A Parábola do Joio (Mt 13.24-30; Mt 13.36-43)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Compreendendo o relato (Mt 13.24-30):
A parábola é sobre o Reino dos Céus (Mt 4.17; 5.3,10,19,20; 7.21), tema importante em Mateus e que, a partir de agora, passa a ter centralidade nas parábolas. A origem desse reino é celestial, sua presença é terrena, mas seu alvo também é celestial. Como nos lembra R. C. Sproul: “Quando Jesus veio, ele anunciou a chegada do reino celestial a este mundo. Foi como se ele estivesse invadindo território inimigo, expandindo as fronteiras do céu”. A parábola, portanto, utiliza elementos familiares aos discípulos para ilustrar uma realidade espiritual e, porque não, celestial. Nas palavras do próprio Jesus, o reino é “semelhante (Ὡμοιώθη/Hōmoiōthē - Mt 6.8; 7.26) | não é igual”.
Inicialmente, o reino dos céus é semelhante a um homem que semeou “boa semente”. O homem aqui remete ao dono de um campo (“no seu campo”; 27 “Senhor”), e que ele mesmo é quem tem espalhado a boa semente em sua lavoura. Nessa lavoura haviam homens trabalhando e, “enquanto os homens dormiam”, veio o inimigo dele e semeou o joio.
O inimigo vem e semeia o joio! O joio é plantado com o intuito de prejudicar - uma espécie de vingança (com ervas daninhas e, muitas vezes, sal - que era proibido pelo império romano). O joio é “uma erva detestável que em seu primeiro estágio, enquanto ambos, trigo e joio, estão ainda em folhas, se assemelha muitíssimo a um grão mais nobre” (William Hendriksen). O joio pode conter toxinas de origem fúngica que tornam as semente de joio venenosas, que, se processadas junto ao trigo podem comprometer a qualidade do produto final. O joio é sugador. Suga água, adubo, mas no final não frutifica. Só serve para ser queimado.
Perceba que só se soube do joio em meio ao trigo depois que cresceu. E provavelmente foi em grande quantidade, visto que aparentemente eles estava surpresos. Interessante que não suspeitam, de início, da ação de um inimigo, mas só lhe restam dúvidas sobre como isso pode ter ocorrido, pois quem faria isso ao seu patrão? E eles sabiam da procedência de suas sementes (“não semeaste boa semente?”/“donde vem o joio?”).
O joio parece trigo, mas não é. Na apresentação da parábola Jesus não menciona nominalmente quem é o inimigo, mas deixa claro que a presença do joio não é acidental. E ela é feita para confundir, contaminar e desperdiçar trabalho. Numa boa parte do trabalho da lavoura não se consegue perceber a diferença entre os dois. Por isso, é também inteligente que não se tente arrancar o joio em fases iniciais da plantação, como os homens, em sua solicitude, propuseram. Isso poderia acabar levando consigo o trigo.
Vejamos, por último, que os homens aqui não são os ceifeiros. Estes serão outros: especialistas designados a isso no tempo da colheita.
Assim, a ênfase da parábola está no semeador e em seu mandamento (comando): aos servos muito antes da colheita (“deixai-os crescer juntos”) e aos ceifeiros na época da colheita (“ajuntai, atai, recolhei”).
(36) Então, novamente os discípulos chegam para aprender - isso significa que podemos compreender qual o objetivo dessa parábola.
Explicação (36-43):
Resumidamente, temos “uma imagem da obra de Jesus (“o Filho do Homem”), um breve vislumbre de seu conflito com o diabo e algumas informações sobre o fim dos tempos”. (R. C. Sproul).
O homem que semeia é o Filho do Homem. É importante destacar que Jesus ser o semeador aqui, não faz dele o semeador na parábola do semeador - são parábolas diferentes. Precisamos ter cuidado para não misturar os simbolismos das parábolas.
Da mesma forma, na parábola anterior a semente era a Palavra de Deus, aqui aqui são os filhos do reino. O campo arado eram os corações dos homens, aqui, o mundo. Os filhos de Deus surgirão pelo mundo todo, porquanto o evangelho é proclamado em toda parte (Mt 24.14), em todas as nacionalidades e etnias.
O joio são os filhos do maligno. Não são palavras fáceis. Eles fazem o que seu pai faz. Não são apenas indiferentes, ou mesmo inimigos, são filhos do maligno. Impedem a propagação do evangelho, as reuniões solenes, atacam o cristianismo, minam os corações das crianças e jovens, rivalizam contra a ordem criacional e, de uma forma inexplicável até para os mesmos, direcionam toda sua revolta e ódio aos cristãos. Eles provocam o que é escandaloso e a iniquidade.
O inimigo é o diabo. Ele não é apenas aquele que arrebata a boa semente; ele é alguém que semeia o joio no meio do trigo.
A ceifa é a consumação ou o fim desta era. Implica que aos servos é demandada paciência. Os grandes acontecimentos da história são notas de rodapé na história da Redenção.
Os ceifeiros são os anjos (Mt 24.31; Ap 14.14-20)
Aplicação
A igreja é o local onde o reino dos céus é manifestado na terra. Com dizemos, a igreja é a embaixada de Deus. O reino de Deus chegou, mas ainda não está completado/consumado. Existirá, até essa consumação, a mistura de bem com o mal neste mundo.
A igreja não se diferencia muito do mundo quando ela não está crescendo e frutificando. É necessário granar [criar grão] para que se perceba a diferença.
Como no Getsêmani, enquanto dormimos, o inimigo não dorme. A igreja é ameaçada não apenas pelos corações não preparados [disposições interiores], mas pelo mundo [disposição exterior] que milita enquanto descansamos. Estejamos atentos!
Jesus semeia a semente que produz salvação ao mesmo tempo que o diabo semeia sua semente com o intuito de atrapalhar e estancar o crescimento do reino dos céus. O mundanismo, ou a falsa religião, estão lá fora e estão [aqui dentro] contaminando as igrejas locais, uma realidade que sempre existirá até o retorno de Cristo (Mt 7.21-23). Não provocamos cruzadas*, nem montamos exércitos para a batalha neste mundo, mas confiamos na ordem do Filho do Homem de, no tempo propício, convocar os eleitos e toda a parte e julgar as nações.
Não devemos disciplinar pessoas, mas esperar o juízo final? Não. O texto nos instrui a saber que no tempo certo saberemos quais pessoas são trigo e quais são joio. Amados, tem muitas pessoas nesse mundo caído andando em desgraça, mas que um dia serão alcançadas pelo Evangelho de Cristo. Bem como, há, infelizmente, pessoas que estão hoje nos bancos das igrejas e que estarão outra vez entregues totalmente aos seus próprios pecados. Além disso, a disciplina da igreja deve ser exercida em casos que envolvam pecados impenitentes e públicos, prejudiciais aos próprios e ao corpo de Cristo. Disciplina eclesiástica faz distinção, não condenação final de não convertidos.
O semeador tem o controle de sua colheita. No tempo certo, ele fará a ceifa. Não fiquemos ansiosos, a boa semente foi plantada e o joio não irá impedir a grande colheita do Senhor!
S.D.G
*Como afirma João Crisóstomo: “Ele disse, para impedir o surgimento de guerras, e sangue e matança. Pois não é certo matar um herege, visto que uma guerra implacável seria trazida ao mundo”.
Referências:
William Hendriksen, Mateus, trad. Valter Graciano Martins, 2a edição em português, vol. 2, Comentário do Novo Testamento (Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2010), 77.
MacArthur, John. As parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur (p. 39). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle. 
Sproul, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
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