

Afastar-se do Senhor significa quebrar a aliança com ele, voltando-se para os “maus caminhos” e “más práticas” (1: 4).

3 – DEUS TE CHAMA AO ARREPENDIMENTO - NA CONFIANÇA DE SUA GRAÇA (v. 6).

6 Contudo, as minhas palavras e os meus estatutos, que eu prescrevi aos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais?

Sim, estes se arrependeram e disseram:

Como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar,

segundo os nossos caminhos e segundo as nossas obras,

assim ele nos fez.

Os termos da aliança “palavra” (dābār) e “estatuto” (ḥōq) em 1: 6 enfatizam ainda mais o tom da aliança do sermão.

Aliança de Deus é uma aliança graciosa

Israel abandonar o Senhor representa traição.

Como o povo poderia esperar que Deus guardasse seu pacto enquanto eles deliberadamente violavam o pacto?

O arrependimento do povo (šûb) em 1: 6 refere-se aos pais pré-exílicos que se arrependeram, embora tarde demais para evitar o julgamento de Deus.

O versículo 6 não contradiz 1: 4, embora o v. 6 indique que Judá se arrependeu, enquanto o v. 4 sugere que não.

Esdras 9: 1-10: 17 e Dn 9: 1-19 descrevem o remorso do povo por seus pecados depois que era tarde demais para evitar o exílio na Babilônia.

CONCLUSÃO E APLICAÇÕES

À maneira típica do AT, o profeta tirou proveito da história para apresentar seu argumento teológico.

Os contemporâneos de Zacarias tiveram a oportunidade de aprender com os caminhos rebeldes de seus antepassados e, ao fazê-lo, garantir as bênçãos futuras de Deus em suas vidas.

O objetivo geral do livro de Zacarias visava encorajar as pessoas que se encontravam em um estado de profundo desânimo que obscureceu a visão de Judá.

À luz dessa perspectiva abatida, é surpreendente que o primeiro sermão de Zacarias tenha começado tão sombriamente com um forte chamado ao arrependimento.

Além disso, Zacarias foi além de exortar o povo a se arrepender para fazer uma ameaça, um anúncio ameaçador de que as coisas poderiam rapidamente ir de mal a pior se a comunidade deixasse de responder ao Senhor.

No entanto, o aviso era necessário, pois a nação só poderia perceber a esperança para o futuro que Zacarias tinha para eles se permanecessem em um relacionamento correto com Deus.

Judá deve defender a santidade do Senhor, não pisoteá-la.

Assim, qualquer confiança deve estar dependente de Deus, de sua aliança e de seu favor ao povo.

Eles certamente não tinham futuro sem o Senhor!

Se o tom exortativo, o lembrete de julgamento e referência à ira do Senhor parecem ser uma forma inadequada de encorajar um povo abatido e incitá-lo a agir, o objetivo é fornecer base sólida para as promessas que virão.

O futuro parece brilhante, mas o profeta não oferece otimismo desenfreado.

Um futuro promissor depende da disposição do povo de se humilhar perante o Senhor em submissão à sua aliança e às suas sagradas exigências.

A profunda promessa do v. 3, "Volte para mim ... e eu voltarei para você", assume um significado ainda maior à luz da santidade do Senhor e de suas promessas de aliança com Judá.

O sermão de Zacarias encontrou raízes profundas nas experiências históricas de Israel.

O exílio em 587 aC cumpriu a mensagem dos profetas a respeito do julgamento e deportação de Judá.

Deus permaneceu fiel à sua aliança, oferecendo misericórdia precisamente nos mesmos fundamentos da graça e misericórdia divinas que havia concedido aos seus antepassados.

Seja durante os dias de Jeremias ou Zacarias, restauração e segurança vieram de mãos dadas com arrependimento e santidade.

Graça de Deus em Jesus

Só nos arrependemos porque Deus opera em nós